Passos Arcanos - Capítulo 150
— Por onde você andou, Oblak? — Sanduc tinha sentindo uma magia estranha se expandindo para o Lago Morto. Achou ter sido os inimigos, quando chegou perto, encontrou Oblak saindo de lá, irritado e furioso.
E mais ainda, todo sujo. A magia de vento foi usado para expulsar as impurezas e ele continuou caminhando para dentro da Academia.
— Não consegui pegar — respondeu ao entrar no corredor. — Aquele moleque estava lá.
— Moleque? Um aluno te mandou para o Lago Morto?
Oblak apertou a mão e apressou os passos.
— Ele usou uma magia de ilusão e depois uma espacial. Eu não consegui prever, e ele me tirou o livro.
Sanduc ficou ainda mais surpreso. Era raro alguém conseguir ganhar de Oblak, ainda mais quando o assunto era magia. Ele era o Mestre de Matéria, um dos poucos capazes de utilizar todas as magias de Escolas Mágicas em uma afinidade acima de 30%.
A raridade desse fato era que até mesmo Magnus, sendo um Mago de Partícula, teve dificuldade em vencê-lo. E alguns ainda diziam que Oblak não lutou sério contra o diretor. Sanduc era um desses.
— E eles estão na biblioteca?
— Sim, eu tinha mandado alguns dos nossos na frente, mas tiveram as mãos cortadas. Esse garoto tem que ser morto agora. — Eles atravessaram a porta e saíram na entrada da biblioteca. — Sinto a magia dele, aprendeu a usar o ‘Campo Absoluto’ de alguma maneira.
A cada comentário novo, Sanduc olhava para Oblak com surpresa e choque.
— Magnus queria proteger ele — respondeu. — Deve ter algum motivo.
— Não vou contra a maré, Orion Baker é um prodígio. — Oblak entrou e a barreira de mana os analisou completamente. — Tem uma adaptação e também instinto impecáveis. Meu soco com Força deveria ter matá-lo, mas nem mesmo o encostei. Ele diminuiu a pressão com a Escola de Velocidade, se jogando para trás e imitando estar voando.
A ideia ainda mexia com Oblak. Ele odiava o fato de alguém com metade da sua idade ter conseguido enganá-lo com facilidade e ainda tirar o livro de si.
— Vai ser fácil matá-lo com nós dois aqui. Depois voltamos.
— O velho também está aqui.
Viraram a esquina e avistaram a parede aberta. Na sua frente, Orion Baker de braços cruzados. A energia que exalava dele era a mesma de antes, e sua postura era bem passiva. Estava ali para conversar?
— Demorou bastante para chegar — Orion disse e olhou para Sanduc. — Foi procurar ajuda? Procurou errado, então.
— Sua magia é forte — elogiou Oblak. — Consegui sentir na hora que usou. Quase um maestro, mas ainda tem muito a aprender. A verdade absoluta do poder que existe dentro da mana, todos os seus segredos.
— Os segredos que habitam nos confins do estudo. — Deu uma risada fraca. — Eu sou formado em Arcanismo, senhores. Sei mais de mana hoje do que vocês um dia conseguirão aprender. E por isso, que quando entraram aqui, sentenciaram seus vínculos com essa Academia. E como aluno tenho que tirar o lixo para fora.
Mais uma nova pessoa entrou na barreira, Orion sorriu e balançou a cabeça.
— Eu sabia, sabia que ele também viria. Os três traidores.
Freud virou a esquina. Usava seu traje azul de batalha com um machado em mãos. E ao olhar para os outros dois, achou graça.
— Estão sendo parados pelo verme Baker? Que patético.
— O espaço é curto demais para lutarmos juntos. — Sanduc criou uma runa e dividiu as duas nas mãos, mirou nas estantes e empurrou todas para longe. O espaço aberto era mais do que suficiente para passarem.
— Fiz certo em proteger esses livros. — Seus pés se libertaram do chão, erguendo-se alguns centímetros. Sua mão esquerda mirada para frente, e a direita uma espada afiada. — Terei que trocar meu estilo para pará-los.
