Pacto com a Súcubo - Capítulo 70
Assim que voltaram ao predinho de Clara, não perderam tempo. Tinham mais uma coisa para fazer. Deixaram o Corolla estacionado num dos cantos do estacionamento que existia no térreo e, enquanto Renato foi buscar Lírica, Clara foi pegar o novo carro que usariam dali em diante.
Enquanto aquecia o motor do JAC T8, a súcubo deu uma rápida olhada em seu estacionamento e, notando o quanto estava vazio, se comparado a antes, ela xingou Lukin Ivanov em pensamento. Por culpa dele, vários de seus carros foram destruídos. Por sorte, ainda restavam alguns. “Preciso comprar mais” pensou.
Renato chegou carregando Lírica nos braços. Clara afiou o olhar e tudo o que conseguiu pensar foi em métodos de tortura. Jessica soltou um “humpf”, mal humorada. Mas Mical foi a única a falar alguma coisa:
— Hum, sabe… — assobiando, desviando o olhar —, às vezes eu penso que… não sei… talvez devêssemos deixar ela dormindo. Talvez seja melhor, né?
Jéssica a olhou de soslaio.
— Ora, gostei do posicionamento — disse Clara, sorrindo, mas com um certo julgamento no olhar.
— Que foi? — continuou Mical. — Tenho certeza que eu não fui a única a pensar nisso! E eu só pensei… não é como se eu quisesse mesmo deixar ela, sabe? Talvez… eu eu acho…
— Não seja malvada, Mical — disse Renato, ainda segurando Lírica, mas se aproximando do banco traseiro da van para deixá-la.
— Eu sei… eu sei… é só que… não sei… — Mordiscou os lábios. — Eu não gosto muito de ver você carregando ela assim… — Mical juntou as sobrancelhas, parecendo meio emburrada.
Renato colocou a demi-humana num dos bancos traseiros, e o ajeitou para que ficasse levemente inclinado para trás, para dar maior conforto à garota que dormia. O carro era grande: tinha sete lugares, contando com o do motorista, dispostos numa configuração de 2-2-3.
— É verdade que pediu ela em casamento? — Jéssica também parecia incomodada, mas não queria demonstrar, então fez o olhar mais neutro que conseguiu..
— Não pedi, não. Eu só dei um nome a ela. Foi um descuido. Podemos resolver isso depois. Já disse que é de vocês que eu gosto, não disse?
— Disse… — Jéssica também mordiscou o lábio ( o costume era originalmente dela, mas Mical o copiou).
— Eu ainda acho que deveríamos considerar a opção de queimar ele e essa garota-gato na fogueira como punição por tais pecados. Onde é que já se viu?! Ficar arrastando asa pra uma demi-humana? — disse Clara.
Jéssica se aproximou de Clara e sussurrou baixou, como alguém que confidencia um segredo:
— Ainda podemos pensar nisso.
Como era o meio da madrugada, o trânsito estava bem tranquilo. Clara dirigiu a van, indo em direção à rodovia que saía da cidade. Jéssica e Mical olhavam, maravilhadas, a estrada passando rapidamente, com suas luzes e sons. Ainda não tinham se acostumado totalmente àquilo.
A rodovia serpenteava entre as montanhas da serra, subindo e descendo. Vez ou outra, um caminhão passava por eles. A cidade já tinha ficado para trás, deixando como única evidência que existia, um punhado de luz brilhando no escuro. De um lado da estrada, havia um grande pasto cercado, cheio de gado. Do outro, apenas uma vegetação rasteira, típica do cerrado.
Foi quando um caminhão passou por eles, no sentido contrário. Deveria ser algo rotineiro, mas uma coisa chamou a atenção.
— Vocês viram a mesma coisa que eu vi? — perguntou Renato, confuso.
— Acho que sim — respondeu Clara, ainda mais confusa do que ele.
— Mas não é possível, né, gente? Deve ser só uma ilusão de ótica. Ou uma pintura do caminhão — sugeriu Jéssica.
— Não sei. Pareceu mesmo um… — disse Mical. — Mas não deve ser, né?
— Verdade. Deve ser uma pintura do caminhão — disse Clara. — Afinal, por que teria uma pessoa usando as roupas da seleção brasileira agarrada ao para-brisa de um caminhão em movimento? Acho que a gente viu errado mesmo.
— Verdade. A gente viu errado — concordou Jéssica. — O mundo ficou maluco, mas nem tanto. Eu acho.
— Realmente. — Mical assentiu.
— Sim — concluiu Renato. — Mas de onde será que ele veio?
— Sei lá — disse Clara, e bocejou logo em seguida. — Tô ficando cansada. Ali na frente tem um hotel. Vamos parar pra descansar um pouco.
Andaram por mais alguns quilômetros antes de chegarem ao hotel. Não era um local chique, mas dava pro gasto. A cama King Size caberia todos, se dormissem bem juntinhos, e tinha até um sofá onde puderam colocar Lírica.
