Passos Arcanos - Capítulo 245
O Conselho dos Doze nunca se reunia daquela forma. Claro que não eram os doze, três humanos faltavam, um Anão e um Elfo estavam distantes, em questões secundárias. Se ausentavam do que parecia ser uma das mais importantes negociações da história da Ordem.
E ficava ainda mais importante quando o Círculo Nobre se apresentou e dois Velhos Reis marcaram presença mais alto do que os Doze. Jinx e Artrax, observados pelos demais, figuras antes quase inacessíveis ali para assistir um pagamento.
E claro, aquele que tinha a fama de estar causando problemas. Orion Baker de pé, com sua guarda pessoal atrás de si. O Mestre dos Baker utilizava uma vestimenta vermelha e negra, como a que seu tinha quando ia para as batalhas em Archaboom, os sapatos novos e uma fivela no ombro, ligando o broche dos Cães Imortais.
Vestido a caráter para a ocasião, quem ele trouxe também se vestia como se estivesse entrando em uma batalha. Wallace Baker, o líder do Esquadrão Carmesim, trajava o negro do pescoço aos pés, formalmente com uma bracelete de ferro e uma ombreira larga que tomava seu braço direito inteiro. Ela reluzia pelo brilho das esferas de luz no teto daquele imenso salão.
As botas de Tito Baker eram meio sujas por causa da neve, mas seu torso era impecável. A aljava corria pelo peito, atravessado na diagonal. Pela leveza de um arqueiro, era o único sem uma peça de ferro ou aço equipadas.
Heivor Lobo Javali era o mais observado. Se Tito não usava peças de armadura, Heivor parecia não gostar de usar roupas direito. Sendo da Tribo Mestiça, usava o suficiente para se portar na ocasião, chamando mais atenção pelos músculos definidos e sua aura ofensiva.
Eles devem achá-lo uma besta, pensou Orion contente. Essa era a intenção.
Mais atrás, Martin Crons e sua postura autoritária de um imperador. Sem ligar para quem estivesse presente, sua vestimenta de mago azulada se misturava com o branco, parte das peças nortenhas, tornando ele o oposto de Wallace.
Finalmente, os últimos. Nayomi Defoul, vestindo a honrada couraça negra e um colete por cima, do Império Nevasca. A espada em sua cintura evidente ao público carregava a transição de que junto de Orion possuía uma das mais novas Mestre de Armas de Hunos. E Lumiere Limus, a figura mais famosa do ramo Alquímico desde que a Travessia de Ignolio havia sido fechada.
O grupo de Orion Baker não era fraco, pelo contrário, sabiam bem quem eram e seus feitos até o momento. E mais importante, eram jovens.
Do outro lado, a tensão não deixava as famílias nobres satisfeitas. Hallis Espada mantinha seu queixo duro desde que a informação havia chegado a ele. Orion estava ali para pagar a divida completa dos Trindade e levá-los para o norte.
E pior, todas as famílias se reuniram. Faltava apenas uma única pessoa, que adentrou vagarosamente por uma porta lateral. Vendo quem faria a execução do pagamento, até mesmo Jinx se impressionou.
Era Darken Sozin, o Comandante dos Justiceiros.
– Trouxeram até mesmo esse cara para o julgamento – Norma Godoy se enfureceu. – Que merda está acontecendo que a gente não sabe?
Hallis respirou fundo e encarou Orion Baker. O rapaz nem mesmo procurou pelo justiceiro, ainda o fitando.
– Esse moleque me dá calafrios – disse em voz alta. – Dois Velhos Reis e o Justiceiro, ele os conhece. E conhece bem.
Um dos anões se levantou e andou até as escadas. Era Groi com suas grandes barbas negras divididas em duas enfiado num gibão esverdeado. Seus passos curtos foram observados por Orion até que se aproximou.
– É um prazer te conhecer, garoto.
Orion o cumprimentou com um aperto de mãos.
– O prazer é meu de conhecer um dos Anões do Conselho. Senhor Groi, filho de Groler Fedekin, da cidade de Juntorril.
As sobrancelhas do pequeno homem se separaram exatamente como sua barba.
