Passos Arcanos - Capítulo 200
– Antes de tomarmos partida, que essa seja uma visita mais do que especial. – Houve um círculo mágico no céu. Libertou sua mana ao redor, tornando o ambiente mais gélido. – Quando o Império Nevasca se formou, o Primeiro Imperador decidiu que as vidas das criaturas fossem poupadas porque tinha um imenso fascínio pela fauna e pela flora. E minha missão, por incrível que parecesse, foi vir aqui para acabar com uma cultura milenar.
Troy ergueu a sobrancelha. Não esperava que Orion Baker conhecesse a história do norte.
– É por isso que eu vim aqui. A ordem do Imperador Nero foi decidida, mas não por ele. Existe alguém dentro das salas do Imperador que mandaram vocês. – Houveram rostos reprimidos e cheios de dúvidas. – Não precisam fingir, eu já sei bastante sobre o plano de vocês. Matar meus parentes, invadir o Forte Drax, o Campanário e até mesmo São Burgo.
O mais irritado era Azrael, que brandiu seu braço, como uma criança. Sua aparência já era bem infantil, e com suas ações, ele permanecia ainda pior do que a última vez. Orion sentia-se um pouco deprimido, cada dia que passava, ele mesmo se sentia mais velho.
Como um ancião, uma sensação de conforto em se portar como mais simplicidade. Os ensinamentos de seu pai faziam muito mais sentido desde que começou a treinar com Carsseral.
– Quem lhe contou? – gritou Azrael. – Conte e depois que acabarmos com você, iremos atrás dele.
– Por que eu faria isso? – Orion deu um sorriso torto. – E não se engane, Elfo Negro, o único que irá voltar será Troy Gruines e porque quero que ele mande um recado para o Círculo de Lumos. O resto de suas miseráveis almas irão cair hoje.
– E por que o círculo mágico no céu, senhor Orion Baker? – Troy questionou com curiosidade, no entanto, sua indiferença era massiva. – Poderia ser uma magia?
– O que estou prestes a fazer com vocês – seu dedo ergueu-se –, quero que os Imperadores e os nobres que me apoiam vejam. Antes de vir, deixei que um pergaminho na mão de cada um. Assim que eu usasse esse círculo, eles seriam alertados.
– Você não parece alguém que precisa de plateias.
– Depois do que fizeram com tantas pessoas, depois de tantos anos em guerra, depois de terem mandado metade de uma civilização para os Sete Infernos, é oportuno que aqueles que sofreram também possam assistir.
– Interessante.
Azrael bateu sua mão e as areias se esticaram velozmente em dez picos diferentes, completamente afiados. Orion permaneceu flutuando vagamente, nem se moveu. Os dez acertaram o mesmo ponto, o vazio.
O Elfo Negro usou as areias para deslizar e avançou com mais dez para frente.
– Poderia ser o próprio Nero, vai morrer hoje.
Orion apareceu dois metros atrás dos picos, intacto.
– Venha, então, Elfo Negro.
Uma espada negra surgiu na mão de Azrael. E as areias subiram por todos os pontos. Houve um Sacerdote que criou fagulhas de luz no céu e coordenou junto. Outro arfou o peito, acumulando chamas em seu peito.
Mais sete ataques elementares vindo de pontas diferentes. Uma combinação bem poderosa.
– ‘Campo Absoluto’. – Orion abriu seu campo de mana por longos cinquenta metros e todos foram marcados. – ‘Lyn: Pulsação Elétrica’.
Um clarão surgiu no céu antes deles conseguirem se aproximar mais. Um imenso raio desceu girando. Azael reagiu bem, usando as areias como cobertura. A explosão azulada se espalhou em fagulhas para todos os lados.
– Usando raios contra KuraSuna? – Sua gargalhada desprezível ecoou. – Parece que você esteve meio perdido esse tempo todo.
Orion não se mexeu.
– Você tem olhos bons, mas enxerga aquilo que lhe convém.
As fagulhas azuladas não desapareceram, permanecendo flutuando ao redor. E com um movimento do dedo mindinho, eles foram enviados para os dez pontos. Velozes, cerca de cinco foram enviados explodidos para longe.
O bafo de chamas teve êxito. Suas chamas chegaram junto de uma chuvarada de esferas luminosas no ar. E a espada de Azrael ganhou tamanho e velocidade, cortando lateralmente.
– ‘Gi: Parede Remotas’.
Uma série de pedras simétricas se ergueram do chão em pontos diferentes. Azrael foi pego de surpresa, quando uma delas se projetou diante seus olhos e teve de recuar um pouco. Seu movimento foi parado num instante.
As chamas também foram barradas. Tendo que correr entre as paredes, sua velocidade se perdeu e sua força diminuiu correndo pedras. O único que se manteve descendo foram as esferas de luz. Orion apenas olhou pra cima e várias das paredes ao seu redor foram se juntando acima de sua cabeça, formando um casulo.
