Passos Arcanos - Capítulo 196
Quase um ano depois, tempo suficiente para entender a própria complexidade da mana. O Arcanismo Comum era uma pequena base, uma que Orion não deixava de aprender, no entanto, tinha tanta simplicidade quando comparado a Natureza Arcana.
Seus dedos, guiá-lo para um lado ou para o outro, e uma runa se espelhar no próprio ar, reflexo de si. Andar saltando o espaço, visualizando seu reflexo no ponto futuro e abrindo um portal simétrico ao redor de si e entrando instantaneamente.
Mesclou a magia espacial com a Escola de Velocidade, simplesmente cobrindo seu rastro de mana com um pequeno estalido atrás de si, e descobriu que esse mesmo estalido tinha propriedades elétricas.
Por isso, na última semana, continuou lendo o restante dos livros que Imperador Maverick havia lhe enviado. E fazia no ar, dividindo sua atenção em dez partes, passando página por página, até acabá-los rapidamente.
Após Nero ter ido embora, seu pai havia questionado sua decisão de não dizer nada sobre a runa que ligava o Jornal Continental a ele. E a resposta foi simples.
— Existem algumas coisas que eu preciso me cerificar primeiro que os Imperadores.
Não mentia dizendo que não sabia exatamente dos fatos. Assim como o desmantelamento da Academia de Magnus e a fundação de Woan, onde apenas mulheres estudavam, a possibilidade de problemas aumentava.
Havia muitos alunos em Magnus, além de sua posição segura em Cedero. Se isso fosse perdido, a cidade inteira correria um risco de ser dominava por grupos privados, como a própria São Burgo teria sido pelos Krasios, na época.
O mundo branco ao seu redor era solitário demais. Seu pai ou Carsseral, eles permaneciam em suas mentes, parcelados de atenção corriqueira. E bem no centro, o rosto de Nayomi Defoul. Orion não queria acreditar que gostava de uma mulher que conheceu por algumas semanas, mas desde que havia partido para treinar e ter sua pausa, não parava de pensar nela.
Uma doença no coração, sempre achou que poderia ser isso. E quanto mais tempo passava para o baile que aconteceria, mais saudade sentia.
— Filho — ouviu Oliver o chamar, vinte metros abaixo. — Almoço está pronto.
Teve que dar um nome aquela magia de movimento. ‘Caminhante Branco’, Carsseral deu a ideia antes de adormecer. E como não achou nenhum melhor, usaria esse mesmo.
Apareceu um metro a direita de seu pai. Apenas a movimentação não era complexa, seus olhos marcavam, a mana do ambiente era refletida, e ele usava um portal perfeitamente do seu tamanho, ultrapassando.
Nos olhos dos outros, como não havia mana sendo expulsa ou convertida em uma runa, era sempre complexo de prever. Apenas Carsseral via através da técnica.
Os dois sentaram na varanda, uma imensa panela de ensopado foi posta pendurada em suportes de ferro. Serviram-se e comeram em silêncio. Orion repetiu três vezes, a batata tinha sido refogada mais de duas vezes, era uma marca do seu pai, deixando-a macia demais.
A carne derretia na sua boca e os temperos eram novos. Antes mesmo de falar, Oliver apontou para o prato.
— Coma tudo antes de perguntar.
Deu uma risada. Sempre era assim.
Finalizou todo o caldo e afastou o prato.
— Agora posso perguntar?
— Não antes de mim. — Oliver também empurrou o prato para o centro da mesa. — Ouvi você contando os dias que faltavam. Está muito ansioso para voltar?
— Voltar para onde, pai?
— Pra todo o turbilhão e caos de antes.
Estava preocupado. Bastante, como sempre.
— Eu estou contando os dias porque sei que o Clero vai se mexer e porque tenho alguns assuntos pendentes. E outros que eu queria começar, isso antes de voltar para o Palácio de Vidro. — Por que mentiria para ele? — Ainda não me acho forte o suficiente para enfrentar o Masquerati. Aprendi o básico dos Elementos Primários, e não tenho como dizer se é o suficiente nem para enfrentar meus antigos inimigos.
