Passos Arcanos - Capítulo 157
Orion viu os Cavaleiros saírem de seu portal no pátio reservado. Trezentos, de armaduras e armas polidas, limpos e arrumados. Foram preparados por Rob a se apresentarem, reconheceu alguns grupos pequenos, nada que chamasse sua atenção.
— Nada do Tomo — Rob disse ao ficar ao seu lado. — Esses foram os voluntários, cada um deles Cavaleiro de patente baixa, pronto para ser ferroado e aprender a se portar em uma academia.
— E seus superiores?
Rob olhou e apontou.
— Ales e Idriane, dois passos.
Duas figuras diferentes fisicamente se apresentaram com espadas na cintura e queixos duros.
— Aroldo os treinou como fez com Wallace, são os mais antigos e mais respeitados.
— Certo. — Um lista foi passada a Rob. — Esse é o cronograma e também a escala. O Selector de Batalha irá averiguar se são combatentes de linha de frente ou suporte, e os meus Magos do treinamento vão ajudá-los também nas horas vagas.
Rob o olhou com um sorriso convencido.
— Está fazendo um trabalho e tanto para esses vagabundos, hein? O que aconteceu para se tornar burocrático?
— Uma chance. — Orion sorriu de volta. — Me deram uma chance.
O nome de Orion Baker se espalhou rápido depois daquele dia. O Selector Temporário, o nome era chamativo e clamava também como ele trabalhava. Não se prendia a nenhum tipo de problema, resolvendo com facilidade e nunca dando a cara no meio do dia.
Poulius revelou que muitos achavam que ele estava morto e usaram o nome apenas para dar crédito ao que fez em vida. Orion passou caminhando com Lumiere e mais cinco Magos de Quarto Núcleo no meio do Pátio Neutro, no dia seguinte.
Deixou claro que estava vivo e fazendo um trabalho árduo. E realmente, os frutos da conversa com Lumiere e Albert se revelavam mais e mais. Rugal, o líder dos Caçadores de Recompensa, apareceu na porta da Academia de Magnus, querendo uma conversa com Orion Baker.
Só isso clamava aos outros Selectores, como Mey e Rayssan, de como o rapaz trabalhava. Senma quis participar da reunião, mas Poulius proibiu. Apenas Orion e ele estariam lá.
— Nossa conversa foi bem curta da última vez, Selector — Rugal falava a Orion. — Não tive tempo de reler a quantia e cheguei a uma resposta bem clara. O procedimento das fornalhas, aquela quantidade deveria ser bem objetiva.
— E é, senhor Rugal. Nós trabalhamos e estamos dispostos a começar a produzir mais. Preciso apenas que o senhor esteja em acordo que os comerciantes de Cedero precisam ser mais justos com os preços que nos pedem.
O velho homem concordava. Entre eles, dois sacos foram deixados. Orion não fitava-os, e sim o líder dos Caçadores.
— Acho que podemos selar esse acordo. — Rugal ergueu a mão e cumprimentou os dois. — Muito bom fazer negócios com os senhores.
— O mesmo.
Duas semanas, Poulius esteve assistindo Orion e dando leves conselhos do que estava na lista. Atuou muito mais como assistente do que um porta-voz.
Foram para o próximo item. Os Cavaleiros que serviam a Academia foram levados a sair da Academia depois de não terem seus pedidos aceitos.
Ficaram arrasados ao andarem para fora dos portões da Academia.
— Dá um pouco de pena — Poulis falou de cima da ameia. Ao seu lado, Orion. Observavam a ida de quase 150 pessoas. — Eles serviram por muitos anos a nossa casa.
— E não levaram em consideração que não pagavam comida, armamento e estadia. Nós pagávamos para eles estarem aqui. E quando precisamos deles, descartaram nossas vozes e deram ouvido a ganância.
Orion deu as costas.
I
Os Selectores se reuniram no primeiro mês desde que Tauros assumiu a diretoria. Magnus ainda era medicado por Melissandre e Drieck teve os movimentos dos braços devolvidos. Não foi para a reunião, com Senma e Orion sentados lado a lado.
O velho bibliotecário lia um procedimento de cura especializado em membros cortados. O livro flutuava diante seus olhos. A mão de Orion ia ao queixo, focado no entendimento de matrizes angulares, para modificações de estruturas de alquimia.
Poulius, Handley, Mey e Rayssan entraram juntos na sala, observando os dois presentes e trocando comentários sobre magias e matrizes. Poulius sentou-se a direita de Orion, analisando a leitura. Handley a esquerda de Senma.
