Passos Arcanos - Capítulo 170
Para tomar um ar, Orion saiu da mesa com muitos ainda conversando e se dirigiu para a plataforma de chegada. Lá, não existia teto, apenas uma imensa placa de ferro sob seus pés e uma visão incrivelmente gelada de um mundo branco.
A neve caía lentamente, sobrepondo um pouco do seus ombros. Parou na borda, respirando fundo e pondo seus dois braços para trás das costas. Ali era calmo, o som do vento era o único que se propagava soprando entre as montanhas e seus picos, um assobio mortal de um clima drástico.
A magia de gelo nunca esteve em sua mente, mas ouvir sobre as histórias deu a Orion uma noção do que deveria ser feito para criá-la. Elementos secundários eram difíceis de serem controlados, e seu corpo atual não parecia capaz de suportar nem mesmo conjurações duplas.
Esse era o seu foco atual. Desde que havia retornado do Campanário, queria ter a capacidade de conjurar duas magias ao mesmo tempo. Teve que trabalhar um pouco para manter a Academia de Magnus leve para Tauros, então mesclava seus estudos em três partes diferentes.
A Alquimia, uma forja de materiais que forneceriam muitos benefícios a longa data. Uma arte pouco valorizada, onde até mesmo os Escolásticos desprezam. No entanto, o retorno era em ouro. Uma chance que deixou Lumiere empregar por ora.
As Maldições, uma conjuração reportando o lado negro da magia. Cada maldição levava um custo do corpo, e Orion não entendia muito bem. Desde que enfrentou Angulor Hatashi, ficou fissurado para entender como eles agiam e como estendiam seu tempo de vida.
A biblioteca quase não tinha livros com esse conteúdo, logo teve que estagnar a procura e voltar para os registros e anotações dos próprios Feiticeiros.
E por último, a Conjuração Dupla. Uma arte que ninguém tinha certeza se existiu ou não. Apenas que era necessário uma concentração completamente absurda e um poder que muitos diziam ser apenas dons sobrenaturais.
Orion achava ridículo. Magia já era um dom dado pela mana. Se era possível dividir sua mente em duas para estudar ou conjurar dois ramos diferentes, era apenas uma questão de procurar o lugar exato.
As respostas do mundo eram descobertas por loucos e lunáticos.
Ele puxou um dos seus livros de ‘Magias de Partículas Avançadas’ e outro das ‘Leis de Criação da Mana’, e os deixou flutuar a sua frente. O silêncio era agradável para ler, e ficou por quase duas horas ali.
Isso até ouvir passos.
— Ah, Orion. — Era Charlote com seu vestido amarelado coberto por uma longa pelugem branca. Essa era uma mulher na casa dos trinta e cinco anos, com uma beleza que poucas nos vinte poderiam obter. — Gosta do frio tanto quanto nós dois?
Ao lado dela, Johan Frederick. Ele era mais alto do que aparentava quando se sentava. De músculo definido e um andar vago, sem objetivo. Atrás deles, dois Selectores cada.
— A vista daqui é ótima — Johan disse indo até a borda e se sentando. — Sempre que paramos aqui, nós fazemos questão de conversar sobre tudo. — Ele bateu ao seu lado. — Vamos, sente-se com a gente.
Orion fez, ficando novamente entre os dois.
Por algum tempo, os dois ficaram em silêncio, olhando para longe. Era uma pouco reconfortante, a mesma sensação quando Magnus estava presente. O fato de duas pessoas grandiosas não o olharem com desgosto e desprezo.
Se desfaça disso, agora é um Mago.
— Esses são bons livros. — A mão de Charlote se esticou e pegou ‘Leis de Criações de Mana’. — É bem avançado. Lembro que existe umas cinco formas de se criar uma magia.
— Seis.
Charlote olhou para Orion e sorriu.
— Sim, isso mesmo. Tem aquele método de conjuração por posições de dedos. — Ela tentou aplicar um deles. O livro não exibia nenhum método no estilo avançado, mas Orion já tinha lido ele também. — Algo assim.
Os dedos dela ficaram em ângulos completamente desiguais e com a palma virada uma pra baixo e outra pra cima. No entanto, nada saiu dali.
— Parece que você teve os dois braços torcidos para o lado — zombou Johan, dando uma risada. — Não faça essa careta pra mim, sabe que eu não gosto quando me dê língua, mulher.
— Cale-se, maldito diretor. — As palavras dela eram leves, sem realmente xingá-lo. — Eu nunca fui muito de estudar a ‘Conjuração por Posição’.
— Está quase certo, diretora. — Orion inclinou-se um pouco e mudou apenas apenas um pouco o braç o dela, e tirou o dedo anelar que encostava na palma e o levou ao meio do mindinho. — O fluxo de mana deve passar totalmente, sem barreiras.
Orion fez o mesmo movimento que ela, três vezes mais rápido e com precisão.
— Eu estudei ele quando era mais novo. Essa é uma iniciação para uma magia de Vento. — Ele deixou a mana correr e o fluxo se libertou para frente, numa rajada bem forte. — A rotação depende de como você posiciona seus braços, e o depois disso, vem a runa.
