Passos Arcanos - Capítulo 190
— Esse é o Jornal da semana. — Tauros passou para Magnus. O diretor havia ficado em sua sala nos últimos cinco dias entrando em contato com cada pessoa que havia feito acordo com Orion. Estava cansada, seu semblante caído e os olhos baixos diziam tudo. — Melhor dar uma olhada agora.
— Estou ocupado. Vejo depois. — Ele jogou o jornal de lado e continuou lendo um dos contratos, palavra por palavra. — Chame Kevin e peça para ele mandar Poulius até os fazendeiros, queremos conversar sobre os preços.
— Farei isso depois de ler o jornal. É o mais famoso que tem e tem uma matéria que é de suma importância, envolve o Imperador Maverick Mavs.
— Um doente foi entrevistado, nada que eu deva me preocupar. Melhor ele ter se mostrado, assim a Ordem pode ir lá e fazer o que tinha que ter feito dez anos atrás quando renegou o posto de líder de Cro. — Num bufar, virou a página. — Chame Kevin, Tauros.
— Como quiser, senhor. Só um pequeno aviso, Orion Baker e sua família agora tem o apoio de dois Imperadores. — Ele foi até a porta. Magnus pegou o jornal rapidamente e o abriu. — Como o garoto curou a maldição é difícil de imaginar, mas vindo dele, eu não duvido de nada.
— Maldição, maldição. Como? — A frustração evidente só mostrava a força que Orion recebia. Tauros tinha certeza que a escolha que fizeram naquele dia em especifico foi um erro. — Ele abriu seu nome e condição, dizendo que não importa o tempo que leve, uma Espada Destra deverá ser nomeado.
— Nas entrelinhas, ele já deixou claro que Orion será escolhido quando retornar as Ilhas Vulcânicas. Quer que eu abra uma chamada continental com o Conselho dos Doze?
— Ainda hoje. — Ele tomou a se levantar. — Nero também mencionou o fato de que Rock Albone só foi derrotado por ajuda de Orion Baker. Dois deles, esses… idiotas. Estão dando arma a um garoto que não sabe como usá-las.
— Magnus. — Tauros esperou que eles se encarassem. — Por um longo mês, eu fui diretor da sua academia. Senma já disse e eu tenho que dizer, ele não erra. Drieck me contou sobre os planos de runas que ele estudava. Maldições, Runas Duplas e Conjurações por Movimento, sabe o quão avançado isso é. Ele sabe usar e não souber, aprende.
A força que habitava nas pernas de Magnus desapareceram e ele retornou a sua poltrona.
— Ele se tornou grande demais para nós — parecia uma confissão dele. — Grande demais para irmos atrás de uma compensação.
— Não existe compensação, não para nós. Ouça, essa Academia está de pé porque nós estamos sendo gerenciados por acordos, pessoas e Cavaleiros dados por aquele rapaz. Nunca demos nada além de um título temporário e um tapa nas costas. A forja voltou a funcionar e Lumiere está se especializando mais rápido por livros cheios de anotações dele. — Fechou a porta e foi até Magnus, sentou-se em frente dele, daquele semblante pesado e dolorido. — Nós devemos a ele e viramos as costas quando mais precisou.
— A Ordem…
— Que se foda a Ordem, Magnus — falou mais alto. — Desde quando seguimos as regras que eles nos impõem? Ficamos anos deixados de lado, como um cachorro abandonado pelos Doze, e agora quer voltar as graças deles?
— Um acordo. — Os olhos do diretor se estreitaram. — Eles queriam um acordo comigo. Que nos faria sair de qualquer prejuízo pelos próximos cem anos.
Isso era novo.
— Do que está falando?
— Eles queriam o garoto, Tauros. Rock Albone, Nero ou Cristina Defoul, o próprio Dragão Carsseral das lendas, nada disso importa para a Ordem. O Masquerati está de olho nele desde que se tornou um Selector.
Tauros não acreditava. Não nisso. Ele afastou e balançou a cabeça.
— Você não fez isso. Me diga que não fez.
— Tive que fazer.
— Você vendeu um rapaz de dezoito anos para o tirano do Rei Arcanus? — Agarrou a própria face, ocultando o ódio sentido. — Que merda você enfiou na cabeça para fazer isso? Ficou idiota depois da morte do seu irmão?
Magnus levantou-se apontando o braço cotoco.
— Cale-se. Fiz o que estava ao meu alcance para…
— Você traiu uma geração inteira inteira — gritou Tauros ficando de pé. — Traiu todos os alunos que estão presentes dentro dessa Academia. Você falhou com Orion Baker quando ele precisava, e falhou comigo, agora. Quantos mais vão ter que morrer na mão daquele desgraçado só porque representam uma ameaça?
— Ele é um Baker.
— Ele é um homem, assim como eu. — Fez uma pausa. — Só não sei se você é um agora. Eu sempre te admirei pelo que construiu, sempre fiz os meus planos almejando o melhor da minha casa, que carrega o seu nome, mas agora não faço ideia.
— Seremos destruídos. — Magnus continuou com a voz alta. — Acha que ele mirou só em mim? Uma vida por milhares, Orion Baker por todos os estudantes, funcionários, Cavaleiros e pessoas que seguem a nossa Academia. Esse é o tipo de homem que os Masquerati é.
— Covarde, isso é o que ele é. — E tocou o peito do diretor. — E você acabou de se tornar, uma por fazer acordo com aquele monstro. Segundo porque não importa mais o que faça, nunca terá o mesmo respeito que tinha.