— Agradeço por terem vindo — Tauros entrou e fechou a porta. — Podemos começar?
Orion abaixou seu livro. Quando Senma não fez o mesmo, ele mesmo puxou o livro para baixo.
— Ah, perdão — disse o velho bibliotecário. — Me perdi nas palavras.
— Não faz mal. Os assuntos de hoje, iremos do financeiro, para os batalhões, e depois para os patrocínios.
— Tudo resolvido.
Tauros olhou para o outro lado da mesa. Orion tinha um caderno e papiros abertos. Os Selectores esperaram, mas Orion ergueu a cabeça.
— Ah, querem um relatório completo.
— É óbvio — Rayssan respondeu. — Como você pode dizer que está tudo resolvido e não mostrar nada?
Orion não ligou para a raiva dela.
— Eu fiz um acordo com o líder da guilda dos Caçadores. Ele conversou com os comerciantes locais que nos disponibilizavam vestimentas e objetos do dia a dia. Ao invés de comprar, fiz uma mudança de valor, dando gemas e plantas de modificações de moradias, que seriam ainda mais eficientes. Eles tiveram uma grande perda por causa das criaturas, então disponibilizei três Magos de Terceiro e dois de Quarto Núcleo para lidarem com os problemas sem custo. — Ele girou a página. — Fiz uma visita aos fazendeiros, disse que os preços dos alimentos estavam abaixo da renda de mercado, então, pedi que aumentassem o preço, mas dediquei um lugar melhor para que plantassem. Como conhecem, o Lago Morto está inutilizado faz quase cinquenta anos. Pedi para Lumiere, que se tornou Arche-Maga há dois dias, para fazer uma verificação final do solo, e consertar cerca de 50% do espaço.
— Você consertou o Lago Morto? — Mey perguntou ainda com cara de taxo. — Desde quando?
— Produzi uma matriz de purificação. Entreguei a ela e pedi que conduzisse todo o experimento. Ela tem capacidade para distinguir os melhores pontos já que estuda o lago há mais tempo que eu.
— Deixou o Lago ser consertado? — Rayssan direcionou a Tauros. — Deu autoridade para que ele fizesse tudo isso sozinho?
— Poulius esteve com ele. Não recebi nenhum pedido para pará-lo, então, sim. — O diretor esticou a mão. — Continue, Orion.
— Certo. — Ele abaixou a cabeça. — O terreno vai ser dividido em lotes, mas eu recomendo que seja feita algum tipo de defesa sólida para que não haja nenhum ataque de criatura ou bestas nas fazendas. Se eles mudaram para cá, cortamos as despesas de locomotivas e entregas em quase 10 moedas de ouro por semana. As torres foram consertadas por pedreiros da guilda e nos cobraram apenas o mercado, 2 moedas de ouro por dia. As ameias foram limpas e refeitas. E os patrocínios, entramos em consenso ontem de que todos os grupos que vieram de cidades livres não fossem aceitos.
— Quantos grupos vieram? — perguntou Tauros.
— Quinze deles.
— Quinze? — Senma ficou perplexo. — São muitos. Mais do que da última vez.
— E negar todos eles? Que ideia de maluco é essa? — O rosto de Mey ficou vermelha. — Como você deixou eles irem embora?
— Eu entrei em contato com um antigo colega, do Banco Central de São Burgo. Eles o chamam de Economia.
Senma e Tauros travaram.
— O homem mais influente das cidades neutras? Você o conhece?
— Claramente. Já fiz negócios com eles, e também, conseguiu um empréstimo com um antigo amigo, de muito longe, chamado Homero. Ele me xingou de diversas formas, mas me deu bastante ouro. Podemos esperar Economia dar seu veredito com esse montante.
— Que foi?
— Ele entregou cerca de 100 mil moedas de ouro.
Senma foi o primeiro a se levantar, completamente assustado.
— De onde você veio, moleque? Ninguém dá esse valor simplesmente porque quer.
— Nem mesmo não querendo. — Mey negava completamente. — Está ficando louco. Impossível isso ser verdade.
Handley bocejava e olhava de um lado para o outro. Seu interesse em burocracia era zero. Poulius e Orion também ficaram calados, vendo-os comentar, desprezar, zombar e falar asneiras por quase dois minutos.
— Cansaram? — Orion ainda se mantinha bem calmo. — Acabaram de falar alto e gritar como desesperados?