Quando separou os dedos, não existia runa a ser mostrada. Mesmo que não tivesse, os dois diretores ficaram pensativos.
— Isso é bem interessante. — Johan tocava os lábios, apoiando seu cotovelo na própria perna. — Está convertendo mana dentro de si, em uma runa interna, e libertando na posição dos dedos.
Orion assentiu. Ao respirar fundo, deixou que a energia acumulada se dissolvesse sozinha.
— Um Arche-Mago tinha que conhecer esse método também — disse Charlote. — Mas, duvido que alguém estude isso tudo.
— Deveriam. — O poder das conjurações não se podiam medir. — Tem muito com o que aprender, até mesmo um Mago de Fogo pode se beneficiar lendo sobre as magias de água. Existem muitos tabus na Ordem que não nos deixa evoluir.
Os dois diretores encaravam-no com um sorriso de canto e uma expressão leve.
— Perdão. — Orion abaixou a cabeça velozmente. — Se eu disse algo que ofendeu, me perdoem.
— Ofender? — Johan segurou seu ombro e balançou freneticamente. — Ouvir alguém da sua idade falar algo assim nos traz paz, isso sim.
Charlote também soltou uma risada leve.
— A antiga geração também sofre com tabus, Orion. Você é um pilar futuro que vai sustentar esse mundo quando formos velhos demais. Só de conhecer metade desses problemas já te faz muito acima da média.
— Muito acima — a mão de Johan foi ao alto, como se medisse a distância. — A Ordem tem seus defeitos desde a fundação. Se uma pessoa luta por mudança, ninguém aceita. Agora, se todos lutam, eles devem rever.
— Então, não se importam com tabus? — Charlote e Johan negaram no mesmo instante. — E seus Selectores, eles se importam?
— Nós escolhemos a dedo quem deve seguir a nossa própria definição de força e poder. — Charlote se virou para os seus dois Selectores. — São como filhos, nutridos e treinados pelas mãos mais fortes para nunca se renderem ao mal.
Era uma chance, então.
— Se não se importam com isso. — Orion se levantou. — Gostaria de mostrar o Campanário a vocês agora.
Os seis foram pegos de surpresa. Tanto Diretores quanto Selectores. O susto e também surpresa, gostaria de vê-los com suas bocas abertas e sem fala. Charlote foi quem falou primeiro:
— Aqui? Como?
— Eu conheço uma magia interessante. — A mana do seu núcleo correu para seu dedo e ele riscou um quadrado no ar. Esticou sua palma e libertou uma imensa quantidade de mana de uma só vez. — ‘Somat: Ponto Futuro’.
Uma conexão com a mente. As magias de Partículas eram ligadas a imagem, conexão e afinidade. Assim como todas as outras magias. Seu fluxo era sempre a imagem, se não houvesse um lugar definido, com cada detalhe presente, não se formaria.
A magia espacial era assim. Para Orion, que gravava tudo de uma só vez em uma só vez, ele poderia ir em qualquer lugar que esteve ou que sua visão alcançou.
A conexão deveria ser feita pela distância, quanto mais longe, mais mana seria usada. Isso levando o fato da imagem em sua mente ser de boa qualidade ou não. Então, Orion não usavam tanto. E por último, a afinidade, um estado onde se sentia confortável de criar a magia.
A primeira vez que usou, quando salvava Joia, a filha de Poulius, ele gravou uma runa de teleporte usado pelos Caçadores de Órgãos, e a modificou para ser uma plausível. Aquilo lhe custou muito, e teve que usar o rastreamento da mana da garota para chegar até ela.
Naquele tempo, sua afinidade poderia ser baixa. Mas, por ter sucesso, seu corpo se adaptou a construção tanto da mente quanto dos músculos.
Fazer um portal para Campanário era simples. Mas, por via das dúvidas, ele forçou a si para que não parecesse.
— Parece um quadro. — Charlote estava tão impressionada que nem piscava. — É como se estivesse ali, e eu poderia tocar.
— E está mesmo — Johan respondeu. — Está sentindo a brisa quente? Está vindo dali de dentro. Orion, pode aproximar mais? Só um pouco.
O quadro veio flutuando lentamente na sua direção. E parou cerca de trinta centímetros dos três. O sol ali no Campo Nevado era suprimido pelas nuvens cinzentas e pesadas. Os dois esticaram as pernas e viram os raios solares acertaram suas botas cheias de neve.
Aos poucos, viram que a neve se dissolveu.
— Incrível. Isso é um…
— Magia Espacial. — Johan se esticou a frente e pisou na grama. Ele estava de pé, do outro lado. E abriu os braços. — Isso é incrível. Olhe pra mim, Charlote. Estou no Campanário Verde. Uma distância de quase cem mil quilômetros de você.
Ela deu uma risada e pulou dentro também. A grama, as árvores e a brisa quente, tudo aquilo era novo para ela. Orion olhou para os Selectores, abobados com o que viam.
— Vão ficar ai também? — Orion pulou para dentro do portal. — Venham, não vão querer perder isso por nada.
Eles hesitaram. Seus Diretores estavam ali dentro, mas… eles podiam mesmo?
— O que estão esperando, seus bundões? — Johan girava sozinho. — Não vão querer perder essa chance, né?