Passos Arcanos - Capítulo 251
— O quê?
Algo distorceu. Reinna sentiu seu braço sendo entortado. Mexeu velozmente sua mana. Lento demais. Sua pele e suas veias dilataram, e explodiu. Soltou um gemido de dor e viu o próprio cotoco que se formou no lugar do membro.
Ela observou que o Baker nem se mexeu. O único movimento foi de seu dedo. Não esperava por uma magia espacial tão flexível. Isso mudava tudo, completamente tudo.
— ‘Lapso: dois segundos’.
Seu braço remexeu em um fluxo contrário. O sangue que caía no ar voltou, as veias e músculos se formaram, a pele se costurou novamente. E no final, uma runa avermelhada tomou forma, com dois círculos mágicos e três planos.
— Senhor Baker, senhor Baker. — Ela apontou para Orion, rindo. — Isso é baixo demais. Por que não me disse que era um Mago Espacial? Agora entendo tudo. Sua performance contra meus irmãos, até mesmo o resgate de Joia.
Ela fechou e abriu a mão. Depois sorriu, virando a cabeça e puxando a foice para perto do rosto.
— Uma magia dessas deveria ser usada de maneira correta. — Olhou para a lâmina da arma. — Não como uma simples vantagem. Eu fico decepcionada quando vejo alguém tão mesquinho com habilidades tão incríveis. Por isso Cristina é ideal, senhor Baker. O corpo dela é ideal, não interfira com seu bichinho de estimação.
O berro de Carsseral fez Orion olhar para baixo. Um imensa rajadas de golpes corroía sua pele, as escamas prateadas escureciam ao ponto de sua carne estar próxima de ser vista.
— Um homem como você deve escolher. Escolhas difíceis sempre caem em cima de pessoas poderosas, você é poderoso, então deixarei que escolha. A garota ou o Dragão, senhor Baker?
— Você não consegue entender. Nunca vai entender. — A mão dele se ergueu e uma runa se mostrou presente. — Já enfrentei pessoas e criaturas duas vezes mais fortes do que você. Se quer que que faça uma escolha, então faça a sua, então.
Num estalar de dedos, a runa se partiu e um imenso cubo envolveu os dois. Reinna piscou e o cenário se mostrou completamente diferente. Estavam flutuando no céu. Abaixo dela, nada. O infinito azul se mostrava para todos os cantos, apenas Orion balançando os dois braços.
— O que fez? Onde estamos?
— Não se preocupe. Eu vou quebrar essa sua cara risonha de uma vez por todas. — Ele fechou o punho. — Queria Cristina, então vai ter que passar por todos os Baker para tê-la. Começando por mim.
Reinna não teve tempo de reação. Ele surgiu como um flash diante seu rosto num soco só, acertou seu maxilar dobrando. Lançada para longe, se viu em extrema dor, e de repente, uma forte sucção a fez voltar.
Outro punho e o terceiro. Quarto. Quinto. No sexto, ela levantou uma runa.
— Lapso: Dois Segundos.
Os movimentos de Orion retornaram velozmente. Parou no meio do caminho, no primeiro ataque ainda. Mas ele não parou. Reinna jogou a cabeça para o lado, e o punho passou rasgando bem perto.
— O tempo deforma tudo. — Velozmente, chocou a palma no peito de Orion. — ‘Lapso: Envelhecimento Severo’.
O rosto de Orion começou a definhar lentamente. Seus olhos ficaram cansados, os lábios perderam a cor, rachando na laterais e os cabelos embranquecidos. Lentamente, seu corpo inteiro reagiu ao tempo passando, muito mais velho do que seu próprio pai.
Reinna se libertou e fugiu pelo ar.
— Gosta do tempo, senhor Baker? Ele comanda tudo. Por isso sou a Terceira Senhora do meu mestre, aquela que rege a vida e seus temperamentos. Conhece a história dos Reis do Universo Verde?
Orion tocou seu próprio rosto, ainda perdido.
— Sabia que não — continuou ela. — Um homem com um talento grande desafiou um deus. Perdeu é claro. Um deus não é apenas uma figura poderosa, mas também orgulhosa. Destruiu todas as formas de vitória daquele mero mortal, mas por sua audácia e coragem, lhe doou o verdadeiro poder, a vida, a morte e o tempo. O Rei do Universo Verde comandava os três alicerces e teve três filhas. A primeira comandava a vida, a segunda lidava com a morte e a terceira, tão franzina e pequena, ordenava o tempo. E o tempo sempre lidou com a vida e a morte, mesmo sendo mais nova e mais fraca. A terceira filha, a Terceira Senhora, eu sou digna de ter esse título porque sei comandar o cosmo, o verdadeiro poder da…
Ela travou. Orion olhava para seu próprio braço, uma estranha coloração verde subia sua pele guiando até os dedos. Ele segurou mais forte e soltou um ar aliviado. Seu rosto começou a voltar ao normal. Os cabelos negros, os lábios rosados e os olhos afiados.
Quando Reinna recebeu seu olhar, um frio subiu sua espinha.
