Passos Arcanos - Capítulo 174
— Essa seria uma luta rápida, não é?
Bane cerrava os dentes. Suas mãos negras não chegavam a Orion de jeito algum. Começou a lutar achando ser possível suprimi-lo com ataques fortes e rápidos, tirando seu ponto cego e achando a brecha perfeita.
Sua precisão sempre deu certo. O Cão Imortal desviou de suas mãos usando as mãos nuas. Ele encaixou a espada no ferro ao seu lado e abriu uma postura que simplesmente quebrava sua magia ao toque.
Rodopiava, saltava e gingava como se fosse um dançarino, maestria tanto nos pés quanto na mão, e desviava suas mãos negras com facilidade, coordenando-os como se fossem suas. Bane não entendia sua performance, mas o corpo dele era carregado de mana na pele.
— Ei, está perdido? — Orion entrou no seu campo e começou a desviar todos os seus ataques, se aproximando a passos leves e rápidos. — Preste atenção no campo de batalha.
Orion esticou ambas as mãos cinco metros de distância e uma imensa pressão liberada o lançou para longe e todas as sombras se dissolveram.
— ‘Somat: Palma do Outono’.
Capaz de liberar mana em uma área aberta e larga, a pressão de mana suprimia os elementos aos pontos se tornarem mana novamente. Uma habilidade que Orion vinha estudando com o Sol Negro.
A pressão permaneceu por longos dez segundos e Bane não conseguia conjurar nada ao redor.
— Essa magia é irrelevante. — Bane uniu as duas mãos novamente em frente ao peito e sua mana se expandiu em explosão. O pátio de ferro rangeu com tanto poder e Orion libertou a Palma do Outono. — Existe lugares onde essa magia seria considerada radical demais, mas você se mostrou digno, Orion. Sinta-se orgulhoso para ser um dos poucos a recebê-lo.
Realmente, a mana estava se concentrando nele, tentando penetrar sua mente e chegar ao seu interno. Se as sombras fizessem qualquer movimento ali, Orion iria dormir e acabar sendo dominado.
Uma habilidade das trevas mental. Era raro.
— ‘Morke: Invasão Neural’.
Como previu, a mana que tentava entrar em seus pensamentos se tornaram a escuridão.
— Por ter sido rude, por ter feito minha senhora de boba, eu vou te mostrar a crueldade de um lugar que se tornará seu trauma para o resto da vida. — Andou até Orion e segurou seu queixo, erguendo. — Aprenda a ser respeitoso com aqueles mais fortes do que você.
A mão de Orion se esticou na hora, agarrando o pescoço de Bane. Ele abriu os olhos, rindo.
— Eu terei respeito quando forem mais fortes do que eu. — E pressionou ainda mais. Bane não respirava direito. — E terei com aqueles que não esbanjam superioridade por uma magia medíocre como essa. Quer saber o que é dor?
Largou e o jogou para trás e abriu a palma.
— ‘Somat: Palma de Duas Estações’.
Bane conjurou chamas na mesma hora como uma barreira e cheias de espinhos. Orion respirou e atacou de longe. O desdobramento do ar se deu a barreira e a rachou.
— Orion sempre foi bom com ataques físicos assim? — Tauros não tinha muita noção da habilidade de combate dele.
— Ele já foi um Cavaleiro — Magnus respondeu. — E conhece muito bem todos os livros da minha biblioteca. Achei que não veria outro rapaz tão novo e tão habilidoso depois do próprio Imperador Nero, mas a vida tem essas belezas escondidas.
— O Imperador era um dos mais fortes da sua geração, não é atoa que é um Ache-Mago de Quinto Núcleo reprimido.
— Ele está apenas se mantendo quieto enquanto a Ordem procura por pistas de sua esposa.
A barreira de Bane se desfez, mas ele correu. Atirou-se no ar e chutou com imensa ferocidade. Orion bloqueou usando o braço e os dois entraram em combate agressivo. As mãos encontravam braços, os braços as pernas, as pernas gingando e os pés de uma ponta a outra.
— ‘Morke: Braço do Dragão do Abismo’.
A escuridão se mesclou ao membro direito e avançou como uma garra.
— ‘Somat: Desfoco’.
No momento que as trevas tocaram a pele nua, ela se abriu em um gemido.
— Desfoco é uma magia de defesa usada em pequena escala e concentrando a mana em partículas de suspensão e retenção. — Orion segurou o punho de Bane, o prendendo. — E existe o ‘Somat: Foco’.
Seu punho atravessou a defesa e acertou a barriga. Uma rajada libertou-se pelas costas de Bane, o lançando para longe, rolando o frio pátio de ferro. O Teatro se tornou silencioso.
O Selector da Academia de Arsenus estava de bruços.
— Levante-se, Bane — Cersei gritou de cima, irada. — O que acha que está fazendo? Você mesmo me disse que faria de tudo para que saíssemos com a vitória hoje. Mostre suas cartas, faça o que for preciso.
— Sim… senhora.
