Passos Arcanos - Capítulo 261
Ethon odiava as costas que a Ordem dos Magos comandavam. Pra ele, metade daquela terra poderia ser varrida do mapa e ainda assim teria desprazer em pisar lá mais uma vez. E pensar que depois de longos meses tomando conta da Travessia de Ignolio, algum Mago suicida tentaria recuperá-la.
Apostava numa jogada arriscada da Ordem, como sempre.
– Senhor. O relatório que recebemos indica a presença de apenas três membros de uma suposta cidade ao norte, de Keifor. – Rans era seu braço direito e também conselheiro. – Foi um erro dos Bispos terem enviado mais de dez navios de guerra apenas para conter uma investida de pequeno porte.
– Pequeno porte. – O nome Keifor era bem fresco na mente de Ethon. – Deve ter esquecido que hoje, a Ordem tem um problema financeiro que está sendo bem constituído por essa mesma cidade. Keifor tem um Mestre de Burgo experiente chamado Orion Baker, e esses três devem estar no mesmo patamar para serem enviados aqui sozinhos.
Os dois observavam a ponte se aproximar mais e mais. A toda vela, seus navios zarparam de Pyoto, uma ilha feita de posto avançado. Chegando mais perto, viram a magia avermelhada atirada na ponte e um silêncio que afetou até mesmo os Cavaleiros e Sacerdotes de seu navio.
– Joun está na ponte? – perguntou Ethon.
– Sim. Desde do ataque de ontem, ele se manteve protegendo a metade do caminho. Tenho certeza que não vai ser difícil para que o Gigante os segure lá.
– Eu não contaria com a sorte. – Ethon conhecia bem os terrenos e também cada parte da Travessia. Onde aqueles três ocupavam fora limpo recentemente, o que indicava que o Esquadrão das Trevas teve uma derrota esmagadora. – Ordene a Chuvarada naquela parte – apontou. – Cinco navios farão o disparo, os outros cinco virão comigo para lá. E o acampamento dos Magos reagiu?
Rans não esperou e folheou a prancheta. As palavras começaram a se formar rapidamente no papel.
– Não. Estão parados desde que esses três de Keifor apareceram. Devemos levar em consideração que são o primeiro Reforço da Ordem dos Magos para retomar Ignolio?
Ethon odiava bastante aquele inferno de lugar.
– Sim, faça isso.
A ordem foi repassada para os capitães. Cinco navios começaram a declinar e abaixaram suas velas. Levados a borda, os Sacerdotes puxaram seus cajados e livros, concentrando-se nos cânticos que já tinham lido centenas de milhares de vezes.
O restante dos navios continuou em frente sendo guiado por Ethon. O vento estava propício para atracarem com mais de duzentos soldados unidos, seria um massacre mesmo que aqueles três tivessem uma força acima da média.
Com a chuvarada seria ainda pior. Teriam que usar mana para se proteger. Ethon se concentrava naquilo que seus olhos observaram durante seus anos em campo de batalha. É só mais uma luta, é só mais uma batalha.
– Senhor – alguém gritou da borda. – Inimigo a camiho.
– A caminho?
Um turbilhão azul se desprendeu da ponte de madeira na direção dos navios. Eles ainda estavam quase trezentos metros de distância, seria impossível para que chegasse de surpresa.
– Preparar para o impacto – berrou Ethon. Mesmo assim, a sensação de perigo o protegeu diversas vezes de um problema maior. – E avancem em seguida.
Os mais antigos, Cavaleiros e Sacerdotes que já lutavam a tempos ao lado de Ethon obedeceram fielmente. Abaixaram já com suas armas em punho. Os Campeões da Luz selecionados para a vanguarda ficaram a postos. No entanto, uma imensa quantidade de Mercenários não respeitou a decisão.
– Idiotas sem inteligência – praguejou Rans. – Cem metros, senhor. Ele está vindo muito mais rápido do que previmos.
– Ele está mirando em nós?
Mesmo abaixado, Rans olhou para a prancheta. E ergueu a face rapidamente.
– Não, senhor. Está mirando nos navios que pararam.
– Droga. – Ethon levantou-se procurando por um dos Campeões da Luz. – Thorin, não o deixe passar.
Botas de ferro, um braço largo como uma árvore e quase dois metros de altura. Thorin de Carvalho como era chamado era chamado assim porque estava sempre barbudo e com uma cota de malha esverdeada que lembrava das florestas de onde nasceu.
E diferente dos outros Campeões, sua força não era datada do tal ranking. Ele não gostava da fama, mas sempre havia um verdadeiro motivo por trás de suas ações. E Ethon sempre usava isso a seu favor.
O Carvalho foi até a proa, pondo seu pé adiante e levantando o braço lentamente.
– Pegue ele, Thorin. – Aqueles que o conheciam gritaram fortemente. – Não deixe ele passar.
– Calem-se. – O turbilhão azul mudou de direção, mirando nos navios traseiros. – Traga pra mim aquele que se recusa a vontade. Intercepte o alvo que me escapa. Decaia a mim suplicas. ‘Assentamento Presente’.
O oceano que era cortado no meio pelos navios se acalmou. As ondas que vagavam ao redor abaixaram e Thorin puxou o braço para o peito ardentemente. O puxão criou uma onda de quase cinco metros a frente e ao abrir a mão, um buraco se formou no meio dela. Depois mais um e outro.
Mais uma vez, Rans olhou para sua folha.
– Ah, merda. – Ao olhar para Ethon, sua boca já havia entortado para baixo. – Deve partir para outro navio, senhor. Imediatamente.
– Isso é sério?
– Por favor. As previsões nunca erram. – Os dedos de Rans apertavam a prancheta com muita força. – Temos que chegar a ponte custe o que custar.
