Pacto com a Súcubo - Capítulo 71
A visão dos seios de Clara foi, para Renato, como ver uma obra de arte. Lindos. Perfeitos. Redondinhos; de textura firme, porém delicados. Não eram tão grandes, mas com certeza poderiam encher uma mão.
A súcubo ergueu um braço, dobrando o cotovelo, e inclinou o corpo para o lado. Estava se alongando, como alguém antes de se exercitar. O movimento fez seu seio se mover soberano em seu busto, clamando para si toda a atenção. Seus olhos brilhavam maliciosos e os lábios tinham um sorriso provocante. Sabia do efeito que isso teria em Renato, e gostava disso.
A imagem da beleza suprema exposta, nua, diante de si, foi demais para o rapaz. Ele estava acostumado a ver coisas assim através de uma tela de celular. Ao vivo era outra história. O cérebro dele bugou, como um programa de computador mal programado, e ele apenas ficou parado, de boca aberta, deixando saliva escorrer pelo canto da boca, enquanto o único som que saía de seus lábios era algo como “oooooh”.
Clara se aproximou de Renato, segurando entre os dedos, e puxando levemente, a rendinha lateral de sua calcinha vermelha.
— Hum, não sei… — disse ela, com uma biquinho manhoso nos lábios. — Acho que também não vou conseguir tirar essa calcinha sozinha. Será que você me ajuda?
— E-espere! — Jéssica se meteu no meio deles. Tinha uma veia saltada pulsando na testa. — M-mas que t-t-tipo de safadezas hardcore você planeja fazer aqui?! Hein?!
— Eeeeeeeeu? — Clara pareceu ofendida. — Eu nada. Só tô precisando de um pouco de ajuda, sabe…
— E você, Renato?! Tá todo bobo ai, né?! Aposto que tá gostando disso!
— E-eu?!
— O Renato tava gostando… — disse Mical, se aproximando. — Acho que ele gosta dessas coisas.
— É claro que ele gosta — disse a súcubo. — Todo mundo gosta. Até vocês, que se fingem de santinhas.
— E-eu não gosto não! — protestou Mical. Mas suas bochechas estavam vermelhas, e ela desviou olhar, indicando que talvez não estivesse sendo tão sincera.
— Se não gostam, então acho que o Renato vai ficar só pra mim.
— Grrr! — Jéssica grunhiu. — Vou tomar banho! — E saiu, pisando com passos firmes, em direção ao banheiro.
— Eu também vou! — disse Mical e correu atrás dela.
Clara deu de ombros.
— Eu também — disse, com um sorriso. — Juro que vou tentar convencer elas a deixarem você entrar.
Então as três se trancaram no banheiro. E tudo o que Renato pôde fazer foi imaginar o que elas estariam fazendo lá dentro.
*
Naquela noite, após o banho, Clara decidiu sair para tomar um ar e pensar um pouco. Ela fazia isso às vezes, sempre que a inquietação se acumulava e as dúvidas lhe cochichavam no ouvido.
Sentou-se sobre o guarda-corpo de uma ponte que cruzava um rio próximo e respirou o ar fresco. A brisa noturna acariciou seus cabelos. Seu vestido, de tecido fino e quase transparente, se agitava ao vento. Ela olhou para baixo, vendo a água correndo com ondulações na superfície, e balançou os pés.
— Tem cheiro de problema no ar. Talvez as coisas fiquem ainda mais perigosas.
*
Jéssica, em desespero, puxou suas mãos, tentando libertá-las das amarras que a mantinham presa àquela estaca. A estaca se erguia no meio do pátio central feito um poste e tinha a espessura de uma árvore, e era alta o suficiente para superar todas as casas do Priorado. Jéssica estava amarrada de modo que a abraçava.
Suas roupas tinham sido arrancadas. Seus pés descalços pisavam sobre o chão de cascalho quente. Todos os habitantes do Priorado, em volta, a olhavam e cochichavam. Alguns até tinham um olhar de pena, mas a maioria a olhavam como se ela fosse uma bruxa.