Orion respirou fundo e balançou a cabeça. Ele uniu as mãos, e modificou a posição dos dedos, a mana aos poucos se fundiu a posição, e se libertou dos grilhões do corpo. Charlote e Johan notaram na mesma hora.
— Ele vai usar conjuração por posição logo agora? — Johan levou a mão a boca. — Ele quer realmente humilhar Bane.
— Magnus. — Charlote o chamou. — Onde achou esse monstro?
O diretor deu uma risada.
— Acho que entendeu errado, senhora. Não foi nós que o achamos. Foi ele quem nos achou.
A mana dos dois no pátio foram ao auge na mesma hora. A barreira foi consumida e Nero, de cima, teve que criar uma segunda para que suportasse ambos lá dentro. Cecilia tinha um olhar de abismo, surprese e felicidade.
Ela nunca tinha visto nada parecido antes.
— Cão Imortal. — A garganta de Bane parecia se fechar, uma voz mórbida, grave e ecoante. — Eu o respeito por me fazer chegar até esse estado. Se essa fosse uma luta de vida ou morte, eu usaria tudo o que tenho.
— Não seja modesto. Não se esqueça que estou usando apenas magias de Partícula. — Todos podiam ouvi-lo. — E eu nem conheço tantas magias assim.
— Impressionante. É a primeira vez que um jovem tão novo me coloca nessa situação. — A coloração da sua mana se tornou obscura, e vozes de agonia e lamento surgiram com rostos chorosos e perdidos. — ‘Morke: Vida Preta’.
Os corpos dos fantasmas negros, de olhares vagos, chorosos e gritando lamúrias cresceram por toda a barreira, prendendo os dois. Eram uma magia triste, cheia de dor, tão majestosa que se tornava pesada.
E Bane tremia para permanecer conjurando-a. Era difícil, muito difícil controlar uma magia tão… maléfica. Dava para ver que estava consumindo mais do que sua mana, consumia aquilo que Orion teve que perder para o Feiticeiro Angulor.
A própria humanidade.
— Os demônios vão persegui-lo até o inferno — gritou Bane.
— Está errado quanto a isso. — A barreira fechou ao redor de Orion.
Longos segundos de gritos, choros, a dor e gemidos que atormentavam até mesmo Cersei, Charlote e Johan. Uma imensa capacidade de mexer com a mente, era uma magia quase proibida.
— É uma pena — ouviram de Poulius. — Ele enfrentar logo Orion com essa magia.
Magnus não entendeu.
— Por que diz isso?
— Uma hora ele vai contar ao senhor. — A serenidade de Poulius não mudou em momento algum. — Bane usou a magia errada e vai perder por isso.
O próprio Bane ficou surpreso. A magia custava muito da sua mana, muito do seu corpo, e demorava mais do que deveria. Era para Orion ter apagado e caído. Ele estava demonstrando todas as piores situações que ele poderia passar e que passou em vida.
Era uma amostra das piores sensações do mundo uma escala onde o alvo não poderia escapar.
Mais de trinta segundos, nada. Orion ainda se mantinha consciente.
— Como? — Sangue escorria dos olhos de Bane. — Como ele suporta isso?
A barreira, então, foi perfurada. O braço de Orion atravessou aquela calamidade, libertando os gritos de todas as almas presas. E como fragmentos, a magia das trevas se desfez ao seu redor.
Parado, mirava o ferro frio do pátio. Nada mudou. Bane ficou chocado.
— Você não é normal. — Teve que engolir em seco. — Ninguém encara a morte assim.
— Eu não enfrentei. — Orion o olhou. — Eu só deixei ela passar por mim.
Bane foi pego de surpresa. O Cão Imortal fechou o punho diante seu rosto, e a mana atrás dele se tornou uma só, comprimindo num ponto, diante seus dedos. A força restante era o que o mantinha de pé, depois daquilo, ele seria derrotado.
Fechou os olhos. Os seus piores demônios foram surrados por um jovem tão destemido que assustava-o. Pediria desculpas a senhora Cersei depois, por ter perdido, por não ter sido forte, por deixar a desejar.
Para ele, que sempre serviu a mulher que o salvou, aquela era a derrota mais humilhante que sofreu. Só pôde dizer:
— A vitória é sua.
I
— Ele passou pela magia das trevas que corroí a mente — Nero comentou, pensativo. — Faz tanto tempo que não vejo alguém suprimir um Morke dessa maneira. Ele é impressionante e tão novo.
Um dos guardas ajoelhou ao seu lado e falou baixinho.
— Senhor, temos um problema. Foi detectado várias anomalias nas defesas que projetamos antes de sair do Império. Estão vindo para cá e usando a magia ‘Impulso Elétrico’ que foi roubado há seis meses.
Nero ergueu a mão e o guarda se retirou. Novamente, alguém tinha vazado a sua localização. Mais de seis ataques no último mês. Dessa vez, deixaria que os diretores e seus Selectores tomassem conta.
Avisou ao guarda e o deixou espalhar a mensagem.