— Besteira — Oliver abanou a mão. — Está apenas se medindo por força opressora que domina Hunos por longos vinte anos, se não trinta. O que eu vi durante esse último ano foi um rapaz se transformarem um homem, e estou orgulhoso disso.
— Obrigado, pai.
Oliver pegou os dois pratos e antes de sair da mesa, apontou para fora da varanda.
— Comece a praticar, volto daqui a pouco.
I
— Tem certeza que é ele mesmo?
De cima de um dos montes recheados de neve, Gemini e mais cinco Campeões da Luz escondiam-se por uma barreira bem fina. Esperavam faziam dias ver o suposto Orion Baker, que estava desaparecido por um ano inteiro.
Azrael queria saber do seu paradeiro, o plano que projetavam necessitava de saber onde e porque de estar escondido. E Gemini, numa mesa de restaurante na cidade de Itauba, ouviu alguém dizer sobre os rugidos que chegavam mais a norte ainda.
A costa, ela nunca esperava que uma casa de madeira havia sido montada ali. Nem o Clero ou seus grupos de rastreamento teriam vontade de explorar a última costa, ligando o Oceano Congelado ao Oceano Negro.
Depois dali, milhares de quilômetros de distância, haveria outra terra.
— Absoluta, senhora — Ginny falou segurando a própria capa pesada. Suas pernas tremiam, como bambus no vento, e batia os dentes. — Certeza absoluta. Ele fica fazendo isso o dia inteiro, olhe.
Tomava a flutuar sozinho no meio do gelo, e tirava alguns livros. Depois, horas se passavam. Ficou entediada só de vê-lo, nada mais acontecia no dia a dia.
Por cinco noites, resolveram acampar para observar.
— Senhora, ele só lê e fica balançando os braços de um lado para o outro, num estilo estranho.
Gemini nada disse. Não era um estilo, havia desvios e também posições de mão diferentes. Seus chutes e socos, a palma e as inclinações. Enfrentou Orion Baker em Cro, e foi derrotada facilmente por um estilo daqueles.
A lança destroçou seu batalhão e a cicatriz que tinha na testa foi dada por causa de sua lâmina.
— Nós vamos recuar. — Gemini ordenou que desmontassem o acampamento e deu as costas para a costa.
Ginny deu dois passos e caiu sentado, tremendo de medo. Seu dedo ergueu-se, apontando para o ar.
— Parece que finalmente souberam onde eu estava. Fiquei preocupado de não terem capacidade de descobrirem depois de tanto esforço para deixar as pessoas falarem que estava aqui.
Gemini ficou de frente para Orion Baker. Ele flutuava no ar, seus pés não tinham runas, e não sentia mana nele. Os cabelos haviam crescido, presos atrás da cabeça, e mudou a roupa para uma escura com uma manta vermelha sangue.
Na sua cintura, uma espada de bainha dourada.
Era uma aura completamente inexistente, toda e qualquer presença de antes, Gemini não a sentia mais. Como é possível alguém ocultar tão bem a si mesmo?
— Gemini — seu nome saiu de forma nada agressiva de Orion. — Por quase um mês, você vem atrás de pequenas informações sobre o meu paradeiro. E seu colega, um fiel escudeiro, Ginny Dantas, se infiltrava nas pequenas cidades atrás de respostas.
— Como você pode saber isso? — Ginny respirava ofegantemente.
— Como eu disse, queria que chegassem até aqui. — Orion desceu até seus pés se aproximarem do chão, e a neve se afastou sozinha, dando espaço limpo para ele. — Vejo as movimentações do Círculo de Lumos faz algumas semanas, e seus membros indo para lugares que não são nada convenientes. São Burgo, Cedero, Magnus, Forte Drax e Caldeiras de Ilhotas.
Ele sabia. Merda.
