Passos Arcanos - Capítulo 169
— Você finalmente chegou — Cersei falou abertamente. — Orion, venha até aqui.
O círculo dos Diretores e Selectores, os mais fortes e também experientes homens e mulheres das cinco maiores Academias. Orion reconheceu alguns dos jornais que chegavam semanalmente para ele, e alguns de nomes bem conhecidos por terem ido e voltado da guerra.
E seu nome, a Ordem também havia anunciado sobre o jovem que recuperou a Ruína de Cro em apenas um dia de uma horda de Feiticeiros e venceu um dos Mestres da Morte, um título que era dado aos que viviam mais duzentos anos.
Se for assim, matei dois. Green Shay também viveu mais de duzentos anos.
Deixou isso de lado quando se aproximou. Edward se curvou a diretora. Ela usava um vestido azulado, tão frio quanto a temperatura local, com joias nas abas e um chapéu largo e pontudo. Os seus dois Arche-Magos estavam mais atrás, no entanto, os Selectores eram suficientes para protegê-la caso acontecesse alguma coisa.
Eram dez deles, cinco homens e cinco mulheres.
Orion não se curvou a ela.
— A senhora deve conhecer Edward Limoi. — Orion esperou que ele erguesse a cabeça ainda sorrindo. — Ele foi escolhido pelo conselho como o novo Selector. Veio aqui para ganhar experiência com o mundo.
Ela deu uma risada.
— Muito espertinho da sua parte me esconder que esteve em Campanário. Li o relatório de Lingot e Randysse, foram bem diretos dizendo da sua força e também da vitória contra uma Campeã da Luz.
— Gemini era o nome dela. Nada comparado ao Círculo de Lumos. — Orion tocou o ombro de Edward. — Essa é a diretora da Academia de Arsenus, uma mulher poderosa e bem divertida, se apresente apropriadamente, por favor.
— Divertida? — Cersei achou graça. — Eu nunca fui chamada assim antes. — Esticou a mão para o Selector. — É um prazer, Ed. Posso te chamar assim?
— C-Claro, senhora. — O rapaz quase tremia. Sorria abertamente, e olhava para todas as facetas com grande admiração. — Eu sempre li sobre os senhores, todos vocês. Sou um grande…
— Chega de apresentações. — Orion o empurrou para o lado. — Tauros me enviou como Selector, mas vou participar como estudante. Quer que eu pegue leve com os seus, senhora?
— Por favor, ensine alguma coisa aquelas mentes fechadas. — Ela acenou em despedida. — Depois vamos conversar mais.
— Eu te encontro.
Assim que saiu, um dos Selectores se aproximou de Cersei. Era Bane, um dos mais antigos, e também com hierarquia mais alta, sendo um Arche-Mago de Quarto Núcleo. Diferente dos outros, ele não lutava nas competições.
— Esse é o rapaz que mencionou? — perguntou abertamente. — O que enfrentou o Feiticeiro em Campanário?
— Ele mesmo. O que achou?
— Forte. Sem aura. E camuflando seu núcleo.
Só o fato de Bane elogiar alguém era fora de senso. Nem mesmo os Cavaleiros de Gargantus foram elogiados da última vez.
— Ele é bastante. — Cersei deu um sorriso ao se virar para os outros Selectores. — A missão de vocês nessa competição é apenas aquele rapaz. Orion Baker, chamam ele de ‘Último Cão Imortal’. Magnus já tinha me falado que ele era especial, mas seu conhecimento nas áreas diversas se prontificou como um dos mais poderosos nessa nova geração.
— O senhor Bane disse que ele escondeu sua força. — Monessa Ardin era jovem, com seus vinte e cinco anos, e Arche-Maga de Segundo Núcleo. — A senhora sabe qual é?
— Não. Nem eu pude entender como ele diminuí a própria capacidade. Mas, eu conversei com o antigo diretor, antes de Magnus, e ele disse que a capacidade de raciocínio dele beira Grande Mago.
Uma informação difícil de engolir, até mesmo para Bane.
— O que foi? — Cersei ficou ainda mais sorridente. — Não acham um máximo um garoto tão novo ser tão forte? É uma ótima chance de mostrarem o motivo de serem Selectores.
