Passos Arcanos - Capítulo 187
Portal atrás de portal se abriram. Particularmente, Nayomi nunca tinha visto tantos de uma só vez em uma só área. E de dentro, homens e mulheres de vestimentas diferentes. Alguns de casacos longos e chapéus pontudos, com livros em mãos. Outros com roupas mais abertas, saindo de dentro de desertos. Uma gangue inteira. E mais outros de túnicas brancas, Sacerdotes, de cajados e varinhas.
Haviam bruxas com seus olhares lascivos e Feiticeiros de tatuagens nadantes sob a pele azulada e esverdeada. Havia até mesmo um Domador Bestial, com um imenso ogro atrás de si, fumando um charuto.
Incrivelmente, Nayomi reconheceu Rock Albone, entre eles. E foi o primeiro a abrir a boca.
— Deve ser improvável que o destino me deu essa oportunidade. — Sem medo, sem desespero, ele só tinha graça na voz. — Terei o prazer de derrotar o desgraçado que me tirou tudo. Até mesmo minha liberdade.
O oposto dessas grandes pessoas, Orion flutuava com seus dois braços atrás das costas, pacientemente observando.
— Esse é o moleque do Dragão? — Uma das Bruxas perguntou já tirando seu chicote da cintura. — Tão novo e tão poderoso, isso me deixa tão excitada.
Nayomi a repudiou na mesma hora. Esse tipo de mulher que se deixava levar pelo prazer, ela não podia entender e nem queria.
— Estão aqui justamente porque sentiram a presença de Maverick — disse Orion. — Reconheço muitos rostos, como o Sumo Sacerdotes Rahin. A Bruxa Negra, Ohana Jun. Os Feiticeiros do Deserto Carmesim, a Tribo do Sol. E alguns Arche-Magos da Ordem, Sor Januario e Sor Deco. Os outros são apenas figuras caminhando sobre a terra sem um nome definido. E estou aqui justamente para dar a sentença que merecem.
— Sentença? — Januário se pôs a frente. — Nada que um Mago de Primeiro Núcleo disse vai no tirar a possibilidade de ter a essência do Mago de Sangue. Você morre e vamos atrás do verdadeiro.
— Enganam-se achando que sou apenas Orion Baker. — Sua aura se libertou de uma maneira agressiva, jogando a neve do solo, quebrando o gelo dos troncos e das copas, e libertando um calor que era difícil de ser achado em qualquer casa com lareira no norte. — Sou Maverick Mavs, Terceiro de meu nome, quinto na sucessão do trono Armandilho. Arche-Mago, Cavaleiro e venho atrás da minha vingança. — Seu dedo ergueu-se. — Começando por aqueles que estiveram atrás de mim esse tempo todo.
Orion se atirou a frente e girou por cima de dois chicotes, das Bruxas Negras. Seu braço direito esticou enquanto o esquerdo permaneceu atrás das costas. Tão rápido, adentrou a palma no pescoço da primeira e no rosto da segunda.
As duas voaram longe, batendo contra as árvores e as partindo.
Ele nem conjurou uma runa, pensou Nayomi, surpresa. Como?
Duas espadas e uma lança flamejante adentraram o campo de Orion. Nayomi sabia bem que enfrentar inimigos multiplos era complicado pela reação. E se houvesse qualquer erro, um membro seria cortado na hora.
Ainda mais oponentes tão formidáveis.
No entanto, Orion demonstrou uma incrível percepção ao girar no próprio eixo e sair de mais de dez golpes. Pés ágeis, era o Estilo Sulista, a Dança dos Marinheiros. Num ângulo inclinado, curvou-se e esticou o braço direito, afastou o Feiticeiro e pulou dobrando as pernas, escapando das duas espadas.
Numa virada brusca de sua palma para baixo, um imenso vento carregou as armas para longe. Orion não tocou o solo, flutuando mais uma vez. E novamente, se deram início na disputa.
Velozes e precisos, os Feiticeiros do Deserto não davam chance para uma brecha óbvia. Levando o fato de que um dos seus era um Xamã doando sua mana, os dois pareciam ainda mais rápidos. Nayomi se acostumou a ver esse tipo de luta quando treinou com sua mãe e os antigos Tenentes, era um costume seu.
Uma luta de porte pesada, sem paradas longas, apenas uma respiração ou duas. Num estalo dedos, poderia ser decidido. Mais impressionante era o fato de Orion flutuar e tocar o solo com a sola apenas para deferir um golpe diferente.