— Fiquei bem surpreso porque foram todos os lugares que passei durante minha jornada até esse momento. E questionei o motivo disso. — A tranquilidade que falava, era fatal. Gemini não conseguia medir a força atual dele. — Claro que vocês possuem seus infiltrados em tantos lugares, mas acreditarem que eu estava em algum desses? Não, vocês não tinham intenção de me achar. Então, vim perguntar diretamente. Por que o Círculo de Lumos está agindo contra meus aliados?
— Você sabe muito — Gemini controlou seu pavor. — O Círculo segue as ordens que recebem dos…
— Não minta. — A aura de Orion remodelou atrás dele, em um formato grotesco, cheio de formas fantasmagóricas. Gritos e gemidos de dor, pedidos por suplicas. No meio das faces torcidas, Gemini viu um dragão nadando e se divertindo. — Eu sei que você está mentindo.
A mana apareceu, um vento quente e uma lufada de ar frio. O chão abaixo dele congelou e a terra sentiu a dor porque tremulou junto. O céu também, nuvens carregadas rotacionando num mesmo ponto, e um flash elétrico cortando.
Viu a imagem do imenso dragão acima das nuvens, gigante e imensurável. Era verdade, o boato realmente era verdade.
— Responda a minha pergunta, Gemini. O que o Círculo de Lumos quer nesses lugares?
— Te destruir. — Não sentia mais medo de nada. A beleza de uma criatura mitológica vivendo pelas nuvens, capaz de destroçar qualquer besta mágica, nascida para ser a presentação da força. — Eles querem destruir tudo o que você construiu. Tudo.
— Quem está no comando disso?
— Azrael Carnage. — Nem mais sentia as palavras escapulindo de sua boca. — Planejaram isso por um ano inteiro. Daqui a três dias, eles vão atacar a Caldeira de Ilhotas, atrás da sua família.
Orion fez uma pausa. Gemini piscava, ainda admirada pelo dragão no céu.
— Eles nunca aprendem. Querem tanto me destruir que acabam deixando escapar tanto. — Deu uma risada. Gemini viu a mão de Orion cobrir seu rosto. A contemplação do sagrado dissipou na mesma hora.
Se jogou pra trás e puxou a espada da cintura.
— O que acha que está fazendo? — Sua mente estava uma bagunça. Sentia-se tonta e perdida. — O que fez comigo?
— Por ter respondido minhas perguntas, deixei um presente nos dois. — Orion abaixou os braços. — A maldição da ‘Verdade Absoluta’. Seus núcleos mágicos, dotados da capacidade de receber mana divina, foram simplesmente dominados por uma mancha negra. Qual o pior destino para uma pessoa que se considera forte? Perder o que tem. E é exatamente isso que a maldição faz. Se ousarem falar que me encontraram, se mencionarem meu nome e o que aconteceu aqui hoje, a mancha será ativada por suas lembranças, e ela vai expandir. Em dez segundos, o que dedicaram tanto para aprenderem e usarem dos ensinamentos divinos serão apagados e eu recebei tudo.
Estava realmente lá. Gemini agonizou mentalmente. Havia realmente uma mancha negra circulado seu núcleo mágico.
— Se ficarem quietos, nada acontece. — Orion levou os braços para atrás das costas e começou a flutuar novamente. — Espero que a viagem que façam de volta seja segura. Ainda vamos nos encontrar, estejam cientes disso.
Aquele Orion Baker não era o mesmo que encontrou em Campanário Verde. Conheceu um guerreiro que dava tudo para a vitória, de uma forma justa. Não a matou por ter vencido e por ter respeitado o suposto acordo.
Orion não queria a cidade ou a ponte, na época, queria apenas recuar e não mataria ninguém do outro lado. Gemini acordou numa cama macia e viva. Ele realmente fez o que prometeu.
E ali não seria diferente. A mancha negra a consumiria. Nem o frio do norte alcançava a indiferença estampada naquele homem.
Ainda assim, uma chance de viver foi deixada bem a vista. Ela só precisava… trair o Clero.