– Vejo que é muito mais estudioso do que estou acostumado a ver nos humanos. Vim te agradecer pelo que fez recentemente, aqueles dois Sumonas eram de extrema importância para nossa casa. – Não havia desonestidade em sua voz. – E seu preço muito volátil.
Orion pediu que Krifren colocasse um preço de cem milhões de ouro por cada item. No entanto, a primeira contraproposta que tivessem seria o preço que aceitariam. O estimado na última reunião eram de 60 milhões cada, mas acharam um valor de 80.
Um lucro bem mais alto do que o esperado.
– Eu não tenho motivos de guardar a história para mim, senhor Groi – respondeu Orion Baker. – Qualquer Sumona encontrado no Norte que pertencer aos Anões será entregue a um preço mais do que justo.
– Os Três Reis de Juntorril agradecem. – Groi o saudou com mais um aperto de mão e se retirou.
A ação do Anão trouxe ainda mais raiva ao Círculo Nobre. Eles sabiam que foram vendidos dois itens antigos, mas nunca acharam que os Baker estariam tão bem relacionados. Na verdade, se fossem entregues a Ordem dos Magos primeiro e depois vendida aos Anões de Juntorril, poderiam se banhar sem a preocupação da crise que estavam prestes a viver.
E Hallis Espada sabia muito bem que aquele moleque tinha completa noção disso.
– O que estamos esperando? – o único verdadeiramente calmo era Higor Lila, com seus olhos cansados e respiração morna. – Tenho outros compromissos, senhor Darken.
O Justiceiro nem o colocou em seus olhos.
– Esperamos Sindromeu Trindade – falou indiferente. Virou-se para Jinx e Artrax, um piso acima, mas acessível, dando um sussurro. – Já colocamos todos os homens a posto caso aconteça alguma coisa.
– Certo. – Jinx assentiu voltando a cabeça para trás. – Faz anos que temos que nos preparar para um evento desse.
– Ele nem mesmo está nervoso, isso me deixa irritado. – Artrax repousava a mão na face e o cotovelo no braço da cadeira grossa. – Parece que veio a passeio. Um Baker pisando em VilaVelha, o Masquerati vai ficar furioso quando souber.
Jinx soltou uma risada baixa – escutada por muitos.
– Vai mesmo.
Hallis enviou sua raiva pelo tom de voz para os andares acima.
– Não iremos começar? Temos muitos assuntos a tratar, senhores. – Um dos seus criados, atrás de suas costas, levou um papel a frente e Hallis Espada pegou, lendo. – Quero dar início com uma menção do Livro Registrado da Justiça Mágica, a seção que indica as famílias nobres. Existe uma referência aos Viboros, antiga família nobre que reteve boa parte dos seus fundos para contratos externos e acabou por afundar a Ordem em um tipo de crise econômica que se alastrou por mais de vinte anos.
– Vinte e sete anos, é a data certa – disse Orion. – Antes de começar, por favor, espere pelo Mestre Trindade. Ele tem direito de ouvir suas palavras, senhor Espada.
– Já perdemos muito tempo aqui, Mestre Baker.
– E vamos perder mais se quiser começar a narrar causas ganhas e perdidas pela Ordem. Não me importo em rebater seus argumentos, mas essa é a uma negociação contra aprovação, justo nos Registros da Justiça, como pode ver na página 347, quinto parágrafo.
O único que tinha o Registro da Ordem era Darken, oculto dos demais por estar no segundo piso. E lentamente paginou até a numeração. Lá estava, na página 347. Impressionado, concordou com a cabeça.
– Orion Baker tem a razão quanto a isso. Por negociação contra aprovação, devemos esperar todos os membros dentro do grupo. Se Lorde Sindromeu ainda possuí assuntos pendentes, devemos adiar.
– Não será preciso, ele chegou.
A porta se abriu mais uma vez e os quinze membros da família Trindade entraram a passos rápidos. Usavam roupas parecidas, ternos enegrecidos, tapando completamente os braços e pernas, com sapatos bem modelados.
O estilo deles havia mudado completamente desde a última vez.
A frente deles, Sindromeu Trindade, parando ao lado de Orion.
– Perdão pela minha demora, senhores. Tive que cuidar de algumas poucas questões em minha nova residência. O Imperador Nero manda um abraço para cada e deseja melhoras. – Segurou a mão de Orion com força, expandindo seu sorriso. – É bom revê-lo, Mestre Baker. Tudo está endireitado, como pedido.
