Passos Arcanos - Capítulo 165
Randysse conjurava sua magia de fogo para segurar a ponte. Como havia previsto, os Sacerdotes avançaram. Eles foram cercados pelo outro lado, e estavam na desvantagem numérica. Farram já continha um ferimento na perna, e Antony foi jogado para longe.
Na frente dos Sacerdotes, uma das mulheres mais perigosas que existia. Não era para ela estar ali.
Uma das cartas que recebeu dos postos avançados, dos outros acampamentos, era que Gemini, uma das Campeãs da Luz, estaria partindo para resolver uma questão política. Alguma Maga conhecida como Eliza Atena tinha feito um estrago e queriam ela morta.
Mas os boatos eram mentira.
A runa a sua frente estava rachando. Mais um ataque concentrado, e ele não poderia assegurar seus homens.
— Farram, leve todos para Cro.
— Não, eu ainda…
— Isso foi uma ordem — berrou Randysse. — Leve todos e maldito seja o Baker, que ele esteja vivo para poder nos ajudar.
Ainda olhando para trás, Randysse curvou a sobrancelha, abrindo a boca. Um pequeno grupo se aproximava, estavam um pouco machucado, quase não caminhavam direito, alguns eram ajudados por Cavaleiros Negros, escuros como breu, de armaduras e elmos que não refletiam a luz do dia.
E no meio deles, Lingot.
— Senhor. — Farram gritou. — A runa.
Um vulto passou por ele e o empurrou para trás, A runa em sua posse simplesmente perdeu a conexão por mana. E a barreira se expandiu por longos cinquenta metros, incluindo aos arredores do rio e da ponte.
Observou o rapaz deslizando o dedo no ar e criando alterações. Sua barreira se tornou mais densa, resistindo ao calor, ao frio, e também as rajadas. Randysse percebeu sua face, o Baker não parecia nem ao menos nervoso pela situação.
Uma montanha, ele parecia uma montanha fria e sólida.
— Você está vivo. — Recebeu o abraço de Lingot pelas costas. No meio da dor, existia paz. Virou-se e a agarrou com vontade. — Que bom que está vivo, Randysse.
— Você também. — Ele a separou por força, olhando para seus braços e pescoço. — Eles te machucaram, não foi? Conseguiram fugir?
— Não fugimos. — Lingot apontou para frente. — Ele derrotou todos os Feiticeiros que estavam na Ruína de Cro.
— Todos? — Farram quase cuspiu ao perguntar. — Disseram que tinha mais de cem deles lá dentro?
Ela confirmou com a cabeça.
— Até o General dos Feiticeiros, Angulor Hatashi, foi morto por ele. — A expressão dela ao dizer a vitória não foi feliz. Era medo e cautela. — Não sei como conheceram ele, mas esse Mago está muito acima de qualquer um que conheço.
— Ele é o Baker — Antony falou caído no chão. — Ele nos salvou da maldição também.
— Feitos pequenos. Vamos recuar, ele não vai querer ter a gente como empecilho pra se preocupar.
Nunca tinha ouvido Lingot, uma das Espadas Cinzentas, de um esquadrão famoso por sua agressividade se submeter a recuar apenas porque alguém chegou. Ela reconhecia os mais fortes e sempre os confrontava.
Se não podia o vencer, poderia aprender.
Apenas recuar. Randysse olhou para o Baker afastar a magia dos Sacerdotes para longe somente erguendo sua mana. Um rebote, as magias de cânticos retornaram para seus donos, ainda mais fortes.
— Você, Mago. — Gemini aumentou sua mana e segurou os disparos. — Sinto sua aura expandir, mas não sinto sua presença. Você é um Grande Mago?
O título chocou os demais. Orion permaneceu parado e abaixou seu escudo. Andou na direção da ponte.
— Eu queria poder dizer que sim, mas estou constado apenas como Mago de Primeiro Núcleo nos registros da Ordem. — Parou na borda da madeira. — Ainda tenho muito a aprender para chegar a ser um Grande Mago.
— Está forjando essa falsa aura?
Randysse negou mentalmente. Aura não se podia forjar, era natural de uma pessoa. Sua experiência, sua vida, seus estudos, suas perdas, tudo mesclava a aura de alguém. Os Sacerdotes podiam sentir mais do que os Magos porque eles recebiam um poder dos Deuses conhecido como ‘Visão Abençoada’.
As intenções de alguém poderiam mudar a aura. Por isso que enfrentar um Bispo ou Cardeal era tão difícil. Eles não podiam ler a magia, mas podiam ler o momento que elas seriam liberadas. Uma Campeã da Luz era um soldado forjado, em um nível alto, para confrontar Arche-Magos.
Gemini era uma das muitas que existiam. Não era a mais famosa, outros como Azrael Carnage, se destacavam por sua capacidade destrutiva. Essa mulher era mais reservada, nunca se pondo no caminho de oponentes errados.
— Não posso forjar o que vive dentro de mim. — Orion pisou na ponte, e toda a mana reunida num raio de cinquenta metros foi puxada para si. — Só posso moldar o que está fora.
