Passos Arcanos - Capítulo 216
– Mestre Baker, Mestre Baker.
Ancião Dest adentrou o escritório de Orion e se assustou com a quantidade de livros e papiros abertos ao redor dele, na sala. A mesa foi jogada para a parede, as mobilias separadas lado a lado, perto da porta, e um imenso círculo de letras antigas o rondava.
– Diga, Ancião.
– VilaVelha foi atacada hoje cedo. Duas Torres Mágicas foram destruídas em um incêndio. – Ele tinha em mãos uma carta e a repassou. – Isso veio de lá hoje.
Orion a abriu já sabendo do ocorrido duas horas atrás.
– Caro Mestre Baker, temo que nossa reunião será mais cedo que previmos. Espero que nossas caras estejam lavadas depois do que aconteceu pois não conheço alguém melhor em Arcanismo Comum do que você para nos auxiliar na reconstrução dos diversos materiais queimados.
– Estava descrito que Anneton quem enviou, senhor.
– Sim, mas não vamos nos ligar a esse assunto por agora. Apenas mande uma resposta revelando na nossa construção atual da família e da cidade, e que não temos como irmos diretamente para lá.
O Ancião pegou de volta a carta, mas não se foi.
– Algo de errado? – Orion perguntou.
– Esses papiros ao redor. São todas estruturas antigas da nossa biblioteca. E estão no Idioma dos Mortos. Ficaram mais de cem anos sem uma tradução confiável. – Abaixou-se dobrando um joelho e tocou o papel meio amarelado. – Meu pai quando era vivo disse que eles podem revelar muitos mistérios. Esse é o nosso maior tesouro, Mestre Baker, mesmo ninguém sabendo seu conteúdo.
– Sim, por isso o separei em ordem cronológica.
Dest ficou surpreso.
– Quer decifrá-lo?
– Quero uma iluminação já que prezamos tanto por eles. – Orion abaixou o que tinha em mãos e respirou fundo. – Existe muito no qual não sabemos ainda, Ancião Dest. A história da humanidade é infinitamente pequena se comparada com a história da mana, por isso, existem lacunas de tempo que não temos ideias do que aconteceu.
– É sábio ter questões existências em seu peito, Mestre Baker, mas como meu pai dizia quando era vivo, um ser que se consome de dúvidas morre amargurado. E foi como ele faleceu, cheio de dúvidas e sem ter vivido direito.
Orion não concordou, mas sorriu.
– O falecido Ancião Dustine era um homem bem mais sábio do que eu.
– Conhece o nome do meu pai, senhor? – Dest não esperava por isso. – Os mais novos quase não sabem da sua existência ou da nossa história.
– A história dos Baker, desde seu primórdio, como eu não poderia saber sendo que sou o mais novo mestre? – Era uma ação que deixou Dest aliviado. – Sei o nome de todos os membros desde Tania Basker, Mestre Dest. É uma obrigação.
O velho homem tocou o peito e fez uma pequena reverência ainda ajoelhado.
– Me lembrarei desse momento, senhor. Meu pai se sentiria orgulhoso.
Dest se foi depois disso. Nem parecia que ele era o primeiro a atirar pedras sempre que Orion aparecia. Demonstrar força, humildade e poder balanceados realmente tinha suas vantagens.
– Eles se baseiam no que seu irmão fez – Oliver lhe contou um dia. – Por isso temem que a história se repita com você. O único capaz de conjurar magias é também o mais perigoso dentro da nossa linhagem.
Por isso estudava os livros a sua frente. Ali residia o conhecimento de estruturas que poderiam lhe dar vantagens únicas. E também matava seu tempo até que suas novas forjas pudessem ser utilizadas para criação de Itens Mágicos.
Um choque nos Elfos e nos Anões faria o Conselho dos Doze mudar de foco completamente.
Anões eram proibidos de vender ou criar itens em solo humano por uma regra de quase trezentos anos atrás. As duas Torres Mágicas que caíram no continente foram alvo de um ataque reservado que faria a atenção deles dobrar.
Omar poderia estar ou não vinculado aquilo, mas era questão de tempo até o próximo encontro.
– Preciso estar pronto.
Outras notícias chegaram com o decorrer do dia. Rinngo ou Dest a traziam sempre com pressa, e Orion pediu que fosse enviado um mensageiro ao invés deles. Existia trabalho demais em Itauba para se preocupar em entregar cartas.
O político Riosh Lucanit foi preso por ter sido vinculado ao Clero e tentar vender um dos navios para os Sacerdotes. Oracle o puniu e a Justiça Mágica o prendeu. Depois, um dos navios se autodestruiu debaixo da água, o que causou uma confusão enorme a empresa Meta Navio.
Oracle queria uma reunião urgente, Orion apenas respondeu a carta:
– Caso venda para os Elfos, irá acontecer novamente.
Depois disso, Oracle se calou. Heda foi quem ficou mais furiosa. Por saber que Orion Baker quem produziu, o acusava também dele tentar matar todos os Elfos. Porém, um dos mensageiros deixou o acordo para o Conselho dos Doze.
A Elfa teve que engolir suas provocação lendo que nenhuma venda deveria ser feita ao seu povo ou aos Anões. Um ato que, aos olhos dos quatro Humanos presentes, foi um sinal de igualdade racial. Nenhum dos dois povos poderia tê-los.
Com a Travessia de Ignolio fechada, os Elfos acreditaram na possibilidade de passar de navio, mas o Clero também fechou a rota marítima.