– Obrigado, Mestre Trindade. Por favor, sente-se com os seus. Eu tomarei conta disso a partir de hoje.
– Certo.
Girou no próprio eixo e indicou uma das cadeiras afastadas. Seu filho e conselheiros sentaram um por um, mantendo um lugar ao meio. Sindromeu sentou-se bem, de peito estufado e queixo erguido.
– Está tudo bem mesmo, pai? – Daves sussurrou perto de seu ouvido. – Por que tivemos que voltar pra cá?
– Foi um pedido direto do Mestre Baker. Ele quer que todos vejam o nível das famílias nobres.
– E onde está minha irmã?
– Está vindo.
Norma Godoy e Hallis Espada discutiram mais algumas coisas. Darken ainda não havia dito nada sobre começar, então o Mestre Espada avançou e tomou parte do palanque. Ajeitou a manga de seu casaco e depois os ombros.
– Agora que estamos todos presentes, vamos começar – disse abertamente. – Eu dizia sobre Viboros, a família que trouxe vinte e sete anos de crise para a Ordem. Nesse período, vimos o Clero se sobrepondo e tomando parte de nossas terras em Archaboom. Ainda hoje, eles possuem cerca de 70% do tereno, uma consequência que se arrastou até hoje.
Norma Godoy tomou o segundo palanque e Higor Lila o terceiro. Cada um deles com bastante relatórios, uns com mais de dez folhas frente e versa.
Vendo aquilo, Wallace se prontificou:
– Orion, devemos fazer mais alguma do que ficar parado aqui?
– Não, é mais do que suficiente para colocar eles nos trilhos.
A Senhora dos Godoy iniciou seu discurso com um óculos pequeno em cima do nariz:
– Senhor Baker, desde que os Trindade entraram para as famílias secundárias, seu maior valor organizado e doado a Ordem foi de alguns milhões de moedas.
– Sete milhões e trezentas mil – corrigiu Orion, calmo. – Continue, por favor.
– Isso. Esse é o valor exato. – Norma e Hallis trocaram olhares. – Para ser mais exato, ao perdermos a família Trindade, teremos uma queda de setenta mil moedas semanais. Esse valor é enorme pelo período que estamos. Quatro Torres Mágicas foram destruídas e nossa mão de obra está bem abaixo para que possamos reconstruir tudo. Deve entender já que a cidade de Kefor está sendo reconstruída aos poucos.
Darken olhou para trás na hora, questionando silenciosamente. Artrax deu de ombros. Jinx percebeu os dois e procurou uma resposta.
– Eles não fazem ideia de como está a cidade dos Baker – explicou Artrax, com um olhar interessado. – Acham que eles ainda estão organizando os fundos para dar sequência as construções de alta qualidade.
– É o que está no relatório?
– Parece que sim, mas Kefor teve um aumento de quinze mil moradores e se expandiu em três vezes. – Artrax encarou Orion e depois Sindromeu Trindade. – Eles não disseram nada até agora.
Darken concordou ao ouvir.
– Vão dar sequência em Quisha contra Viboros.
Orion ergueu a mão e Norma Godoy se silenciou. Ao abaixar a mão, respirou fundo e olhou para trás. Encarou Martin Crons, e apontou para a porta. O Mago dos Raios assentiu e saiu andando, foi até uma das saídas e a abriu.
Haviam cerca de vinte pessoas do lado de fora. Darken deu uma olhada, reconhecendo os líderes das famílias secundárias que serviam aos Godoy, Crons, o Castelo de Espadas, Lila e Dalila, além dos Classic e Genesis.
Pegos de surpresa, entraram lentamente.
– Eu os convoquei – disse Orion mais uma vez. – Eles possuem o direito de ouvir sobre Viboros, como bem disse. – Esperou que sentassem, mais afastados de Sindromeu, para continuar. – Bom, como disseram, a Ordem entrou em crise por vinte e sete anos por causa de uma família que disse ser capaz de gerenciar seus próprios negócios sem a permissão da Ordem. Isso se fez concreto, a Ordem teve uma queda de nove milhões e meio de ouro, sem contar as pratas e cobre.