E, logo em seguida, começou a discussão sobre quem tomaria banho primeiro. Clara, ferozmente, argumentava que ela quem deveria ser a primeira, já que tinha dirigido a noite inteira e estava cansada; porém, Jéssica e Mical diziam que já que elas eram humanas, provavelmente estavam mais cansadas que Clara, e que por causa disso tinham o direito de irem primeiro.
— Então vamos deixar o Renato escolher — disse a súcubo, com um olhar de superioridade. — Quem ele decidir, vai primeiro!
Seu olhar dizia tudo. Ela tinha certeza que seria ela a escolhida.
— Eu concordo! — retrucou Jéssica. — Tenho certeza que ele vai tomar a melhor decisão!
Jéssica também acreditava que seria a escolhida.
— Eu?! — Renato, por outro lado, não tinha certeza de nada.
— Sim! Você! Escolha! — disse Jéssica. — Se me escolher… bom… — as bochechas dela coraram — er… sabe… eu vou te dar uma recompensa…
— Tá jogando sujo, servinha do Senhor?! Pois se me escolher, eu quem vou dar a recompensa! E a recompensa de uma súcubo, imagina, é inesquecível!
— E-eu posso tomar banho junto da minha irmã, então, se escolher a gente, eu vou ajudar na recompensa também… — disse Mical, olhando para o chão, envergonhada, porém determinada.
— Vamos, Renato! Escolha! Qual recompensa vai querer? A minha, uma súcubo, detentora dos conhecimentos mais safados, conhecedora de posições inimagináveis, a mais pervertida das criaturas, ou dessas… dessas duas garotinhas virgens quem nem beijar direito sabem?
— Bom…
A verdade é que ouvir a questão nesses termos fez Renato imaginar mil possibilidades. É claro que ele adorava a safadeza de Clara, mas também achava que a virgindade e pureza tinham seu apelo.
— Já me decidi!
— Então diga! — Clara estava impaciente.
— Estamos ouvindo. — Jéssica também.
Mical ergueu os olhinhos verdes, brilhantes, para Renato, esperando o que ele diria. Estava cheia de expectativas.
— As três vão tomar banho juntas! É isto.
— O quê?! — Jéssica fez um olhar indignado. — Mas isso é impossível!
— Também não concordo com isso — disse Clara.
— Vocês não pediram pra eu decidir? Então! Esta é minha decisão!
Clara suspirou e massageou as têmporas.
— Ai, Renato, você não tem jeito mesmo.
— Isso é um absurdo. Eu e Mical somos irmãs! Tomamos banho juntas desde crianças, mas fazer isso com uma estranha… é diferente! Não dá!
— Minha decisão foi tomada.
— Hum… — Mical envergonhada, tinha as bochechas muito vermelhas, e tocava os dedos indicadores um no outro —, se foi o que ele decidiu, então acho que…
Clara sorriu.
— Se vocês não tem coragem para isso, então acho que vão ficar pra depois mesmo. Renato, me ajuda a abrir o zíper do meu vestido, por favorzinho?
— Ah, claro! Ajudo sim!
Ele manteve as mãos o mais firmes que conseguiu. Segurou o puxador do zíper e o desceu. O vestido preto se abriu e desceu até os pés de Clara. Ela, movendo um pouco os pés, saiu de dentro do vestido.
Ficou apenas de calcinha e sutiã. Ambos eram vermelhos. A calcinha era de rendinha. A pele de Clara, cor de oliva, ficou bem exposta, bem como suas curvas deslumbrantes. Ela tinha um olhar orgulhoso, pois sabia que era linda.
— Renato, lindinho, será que eu posso te pedir mais um favor?
— P-pode sim! Com certeza!
— Pode me ajudar a abrir meu sutiã? É que eu não alcanço, sabe…
— M-mas isso é um absurdo! — protestou Jéssica. — Renato! Não pode fazer isso!
— Mas ela não alcança, tadinha.
— Verdade. Eu não alcanço. Preciso de ajuda. — Clara fez beicinho.
— Seria maldade não ajudar, né…
— Mas…
Dessa vez, Renato não conseguiu impedir suas mãos de tremerem. Mesmo assim, ele estava determinado. Seus olhos nem piscavam; eram como os olhos de uma ave de rapina. Segurou o fecho entre os dedos e tentou abri-lo. O fecho não abriu. O suor começou a acumular em sua testa. Nunca achou que abrir um sutiã pudesse ser tão difícil. Ele movia o fecho, tentava separá-lo, torcê-lo, até arrebentá-lo, e ele continuava inteiro, mantendo coisas maravilhosas longe do alcance de sua visão.
Limpou o suor da testa e continuou tentando. Era como um membro do esquadrão anti-bombas tentando separar os fios, antes de escolher qual cortar. O nível de dificuldade era semelhante. Se imaginou resolvendo um cubo mágico. “Isso só pode ser preso por magia” pensou. E, num movimento de seus dedos, quando ele estava a ponto de perder as esperanças de conseguir, o fecho se abriu. E as costas totalmente nuas de Clara foram expostas. E ela se virou, com um sorriso exuberante no rosto. E Renato teve uma visão do paraíso.