– Ele sabia que isso ia acontecer – Heda ainda brigava por uma compensação. – Nós temos os valores de cada compra por Oracle. Eles não deveriam receber nem 5% pelo que aconteceu. Muitos ficaram feridos, dois morreram.
– Um preço pago por ser cega – Grimoi falou em tom sério. – Nós lemos o contrato e dissemos na última reunião que deveria se feito por todos.
Calen encarou Heda.
– Você foi a única que não se importou em ler. O prejuízo é seu e somente seu, Heda. Se queremos acusar os Baker de algo, que seja do monopólio incessante de ervas medicinais e elixires que se espalharam nesse último mês.
– Está perdendo seus contratos por causa dele.
Olharam para Groi e seu sorriso de canto. Debochado ao extremo, ele não se importava em comentar naquele tom ultrajante.
– Hunos paga pelo menos cinquenta milhões de moedas de ouro todo ano para vocês por essas ervas, mas a contagem que fizemos revelou que num mês eles tiveram apenas 400 mil de ganhos sendo que conseguiram vender para todos os pontos importantes e de grande escala. – Fingindo falta de entendimento, coçou a bochecha. – O quão caro devem ser pílulas para uma quantia tão grande, senhores e senhoras de Hemilyn?
Prisma o fitou. Se um olhar pudesse matar, ela o faria.
– Está insinuando que elevamos o preço a uma taxa enorme? – sua pergunta foi seca. – É isso?
– Sua interpretação é somente sua, senhora Prisma – devolveu Groi na mesma moeda. – Sou apenas um questionador. E mais ainda, por incrível que pareça, a qualidade dos Baker não perdem em nada pra de vocês.
– Isso é ridículo. – Calen não aceitou aquela afirmação com nenhuma bondada na voz. – Somos os detentores da criação de ervas por centenas de anos, aprimoramos nossas construções e métodos em quase dez vezes para chegarmos em 50% de pureza. Ninguém…
– Alguém conseguiu – Groi o cortou na hora. – E foram os Baker. Aqui, caso duvide mais do que estou falando.
Enquanto Prisma, Calen e Heda tomavam conhecimento, Grimos quem continuou:
– Uma pureza de 65% por erva, 60% por elixir e 80% em pílulas. Os métodos dos Baker superam e muito a eficácia de Hemilyn. Por isso, a quantidade de compra aumentou. Muitos dos laboratórios alquímicos que tomaram nota disso começaram a fazer pedidos para estudar mais sobre os efeitos e a demanda desse mês atual deve ser ainda maior para eles.
Mais e mais, Anneton ficava inquieto com a grandiosidade que aquela família subia mais e mais na capacidade de influência. Eles nem mesmo residiam nos centros urbanos, nas metrópoles, e sacudiam suas estruturas.
Era aquele jovem, a imagem de Orion em sua mente se tornava odiosa.
– Sabemos quanto os Baker faturaram com todos os acordos?
– De quinze a vinte milhões de moedas de ouro – respondeu Grimoi. – E fizeram uma imensa reconstrução na cidade de Itauba por um acordo com o Imperador Nero. Parece que realmente irão se firmar no Norte.
– É o caminho mais fácil.
– Fácil? – perguntou Calen. – Por que acha isso, Anneton?
– Maverick e Nero o protegem, eles reconstroem a cidade e se instalam como proprietários majoritários. Depois de um tempo, compram a cidade e crescem como polo, longe de qualquer meio da Ordem. Com a Travessia fechada e sem podermos mobilizar as tropas por causa de Archaboom e Campanário, eles vendem navios que podem passar por debaixo da água e ervas em um preço menor, criando pressão no mercado medicinal. – Fez uma pausa. Os números no papel não mentiam. – Eles querem retornar para o cenário continental e estão fazendo isso com extrema facilidade. É o cenário ideal, quase que forjado para eles.
Ninguém iria acreditar em uma teoria tão mecanizada e sem sentido. Porém, Groi e Grimoi não contrariam. Realmente, cada compra e venda foi perfeitamente alinhada, os contratos feitos para suprimir os Elfos e Anões.
Nenhuma raça além dos Humanos iria se beneficiar, os números indicavam a mão de Orion Baker.
– O Professor criou um monstro. – As palavras de Prisma trouxeram choque por parte de Calen e Heda. – E pensar que um único Humano teria tanto poder sem ao menos ter seu nome na boca do público.
A porta atrás de Anneton foi batida uma vez. Duas vezes. Três vezes. E se abriu sozinha.
– Mestres. – Pela voz falhando e suor, havia corrido muito. – Acabou de chegar ao leilão um Sumona da Era Primordial. Encontraram o ‘Anel e a Pulseira Solar’ em estado quase perfeito.
Grimoi e Groi se levantaram na hora.
– Impossível. Esse item estava perdido faz mais de mil anos.
– Juro pela minha vida, senhor. É realmente verdadeiro, os Escolásticos fizeram uma leitura das runas e também do seu tempo de velhice. Está tudo intacto.
Anneton e Prisma também se levantaram.
– Essa é uma boa oportunidade. – Anneton saiu com todos os outros. – E de onde veio essa informação? Quem achou?
– Disseram que era anonimo, mas a pessoa quem o trouxe disse que esse é um presente direto do Professor. – O rapaz parecia eufórico, mas ninguém atrás dele tinha a mesma reação. – O nome é Orion Baker, o discípulo dele.