– Praticamente. – Os olhos de Norma ainda caíam no documento.
– A Ordem quis um pagamento, Viboros pagou cerca de 18 milhões para sair do círculo e se desvincilhar de toda a estrutura de VilaVelha. Se moveram para perto dos Desertos Puros, onde é território das Ilhas Vulcânicas. Depois de seis anos, mesmo tendo pago, os Viboros foram obrigados a pagar uma taxa para os Quishas, uma família tercenária, comandada pelos Godoy na época.
Darken esperava que Orion citasse. Era uma jogada clássica. Jogar os elos fracos de um acordo feito boca a boca para o lado dos nobres.
– Os Quisha tinham uma ligação com os Godoy – Hallis Espada disse. – Mas, o acordo que fizeram com Viboros era simples. Para se instalar nas terras vulcânicas, deveriam ter uma taxa porque os Quisha tinham direito a uma parte das Florestas Puras.
– Errado.
Hallis ergueu o olhar e viu Darken com um dedo no rosto, observando o livro.
– Os Quisha tinham direito a terreno por parte da guerra que acontecia entre os Vulcânicos e os Imperadores de Ferro, uma facção que eles mesmo disseram ter sido criada por motim. Os Quishas, por vontade própria, avançaram para ajudar e cobraram dos Viboros uma parcela para ajudar.
– E os Viboros não queriam pagar – continuou Orion. – O que resultou em um ataque mortífero por um dos lados. O acordo que fizeram foi levado como inútil depois que seus corpos foram levados para dentro do Deserto Puro.
Norma Godoy não esperava que Darken fosse falar sobre, mas Orion mesmo conhecia da história. Praticamente, Hallis e Higor também foram pegos de surpresa.
– Pela lei denotativa de Rendição Econômico – disse Hallis Espada –, os Viboros não foram forçados a pagar nada depois. É aqui que queremos chegar, senhores.
– E foram massacrados depois de negarem um pedido de uma família secundária dos Godoy – respondeu Orion. – Olhe o contexto geral, senhor Hallis. O que quer de mim é dinheiro, e eu poderia pagar o valor base que pedir. No entanto, para repreender o que vocês alegam com tanta facilidade, eu também tenho custos necessários para que a Ordem dos Magos me pague um valor bruto de mais de vinte e cinco milhões. E isso recai em Papa Normandio contra Tania Basker, representado no Livro Jurídico da Primeira Era.
O salão inteiro ficou silencioso
Foi o suficiente para que Darken levantasse a mão e olhar para trás. Artrax balançava a cabeça e Jinx mantinha um olhar nervoso para baixo. Sindromeu Trindade notou o movimento dos Anões e dos Elfos, além de Anneton que foleava um livro velozmente.
E quando parou, procurou até arregalar os olhos.
As vozes do Conselho do Doze se alastrou baixinho e Artrax comentava algo com Jinx. Hallis entrelaçou seu olhar com Norma Godoy e Higor Lila, depois olhou para os representantes atrás, nenhum deles parecia entender também.
– Não façam nada – disse Orion mentalmente aos seus. – Eles vão querer argumentar, mas estamos preparados para isso.
– Custos – disse Artrax primeiro. – Papa Normandio foi um renomado homem que fez muito, mas Tania Basker na época considerada uma anomalia mágica teve um imenso descontrole de seu núcleo, o que ressaltou na destruição de uma ilha inteira, Mestre Baker. Como essa reparação teria a ver com a negociação e acordo de hoje?
– Papa Normadio tinha cerca de vinte e cinco discípulos, cada um deles controlava um Templo Arcano, peça fundamental para que suas artes divinas tivessem um efeito maior. Tania Basker matou Papa Normandio, levou cerca de dez Templos Arcanos para o lado da Ordem dos Magos, e Gagari Baker, o Segundo Senhor da Casa Baker, não recebeu um centavo.
Artrax coçava o lábio inferior, ainda fitando-o.
– Pode ser que esteja dizendo que a Ordem deve a Tania Basker por conta de um registro da Primeira Era e usará isso hoje para pagar a dívida dos Trindade?