— Senhora, um Grande Mago é acima de qualquer um de nós. Precisaríamos de pelo menos cem Arche-Magos de Quinto Núcleo para parar alguém assim. — Esse era Lucas Trafagar. — Afirmar que ele tem conhecimento assim… é surreal. Nem mesmo o Selector Bane chegou a esse nível de conhecimento ainda.
Cersei deu de ombros.
— Eu quero que vocês vão lá e descubram se é verdade. Se for, então teremos que tomar um providência. — Ela piscou algumas vezes e virou a cabeça. — Estão com medo da Academia Magnus, meninos?
— Não, senhora — responderam os nove. Bane se manteve calado.
— Ótimo. Bane, quer ir em algum lugar?
— Por favor, senhora.
Ela cedeu com a cabeça, o deixando partir.
— O restante, vamos para nossa estalagem. Estou com um pouco de fome e sei que vai ter um banquete para todos nós. — Cersei bateu palmas, mandando todos para dentro. — Vamos, vamos.
I
Depois de algumas horas de descanso, um dos mensageiros chegou aos quartos anunciando sobre o banquete. Orion e Edward foram convidados para descer da torre que foram hospedados e chegaram ao salão.
Uma mesa quadrada se estendia por todo o recinto. Os lugares todos já haviam preenchidos, e ao entrarem, se tornaram alvos. Edward passou acenando com a cabeça e cumprimentando algumas figuras notáveis, como a Dama de Gelo, da Academia Nobrega e os Punhos do Deus Flamejante, da Academia Gargantus.
O próprio Gargantus sentava-se numa ponta comendo freneticamente e sem parar pedaços de galinha, poco e boi. Seus Selectores ocupavam ao redor sem se alterar. Aquilo já era normal, pelo visto.
Assim que Orion se sentou, reparou que ao seu lado direito havia a diretora Charlote Afonso II, da Academia Nobrega. Ela comandava a única escola onde apenas mulheres poderiam estudar, e a sua esquerda estava Johan Frederick Ansun, o diretor da Academia Ancião.
Por alguma razão, a cadeira ali se tornou vazia. Edward se sentou perto de Bane e Cersei, conversando com alguns jovens Selectores ao redor. Não eram todos frios, na verdade, boa parte conversava uns com os outros como se fossem amigos de longa data.
O único na posição de não ter assunto era Orion.
O que vou falar com esses dois? Magnus riria da minha cara sabendo que fiquei logo aqui.
— Orion, não é? — Charlote disse ao pegar um pouco da sopa com a colher e tomar. — Normalmente, esse lugar pertenceria a Magnus ou ao atual diretor. Espero que não fique tão desconfortável. Não somos monstros, nem nada parecido.
— Algumas pessoas são — retrucou Johan baixinho, rindo. — Tome cuidado com as mulheres, rapaz. Elas te consomem por inteiro se deixar.
— Consomem aqueles que não sabem apreciar — retrucou a diretora com um olhar calmo. — Diga, Orion, é verdade que o Campanário é dividido em três áreas diferentes? Eu li o relatório, fiquei impressionada com tudo o que aconteceu.
No final das contas, eles eram curiosos como qualquer pessoa.
— Disseram que você enfrentou uma Campeã da Luz, mas foi uma bem fraca. — Johan não falava com zombaria. Na verdade, ele era um diretor, qualquer um abaixo do seu nível era considerado bem fraco. — Como ela era?
— O Feiticeiro usava uma magia para distorcer o tempo, era por isso que conseguia sobreviver por tanto tempo. — Achou a resposta direta demais, porém, Charlote o fitava esperando mais. — Quando eu entrei na sala do trono, ele expandiu sua mana para me forçar a ir junto em um plano diferente.
— Magias planares são extremamente complexas de se criar — Johan comentou cortando um pernil ao meio com uma faca de prata. — Como sabe que não foi apenas uma ilusão?
— Uma magia de ilusão não distorce o espaço. Ela é apenas uma composição diferenciada do que seus sentidos podem absorver, e engana seu instinto. — Usou o garfo e espetou uma salsicha frita. — A magia dele foi além disso. Ele chamava de ‘Mundo da Morte’.
— Logo essa magia? — Charlote balançou a cabeça, vacilante. — E pensar que esse Feiticeiro poderia usar uma habilidade tão desastrosa. Deve ter sido difícil lidar com ele.
