Passos Arcanos - Capítulo 247
A primeira barreira mágica caiu e com elas mais de cem Magos. As torres nas laterias explodidas, pedra por pedra caindo. Antes de tocar o solo e esmagar os sobreviventes das chamas verdes, seu peso diminuiu.
Flutuando no ar, os pedregulhos voaram para as laterais.
– Eles trouxeram reforços, Criston. – Alduin tinha um pequeno grupo de soldados atrás de si. Usava a vestimenta negra com fivelas nos braços e botas surradas. – Temos menos de dez minutos.
Criston admirou o cenário destruído, suas chamas corriam pelas paredes cinzentas da muralha, e os gritos de suplicas envolvidos no cenário lhe tiravam um sorriso de canto.
– Faz tanto tempo da última vez que estive aqui e parece que nada realmente mudou. São todos muito arrogantes e confiantes. – Olhou para seu pulso, havia um marcador. – Esmelt deve estar começando agora.
– A última vez foi bem tenso, o Conselho dos Doze estava bem reunido.
Lembrava bem, Criston e Alduin lutaram contra um dos Doze e tiveram que recuar. Óbvio, não antes de ter um dos Pergaminhos Arcanos para si.
– Nós nos preparamos bem para hoje – alegou Criston. – Não precisa temer. As armadilhas que construímos dentro da cidade durante os últimos meses vão deixá-los bem entretidos. Nem vão saber que estamos aqui.
Um imenso grupo de Cavaleiros passou para dentro do buraco e invadiu a cidade. Os gritos lá de dentro ganhou forma e os homens sumiram na cidade. Passou-se mais cinco segundos, e um segundo buraco criou-se na muralha, enviando-os de volta para fora.
Um deles caiu nos pés de Alduin, seu rosto estava deformado e sua armadura amassada para dentro.
– Isso não estava dentro dos planos – disse Criston.
Do segundo buraco, um rapaz passou para fora. Balançava o braço direito e estalou os ombros, não usava nenhuma roupa da cintura pra cima deixando bem a mostra seus músculos definidos. Parou um pouco depois da muralha e olhou para fora.
– O Lobo e Javali ordena que se ajoelhem, criaturas. – A aura emanou dele de forma agressiva e bestial, revelando olhos bem centrados, vermelhos como sangue. – Ou serão mortos pelo Senhor das Feras.
Alduin olhou para Criston.
– Posso?
– Vai – disse, indiferente. – Não me importo com isso. Vai ser menos um.
O grandalhão bateu uma mão na outra e correu. Seus pés pressionavam o solo e aumentava sua velocidade a cada passo. Esticou o braço para trás e a mana correu pela pele. O punho explosivo, como Criston bem conhecia, mataria um homem em segundos.
O jovem não se moveu e sorriu abertamente.
– Uma batalha de punhos? – Gargalhou e abriu os braços. – Tente me acertar, então.
Alduin quebrou o ar e atacou com duas vezes mais força. E a mão do rapaz reagiu na hora. Suas pernas travaram no chão, o braço no ar e o punho fechado nas mãos dele. Alduin forçou mais o braço e não saiu do lugar.
As sobrancelhas de Criston se separaram.
– É só isso? – O rapaz começou a rir mais uma vez. – Sinta o meu.
A medida que seu braço desceu, imagens semelhantes percorreram como uma calda seguindo o original. E sem esperar, ele apareceu no peito de Alduin. O homem foi enviado para longe, batendo e rolando contra o chão.
– Viu? Eu estava com saudade dessa sensação. Lutar contra aquele desgraçado me deixou preso, agora posso me libertar. Pela primeira vez, vou poder lutar a sério aqui. – Ele deu seus dois primeiros passos e a aura bestial cresceu mais uma vez. – Venha, eu sei que está vivo.
Criston viu Alduin se levantar e limpar a sujeira de seu ombro.
– Ele tem fibra – comentou o grandalhão, ainda calmo. – Fico com ele. Se concentre no objetivo.
– Se puder, não o mate. Ele é diferente.