– Certo.
Eles se puseram de pé e Rans guiou seu caminho para uma das bordas. O capitão do outro navio notou o aceno e ordenou que Sacerdotes forjassem uma ponte rapidamente. Já do outro lado, Ethon observou a aproximação do Mago de Raio e a imensa onda que Thorin criou.
– O que estava escrito, Rans? – Ethon quis saber urgentemente. – Minha morte?
– Não, senhor. Estava escrito ‘Destruição Total’.
– E o que está escrito agora?
Rans nem precisou olhar. Ainda sentia o poder das palavras.
– ‘Destruição Eminente’, senhor.
– Merda. – Levou a mão rapidamente ao pescoço, riscando uma linha amarelada ao redor do pomo-de-adão. E elevou sua voz para todos os cinco navios que ainda comandava. – Campeões, avancem para auxiliar Thorin de Carvalho imediatamente. Isso é uma ordem direta.
Rans observou os Sacerdotes e Mercenários se entreolharem confusos e uma pequena parcela se mostrar a vista avançando rapidamente para as bordas de suas respectivas embarcações. Mais de vinte pularam juntos, outros dez tiveram que saltar para um segundo navio por conta da distância. Ao todo, mais de cinquenta deles se prontificarão imediatamente.
O próprio capitão do navio ficou levemente impressionado.
– Esse cara que está vindo é tão forte assim, Mestre Ethon?
– Odeio esse tipo de pergunta. Nossa missão é chegar até Ignolio o mais rápido possível. Rans, ordene a Chuvarada agora.
– Sim, senhor.
Ele correu e acenou novamente, dessa vez para trás.
Ethon esperava o contato do tal Mago de Raios ansioso. Se Thorin e os outros não conseguissem derrotá-lo, um segundo ou terceiro plano deveria ser acionado urgentemente.
– Odeio ter que fazer isso, Rans – o chamou depois dele ter voltado. – Mas calcule completamente nossas chances a partir de agora.
– Senhor, está falando sério? Não fazemos isso desde…
– Eu sei. Essa não vai ser uma batalha fácil, de longe teremos facilidade. Se nossa vitória estiver abaixo de 30%, nós tomaremos outro caminho.
– Sim, senhor.
Do meio do oceano, vindo em sua direção, a risada divertida ecoou como um tambor de guerra. Era a chegada do Mago.
I
Tanta emoção, tanta gente. Aquele aglomerado de soldados o esperando, isso tudo deixava seu coração excitado. Orion tinha razão quando disse que ir até Ignolio o faria bem, ele precisava da fama também. E fama se fazia lutando.
Vários pularam de outros navios para aquele, e uma onda imensa se formou adiante com esferas espalhadas pela água. Martin garalhou e passou por uma delas sem hesitar. A expressão de todos mudou velozmente para uma aliviada.
– Eu deveria temer uma magia? – sua voz retumbou risonha pelo oceano. – Eu sou o próximo Rei Relâmpagos. Não se esqueçam disso.
Sentiu sendo direcionado para o navio cheio de combatentes fortes. O ar deformou-se em suas costa e seus raios também pareciam ter sido pegos no processo. Melhor assim, ele poderia aumentar ainda mais sua velocidade agora.
Então, libertou completamente a calda elétrica, se impulsionando.
– Aqui vou eu, Sacerdotes.
Bateu na proa do navio já sendo recebido por uma braçada violenta do que parecia ser um gigante barbudo. Martin deslizou por debaixo dele agilmente já de punhos fechados e socou com tudo o que tinha nas costas dele.
– ‘Lyn: Impulso’.
Antes de seu braço tocar a cota de malha verde do gigante barbudo, uma placa de pedra cresceu entre os dois. Uma explosão ocorreu e o navio balançou violentamente. Ouviram uma risada chegando e os Campeões notaram do que se tratava.
Martin Crons errou o golpe por conta da placa de pedra, e Thorin de Carvalho não foi aberto ao meio por centímetros. A pedra não segurou o golpe furioso, mas mudou a trajetória. Martin puxou o braço de volta sem ferimento algum.
– Eu sabia que vir até aqui seria divertido. – Ele bateu uma mão na outra. – Vamos lutar até a morte. Assim saberemos nosso limite, o que acham?
Cinco lutadores se aproximaram pelas pontas já com suas espadas. Martin desviou da primeira e pulou da segunda, bloqueou a esquerda e deslizou por baixo de uma lança. Girando no ar algumas vezes, caiu em pé e foi saudado por uma imensa crista de gelo em suas costas.
Ele apenas se inclinou lateralmente, a deixado passar em linha reta. Quando mais dois apareceram, entrou em combate. Segurou o braço do primeiro, o puxou e jogou para o lado, inferindo no segundo. Saltou num chute e enviou os dois para o convés.
Tão rápidos e tão precisos, os Sacerdotes realmente tinha uma força diferente quando o assunto era proteger o importante. E Martin se viu sortudo, estar ali naquele pequeno navio, cercado de pessoas que o queriam matá-lo.
– É como estar em casa – disse alto o suficiente para que pudessem ouvi-los. – Vocês são como meus irmãos que queriam me matar a todo custo. E eu teria que sobreviver a todo custo. Mas agora é diferente. Eles não conseguem me tocar. – Seus dois braços libertaram mais de dez laços elétricos. – E nem vocês.
Thorin apontou completamente irado.
– Não o deixem vivo.
– Essas foram as palavras do meu irmão da última vez que nos vimos. – Martin abriu um sorriso largo. – Então eu o nomearei Enrique, grandão. Farei da sua última luta a mais espetacular de todas.