— O corpo dele estava em decomposição. — Orion enfiou uma parte da salsicha na boca e mastigou. — Se não fosse por essa magia, ele poderia ser derrotado por qualquer um. O plano que usaram para tomar o Campanário foi orquestrado por um grupo conhecido como ‘Trexx’.
Johan assentiu apontando seu garfo.
— Lembro deles. Fugiram faz quase dez anos. Eles eram poderosos, cheios de orgulho por serem os maiores Feiticeiros e tudo mais. Depois que o Grande Mago chutaram a bunda deles, correram com os rabos entre as pernas. — E deu uma gargalhada. — Quem ia imaginar que eles estavam no Desfiladeiro.
Orion também conhecia a história. Um grupo forte e poderoso, subindo os degraus da magia mais rapidamente que outros. Seus membros poderiam ser comparados aos Arche-Magos mais fortes. Na histórias, fortes. Na realidade, Orion demorou cerca de três horas para entender como funcionavam suas magias e maldições antes de quebrá-los ao meio.
E pegou todos os livros que eles possuíam. Um grande tesouro.
— Qualquer dia eu gostaria de ir até lá — disse Charlote. — Dizem que as florestas são grandiosas, cheias de vida. E são tantas folhas que chega a ser difícil saber onde está. Estou muito acostumado com o gelo e com a neve.
— Demoraria mais de seis meses — respondeu Johan. — As Academias seriam viradas de cabeça pra baixo se acontecesse.
Orion sorriu, tirando-a de um transe pensativo.
— Se quiser ver como é, posso te mostrar, senhora.
— Conhece? — Ela bateu palmas de felicidade. — Ficaria lisonjeada, Selector Orion. Por favor, me faça esse favor qualquer dia.
Ele curvou um pouco a cabeça.
— Será um prazer.
— Ei, Selector. — Orion se virou para Johan. — Pode me mostrar também? Só um pouquinho?
— Claro, senhor. Vai ser uma honra.
Os três conversaram por mais de uma hora sobre magias, leis e também conceitos que os Escolásticos tentavam modificar. Charlote era tão inteligente quanto sua beleza e educação, nunca foi contra os seus argumentos, sendo bem receptiva e também aconselhando.
As amarras de Arcanismo Comum, Johan tinha um pouco sobre matrizes. Orion deixou claro que a facilidade de se mudar uma runa deveria ser feita por um especialista, levando em consideração a opinião do diretor.
Eles riram de histórias contadas. Os dois diretores eram grandiosos, tendo batalhados por tantos anos que chegava a ser incrível nunca terem ido ao Campanário antes. Ouviu sobre a Batalha dos Quatro Dígitos, uma que só tinha lido nos livros.
Mais de mil magos enfrentando uma criatura milenar draconiana que surgiu de um vulcão em erupção. Eles tiveram que conter a fera e prendê-la em uma fenda espacial. Ninguém sabia onde porque um único Arcanista teve que forjar a runa e sumiu depois daquilo.
Charlote e Johan eram Arche-Magos na época, de Primeiro Núcleo, e atuavam na mesa com grande disposição. Não só Orion ouvia, seus Selectores e os demais faziam questão de parar para escutar. Cersei e Gargantus também estavam na batalha, mas nada disseram durante o conto.
Houve um momento que apenas a voz dos dois se elevavam, e Orion questionava momentos específicos onde um Mago registrado usou uma magia de Gelo, muito complexa e difícil de ser criada.
— Nós fizemos história, mas esse jovem era Terubi Gargop. Ele era genial, conhecido como um elementar de duas camadas, conjurando o Vento e a Água. — Johan fez um círculo mágico no ar com a ponta do seu dedo e mostrou cada elemento. — Ele uniu os dois e fez uma magia conhecida como ‘Crista Emoldurada de Terubi’.
A boca de Orion se abriu, chocado. Era o mesmo no livro.
— Uma magia muito poderosa — concordou Charlote. — Ele tinha que encostar no seu alvo, então um dos Magos de Força jogou ele na direção do dragão enquanto nós ficamos de proteger o chão. E ele conseguiu, mas custou muito.
— Foi congelado. — Orion sabia. Um homem que sacrificou a si para salvar o mundo. — Ele foi um herói.
— Com certeza.