A explosão gerou poeira, e Orion tossiu. Mudou o vento e limpou o ambiente.
– Vocês fazem muita sujeira quando lutam?
Impressionado estava Troy. Ver uma mecânica de magias sendo usadas ainda parado e com círculos mágicos bem empregados. Um Mago demorava muitos anos para conseguir chegar ao ponto de utilizar da mana em seu esplendor.
E cada Sacerdote tinha um pouco de raiva e ódio que nublava seus instintos. Ficava claro que Orion Baker tinha sido uma pequena pedra, mas vir até ele com os noventa parecia ter sido bem extravagante.
Um homem precisando de cem para ser morto? Nem mesmo os Arche-Magos mais poderosos tinham tantos buscando sua morte.
– Azrael – Troy o chamou. – Se quer mesmo vencer, terá que usar muito mais do que isso. Eu indico que todos vocês, e não estou sendo modesto, ataquem juntos. Ou sem dúvida, perderão suas vidas.
Orion não tinha dúvidas de que Troy Gruines era forte, mas ter visto atrás de suas habilidades apenas com algumas pequenas magias? Outro que o subestimava demais. Ele nem mesmo conjurou suas novas magias, nem mesmo usou seu corpo para atacar, nem mesmo ganhou terreno.
Como ele poderia entender a Arte da Guerra que vivia em sua mente? Seja firme, seja forte e destrua a moral do inimigo aos poucos, mostrando sua verdadeira essência. Faça-os sofrerem, assim como sua mente deseja.
A Imagem, Orion ergueu a mão.
– Está na hora do massacre.
Achar o vazio.
Mostre sua verdadeira face.
E preencha-o com sua própria mana.
Mostre quem você se tornou.
Abra o caminho.
Eles não fazem ideia de quem estão enfrentando.
– Eu sou o Cão Imortal.
Um dos Sacerdotes gritou. Os outros viraram-se rapidamente. O homem agarrou o próprio peito, arfando e gemendo de dor. Seus dentes se mancharam de sangue. Ele rasgou a roupa com as próprias mãos.
– Pare. Por favor, pare. Eu… não…
Seu corpo explodiu. Houve choque.
Sangue estava jorrando na neve. Os órgãos viraram fragmentos de carne, espalhado ao redor. Muitos foram manchados com pedaços de músculos. Troy ergueu sua sobrancelha.
– Estamos apenas começando a brincadeira. – Orion riu baixinho. – Eu vou devolver o que fizeram com todos que conheço.
Orion avançou contra o Sacerdote que havia cuspido as chamas. Ele apareceu diante seu peito e acertou a palma. Um portal se abriu atrás do homem. Outro portal abriu pela direita, e a mão de Orion atravessou sua garganta.
Ele caiu sem reação e sem cabeça.
A mana ao seu redor começou a aumentar. Azrael usou as areias e disparou imensos filetes por todos os cantos. Orion ergueu apenas a mão direita.
– Estou cansado disso. ‘Gali: Sopro do Dragão de Prata.’
O vento mudou de direção mais uma vez. E o vendaval correu diretamente para baixo. As areias negras começaram a ficar mais lentas e parar no meio do caminho. A nevasca tomou forma, gelando tudo ao redor.
As areias negras ganharam camadas de gelo e petrificaram no meio do caminho. Azrael forçou mais ainda, no entanto, foi arrastado pra trás. Toda sua conjuração se tornou azulada e congelada.
– Não, o que é isso?
Orion levantou mais um pouco no ar e fechou a mão forçadamente. Gritos surgiram de várias partes. Os Sacerdotes, muitos agarraram no chão quando suas pernas foram pressionadas por uma onda de gelo.
Troy ergueu uma manta calorenta ao redor de si e mais alguns, observando atentamente como seu inimigo criava o caos. Ele já tinha enfrentado Magos de Vento, nunca viu uma magia que afastava e congelava os outros.
Tinha quase certeza de que existia mais do que uma simples conjuração. Azrael calculou errado em ter vindo enfrentar um inimigo desse.
Lucks e Grimory se entreolharam e acenaram com a cabeça. O jovem Sacerdote entoou com raiva as palavras divinas. Imensos raios começaram a surgir no céu. E a terra sacudiu. Uma imensa mão se libertou do solo e uma rajada de relâmpagos desceram.
A velocidade dos dois foi uma surpresa. Insuficiente, mesmo assim.
O dedo de Orion apontou para Lucks. Uma sentença de morte, como se o próprio Ceifador apontasse para o próximo corpo caído.
– Símbolo de Ferro, Incrustação.
Lucks sentiu-se pesado. Seus dois pés afundaram mais na neve. Ao levar a mão ao peito, respirou pesadamente.
– O que é isso?