O impasse durou mais de um minuto de ataques e defesas, de movimentações laterais. Nayomi viu Sor Januario se aventurar e penetrar na disputa. Agora eram quatro contra um.
— Deixe ele comigo — berrou Januario ao conjurar sua mana ao agarrar o braço direito de Orion. — Ele não pode me parar agora. ‘Viesk: Explosão Solar’.
Orion o encarou um enorme vento mudou o foco das chamas que se libertavam do corpo de Januario. Uma rajada que levou o fogo a ser enviado para trás, na direção dos outros.
Ele pensou nisso em um segundo. Minha mãe não teria o mesmo pensamento. Faria de tudo para que não saísse com ferimentos graves.
A diferença entre as capacidades residia na habilidade de conjurar sua mana, Orion não perdia nisso.
— Extingua suas chamas, idiota — Rock gritou ao criar uma barreira ao redor de si. Alguns se beneficiariam disso. — Não vai funcionar contra ele. Carsseral fez um acordo com esse rapaz, e Maverick tomou seu corpo. Isso quer dizer que ele é imune a magias de fogo.
Januario deixou as chamas dissiparem. Ao soltar Orion, dessa vez ele quem foi pego.
— Eu não costumo machucar ninguém da Ordem, mas ultimamente eu tive um pequeno impasse. — O braço esquerdo ainda estava atrás das costas. O direito libertou o homem e se fechou a palma. — ‘Somat: Palma do Verão’.
A pressão lançou-lhe para longe com um gemido, e ele retornou em uma forte sucção.
— ‘Somat: Palma da Primavera’.
Uma segunda palma no peito exposto. Januario conseguiu se equilibrar depois daquele toque suave. E assim que parou, diversas palmas ultrapassaram seu corpo ao mesmo tempo. Caiu de costas, libertando uma poça de sangue pela boca.
Orion riscou com o braço direito e uma linha cortou a grama abaixo da neve.
— Eu mantive minha misericórdia por esses longos minutos para observar suas forças, e creio que nenhuma delas terá a capacidade de me igualar. Essa linha representa a vida e a morte, passem e estarão sentenciando o que dedicaram anos para conseguir.
— Maverick, é você mesmo? — Sor Deco negava com a cabeça. Ele tinha se ajoelhado e colocado a mão sobre o peito de Januario. — Atacou um membro da Ordem, como você ousa depois de tantos anos.
— Sou Orion e também sou Maverick. Falo em nome do verdadeiro Imperador das Terras a Oeste, e também falo como um Mago que domina as artes mundanas.
Nayomi abriu a boca ao ver o ogro se mover pelas costas de Orion e o Feiticeiro atravessar a linha. Um portal se abriu diante o ogro e outro a esquerda do Feiticeiro. O punho do imenso animal esverdeado penetrou a cabeça do segundo.
De costas para Orion, o Ogro teve suas costas penetradas por dez estacas de terra, erguidas sem uma runa. Isso novamente, Nayomi não fazia ideia de como ele estava conjurando sem ao menos ter uma runa exposta.
No corpo ou no ar, deveria haver. Era o sangue do Maverick?
A estaca se tornou um pilar erguendo o ogro dois metros de altura, se debatendo para se libertar, gemendo de dor. Gritando por sobrevivência. E uma espada recaiu sobre o peito do Feiticeiro, o prendendo ao solo, a grama manchada por seu sangue.
Houve silêncio entre as duas partes.
Mortal e sem piedade, Orion não demonstrava nada além de suas garras, tranquilas e afiadas.
— Quem será o próximo?
— Eu quero testar esse seu truque com Natureza Arcana — Grilho, o Domador de Bestas, caminhou guardando suas mãos dentro do bolso. — Veremos até onde o incrível Maverick pode ir. Se eu obter sua essência, poderia criar um animal ainda mais forte do Carsseral ou uma Fênix de Ouro.
— Sua coragem é louvada, Grilho — respondeu Orion. — Que tal eu demonstrar a minha cria?
— Carsseral? Ele não se submeteria a um humano, mesmo que haja um acordo entre as duas partes. — Pelo menos, ele tinha razão sobre isso. Era um blefe. — E invocações perdem e muito contra verdadeiras criaturas. Como você me fez perder um dos meus ogros preferidos, terei que pegar mais pesado.