Alduin concordou e correu mais uma vez. Criston ignorou o choque entre soco dos dois e começou a caminhar em direção a muralha. Ouviu uma segunda e terceira explosão distantes assim que pisou nos escombros que deveriam proteger a ala leste de VilaVelha. Eram Esmelt e Rigor, o plano estava seguindo de acordo.
Os Cavaleiros caídos pertenciam aos dois lados. Muitos feridos por lâminas, outros por magias. As casas que ainda se mantinham de pé foram poupadas e muitas crianças e mulheres eram levadas para gaiolas de ferro.
O fogo espalhado nas fazendas brilhava fortemente a esquerda. O tamanho de quase duzentos metros quadrados se tornava pequeno para o palácio central de VilhaVelha, onde o Conselho dos Doze e os Grande Magos viviam.
E lá, chamas azuis e rosadas tomaram as paredes por fora. Uma magia passiva muito bem projetada para selar a mana por dentro. As janelas e portas forçadas a serem fechadas, e cozinhar qualquer um perto o suficiente das saídas.
Dias atrás soube da informação que haveria um julgamento importantíssimo. Os Velhos Reis presentes e o Conselho dos Doze convocados, os Lordes nojentos do Círculo Nobre e uma família ao norte que parecia ter comprado direitos da Ordem.
O momento ideal se mostrou. Selar todos dentro e pegar todas as crias para o Mestre, alimentos fáceis. Mas, ainda existiam pessoas difíceis de se lidar. A Ordem dos Magos era composta por magos, no final das contas.
Criston passou por mais duas ruas calmamente e viu homens sendo jogados com seus braços presos para dentro das casas. As mulheres separadas em um canto e as crianças com suas gargantas fechadas por magias. Seus gritos causavam agonia.
– Mestre Criston. – Um dos Cavaleiro se aproximou. – Temos a quantia. Partimos?
– Sim, mandem levá-los pela via alternativa. O Comandante Alduin está em batalha.
O rosto do homem endureceu.
– Não é nada para se preocupar. Vá logo.
Assentindo, o homem levantou o braço e ordenou que as gaiolas fossem erguidas e levadas. Assim que fizeram isso, houve um berro de dor. Um dos Cavaleiros caiu ajoelhado com uma flecha agarrada em seu ombro, e antes de conseguir tirar, outra se instalou em seu pescoço.
Deitou-se morto.
– Protejam-se.
Escudos de ferro se elevaram. Criston foi o único que manteve-se parado olhando para frente. Avistou um borrão aparecer e fez suas chamas reagirem. Uma mão flamejante e verde segurou o disparo e o trouxe para mais perto.
– Que inusitado, é só uma flecha normal.
– Normal? – ouviu vindo de suas costas.
Os pelos da nuca de Criston se enrijeceram. Ele virou, sua garganta foi acertada por um golpe lateral de mão. Ele sufocou por segundos, recuando. Suas chamas subiram para golpear em frente, mas o jovem avançou mais rápido e golpeou com a cabeça.
A dor culminou de cima abaixo. Antes de Criston dar mais uma passo para trás, viu a imagem de seis braços vindo. Ele venceu Alduin? Impossível.
– ‘Fike: Golpe Sêxtuplo do Javali’.
Seis punhos, três de cada lado, avançaram. Criston só teve tempo de forjar uma defesa improvisada. Quatro dos punhos foram defendidos, dois entraram. E esses bem suficientes para arremessá-lo para longe.
Ele bateu contra uma casa, saiu do outro lado e colidiu à segunda, finalmente parando.
Seus olhos ardiam e seus braços pareciam dormentes. Ele conseguiu perfurar minha defesa com extrema facilidade. Vou ter que usar magias ativas, merda.
– Está com um baita problema – uma voz mais tranquila soou de cima. – Heivor tem estado se segurando faz alguns meses e você virou alvo dele.
Outro rapaz, novo, com um arco em uma mão e uma flecha em outra. A expressão calma, leve. Ele não era comum também.
– O que estava pensando quando explodiu uma muralha bem quando minha família estava na cidade? Tento entender, de verdade, mas não consigo. – Apontou para Criston com a flecha. – Deveria pensar nisso. Ah – olhou pra frente. – Ai vem ele de novo.