Outro apontamento, para Grimory.
– Símbolo do Vidro, Espelhamento.
Uma sensação de sucção agarrou-se no Sacerdote. Estranhamente, ele e Lucks se encararam. Os raios fizeram uma curva no céu, na direção dos dois.
– Arte Divina: Desfoco de Lumos.
Os relâmpagos foram sugados por uma esfera de luz jogada por Troy.
A imensa mão de pedra que tentou chegar a Orion se desfez em água, deformando sozinha.
– Ele é bem mais perigoso do que vocês relataram – Troy disse. – Seria até difícil não acreditar que ele é um Mestre de Matéria. Se eu não viesse, seria um abate de um lado só.
Orion deu uma risada.
– Você acha que isso é tudo o que eu posso fazer, senhor Troy? – Ele tirou o braço esquerdo de trás das costas. – Eu queria que eles sentissem a sensação de serem vermes. – Sacou sua espada e apontou adiante. – Como a Lança Externa do Imperador Nero, a Espada do Imperador Mavs, como Orion Baker, o Cão Imortal, digo novamente, não sairão daqui com vida, incluindo você, Troy.
Ao piscarem, Orion se moveu. Ele surgiu diante do mais perto Sacerdote e brandiu sua espada. Uma imensa pressão no ar envolveu, arrancando um súbito grito. Girou no próprio eixo e cortou lateralmente, o ar se deformou e partiu cerca de três ao meio.
Uma imensa esfera de luz se formou diante sua cabeça, pronta pra explodir, e só com um olhar, as trevas se libertaram de seu pé engoliram.
Num segundo, a magia divina foi dissolvida e usando as trevas, explodiu centenas de fragmentos ao redor.
– Que sejam caçados. – Cortou mais dois brutalmente e elevou uma onda de chamas vermelhas a esquerda, engolindo seus corpos a se tornarem cinzas. – Querem mandar assassinos para minha casa? Queimem nos Sete Infernos. ‘Viesk: Tsunami de Grilho’.
A mana sugada ao redor se condensou na runa diante seu peito. Se eles morressem, que fossem cremados. Levados para o além, como tinha acontecido com todos os que mataram. Ninguém ficaria vivo, ninguém.
Esse era seu desejo.
As chamas explodiram tão alto que brilhou o desfiladeiro. As plantas foram cremadas, as árvores tomadas no topo tomadas por ventos calorentos e as pedras ganharam uma coloração mais escura, queimando com o tempo.
Troy foi um pouco mais rápido. Dezenas de fios se desgrudaram da sua palma e tocaram as costas dos Sacerdotes, os puxando para perto de si. Azrael e mais dois foram os únicos que não teve como pegar.
– Arte Divina: Escudo e Fortaleza, Erga.
Um guardião feito de luz se projetou com um imenso escudo a frente do seu peito. E atrás dele, uma fortaleza que subia pelo desfiladeiro, se mesclando ao ambiente.
As chamas encontraram resistência no guardião. Ainda mantendo-se em constante avanço, conseguiu fazê-lo recuar dois passos, porém, apenas isso. A sua conjuração era um conjunto de pedidos mentais, Troy tinha clareza na imagem e também na personificação.
Seu escudo e sua fortaleza eram providos pelos deuses, assim como seu poder consumido era reabastecido também. Por tantos anos, esteve em contato com outros do Círculo de Lumos e viu suas artes, eram forjadas e destinadas para vencer seus inimigos.
No entanto, eram inorgânicas. Mesmo querendo, eles só poderiam mostrar movimento pelo seu criador. Aquelas chamas eram diferentes, elas se moviam como se estivessem predestinadas a consumirem o que estivesse adiante.
A mentalidade, o meio e também o condutor deveriam estar interligados de tal forma que a ressonância entre as partes deveria beirar a perfeição.
– Usem seus pergaminhos e fujam daqui – berrou aos outros. – Suas vidas valem mais do que isso. Recuem e avisem ao Círculo, digam que Orion Baker…
– Digam o que quiserem sobre mim.
As chamas se abriram e a espada desceu. O Guardião soltou um rugido dolorido, mas enviou Orion de volta. Uma rachadura enorme, o escudo foi danificado a tal ponto. Troy fortaleceu ainda mais, consertando-o.
Os outros ainda estavam paralisados.
– Merda, por que ainda estão aqui?
Um dos homens começou a gritar sozinho. E explodiu no meio do ar.
– Acha que isso pode te proteger? – a voz macabra soava por todo desfiladeiro. – Acha que os deuses vão atender seu pedido e salvar esses seres tão fracos? Acha que mesmo depois de tanto tempo, depois de tantas derrotas, eles ainda olham por vocês?
Um portal se abriu dentro da arte divina de Troy e Orion passou. Do outro lado, as chamas seguraram o guardião e seu escudo.
– Está na hora de morrer.