— Como você fez isso? Não… — Balançou a cabeça. — Você não poderia fazer isso. Apenas os filhos do Rei do Universo Verde podem…
— Cale-se. — Num puxão, o corpo dela voou. Orion a agarrou pela garganta e puxou para perto.
Reinna socou o peito dele, puxou uma runa e bateu no peito. Três vezes. Nada, nem mesmo uma mudança. Desespero tomou seu rosto.
— O que foi? — Orion apertou ainda mais seu pescoço. — O mesmo golpe não funciona duas vezes em mim. Queria uma história? Te contarei do Arcanista Ardimundos, aquele que governou as luzes.
Muito rápido, Orion a a libertou e usou o outro braço. Encaixou uma runa em seu peito e a jogou para trás. Flutuando vagamente, os olhos de Reinna escureceram completamente. Sua mente, levada pra muito longe.
— Ardimundos acreditava em uma mentalidade, a luz poderia deformar o tempo. Ele viveu sua vida inteira tentando convencer a Ordem dos Magos que dentro do tempo, o único que não poderia ser envelhecido era aquele que não tinha corpo, apenas a alma. A luz dos cosmos. — Orion começou a levantar o dedo indicador para cima. — E ele foi até o fim para transformar suas ideias verdadeiras, transformando-se na própria luz. Por isso, o tempo não pode afetar aquele que se completa com a luz.
Ele girou o dedo no ar e uma imensa matriz se formou.
— O espaço pode ser deformado pelo tempo, mas o tempo é recheado de espaço, assim se faz a teoria Arcanista de Lenus. — O tamanho da runa comprimiu para do tamanho de uma esfera de bolso. — Cristina não vai ser levada, nem hoje e nem amanhã. Eu disse para seus amigos que da próxima vez que vissem, eu lutaria a sério.
Orion arremessou a runa. Deslizou pelo ar e girou para cima da cabeça da mulher. E no instante, parou.
Mais uma vez, o braço de Orion começou a tremer. Fazia muita força, tanta que seus dedos dobravam para dentro da palma. Rangeu os dentes, libertou um gemido, e uma dor latente tomou seu braço direito.
— Você insultou meu pai — a voz veio pelas suas costas. Completamente séria. — Vai morrer por isso, Orion Baker.
Um risco golpeou sua roupa e carne. A dor cresceu quase cem vezes. Sentia o sangue escorrer pelas suas costas em direção a cintura. E ao avançar um pouco, uma pressão zuniu seus ouvidos e Reinna apareceu em sua frente.
— Irá morrer por sua arrogância. — A mão dela desceu, um risco no ar apareceu, exatamente como uma fenda. E passou por dentro dele.
O corpo de Orion se dividiu em dois. Entre as carnes, infinitos pontos brilhantes, como estrelas.
Orion não podia se mover. Sentia, sim, seu corpo em duas posições diferentes, mas não podia fazer nada além de enxergar a mulher erguer a mão e a runa atrás dela acompanhar.
— Arcanistas ou Magos, vocês não entendem nada das leis do universo. O Rei do Universo Verde é o único que…
Ela estremeceu. Levou barriga para trás e cuspiu um bocado de sangue. Ao erguer a cabeça, Orion ainda estava divido ao meio, mas um dos lados sorria.
— Não é a primeira a me dividir em duas partes. Na verdade, nem chega perto de ser uma tortura. Eu vivi mil anos dessa dor. — Gritou em seguida. — Quer mesmo me matar com o tempo? Seja mais criativa.
Os dois explodiram em fragmentos.
I
— Aquilo é uma magia dimensional? — Sirene tocava a testa, sentada em seu trono improvisado de raízes. Seu vestido verde caía até os tornozelos, colado bastante ao cintura e seios. Os cabelos de cores mistas, de azul e verde, combinavam bem com a maquiagem em seu rosto, bem colorida. — O líder dos Baker tinha esse poder no nosso antigo relatório?
Jiase, a primeira irmã, negou. Também usava um vestido, esse era completamente negro. De pé, observava com os braços cruzados e uma expressão bem fria.
— Ele não deveria ser tão forte. Um Mago de Matéria tão novo deveria ser limitado pela experiência, mas pelo que Reinna está passando, ele tem muito mais poder do que esperávamos. — Olhou para Sirene brincando com alguns passarinhos no braço de seu trono de videiras. — Deveríamos ajudar?
— Ela é a mais nova. Ainda está se acostumando com as magias e também o corpo. Se morrer aqui, existem outros corpos para se apoderar. Contanto que sua alma não seja levada, estará bem.
Não gostava nada da leveza e despreocupação de sua irmã. Podia não conhecer bem Orion Baker, mas as informações que possuiu naquelas poucas horas era de que sua fortuna e capacidade superavam bastante as famílias nobres.
A forma como ele lidou com Reinna também foi assustadora. Um braço arrancado, obrigando-a usar uma magia em menos de um minuto de batalha.
Ainda não estava convencida.
— Quero ajudá-la — disse para Sirene.
