Pacto com a Súcubo - Capítulo 50
— Também espero ser a mesma pessoa — disse Renato, caminhando de volta para a cama.
Jéssica o deteve, segurando-o pelo braço.
— Renato… é que…
Ela estava hesitante.
— O quê?
— Droga! Eu pensei bastante tempo nisso, tá legal? Mas não é tão fácil dizer.
— Jéssica, pode me contar qualquer coisa.
— Sim, eu sei! É só que… sabe, a Mical gosta muito de você. Percebeu isso, não percebeu?
Renato sorriu.
— Eu gosto muito dela também.
— Só dela?
— Hum… ?
— Eu tentei… tentei esconder o que eu sinto. — Ela estava sussurrando. — Tentei negar pra mim mesma no começo porque percebi que ela tinha se apaixonado. Tentei bastante. Sempre nos disseram que um único homem e uma única mulher deviam ficar juntos por toda a vida. Que essa era a única forma de amor abençoada por Deus. E eu sempre acreditei.
— Jéssica…
— Mas tá difícil. Tá difícil manter isso só pra mim. E então eu pensei muito sobre isso e percebi uma coisa. O rei Salomão teve muitas esposas e foi abençoado por Deus com muita riqueza e sabedoria. Davi também teve muitas esposas e era o homem segundo o coração de Deus. Entende isso, Renato? Não pode ser pecado se Deus já abençoou isso antes. Então eu percebi que quem mudou não foi Deus, mas a forma que nós enxergamos Deus. Foi a religião que mudou. E mudou para pior.
— Entendo.
— Então não tem problema nenhum se você ficar com nós duas. Você pode ficar com ela e comigo. Renato, você me quer?
Ela se aproximou muito dele. O suficiente para ele sentir seu perfume e o calor de sua respiração. E então ela o beijou. E Renato retribuiu o beijo, sentindo seus lábios suaves e doces, o calor de seu corpo, e como a garota tremia de excitação e nervosismo.
E então ela se afastou um pouco e cochichou para ele:
— Renato, você gostaria de me ver nua?
O garoto quase engasgou no próprio ar.
— Eu… eu quero s…
— Minha irmã? O que está fazendo?
Era Mical, com a mão sobre o ombro de Renato e um olhar lacrimejando de raiva.
— Mical?
— Por acaso está tentando me passar a perna?
— Te passar a perna? N-nãããoo! É que… a gente podia dividir ele, o que acha? A gente sempre dividiu tudo desde pequenas.
— Dividir? — Mical ergueu uma sobrancelha.
— É, tipo como foi com o rei Salomão.
Mical ficou chocada.
— Você por acaso quer dividir ele ao meio com uma espada?
— Não é isso! As esposas dele o dividiam, não dividiam? Dividiam o amor e atenção dele entre elas.
— É… mas…
— Você gosta do Renato, não gosta?
Nessa hora os olhos de Mical encontraram os de Renato, e ela ficou vermelha como um morango maduro.
— Eu… eu… ah, isso é vergonhoso! Sim eu gosto! Gosto dele! — Mical gritou e depois escondeu o rosto com as mãos.
— Eu também gosto.
— Jés…?
— Então poderíamos fazer isso juntas. O que acha, minha irmã? Vamos dividir o amor e atenção dele entre nós duas?
— Er… bom, se for pra todo mundo ficar feliz, então acho que não tem problema. E então seríamos esposas dele?
— Bom… esposas ainda não. Acho que se começa namorando. — Jéssica se virou para o garoto. — E então, Renato, você aceita nós duas como suas namoradas?
*
No meio da noite, Clara tinha saído de seu quarto e, após pegar uma garrafa de champanhe, ela caminhou até o quintal. Era espaçoso e a decoração ficava por conta de um belo jardim, caminhos de pedras serpenteando entre a grama verdinha e um chafariz com a estátua de um cupido se masturbando.
Ela foi até a parte mais distante, onde as árvores e arbustos deixavam tudo mais sombrio. Caminhou até o local com uma elevação de terra com uma cruz fincada. Sentou-se no chão e bebeu um gole do champanhe. Depois jogou um pouco do líquido sobre a terra.
— Rosé, Dom Pérignon. Um dos seus favoritos, Jade.
Clara suspirou. Segurou a cruz e a girou, e depois fincou na terra novamente, transformando-a numa cruz invertida.
— Assim está melhor. Aquelas garotas tinham boa intenção, mas uma cruz num túmulo de demônio? Chega a ser desrespeitoso! De mal gosto, no mínimo. Mas não as leve a mal. Elas até que não são tão ruins assim. Mais algumas tentações e elas cedem.
Bebeu mais um gole do champanhe, depois jogou mais um pouco sobre a terra.