O Executor se aproximou, segurando o azorrague: um açoite composto por um feixe de tiras de couro, que trazia pedacinhos de ossos fininhos e agulhas metálicas nas pontas.
O Executor ergueu o olhar aos céus e fez uma prece silenciosa, enquanto o vento balançava sua batina. E então, num movimento rápido de seu braço, desferiu o primeiro golpe de azorrague contra as costas de Jéssica.
Atingida pela dor aguda, a garota gritou alto, e quando parou de gritar, começou a chorar. Sentiu o sangue quente escorrendo sobre a pele de suas costas. Perdeu a força nas pernas, e só não caiu porque as cordas amarrando-na a mantiveram de pé, presa à estaca.
O Executor desferiu mais um golpe. E novamente Jéssica gritou. E novamente, o grito foi substituído pelo choro.
O sol batia no rosto de Jéssica, e o suor escorria pela testa. As sobrancelhas, já encharcadas, não contiveram mais o suor, e ele chegou aos olhos, causando uma ardência e dor terríveis. Ela piscou, tentando afastar a dor, mas foi inútil. O calor estava insuportável. A garganta, seca, dificultava a respiração.
Ela revirou os olhos, olhando em volta, procurando por alguma ajuda, mas tudo o que todas aquelas pessoas faziam era rezar e balançar a cabeça concordando com seu castigo.
E no meio de todas aquelas pessoas conhecidas, viu Isaías, um antigo acólito do templo que sempre foi próximo de sua família. Jantou em sua casa, cumprimentou seus pais. Ele a viu crescer. E lá estava ele, sorrindo, parecendo sentir alegria em vê-la sofrer. Ela não conseguia entender o motivo daquilo. E então o Executor lhe atingiu mais uma chicotada. Faltou ar. Ela achou que morreria sufocada. Sua pele queimava. Suas pernas tremiam.
Jéssica despertou de sobressalto na cama, engasgando, com dificuldade para respirar. Estava assustada e coberta de suor. O coração batia loucamente. E as feridas, mesmo cicatrizadas, doíam.
A penumbra do quarto era rasgada por apenas um feixe de luz vindo da janela. Quando ela olhou naquela direção, viu Mical, que estava inclinada sobre o peitoril da janela, olhando para a noite fria, sendo iluminada pela lua gigantesca.
Jéssica se levantou, deixando Renato sozinho na cama, e foi até sua irmã.
— Também não consegue dormir? — perguntou Mical.
Jéssica assentiu.
— Pesadelos?
— Sim.
As duas ficaram em silêncio por um momento, deixando o vento fresco e suave bater nos cabelos.
— Eu tô com medo, Jés. Medo de voltar para lá. — Os olhos de Mical estavam vermelhos de lágrimas. — Eu sei que estamos fazendo isso por uma boa razão, eu sei, mas… mas mesmo assim eu tô com tanto medo. Aquele lugar, nunca senti que era nosso lar. Era mais como uma prisão. Quando o papai e a mamãe morreram, ficou pior. Eles nos tratavam como… nem sei o que mais é tratado assim…
— Eu também tô, Mica. Sinceramente, tô morrendo de medo. — Jéssica fez uma pausa para pensar, e então continuou: — Mas não podemos viver com medo, podemos? Vamos mostrar pra eles o quanto somos fortes! Eles vão ver!
— Aquele dia, eles me trancaram no porão pra eu não ver o que faziam com você. Mas eu ouvi seus gritos, Jés. Consegui ouvir todos eles. E eles não saem da minha cabeça. Eu continuo tendo pesadelos com isso. Eu queria… muito… ter conseguido parar aquilo! Queria muito!
Jéssica abraçou Mical.
— Não foi culpa sua.
— Eu sei. Mas… mesmo assim… tenho medo do que pode acontecer.
— Vai ficar tudo bem, minha irmã. Vai ficar tudo bem. Eu vou cuidar de você.