I
— Vossa Majestade. — Ragun adentrou com um jornal em mãos, no entanto, Nero já lia outro, com Silvia ao seu lado. Fez uma cara de nojo para a mulher que retribuiu com um gosto de vitória. — O senhor já soube, pelo visto.
— Sim. Acabei de ler sobre o Imperador Maverick Mavs. — Nero usava um óculo de descanso, o deixando bem mais didático. — Parece que tivemos uma inesperada chance aqui. Ele voltou para Cro com ajuda de Orion, como esperado. E abriu uma imensa vantagem, uma Espada Destra.
Silvia foi mais rápida do que Ragun.
— Ele não pode nomeá-lo, senhor. Uma Espada Destra serve diretamente ao Imperador, e hoje quem comanda as Ilhas Vulcânicas é Carla Mavs.
— Eu sei disso, obrigado.
Ragun gargalhou interiormente. Ensinar o Imperador sobre as leis que regem suas vidas inteiras, que arrogância.
— No entanto, existem brechas que todos apenas nós podemos explorar — continuou Nero. — Mavs conhece bem os termos já que foi ensinado desde cedo a representar sua família, a guerra lhe tirou a nobreza, enfiando-o na guerra. Hoje, o Primeiro Esquadrão do Bosque Amarelo recebeu seu líder de volta.
— Eles se tornaram fortes, senhor? — perguntou Ragun. — Maverick…
— Imperador. — Nero ergueu o olhar. — Ele é um Imperador, como eu. Por favor, use a nomenclatura correta.
Ragun abaixou sua cabeça.
— Perdão, meu lorde.
— Tudo bem. A notícia ajuda e muito a nós. Orion tem vínculo com os dois lados, o que pode causar um ótimo tratado. Desde que minha esposa faleceu, Carla Mavs suspende qualquer uma das nossas conversa alegando que eu não sou o marido que sua antiga amiga merecia. — Ele retirou os óculos e pôs ao lado da xícara vazia. — Não posso impedi-la de não me ver, mas Maverick tem uma influência maior por conta da Ordem.
— Quer que eu entre em comunicação com os Grande Magos para alertar a situação? — Silvia tomou a iniciativa descaradamente. — Ou algum dos Doze?
— Não. Quero saber exatamente onde Orion Baker está e também quando minha irmã irá voltar de sua viagem. Já faz mais de uma semana.
— Como desejar, senhor.
Silvia passou por Ragun, e ele a seguiu.
— Fique, Ragun.
Ele travou, um pouco inquieto. E virou-se. Andou para mais perto de sua mesa, entre as muitas de cada lado daquela imensa sala.
— Precisa de mim, senhor?
— Preciso que faça uma chamada com o diretor Gargantus e Charlote, haverá uma reunião anual que a Ordem estabelece a cada ano em VilhaVelha. Quero que eles venham até mim para discutirmos nossa ida.
— Com certeza, majestade. Mais alguma coisa?
— Sim, essa é de extrema importância. — A aura mudou de uma hora para a outra. A sala parecia escurecer a medida que a presença do Imperador se tornava monstruosa. — Da próxima vez que vier a minha sala sem uma xícara de café pronta e quente, nem precisa entrar. Entendeu?
Ele assentiu ferozmente.
— Absolutamente, com toda certeza, por tudo que é sagrado.
Nero deu uma risada.
— Ótimo, pode ir agora. E chame Cecilia, quero conversar com minha querida filha.
II
— Falaram muito bem de você — Nayomi lia o jornal sentada na cadeira do seu quarto. Orion estava no chão, alisando a lâmina de sua lança com uma pedra cinzenta. — Maverick deixou claro sua posição e também disse que a saúde não é um problema para retornar a comandar o Esquadrão.
Orion já esperava que ele fizesse isso. Era um homem forte e firme, além de ter uma aura muito diferente da maior parte dos outros. Nero era passivo, Maverick misterioso. Dois Imperadores com estruturas desiguais.
Seria importante se os dois se comunicassem mais para frente. Os Imperadores não costumavam ter nenhuma ligação entre eles, apenas rancores passados e ódios mútuos.
— Meu tio vai tentar de tudo para conseguir uma conversa com ele — disse Nayomi fechando o jornal e se jogando na cama ao lado. — Se eu soubesse que teria que esperar minha mãe por tanto tempo eu demoraria mais no caminho.
— Gosta de passar frio mesmo — brincou Orion.
— Me faz sentir viva. E não tem ninguém para treinar. — Ela jogou os braços para os lados. — Os Sargentos não gostam de mim, acham que sou apenas um fruto da minha mãe para chegar ao topo e tomar seu lugar.
— Se quiser treinar, posso te ajudar com isso. E podemos andar na cidade, acho que ficar agarrado aqui dentro não faz bem a ninguém.
Nayomi o fitou, os fios de cabelo caídos sobre o rosto, ela os soprou para longe.
— Quer mesmo treinar comigo? Costumo usar combates físicos para aquecer.
— Será perfeito. Um pouco de esforço e depois o descanso, que você sempre diz precisar. — Ele ficou de pé e a puxou pelas mãos. — Um pouco dos dois, meio a meio.
— E você não vai se segurar contra mim.
Esticou a mão e ergueu o dedo mindinho.
— Promessa de Cavaleiro.
Ela deu uma gargalhada.
— Se é assim, prometo que não vou pegar leve, pelo meu título. Justo?
Orion balançou a cabeça.
— Bastante, senhora Defoul.