Freud passou pelos dois e correu. Seus passos largos fizeram a terra tremer e chegou ao lado de Orion como um fantasma. Seu machado cortou na lateral, o pescoço era o alvo.
A cabeça do garoto se virou e seus olhos se arregalaram. Ele consegue sentir cada passo, Oblak tinha estado mais veloz do que Freud, e Orion o acompanhou. Freud não conseguiria pará-lo assim. O próprio Oblak avançou.
— Com dois pontos, ele não vai viver.
A espada bloqueou o machado ao ponto de travá-lo no ar. E os dedos da mão esquerda tensionaram. A mancha negra em seu braço fundiu-se a manopla. Os raios que Oblak criou foram todos suprimidos e sumiram.
Assim que se aproximou, seus sentidos também embaçaram. O que ele fez?
Via dois braços, três braços, cinco, dez. E quando percebeu, seu peito foi golpeado e ele lançado dez metros para trás. A dor era grande, a sua proteção de mana também foi suprimido. E o berro de Freud também carregou a ela a sensação de que Orion Baker era ainda mais forte do que tinham pensado.
Sanduc passou ao redor dele com duas adagas e atirou. Elas se multiplicaram no ar em quase vinte, mas desapareceram assim que o braço esquerdo do rapaz se ergueu novamente. Freud também foi lançado para longe, com seu machado quebrado ao Meio.
A espada tinha quebrado a lâmina de uma arma forjada por um dos melhores ferreiros.
As duas adagas foram paradas pela espada e caíram.
— Esse é o poder dos três Selectores nobres? — Orion abaixou os dois braços. — Meu respeito por vocês começou a cair. Qual a desculpa? Não existe espaço? — Sorriu mostrando os dentes. — Ou será que não estão querendo me matar? Porque eu vou acabar com suas miseráveis vidas. Malditos traidores. Vou enterrar seus corpos aqui e agora. ‘Magia Passiva: Bloqueio…
Oblak saiu de sua posição e atacou ainda mais rápido do que a primeira vez. Seu punho colou no rosto de Orion, uma camada de raio descolou de sua pele e explodiu para dentro. Mais uma vez, ele foi enviado.
— Quem fala demais sempre acaba com a guarda baixa. Vocês dois, vamos.
— Foi um golpe direto na cabeça — Freud comentou assim que entrou e viu o corpo jogado no chão. O sangue espalhado. — É morte certa.
— Ele não morreu. — Oblak foi até a estante e puxou o livro. Assim que viu sua capa, sua boca se contorceu. ‘Boa tentativa, idiota’. — Onde está?
Num puxão de ar, lançou todos os livros para fora e os deixou flutuando. As capas, todas elas, continham xingamentos.
‘Procure melhor’. ‘Estão gostando de procurar’. ‘Idiotas, ainda não acharam’. ‘Selectores burros’.
Oblak se enfezou e virou. Pegou Orion pelo pescoço e levantou-o.
— Diga, onde ele está?
O rapaz ergueu a cabeça, o sangue havia manchado seus dentes, deixando seu sorriso rubro.
— Procure melhor, traidor. Por favor, me diga… como consegue trair a própria Academia que o acolheu?
— Acolher? Esse lugar é imundo. Todos os dias, eu me sinto enojado de pisar aqui. — Explodiu a parede mais uma vez com o rapaz e pressionou ainda mais sua garganta. — Depois que eu acabar com você, irei atrás daquele maldito do Handley e Tauros. Vou dizimar esse lugar…
— Oblak — Sanduc o chamou rapidamente. — O que está fazendo?
O homem piscou duas vezes. Sua mente tinha sido enfiada num vórtice onde viu as suas lembranças. Falou aquilo tudo sem perceber.
— Ele usou uma magia de ilusão. — Freud apontava para a runa nas mãos de Orion. — Merda, temos que achar o livro e matar esse moleque.