Criston se pôs de pé imediatamente. O tal Heivor esticou o braço mais uma vez, o punho viria como da outra vez. Uma runa se deformou diante o peito de Criston, e as chamas a suas volta tomaram um rumo diferente.
– Viesk Anuin: Retomada de Grandeza.
Um corpo emergiu das chamas, grande e gordo, com braços flácidos e enormes. Suas duas mãos se uniram e uma onda de ar poderosa deformou-se. Heivor abriu a boca e numa expressão raivosa, liberou o grito:
– MORRA.
De sua garganta, outra onda de ar. O choque entre as duas massas gerou atrito, o chão rachou e a mistura dos dois emergiu um rugido ecoante. De boca aberta, Criston observou aquele jovem para uma magia ativa com sua própria força de vontade.
E foi nesse pequeno lapso de compreender o que acontecia, Heivor encurtou o espaço com seus punhos.
– ‘Arte Bestial: Palma do Javali Preto’ – berrou.
O surto de mana o envolveu, antes de travar na frente da magia, dobrou seu braço esquerdo e fez o direito ser o foco de toda aquela energia natural. Não piscava, notou Criston. Não pensava em nada além daquele momento, como se fosse o último de sua vida.
Quem é esse cara?
A palma veio, lenta. Um movimento tão simples, tão ordinário, carregando tal sensação destrutiva. E ao esticar, ouviu-se um tambor. O grandalhão verde não se mexeu. Por um segundo, houve uma possibilidade daquele ataque ter falhado.
E Heivor respirou fundo. Seus dois olhos se fecharam e o braço abaixou-se.
Agora. Era a chance.
Assim que Criston moveu o dedo para conjurar uma magia, sentiu uma lufada passar por ele vagamente. E de repente, uma imensa rajada o atingiu. Seus pés e braços foram empurrados, seu peito esmagado e sua garganta fechada.
Heivor voltou a abrir os olhos.
A pressão aumentou drasticamente. A rajada de ar dissolveram as chamas verdes enviando para longe, e Criston estando no meio delas também foi enviado.
– Isso é ridículo – disse Heivor. – Essa magia nem parece ter efeito, mas ainda é extremamente poderosa.
Tito Baker ouviu e riu dele.
– Orion foi quem te ensinou, não foi?
– Sim. – O Lobo e Javali olhava para a própria mão, tentando entender. – A explicação foi bem meia-boca, mas a sensação é essa. É tudo que preciso saber.
Saltando dos escombros, Tito procurou pelos Cavaleiros que adentraram as muralhas antes.
– Orion disse que eles explodiram três pontos, precisamos tirar as pessoas que eles pegaram.
– Deixe que eu faço. – A raiva em sua voz não era por causa da magia que usou, agora era por outra coisa. – O que eles estão fazendo, isso tudo de roubar a vida das pessoas, seus corpos e sonhos, vou esmagar todos eles.
– Vou ficar na sua cobertura, então.
Tito deixou que ele se fosse sem se mover. Olhou para onde Criston havia sido arremessado, uns trinta metros dali. O homem estava inconsciente pelo que parecia. Ainda assim, Tito olhou para onde o palácio que estavam antes se incendiava em rosa e verde.
Sua mente, conectada a mana, atingiu o receptor.
– Menos dois aqui – disse para Orion. – Estamos avançando.
– Livrem-se de todos – respondeu Orion, sério. – Eles pertencem a um grupo escravista. Apenas alguns vão ficar vivos para interrogatório.
– E esse? – Tito apontava para Criston.
– Esse vive.
Sem contrariar, Tito concordou e saiu na direção de Heivor. Já dava para ouvir os gritos e berros de de dor dos Cavaleiros. Até porque, uma besta fora da jaula, descontrolada e sedenta por lutas nunca seria parada por meros espadachins ou lanceiros.
Precisava-se de mais, bem mais. E Tito queria ver até onde o limite do líder da Tribo Mestiça ia. Heivor era um aliado, sim, mas também extremamente poderoso e perigoso quando sua mente se desligava do corpo.
Por isso estava ali. Para dar cobertura, de qualquer coisa que pudesse causar problemas… para Orion.