Passos Arcanos - Capítulo 214
Na sala, reunidos com mais de cinquenta membros, Orion ouvia no chão, sentado como se estivesse nas Caldeiras de Ilhotas aquele amontoado de falacias, informações jogadas ao alto e comentários pessoais sobre o que ocorria ao redor das estruturas que eles mesmo criaram naquele mês.
A sua direita, Cassiano usava seu traje avermelhado, retornando a vestimenta formal de um Mestre de Armas. Pela esquerda, Wallace e Oliver Baker, os dois característicos para a ocasião. Tito ainda não havia retornado, o que trazia certas preocupações a Orion.
No entanto, o foco deveria ser naquele instante.
– Parem.
No segundo seguinte, o silêncio mórbido. Oliver e Wallace se impressionaram. Não tinha sido nem alto e nem baixo, como se fosse falado com um conhecido. A família inteira reagiu imediatamente, travando.
– Eu ouvi seus pedidos e comentários – continuou Orion. – Temos muitos problemas, como qualquer outra família. E tivemos que usar esse mês para recomeçar na base sólida de moradas, trabalhos e dinheiro, como os Anciãos Dest e Rinngo pediram para ser feito. E isso nos trouxe mais ações. Listem em sequência de prioridade.
Dest fingiu tosse se preparando.
– Mestre Baker, as Grandes Casas foram construídas sobre instrução do Imperador Nero. No entanto, as famílias nobres que vivem na capital e também nas cidades maiores ao redor do Palácio de Vidro alegam que estamos interferindo num processo natural.
– E que processo seria esse?
– Aceleração, senhor – Rinngo respondeu. – Nós montamos cerca de três casas com quase o dobro do tamanho que eles normalmente possuem. E entraram com um pedido do Imperador que uma das casas seja entregue a família Angust como presente de boa fé.
– É comum que eles se sintam assim. – Orion mostrou um sorriso. – Alias, somos mais rápidos e mais eficientes do que eles. Qualquer um que se sinta ameaçado tende a correr por uma força maior, e Nero está ciente das construções e aprovou com uma assinatura.
Os Anciões foram pegos de surpresa.
– O senhor pediu que ele aprovasse em forma de contrato?
– É o mais correto. Qualquer um pode alegar que é dono da cidade agora que ela está prosperando, mas o Imperador sabe e assinou que somos os responsáveis por isso. Alias, o nome Itauba está sendo revisado e deve ser alterado nos próximos dias.
Houve uma remessa de aprovações. O nome de um lugar remetia muito a sua fama, e como a cidade era portuária, chegava-se ao consenso de que deveria ser remodelado a esse ponto.
Com um aceno, foi permitido que continuassem.
– O segundo tópico está na Segunda Casa, Mestre Baker – Rinngo tomou nota. – A Tribo Mestiça está vivendo sem custos algum. Nossa remessa de mantimentos é suficiente para alimentar até mesmo quinhentas pessoas, incluindo os trabalhadores e empregados que contratamos, mas as rotas comerciais do norte são todas cheias de bandidos e criaturas mágicas. Temos um plano de reservas, mas precisamos que passe aos olhos de todos.
Orion encarou Wallace.
– Use a minha passiva de Invocação e ache onde estão escondidos cada um desses obstáculos. Leve uns cem com você, faça a varredura completa. Mate as criaturas e traga os bandidos, alguns deles podem ter ligações com as famílias nobres.
– Assim que terminarmos aqui – Cassino instruiu.
Wallace apenas assentiu. Ao olhar para a porta, um rapaz usando uma manta avermelhada espreitava. Os dois travaram num momento e depois o jovem saiu em disparada.
– Já foi arranjado, Mestre Baker.
– Ótimo. – Orion olhou para os Anciãos e demais. – Nós faremos uma varredura. Continuem usando as passivas nas colheitas. O clima favorece na conversão elementar, então, não se preocupem tanto com a comida. A Segunda Casa estará a mercê dos Mestiços pelo tempo que me for achado suficiente. Eles são meus aliados.
– E por qual motivo devemos mantê-los quando o continente inteiro sabe que eles vieram de Aragano? – perguntou Dest. – Parece que estamos criando bichos alimentando e deixando-os trancafiados lá.