Claro que ficariam daquela maneira. Homero era um tritão que não daria os tesouros do fundo do mar de bom grado. Orion fez um acordo, que demorou muito tempo, mas conseguiu. Para ganhar tanto tesouro, Homero viria ver o céu cerca de três vezes no mês.
Com a magia de portal, era fácil e simples.
Na verdade, depois de ver os termos do acordo, Orion se sentiu mal demais. Era ganhar em cima do tritão.
— Orion. — Tauros falou calmamente, mas existia resistência. — Creio que dizer essas palavras assim, de maneira tão leviana, realmente causa espanto. Todos esses problemas, nós ficamos mais de três semanas tentando montar um plano.
— Por que eu mentiria? Tenho Poulius ao meu lado, ele pode comprovar cada palavra minha.
— É verdade tudo o que foi dito?
Poulius acenou com a cabeça.
— Completamente, senhor. Nossas despesas chegavam a 120 mil moedas de ouro por ano. Com essa reforma, chegamos ao valor de 70 mil, e com todas os patrocínios, teríamos 85 mil. O lucro de 15 mil é substancial, podendo variar entre algumas casas.
— No entanto, eu vi aqui que a Ordem não paga o tributo a Academia faz quase dois anos por conta da guerra, mas Arsenus e as outras receberam. Nós entramos em contato, e a Ordem pediu uma chamada para entender a situação. — Orion passou duas páginas e apontou. Sem necessidade, pois já sabia quanto era. — Mas, eles nos devem cerca de 150 mil moedas de ouro pelos dois anos. Vamos tentar negociar pelo menos 100 mil.
Poulius concordou.
— Esse é o real valor que devemos ter até o final desse mês, diretor. 115 mil na folha de pagamento, excluindo a conversa com Economia, do Banco Central.
Era um valor que nenhum deles esperava. Era estranho até mesmo para Orion. Se Magnus tivesse corrido atrás, teria como reaver todos esses direitos e ainda mais por sua influência. Tauros e os outros também teriam capacidade de enxergar isso se fossem mais a fundo.
Procurar era uma habilidade que Poulius possuía. Ele quem conversou com a Ordem e também com os fazendeiros. Metade do trabalho tinha sido feito por ele, e não erguia a voz de ir contra os argumentos de Orion.
Ele era realmente uma pessoa bem simples de lidar.
— Os Cavaleiros foram doados, como bem sabem. E as vendas de todos os papiros, pílulas e plantas renderam algumas milhares de moedas. Entramos em contato com algumas famílias de segunda linha do continente, que rivalizavam com os Lila e Dalila, mandamos uma carta e estamos esperando um retorno da venda e compra.
Senma tocou o ombro de Orion e afastou, se escorando na cadeira.
— Você é mesmo humano, rapaz?
— Por mais que seja estranho, meu próprio pai me perguntava isso as vezes. — Ele fechou o livro e entrelaçou os dedos. — Como eu tinha dito ao diretor, todos os problemas que envolvessem a Academia retornados em dinheiro, Poulius e eu daríamos conta. Agora, se quiserem proceder a reunião.
Interiormente, Poulius deu uma bela gargalhada. O diretor quem deveria estar conduzindo o encontro, não um rapaz de 18 anos.
— Cersei enviou uma carta — Tauros falou depois de um tempo. — Está vindo nos próximos dias. Todos sabemos como essa mulher atua, e não podemos deixar de jeito nenhum ela encontrar com Magnus.
A porta se abriu velozmente. Kevin ajoelhou-se, em respeito e cansaço.
— Senhor. — Sua voz falhava, os guardas o ajudaram a levantar. — Senhor, a mulher chegou. Cersei chegou agora.
Tauros levantou-se rapidamente.
— Como? De onde ela veio?
— Papiro espacial, senhor. Pátio Neutro.
Orion deu um suspiro. Fez um giro no ar com o dedo, um portal se abriu diretamente para o Pátio Neutro. Do outro lado, mais de vinte Magos com túnicas vermelhas e amareladas, fortes em corpo e mana, de queixos erguidos.
Eram parte do esquadrão principal de Arserus, a Academia do norte.
A única que se destoava das cores quentes era a mulher, baixa e de vestido azulado, os longos cabelos brilhantes em tom céu, e um cajado em mãos com uma pérola roxa no seu topo, expelindo uma fraca luz.
— Diretor, sua visita o aguarda. — Orion esticou o braço. — Não deveria desperdiçar o tempo descendo escadas.
Tauros caminhou e parou antes de ultrapassar.
— Quero todos comigo. — Olhou para Orion. — Incluindo você.