Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 12
Um guarda muito bêbado vai fazer a inspeção…
— Ce q-que entra-a? — ele soluça
— Sim, senhor — Nozomi fala
— Entã-o entre! — ele libera sem nem mesmo fazer a inspeção
Entramos e as ruas estão completamente lotadas, só uma rua para passagem de carroças que está liberada e por sorte o armazém que nos dará suprimentos fica ali mesmo.
— Descemos da carroça — porque será que tem festas hoje? — pergunto e todos olham para mim
— Você não sabe que dia hoje? — Nozomi me pergunta e eu digo que não com a cabeça
— É natal cara! — Kitsu bate em meu braço
— Meu rosto se fecha instantaneamente e eu me viro — a é só isso, vou lá dentro falar com o dono — entro no armazém
— O que foi isso? — Nozomi pergunta.
— Ele se fechou de uma hora pra outra — Kitsu se senta na carroça
— Acho melhor eu conversar com ele? — Emi pergunta
— Sim, ele ficou muito estranho — Kitsu concorda.
Eu entro no armazém e vejo milhares de caixas e barris empilhados um atrás do outro, o lugar é surpreendentemente limpo sem poeira ou sujeira no chão, passo por algumas instantes e chego ao balcão onde vejo um homem com um porte físico muito bom e com uma marca em seu pescoço, este deve ser o contato de Isao.
— Com licença, gostaria de falar com o dono — pergunto, o homem que tem uns 2,05 de altura, careca, uma pele escura e tatuagens pelo corpo todo
— Sou eu mesmo o que quer? — ele parece tentar me intimidar, sei que agora ele não é páreo para mim, mas prefiro evitar confusões.
— Tem uma entrega de mantimentos já paga no nome de Kazuhiro ou pode estar também no nome de Isao — mostro um papel que Isao me deu com seu carimbo.
— Ele avalia o papel — Está certo, são aquelas caixas bem ali — ele aponta para algumas caixas separadas já perto da porta.
— Obrigado, irei carrega-las agora — saio para o lado de fora — Kitsu, me ajuda a pegar as caixas aqui?
— Kazuhiro, Emi precisa conversar com você, deixe que eu ajudo Kitsu — Nozomi passa por mim com Kitsu rapidamente.
— Oxe, o que deu neles? — me aproximo de Emi — o que queria falar comigo?
— O pessoal sentiu que você ficou um pouco mexido quando falamos que era natal — ela se senta na carroça
— Ah sobre isso… — me sento também — é que o natal na minha família significa coisas muito importantes, além de que amanhã é meu aniversário.
— Ela se assusta — Sério? Porque não disse logo?
— Não achei que fosse necessário, afinal nem pretendia comemorar — pego Mjonir que estava escondido atrás de uns barris — e meu aniversario não tem mais nenhum significado para mim, agora é só uma contagem.
— Tem certeza que prefere assim? — ela me pergunta
— Sim, agora só quero descansar e aproveitar que os guardas estão todos bêbados e dar o fora daqui — eu me levanto e vou ajudar Kitsu e Nozomi a carregar as coisas.
Terminamos rapidamente de carregar todas as coisas e nos preparamos para dormir dentro da carroça.
— Aliás, se quiserem aproveitar que hoje é natal podem ir, acho que não perceberiam que estamos aqui — eu me deito
— Serio!? Nem precisa falar duas vezes — Kitsu pula da carroça e já está nos becos a caminho das festas.
— Ei mas volte antes do sol nascer! — eu grito e ele me dá um sinal com as mãos dizendo que entendeu
— É melhor eu ir atrás dele senão ele nos entregará em segundos — Nozomi pula e corre atrás dele
— Não vai Emi? — pergunto com os olhos fechados
— Não sou muito fã de festas movimentadas como essa, prefiro descansar agora — ela se deita em outro canto
Fico acordado por um tempo, as festas são tão barulhentas que é impossível dormir tranquilamente, quando fica mais tarde o barulho diminui e assim da para descansar um pouco, mas meu sono é interrompido com um barulho de alguma criança ali perto…
— Eu me sento — escutou isso?
— Acho que sim, parece uma garotinha e um homem adulto — Emi se senta também
Nos levantamos e saímos da carroça para verificar o barulho, parece estar vindo de um beco a alguns metros na frente de uma carroça, eu e Emi nos escondemos para ver do que se trata, vemos um homem adulto que parece ser um negociante de escravos com uma criança que está acorrentada as mãos e os pescoço.
— Escrava inútil! Não consegue fazer uma simples tarefa! — ele a chicoteia a nas costas.
Vendas de escravos são tão comuns quanto comércios nas cidades, crianças costumam ter um preço alto, pois aprendem rápido e não tem nenhuma mania de outras casas, garotos são o foco dos trabalhos manuais de pesados, já as garotas infelizmente fazem trabalhos em bares ou casas noturnas.