– Numa coisa o senhor tem razão, Mestre Dest. Eles são bichos, Lobo e Javali, Bestas Endeusadas com um poder de batalha que pode nos beneficiar no futuro. Mestre Pice tem conversado comigo continuamente, e teremos uma reunião de integração da próxima vez que todos nos reunirmos.
Ninguém disse nada, mas houve olhares confusos e outros retardarias.
– Digam o que se passa em suas cabeças, senhores.
– Mestre Baker – a relutância em Rinngo, evidente até demais –, muitos consideram a opção de que a permanência deles é perigosa para a reconstrução de nossa família. O Clero, o Conselho dos Doze, as famílias Nobres, os Feiticeiros, todos tem interesse nessas pessoas que vieram de um continente tão distante. Seremos alvos de muitos.
– Sim, como sempre fomos. Qual a novidade?
Cassiano soltou uma risada.
– Isso é verdade. Vinte anos atrás todas essas pessoas queriam as nossas cabeças, amigos ou inimigos, ninguém ligava. Se um Baker morria no campo de batalha, eles aclamavam. Menos um, gritavam, menos um Cão Imortal. E o que fizemos depois daquilo, tenho certeza que os mais antigos lembram bem.
Dest suspirou, alegando.
– Nós conquistamos VilaVelha e Archaboom para aqueles malditos Magos. E não recebemos nada em troca.
– Exatamente. – Orion apoiou o queixo na mão enquanto seu cotovelo afundava-se na coxa direita. – Temos apenas que manter nossos inimigos no lugar deles. Sete palmas abaixo da terra, sem vida. E saberemos suas posições muito antes deles chegarem, a rede de comunicação que o Imperador Nero montou também está nos interligando por agora.
Pelo menos uma parte da sombra e da dúvida sumiram de seus rostos. Claro, o Jornal Continental ainda pertencia a Orion, e ele mesmo sabia o que acontecia em quase todas as pontas de Hunos sem muita dificuldade.
E já era tempo de comunicá-los sobre o fruto do mês.
– Minha vez de falar sobre tópicos importantes, senhores. Tivemos uma renda por venda de forjas medicinais de 10 moedas de ouro. Isso é um preço alto? Sim, mas não foi o nosso lucro total. Cada uma das vendas teve esse preço, e tivemos cerca de dez mil pedidos.
Outra assombro. Dest e Rinngo engoliram em seco. O restante dos Baker suaram frio ao ouvir o número.
– Nosso lucro da primeira semana foi cem mil moedas de ouro – anunciou abertamente a todos.
As risadas e gritaria se espalharam como fogo em palha. Palmas e apertos de mãos, abraços e gargalhadas, pareciam ter saído da frigideira e caído em um banho frio, revitalizando suas forças. Um povo que sempre demandava de pedidos e suplicas simplesmente recebendo essa quantidade?
Assustava até mesmo Cassiano e Oliver.
– Um número expressivo, Mestre Baker – elogiou Cassiano.
– Lumiere e Rasgun trabalharam sem parar – comentou Oliver. – Acho que até mesmo dormiram no laboratório algumas vezes para que ela não parasse.
A jovem Arche-Magoa de Luz era diferente. Ela via a oportunidade, a falha, a mecanização e também o futuro. Além de que seus pedidos eram acatados com facilidade, Orion sempre lhe entregava o necessário.
– Mestre Krifen – Orion o chamou no meio do barulho. Todos se silenciaram novamente. Um alto homem ergueu a mão, meio cansado e sonolento. Bocejava com facilidade e tinha olheiras do tamanho de um dedo sob os olhos. – Conheço sua expertise em Tesoureiro, gostaria que refinasse todas as nossas economias a partir de hoje.
– Será um prazer colocar meu dever acima do dinheiro, Mestre Baker. – Ele curvou a cabeça, mas ficou por tanto tempo que alguns acharam que ele tinha dormindo. – Agradeço pela oportunidade.
Um pedido vindo de Oliver, Orion não sabia muito bem dos trabalhos dos Baker antes de todos os problemas que envolveram-nos vinte anos atrás. Krifen era a escolha certa já que seu cansaço morria ao mexer em finanças.
– É uma das melhores notícias que tivemos em tanto tempo – disse o Ancião Dest. – Será importante para toda a reconstrução.
– Um plano de murar toda a cidade está em andamento como nosso chefe de obras, Mestre Abake.
No canto, recostado na parede, o parrudo e careca Baker acenou com a mão.
– E a organização das lojas será redirecionado a Mestra Keila.