— Não, o mestre não gosta que interferimos. — Ela segurou um dos pássaros e o jogou para cima. — Deixe que morra se assim for seu destino. Concentre em coletar informações. Esse tal Orion Baker não é de todo mal, seu corpo tem uma adaptação bem rápida em comparação aos outros.
— Ele conseguiu reverter um golpe direto.
— Nós podemos fazer isso, mas tivemos que treinar anos. — Sua irmã tomou o cabelo novamente, rodando-o na ponta do dedo. — Ele tem base, mas não é formada completamente. Estamos vivendo por mais de duzentos anos, ele apenas vinte? É ridículo pensar que Reinna perderi…
O cubo no alto da cidade se desfez em fragmentos. Suas partes pequenas brilharam, as maiores desintegraram em flocos até tocarem o chão.
Algo fez Jiase afiar o olhar. Sentia Reinna lá em cima, mas sua mente parecia fora de ordem, perdida. Orion, no entanto, flutuava com seus braços atrás das costas. Ele não tirava os olhos dela, como se não quisesse perder nada.
E, então, ele olhou para as duas irmãs.
— Impossível — disse Sirena se levantando. — Estamos mais de meio continente dele. Como…?
— Seus olhos, irmã. — Jiase sentia-se nua. Suas memórias, seus ensinamentos, até mesmo suas antigas vidas. — Ele está usando ‘Olhar do Céu’.
Jiase e Sirena conheciam quem tinha em posse essa Magia Única. O líder do Conselho dos Doze pela parte Humana, Anneton. Uma magia que lia as memórias, cada parte.
— Merda, esse miserável possuí uma Magia Única também. — Sirene fez o trono de videiras afundar de volta para o solo. — Consegue tirar Reinna de lá?
— Posso testar.
— Faça rápido, se ele souber do mestre, vai ser um desastre.
A boca de Orion Baker começou a mexer. Ele gesticulava algo. Jiase tentou decifrar, mas Sirene foi mais rápida.
— Desgraçado — gritou. — Jiase, tire sua irmã de lá agora. Eu vou cuidar desse imundo. Tem que ter muito culhão pra xingar nosso mestre. Orion Baker, eu vou…
Sirene abriu a boca e o ar não queria sair. Jiase não se mexeu. Estava faltando algo, o corpo dela começou a definhar. A luz da sua pele escureceu e se desfez em pó. Sirene só teve tempo de olhar para a irmã.
— Volte…
Todo o seu corpo desabou.
— Sua irmã me deu o dom de ver através do tempo. — A voz soprou em seu ouvido. — Eu sei onde estão, sei onde está seu mestre, sei onde está cada as almas que prenderam. Vocês queriam uma guerra contra a Ordem dos Magos? Encontram os Baker no caminho. É melhor que se preparem, irei atrás de vocês.
Orion Baker, o homem simplesmente surgiu diante sua frente. O corpo físico, era realmente ele.
— As Três Senhoras, não é? — a voz era mental.
Não tinha como ser. Ele realmente tinha duas Magias Únicas dentro de si.
— Quem é você?
— Orion Baker, o Último Cão Imortal. — O lado esquerdo de sua boca ergueu. — E alguns me chamam de ‘Aquele que Controla as Estrelas’.
Uma imensa pressão recaiu sobre Jiase. Ela foi puxada para uma vórtice. Orion ficou para trás, e seu corpo viajou através do espaço. Ela caiu sentada em pedra, fria e dura. O lugar era frio, recheado de tochas distantes, nas paredes úmidas.
Olhou assustada para todos os lados e levantou.
— Acalme-se, minha criança.
A voz, Jiase buscou até o trono. O homem sentava com uma luz branca em cima. De olhos fechados, apertava o braço de ferro do assento. Sua roupa cinzenta envelhecida combinava com o rosto decrépito.
— Suas irmãs voltaram para casa. Está tudo bem.
— Mestre.
Jiase tentou andar, mas tropeçou pela perda de força.
— Aquele homem… eu não pude…
— Está tudo bem, minha garotinha. Está tudo sob controle. — O mestre sorria de olhos fechado, um sorriso doce. — Calculei errado. Nossa Cristina é protegida por um ser poderoso, mas do que nossos planos decifraram.
Finalmente, Jiase chegou aos pés do mestre, e ficou de joelhos.
— Por favor, mestre, me diga o que faremos.
— Foi uma grande perda. Criston e Alduin foram derrotados, muito das nossas forças foram vencidas. — Mesmo negando, não existia raiva em sua voz. — E ganhamos um inimigo bem irritante. Ele controla o espaço e agora o tempo. Antes de Sirene ser transformada em pó, ele também leu as memórias dela. Tive que apagar o corpo de sua irmã para que ele não soubesse de tudo.
O poder daquele homem era tão descomunal assim?
— E se ele vier, mestre? Ainda está fraco demais para enfrentá-lo.
— Eu sei. Mas, ele não vai vir. Não agora. Faremos nosso dever de casa dessa vez. Se Orion Baker é o Homem que Controla as Estrelas, precisamos entender sua história. — A mão dele descolou do braço férrico do trono e tocou o topo da cabeça de Jiase. — Durma, minha criança. Eu irei resolver tudo. Durma.