A água, o vento, cada objeto orgânico e inorgânico libertou uma conjuntura de mana que foi absorvida para a manopla de seu braço esquerdo. Ele segurou, sem ao menos ondular.
— Não desgrude os olhos — disse Lingot. — Ninguém pode superar esse Mago. Ele ficou mil anos para ganhar do Feiticeiro.
A sucção terminou e ele apontou para frente.
— Conheço seu rosto e seu nome dos livros da ordem — disse Orion. — Sei que destruiu muitos lares e fez das pessoas que moravam em Porb serem enviadas para um batismo de fogo. Aqueles que queimaram foram enviadas aos Sete Infernos.
A runa se desdobrou como papel, um leque de centenas de círculos e camadas, uma estreita e outra não.
— Quero que encontre cada um que enviou para lá pessoalmente.
— ‘Senhor da Guarda e da Proteção, assegure meu caminho enquanto meus inimigos surgem.’. — Uma imensa camada de mana cobriu o terreno ao redor. Os seus cem Sacerdotes foram engolidos por uma luz forte e protetora. — ‘Nada além do abismo pode converter os enfieis. Sucumba’.
O ar retorceu por dentro de Orion, parecendo o esmagar e curvar. Mas, num estalo de dedos, ela se dissolveu.
— Perdão. Essa magia não funciona comigo. ‘Antiga Viesk: Sol Carbono’.
A parede de fogo cresceu e avançou rápido. A ponte, a água, a grama, a floresta, tudo para frente se incendiou. A luz que acendeu na floresta foi tão grande que metade do Campanário pôde ver. Randysse engoliu em seco.
Os fogos continuavam se libertando, mais e mais, por mais de vinte segundos, um minuto, dois minutos. Uma quantidade imensa que parecia inacabável. Farram e os outros ficaram abismados.
Esse era o poder completo do Baker?
— Ele nem parece fazer força — falou baixinho.
— E não está — respondeu Lingot. — Eu disse, ninguém vivo pode superar ele. Quando acabarmos, iremos fazer uma relatório, e diremos seu nome. Eu não seguirei ninguém mais, Randysse, a não ser esse homem.
A própria Lingot estava se submetendo a um Mago? A orgulhosa Espada Cinzenta?
Orion Baker, quem realmente é você?
Finalmente as chamas se esgotaram e Orion olhou para a própria mão. Abriu e fechou os dedos.
— Parece que foi um pouco mais fraco do que eu tinha imaginado. As runas não funcionam muito bem por um tempo muito longo. — Respirou e expandiu a matriz da magia como se nada estivesse acontecendo ao seu redor. — ‘Permanência’ é pior do que ‘Constância’.
Ele simplesmente trocou um símbolo de lugar e fez um novo caminho para as ligações e corredores de mana. Ao girá-la no ar, uma fraca brisa de ar se formou. Randysse sentiu seu corpo absorver um pouco, e admitiu que respirou um pouco mais leve do que antes.
Ao seu redor, seus homens também pareceram menos tensos. A sensação de paz e tranquilidade dada por Orion parecia chegar a eles por meio da mana, nunca tinha presenciado isso antes.
— Acho melhor recuarmos por ora. — Orion se virou e retornou. — Eu fiz bastante estrago e duvido que o Clero vai deixar barato.
Ele curvou o dedo no ar e o portal se abriu. Do outro lado, a porta das Ruínas de Cro.
— Que merda é essa? — Farram perguntou de olhos abertos. — Como consegue fazer isso, Baker?
Orion já tinha passado e seus soldados carregavam os feridos para dentro.
— Sou um Mago de Matéria, sei fazer muita coisa diferente. — O chamou com a mão. — Vamos, eles vão chegar a qualquer momento. Precisamos recuar um pouco e rever nossos…
Orion encarou adiante e uma runa se abriu como uma flor desabrochando.
Uma muralha de água se ergueu sem ele ao menos ter dito nada. Quase duzentos tiros consecutivos acertaram a parede de água. Não tinham reparado, mas a magia de fogo anterior, mesmo sendo intensamente poderosa, não queimou nada na floresta.
Apenas a ponte foi destruída. E claro, Gemini do outro lado carregava queimaduras bem graves pelos braços e pernas. Seus homens, no entanto, ilesos.
— Vai fugir? — ela gritou e pisou dentro do rio. A água se distanciou quase 2 metros, sem tocá-la, e seu corpo exalava uma imensa aura amarelada. — Me enfrente se for um Mago.
— Provar meu status para uma Campeã da Luz, que ironia. — A barreira de água abaixou.
Ele fez duzentos disparos de Sacerdotes não serem absolutamente nada. Orion deu um passo para frente e deixou o restante do esquadrão passar.
— Randysse, eu cumpri minha promessa. — Olhou para trás. — Estarei voltando em alguns minutos para resolvermos o resto.
Gemini pulou e sua imensa espada de folha larga brilhou. Escrituras foram forjadas em sua lâmina, e seu grito revelava a fúria e dor que sentia. Randysse não sabia, ele morreria se enfrentasse uma mulher daquela cara a cara?
Uma lança escapuliu para a mão de Orion do vazio e ele combateu a espada com uma defletida forte. Depois, o portal se fechou.