Outra afundada na parede, Oblak enfiou Orion mais fundo nas pedras.
— ‘Somat: Esmagamento Pressurizado’.
Uma imensa pressão esmagou Orion Baker. Oblak varreu os livros para o lado e puxou mais outra pilha, de outra estante. Fez isso até chegar o fundo. Nenhum deles era o que procurava. Frustração, teve que respirar fundo e recompor.
Tinha sido feito de idiota.
— Eles tiraram o livro daqui — revelou aos dois. — O velho Senma está com ele. Vão e procurem por ele.
— E o que vai fazer agora? — Sanduc perguntou.
— Um dos alvos era Handley.
— E Mey e Tauros? — Freud questionou. — Também estavam na lista.
Oblak negou.
— Menos perigosos. Os dois não chegam aos pés de Handley. Procurem pelo velho, agora.
— Será Meio difícil.
Viraram-se, Orion estava fora da parede, quase caído, com sangue espalhado por toda a sua roupa. Respirava com lentidão, e tossiu algumas vezes. O estado lamentável era natural do golpe, mas Oblak tinha certeza que tinha matado ele.
— Como ele ainda tá vivo? — Sanduc quase gritou. Foi a frente, mas Oblak o parou. — O que foi? Vou matar esse estorvo de uma vez por todas.
— Por que vai ser difícil? Pra onde levou o velho? — Orion riu dele, mostrando a cara torcida pelo soco que levou. — Responda, verme.
Num erguer de mão, o vento jogou o garoto pro teto, pressionando. E estacas saíram, perfurando os braços e pernas. Depois o jogou contra o chão de novo, e perfurou em outras partes. Ergueu ele sem encostá-lo.
— Fale, agora. Onde está o livro?
— Por que eu diria pra traidores como vocês? Alias, como explicariam isso para todos da Academia Magnus? — Seus dois olhos não se fechavam, Oblak recuou. — Tudo o que vejo, todos eles estão vendo. Tudo o que ouço, eles estão ouvindo. Vocês são traidores…
Oblak perfurou o peito de Orion com poderosos raios roxos. E recuou para a saída.
— Temos que sair daqui.
— Acredita nele? — Freud agora realmente sentia que o garoto tinha morrido. — Ele não tem nenhuma magia para se comunicar com todos os Selectores ou com Magnus. Vamos procurar o velho e sair pela passagem.
— Havia uma runa nos olhos dele — revelou Oblak. — Ele realmente estava transmitindo tudo para os outros. Temos que ir embora agora. Peguem o pergaminho de transferência e usem.
Os três puxaram e esticaram os pergaminhos, infundindo suas manas nas matrizes. Passados dez segundos, seus brilhos sumiram. Eles ainda estavam no mesmo lugar.
— O que aconteceu? — Freud puxou e olhou dos dois lados. — Por que não está funcionando?
Oblak suspirou, sua mana aumentando a um ponto que deixava sua raiva se sobressair. A atmosfera densa deixou os outros dois mais acuados. Nunca tinham visto esse lado do Selector.
— Maldito Baker. — Lançou um olhar para dentro do buraco. O dedo erguido, apenas ele, com suas listras negras. — Ele está nos impedindo de usar qualquer mana no pergaminho. Essa habilidade nojenta do Professor.
— Ele é teimoso, assim como os outros Baker. Um verdadeiro Cão Imortal.
Viraram-se. Handley tinha seus músculos cheios de sangue, arranhados no pescoço recente e um corte superficial abaixo do olho. Sua aparência podia ser boa, mas suas intenções, a intenção assassina estava cravada em cada um.
— Tive que destruir todos os batalhões inimigos antes de vir atrás vocês. — Lambeu e mordeu os lábios, a frenesia sua mana. Ele ia atacar. — Finalmente, posso esmagar essas suas cabeças de merda.
— Sanduc e Freud, segurem ele. — Oblak deu as costas e foi na direção de Orion. — Por tudo o que é sagrado, eu vou tirar o coração daquele moleque.