— Eu sei que a gente não era tão próxima, mas mesmo assim… você era legal. Não merecia morrer dessa forma. Sinto muito. Sinto muito por seu humano também. Eu sei que você gostava dele.
Clara, deixando a mente divagar, olhou para o céu noturno. As estrelas estavam bonitas como sempre, mas a lua: “não tá um pouco grande demais?” foi o que ela pensou. “Tomara que não tenha nenhum lobisomem por perto”.
Dessa vez, sorveu todo o líquido num gole só.
— Ah, eu adoro esse champanhe! Você tinha bom gosto, Jade.
E então a súcubo farejou o ar e, sentindo aromas familiares, olhou na direção da janela do quarto onde Renato e as garotas estavam.
— Sinto cheiro de safadeza — disse, com um sorriso. — Você ia adorar isso aqui, Jade. Num dia tá todo mundo com tesão; no outro, é troca de tiro e porrada. Literalmente. É possível até que o Renato destrua o mundo em algum momento. Talvez. Se ele o fizer, quero estar ao lado dele vendo tudo de camarote.
E então ela farejou de novo.
— Olha só, a outra garota também se juntou a eles. Talvez a safadeza fique ainda mais intensa. Acho que vou lá participar também. Adeus, Jade.
Se transformando em névoa, Clara chegou à janela no exato momento em que Jéssica estava dizendo:
— E então, Renato, você aceita nós duas como suas namoradas?
E Mical, completamente envergonhada, escondia o rosto nas mãos, mas também olhava por entre os dedos, curiosa sobre a resposta que o garoto daria.
— E-eu… — Renato gaguejou.
— Esperem aí! — Clara pulou pra dentro do quarto. — Vocês não estavam pensando em me deixar de fora, estavam?
— Clara?! O-o que… por que você…? — Jéssica estava nervosa.
— Essa é minha casa, lindinha. Se lembra?
— Não me esqueci! Pois bem! Fique e assista, se quiser. Acabamos de fazer uma proposta ao Renato e só precisamos da resposta dele.
— Então deixa eu acrescentar algo mais nessa proposta: eu também quero ser uma das namoradas do Renato. Então, acho que seremos nós três com ele.
— Você também?! — berrou Jéssica, estupefata. — Mas você é um demônio! Não tem nada melhor pra fazer além de se meter no amor de humanos?! Por que não sai pra fazer suas maldades e deixa a gente em paz?
— Eu sou uma súcubo. Súcubos vivem pelo amor. Ou algo próximo disso. — Clara deu de ombros.
— Estar no mesmo relacionamento que um demônio? Isso… isso é demais!
— Então morar na casa de um demônio está tudo certo pra você, mas isso já é demais? Ah, servinha do Senhor, você tem uns limites bastante incompreensíveis.
— Mical, o que acha disso? Não tem como aceitar um demônio, não é?
Mical mordeu o lábio de nervosismo. Um hábito que ela pegou da irmã.
— Eu não sei. Também não fico muito à vontade com isso, mas… ela é um demônio, mas o demônio que salvou a gente naquele dia, não foi? Ela lutou com os cruzados do Priorado e depois nos resgatou. E na noite do incêndio, foi ela quem levou a gente pro hospital. E foi por ela que o Renato desceu ao Inferno. Então… ah, eu não sei! Eu tô tão confusa!
— Mical…
— Eu aceito as três — disse Renato. — Não! Melhor: eu quero as três. Por favor, sejam minhas namoradas! Eu não posso ficar sem nenhuma de vocês. Eu me apaixonei por você Mical, por seus olhos doces e meigos, e pela sua força e coragem, eu acho incrível cada detalhe em você; e por você também, Jéssica. Me apaixonei pelo seu jeito cuidadoso, e como você muitas vezes pensa mais nos outros do que em si mesma. E eu acho fofo a forma que você sempre demonstra que não tem medo, mesmo quando está apavorada, e sempre dá seu melhor em todas as situações. Você é maravilhosa. E, Clara, sou completamente louco por você. Desde o primeiro dia em que te vi naquele beco. Você não saiu dos meus sonhos uma única vez! Não tem como eu ficar sem qualquer uma de vocês. Eu preciso das três. Então, aceitem meu pedido egoísta e namorem comigo.
Jéssica suspirou e abaixou o rosto, resignada.
— Eu aceito.
— E-eu aceito! — disse Mical, com as bochechas vermelhas. Seus olhos estavam cheios de alegria e ela mal podia se conter. Queria pular sobre Renato e abraçá-lo, e beijá-lo muito.
— E eu… — Clara se aproximou, com as sombras se curvando perante sua presença e os olhos brilhando vermelhos —, é claro que eu aceito.