— Kazu — Emi me chama pela primeira vez desse jeito — faça alguma coisa, por favor.
— Eu olho para o outro lado — Você sabe que isto não é problema nosso — Não quero chamar atenção desnecessária apesar de estar com ódio do jeito que tratam uma criança — vamos embora ante que nos vejam — começo a andar e Emi está furiosa comigo e com razão, tento ignorá-la, mas logo fico paralisado com os gritos de agonia da criança — droga… ainda vou morrer por causa deste tipo de coisa — volto para trás e o rosto de Emi se abre em felicidade
— Obrigada Kazu! — ela volta comigo
— Ei você! Estou afim de comprar esta escrava — o mercador sente em meu tom que estou bravo.
— Ela não está a venda! — ele vira meio rosto somente
— Me aproximo — acho que o senhor não entendeu — eu ergo minha mão e Mjonir voa até ela — eu quero comprá-la, agora!
— Você é surdo!? Ela não está à venda! E você não pode fazer nada porque desrespeitaria as leis — ele abre um sorriso presunçoso achando que vai escapar.
— Eu jogo Mjonir em direção ao mercador que quebra as correntes da escrava e fica a centímetros do pescoço do mercador, e falo calmamente — é uma pena, já que eu parei de seguir as leis faz bastante tempo.
— Calma, calma, podemos resolver isto no diálogo não é mesmo? — ele cai no chão no susto — que tal… apenas algumas peças de ouro? — o desgraçado ainda tenta me cobrar alto.
— Não, acho que pelo incomodo você deveria dala por cortesia não acha? — coloco Mjonir em seu pescoço.
— Sim, claro, você tem toda razão! — ele está completamente assustado, eu ainda não tinha percebido como minha presença ficou assustadora depois dos últimos acontecimentos.
— Ótimo, foi um prazer fazer negócios com o senhor — eu dou um sorriso e puxo a criança pelas correntes — Vamos.
Entrego a criança nas mãos de Emi que parece estar brilhando por ter conseguido fazer com que eu salvasse ela. E eu ainda estou com raiva por ter sido influenciado. Vamos até nossa carroça e Kitsu e Nozomi parecem ter chegado.
— Voltaram mais cedo? — pergunto
— Kitsu que arrumou problemas em um bar — ela bate em Kitsu
— Eu já disse que aquele do monóculo estava me olhando torto! — ele se joga no meio de alguns cobertores
— Onde vocês foram? — Nozomi pergunta
— Atrás de mais problemas é claro — aponto para Emi curando as feridas da criança e me jogo nos cobertores ao lado de Kitsu
— Nós saímos por algumas horas e vocês já fazem uma criança? — Kitsu ri caçoando de mim
— Eu do um soco nele — ah cala boca, ela estava sendo espancada por um mercador de escravos, e Emi insistiu tanto que acabei comprando-a.
— E o que faremos com ela agora? — Nozomi pergunta se encostando à carroça
— Temos opção? Teremos que levá-la conosco… isso pode nos ajudar no disfarce como mercadora — me aconchego em alguns cobertores — Emi depois que curá-la de um pouco de comida.
— Certo — Emi a cura enquanto acaricia sua cabeça, os olhos da garotinha estão sem vida alguma, não dá para diferenciar ela de um morto.
— Vou tentar dormir um pouco já que não temos tanto tempo — me viro e pego no sono
Na sala escura…
— Mestre, o que pretende fazer com a criança? — Mjonir pergunta
— Ainda não sei, já que agora sou seu “dono” pretendo cuidar dela, mas não faço a mínima ideia do que fazer — coloco minhas mãos na cabeça.
— Infelizmente não tenho nenhum conhecimento sobre cuidados de crianças humanas — me fala
— Eu imaginava… — me levanto — sobre oque será a aula de hoje?
— Combate a longa distancia — fala e Mjonir se materializa em minhas mãos
— Certo — falo
Durmo poucas horas e quase perdemos o horário de saída, mas não precisamos nos preocupar porque a cidade inteira agora está caída nas ruas desmaiadas de tanto beber e festejar, saímos sem demora e já é meu aniversário, não estou afim de comemorar por causa da minha vida atual e não combina mais comigo comemorar esse tipo de coisa, talvez num futuro consiga comemorar novamente.
— Ainda na estrada — ela disse alguma coisa? — pergunto para Emi sussurrando
— Não, ela aceitou uma fruta ontem, mas ainda não comeu nada substancioso — Emi me fala sussurrando também.
— Fico alguns minutos pensando e tenho uma ideia. Remexo em algumas coisas — Nozomi tem como pararmos um pouco?
— Claro, mas tem certeza que quer perder tempo? — Nozomi direciona a carruagem para fora da estrada
— