Passos Arcanos - Capítulo 248
Cinco minutos, esse foi o tempo que os Velhos Reis dentro do palácio tentaram achar uma maneira de sair. As paredes foram tomadas por uma estranha formação mágica, com mais de quinze planos diferentes, resultando num surto de energia que nem mesmo eles poderiam arrebentar.
Jinx se reuniu com os Lordes e Mestres das famílias em um canto. Preocupado com o que ocorria lá fora, pediu que cada um deles tomasse um caminho para uma das alas protegidas pelos Arche-Magos presentes.
Hallis Espada e Higor Lila foram os últimos, fitando os Baker e os Trindades juntos em outro ponto.
– Eles não vão? – Hallis questionou a Jinx. – Mesmo que todos os Baker estivessem juntos, ainda é perigoso se algum inimigo entrar para um ataque confinado.
– Mestre Baker se voluntariou para ficar caso alguém tente vir. – O Velho Rei apontou para os outros Magos que estavam de prontidão para levarem o restante dos membros nobres. – Senhores, temos que ir imediatamente. Até mesmo dentro do palácio correm risco.
Higor não tirou os olhos de Orion por nenhum momento.
– Esse garoto, alguma coisa nele me diz que não é igual a nenhum outro da sua família. – Olhou para Jinx de soslaio. – Tome cuidado, velho. A nova geração tende a superar a antiga.
– Infelizmente, isso já aconteceu faz algum tempo.
Sua afirmação causou certo desconforto em ambos. Seguiram o caminho por Jinx, restando apenas Darken, Artrax e as duas famílias.
O Justiceiro recebia relatórios constantes do que acontecia do lado de fora, mas o fato de estarem presos causava imenso nervosismo nos Magos e Arche-Magos. Quando um dos mensageiros recuou, ele se dirigiu aos demais.
– Disseram que são coletores.
– Aqueles malditos – esbravejou Artrax. – Estou atrás deles faz anos, e ousaram atacar minha cidade.
Orion não os conhecia, mas vendo sua face, Darken explicou:
– Eles são parte de um grupo escravista. São quase como sombras, estivemos atrás dos rastros deles faz mais de dez anos, e sempre somem. – A decepção em sua voz era da mesma intensidade que a raiva no Rei Alquimista. – Seremos massacrados se eles conseguirem sair vivos daqui.
Orion deixou que Artrax xingasse mais meia duzia de palavras de escalão quebrado e Darken receber mais cinco ou seis mensageiros indicando o que se passava do lado de fora daquelas paredes.
Observou os Magos e Escolásticos tentando penetrar a estranha camada de energia rosada e verde, sendo expulsos. Alguns tentaram enfiar a mão, corajosos e idiotas na mesma proporção, tendo dedos e pele queimados rapidamente.
Aquela chama esverdeada, seu cheiro era bem familiar. Na verdade, quando se aproximou e mostrou a palma, uma pequena parte dela se desligou e se uniu ao seu controle.
– É Natureza Arcana. – Martin ficou boquiaberto. – Você sabe usar?
– Apenas o básico que aprendi com Carsseral. Isso não é o problema. – Ele fechou a palma e recobrou-se do dia que libertou Joia. – É pior.
Voltou a andar na direção de Darken e esperou que o homem o notasse.
– Caçadores de Órgãos – disse rapidamente. – Temos cerca de uma hora, no máximo, para que eles saíam daqui.
O nome causou arrepio não só no Justiceiro, em Artrax também.
– São eles?
– Essas chamas verdes pertencem a um homem chamado Criston, ele é um dos comandantes. Um ano atrás, a filha de Poulius Qujas foi raptada por esse cara. A missão deles é capturar pessoas para entregar a um mestre, eu não sei quem é, mas que está coletando Magias Únicas pelo continente inteiro. As pessoas lá fora não são portadoras de magias, mas vão ser feitas de alimentos.
Artrax quase socou o ar ao ouvir aquilo.
– Os Caçadores são parte dos Coletores, uma espécie de ramificação.
Orion fitava Darken com seriedade, sem piscar.
– Se você der a ordem de remover todos os Baker das trincheiras, um por um, eu consigo salvar essas pessoas.
– Remover? As trincheiras são governadas pelos Grande Magos, não tenho autonomia para fazer nada sobre isso.
– Assine um acordo comigo. – Orion esticou a mão. – Conhecemos bem as leis, Darken. Diga que foi uma ação desesperada, causa destrutiva de alto grau, e remova o controle dos Grande Magos e dê para si. Diga que a única chance para tirar Vila Velha da derrota era assinar um acordo mágico comigo.
– Isso é Lei Estreita da Segunda Era – interveio Darken. – Se você assinar isso, estará vinculado a Ordem de qualquer maneira pro resto da sua vida. Qualquer chance que tinha de ficar fora do nosso radar ou dos Grande Magos vai ser impossível.
Orion não hesitou.
– Não tenho medo de pessoas que se escondem atrás do Masquerati. Aperte minha mão e recuperarei essa cidade para vocês.
Os Magos, Arche-Magos e Escolásticos que ouviram ficaram mais do que abismados com tal declaração. Nada disseram, obviamente. Nayomi e Martin esperavam apenas para saírem, Wallace e Tito puseram suas armas em mãos e Heivor Lobo olhava para cima na direção do lustre.
– Aperte logo – ordenou Artrax. – Eu aperto, que se foda.
O Velho Rei foi em frente e segurou a mão de Orion. Uma fraca luz se formou e tomou forma entre a palma deles. Quando se separaram, havia uma esfera completamente vermelha no centro. Emitia mana bruta e com cheiro forte.
– Tire os Baker das trincheiras. – Orion se virou e esticou o braço na direção da parede. – Tito e Heivor, tomem o caminho mais rápido. Nayomi e Martin, fiquem com o norte. Wallace tomará conta do último. Mestre Trindade, comigo.
Um portal cinzento tomou forma e a imagem se mostrou do outro lado. Heivor e Tito foram os primeiros, saltando para um terreno bem afastado, onde a muralha havia sido derrubada e homens com armaduras adentravam correndo.
O segundo portal se abriu e Nayomi teve o pulso segurado por Martin. O Mago dos Raios libertou uma chuvarada elétrica, disparando contra um batalhão inteiro de criaturas feitas de gelo e fogo. Por último, Wallace sozinho entrou caminhando, calmo e tranquilo, seu machado foi brandido e uma aura assassina paralisou os inimigos que prendiam os civis mesmo estando dezenas de metros de distância.
Orion passou junto de Mestre Trindade, mas deixou nenhum outro.
– Se preocupe apenas com ataques internos – disse Orion Baker para Artrax. – Tomarei conta da sua cidade e você toma conta da minha família. Não volte atrás com sua palavra, Rei Alquimista.
– Tire esses fedelhos das minhas ruas e não vai demorar uma semana para que seus parentes voltem para aquele frio desgraçado do norte.
Orion ouviu e deu uma gargalhada.
– Eles vão morrer, é uma promessa.
Quando o portal se fechou, os únicos restantes em cima de um telhado, eram eles. O palácio de Vila Velha ainda ganhava aquela mistura de energia compulsiva, proibindo a saída de qualquer um por meios convencionais. Fluía pelas paredes como uma chama e também se portava como uma água, calma e tranquila se vista de perto.
No entanto, ao pisar ali, as chamas verdes se afastaram de Orion com velocidade. Sindromeu percebeu isso também. Uma área de quase vinte metros se dispersou, dando espaço para que observassem boa parte da cidade dali.
Os prédios menores e as casas afastadas foram ateadas a fogo. A fumaça subia causando um cobertor preto no ar, e o brilho das chamas escarlates transformava o cenário ainda mais caótico com os gritos e berros.
As pessoas corriam de Cavaleiros. Quando presos, eram jogados no chão e amarrados.
– Aquilo são jaulas? – Sindromeu ficou enojado e irritado. – Eles estão levando aquelas pessoas, Mestre Baker.
– Eu sei.
A raiva de Orion se resumia no olhar, não em sua fala.
– Temos que ajudar – disse Sindromeu. – Eles são moradores. Vila Velha depende dessas pessoas para sobreviver. As famílias nobres podem ser porcos malditos, mas eles…
– Tente ficar relaxado, Mestre Trindade. Eles já chegaram onde pedi.
Um imenso barulho ecoou e Sindromeu retornou sua atenção para o norte. Um dos imensos portões de madeira foi explodido em milhares de fragmentos. Caldas elétricas se libertaram ao redor e uma risada pulsou a onde estavam.
Um grito de dor misturado com agonia e um medo estampado. De repente, garras de gelo cresceram atrás de um alvo. Orion olhou para o céu quando esse tremulou e uma imensa descarga desceu para lá.
A magia de gelo explodiu e outro estrondo ressoou.
– Aquele é Martin Crons – disse Orion. Pôs suas mãos atrás das costas. – Cada um dos meus aliados tem um poder que transparece o senso comum. Foram forjados para guerrear, mesmo que não seja preciso. Eu poderia limpar essa cidade em pouco tempo, mas olhe bem, Sindromeu.
– O que eu deveria olhar? – perguntou em tom solene.
– Esses inimigos causaram uma dor que a Ordem dos Magos nunca irá esquecer, eu também não. – Orion o encarou. – O que importa para sua família, as pessoas ou o poder que as governa?
– Precisamos conversar sobre sociologia num momento tão drástico, Mestre Baker? – Apontou para baixo. – Essas pessoas precisam de ajuda.
– Elas precisam de ajuda, mas dentro do Palácio só havia mais de duzentos Magos. Onde estão os outros que deveriam estar patrulhando a cidade? – Orion não desgrudou os olhos dele. – As pessoas que vivem aqui são importantes, como diz, mas o governo atuante sobre as leis não servem de nada se quem possuí a maior autoridade não as coloca em dia.
– Entendo. – Sindromeu dizia inquieto. – Não temos como ajudar todos eles, eu entendo.
– Está errado, temos como ajudar todos eles. E o que irá acontecer quando souberem que a Ordem dos Magos não disponibilizou o Batalhão Principal para salvá-los? Não somos salvadores, Mestre Trindade. – Elevou a mão e segurou seu ombro. – Somos duas famílias muito longe de casa.
Sindromeu abaixou o olhar e tocou o próprio rosto.
– O senhor vai deixá-los serem levados? Esse é o tipo de pessoa que você é?
– Novamente, está errado.
Orion olhou para frente, em direção ao norte.
– Eu ordeno que lutem. – Sua voz não escapou pela boca, mas pela sua mente. – Não precisamos perder tempo com esses vermes.