– Pagar? Mestre Artrax, eu não tenho problemas em pagar um custo de 9 milhões, é pouco para o que minha família tira mensalmente. O que quero dizer é que a Ordem não paga o que realmente deve, mas pede sem ter nenhum tipo de condição verdadeiramente sensata. – Ele elevou os dois braços. – Ou acha que o caso Viboros contra Quisha tem uma condição imprópria? Senhor Darken, essas famílias atrás de mim são as verdadeiras famílias, não os Godoy ou o Castelo de Espadas. O tesouro dos senhores nobres possuem cerca de 60% vindo das suas famílias secundárias, e no entanto, a Justiça Mágica cobra duas vezes o valor em imposto deles ao invés dos seus patronos, que seriam aqueles que estão daquele lado – apontou para Hallis. – Eu vim pagar uma dívida, isso é certo, mas não tenho medo de dizer que o que fazem aqui é completamente fora de senso. VilaVelha está decaindo por conta das quedas das quatro Torres Mágicas, e onde estão os culpados nisso? A verdadeira batalha que está correndo aqui dentro é porque os inocentes são questionados porque querem se livrar dessa injustiça e pessoas como Hallis Espada, que apontou sua espada para Mestre Trindade ao ter um casamento cortado, está apontando seus desejos para mim?
Darken teve que erguer o braço para pedir um tempo.
– As questões são complexas, eu sei. Existem muitas medidas que estamos tomando e com o tempo vamos…
– Não vão – Orion o cortou. O salão entrou em silêncio novamente. – As leis são feitas para serem concretizadas, assim meu pai me ensinou quando eu era pequeno. E eu estudei cada uma delas porque não queria ser um criminoso, mas são seletivos.
Higor Lila bufou e abaixou seu óculos para a mesinha.
– Não existe seletividade, existe prioridade. O que temos aqui é um caso concreto, a saída dos Trindade resultará em um abismo para os nossos fundos. Não somente em VilaVelha, teremos Campanário Verde e Archaboom sobre pressão. A área que Sindromeu comandava é uma das mais frutíferas, sem eles seria um desastre.
– Podem ficar com a terra.
Hallis e Higor pareceram não entender, mas foi Norma Godoy quem arrancou nervosismo na voz.
– O que disse?
– A terra, não é isso que querem, podem ficar com ela. Um pedaço desse gramado aqui em VilaVelha não serve para nossas famílias. É isso que se trata, certo? – Orion deu de ombros. – Façam o que quiserem, não me importo.
Anneton e Groi olharam para Sindromeu. O líder da família Trindade nem se mexeu. Ele realmente estava abrindo mão do lugar que seu pai e o pai de seu pai viveu por tantos anos. Havia mistério nisso.
– O garoto está mexendo nas estruturas – disse Groi, baixinho. – Eu disse pra você, Anneton, não era para cutucar um dragão adormecido. Veja a cara deles, estão todos sem entender nada. A confusão é a primeira parte para criar o caos completo. Se Darken não o parar, vai ser um massacre. É sua melhor chance, tome um lado sensato e ajude-o. A Ordem dos Magos vai precisar da mente desse rapaz um dia, e é melhor estar em boas condições com ele.
– A Ordem tem uma fundição e base modificadas desde a Primeira Era. – Heda disse na cadeira atrás. – As famílias nobres tem um papel fundamental nesse processo justamente porque eles decidiram todos os eventos até agora.
– Juntorril também tinha um conselho bem semelhante a esse, senhora Heda – disse Groi. – O que restou dele foram histórias. Hoje, os Três Reis de Juntorril governam seus sistemas diferentes um dos outros porque sabem da importância da diversidade de capital. Esse problema que estamos sofrendo em VilaVelha é comum em sistemas sobrecarregados por elites sendo carregados pelos seus criados.
– Como esse Baker diz – Prisma ditou com calma. – Ele conhece bem a história e também as leis para carregar esse peso para cá. Um cenário forjado para que possamos ouvir com clareza que a Ordem dos Magos está fadado a definhar se não houver novamente um evento que o leve as alturas.
– E qual evento seria tão grandioso?
Darken fechou os olhos.
– Merda.
– Não se preocupe – Jinx deu um tapinha em seu ombro, mesmo estando no piso superior. – Isso não vai acontecer. Não agora. Continue.