— Traga-o.
O Domador pisou e uma imensa runa surgiu ao redor dele. Com um sorriso confiante, seu corpo se transformou em um monstrengo com largos braços e uma face torcida a frente, como um cachorro. Segurava uma imensa foice, com um capacete dourado.
Nayomi não acreditava no que via. Esse era Anubis, o Cão Infernal. Uma materialização em forma física, doado pelo seu portador. Grilho fez um contrato com uma criatura demoníaca. Os Feiticeiros do Deserto Carmesim também ficaram abalados.
Esse era uma criatura que eles mesmo aprenderam a adorar.
— O Deus da Morte. — Orion abaixou-se ao solo. — É interessante pensar que existem formas de se chegar a entidades entregando a alma a eles. Então, mostrarei a magia aprendida pelo Feiticeiro Angulor Hatashi.
Era a primeira vez que uma runa cresceu abaixo de Orion, e Anubis foi enfiado dentro dela. Nenhum deles se mexeu. Por longos dez segundos, a respiração deles se tornou alta como um grito.
E, então, houve um estrondo. A mana reunida ao redor de Grilho se dispersou, e sua transformação se desfez. Ele caiu de costas, com olhos torcidos para cima e espasmos. A mana se dirigiu na direção de Orion e adentrou seu corpo.
Ele respirou profundamente.
— Eu me sinto revigorado. Querem continuar?
I
Maverick sentia a runa desfazer as chamas que cremavam seu núcleo. Tinha metade dele morto, suprindo por longos anos e conseguindo manter-se vivo. Não esperava que fosse funcionar, muitos haviam tentado.
E ficou chocado. As Chamas do Sete Infernos se tornaram uma brasa ao serem consumidas por uma geada sem fim. Orion não havia dado o nome, mas Maverick poderia sentir sua intensidade em combater um fogo.
Uma guerra elementar dentro de si. E seu maior medo era que as chamas fossem trocadas pelo gelo. Ficar petrificado para sempre, como muitos Escolásticos haviam lhe dito que aconteceriam se usassem qualquer magia de nível elevado.
Tal risco o faria ficar mais exposto. Mas, não foi o que aconteceu. As chamas foram apagadas, e o vórtice de uma geada faminta diminuiu drasticamente, doando a mana que puxou para si ao próprio portador.
— Uma magia temporária. — Maverick sorriu. — Um Baker salvou minha vida. Que inusitado.
II
A palma chocava contra os socos de Rock Albone. Furioso por ter perdido da última vez, ter sido humilhado e recuado com o rabo entre as pernas, suas chamas azuis davam poderio verdadeiro aos ataques que cremavam as gramas ao seu redor.
Por choque de Nayomi, Orion usava a palma e deslizava de um lado para o outro, como um verdadeiro artista marcial. Travou a perna dele com sua perna e empurrou fracamente o ombro, tirando o equilíbrio de Rock.
Antes dele conseguir voltar a atacar, Orion fechou o punho e sua mana condensou ao redor dos ombros.
— Karate Tritão: Dança das Baleias.
Um soco potente. Rock rolou várias vezes e ficou de pé. Sua resistência era enorme, deixando apenas uma marca na barriga. Ele respirou fundo e avançou. De um lado para o outro, seus chutes se tornaram golpes furiosos e seus punhos se tornaram foices.
Orion havia derrubado tantos até ali, e Rock se mantinha em alto nível, mais do que todos eles. A raiva e a ira fortaleciam os impulsos assassinos, e num soco duplo, desafiou a defesa aberta. Só não esperou que Orion se enfiasse entre seus braços, desviando perfeitamente do ataque.
Tal movimento, Nayomi tinha certeza que era parte do Estilo Nobre dos Lila — Elasticidade.
Como ele havia aprendido?
— Foi um bom ataque — disse Orion vendo a face contorcida de Rock. — Só não foi perfeita.
Sua palma recostou o rosto de Rock Albone. E uma explosão elétrica o lançou longe. Um portal se abriu a direita de Orion e ele esticou seu braço. Rock passou por um segundo portal e bateu de pescoço.
Ele caiu no chão, ao lado de Orion Baker. Uma magia espacial de alto nível.
— No Oceano Congelado, você tinha a vantagem porque fez reféns. Hoje, você não tem nada.
Orion pisou e houve um ‘crack’ nas costelas de Rock. E num chute, o arremessou de volta.