Atrás de Rinngo, Keila assentiu deixando seus cabelos negros soltos por cima dos ombros balançarem.
– Mestre Dest e Rinngo serão os porta-vozes dos acontecimentos que narrarem. Nosso conselho pode ser definido apenas por essas pessoas mencionadas, além de Mestre Cassiano, Mestre Oliver e Grande Cavaleiro Wallace, que está responsável pela força armada ao redor da cidade. E, futuramente, Heivor Lobo Javali e Mestre Pice.
A última parte novamente trouxe um pouco de anseio, mas era comum.
– Agora, a segunda parte da notícia. A venda das embarcações da empresa Meta Navio foi um sucesso, e a clausula foi seguida. Oracle Bunis teve um lucro de 50 milhões de moedas de ouro com três navios apenas vendidos, e recebemos 30% das vendas. Totalizando…
– Quinze milhões de moedas de ouro – Krifen falou lentamente.
Cassiano e Oliver, Wallace e todos ergueram as sobrancelhas, bocas abertas e palpitações instáveis. Orion ergueu a mão velozmente, trazendo a atenção de volta para si.
– Acalmem-se. Esse dinheiro terá um desvio considerável baseado em todas as questões políticas envolvendo os Burgos e também as Torres Mágicas. Nossa cidade precisa de muito mais do que imaginamos, e precisamos mecanizar todas as tarefas antes do lazer.
– Prioridades – Mestre Keila respondeu. – Mestre Baker, um dos maiores pedidos que ouvimos é sobre os canais de saneamento básico e a falta de uma estrutura hospitalar. Como pedido no começo do mês, o estudo que fiz indica que Itauba sofre com sujeira.
– E os navios dos pescadores – Mestre Abake também falou. – O porto é a maior renda da cidade, e mesmo sem nossa ajuda, eles mantinham num estado integro. Porém, a reserva de comida está no mínimo e eles se recusam a trabalhar com outra coisa. Entendo o sentimento deles, é uma cidade antiga que vive disso, senhor.
– Um milhão para cada área ajuda?
Os dois concordaram sem fazer alarde. Eles trabalhavam com isso mesmo quando a família havia entrado em decadência, mas ouvir um valor tão alto ainda era completamente novo. Conter esse tipo de felicidade era difícil.
– Faremos relatório de custos e será direcionado aos dois Anciãos.
Orion aprovou.
– Lumiere e Rasgun tiveram o lucro de meio milhão no final do mês. Oracle nos entregou a quantia correta. E temos os projetos do Professor que está ligado a nossa família, além do acordo de venda de Magias Ativas e Passivas para o Banco Central.
– Tem mais, Mestre Baker? – alguns dos mais novos nunca ouviram tanto dinheiro entrando na conta como agora.
– Temos acordos com os dois Imperadores, com os Burgos e mais duas empresas comerciantes, no qual estamos montando investimentos, mas o total será de 18 milhões de moedas nos próximos três meses.
O seco engolido causou desconforto.
– Espero que em uma semana, com as magias passivas de invocação, todas as partes que mencionamos hoje sejam organizadas. E partiremos para murar a cidade inteira. Qualquer problema que tiverem, contatem os Anciãos que eles ajudaram. E qualquer emergência, chamem pelo meu nome. Vou aparecer na mesma hora.
Essa fala não era só falácia. Ele realmente podia fazer isso. Depois de saberem que Anneton e Heda, dois membros do Conselho dos Doze, foram barrados por ele, não podiam negar – Orion Baker era realmente o jovem mestre, o Cão Imortal que restauraria o que haviam perdido vinte anos atrás.
Orion podia ler seus pensamentos, tanto pelo olhar quanto pela capacidade. Anneton havia lhe mostrado como fazer isso também.
– Somos Baker – falou de repente. – Filhotes crescidos dos antigos Cães Imortais, e o que nós fazemos para ter esse título, senhores?
– Destruímos nossos inimigos – houve um couro.
– E a que custo?
– Qualquer um.
Orion mostrou sorriso. O poder dos Baker se reunia na junção, não nas espadas. Contanto que essas mentes estivessem interligados a um único ponto, o Clero, a Ordem dos Magos, os Feiticeiros ou qualquer criatura poderia tentar, mas não conseguiriam destrui-los.
Isso, se não fosse a voz na mente de Orion.
– Tem um segundo para conversar… irmãozinho?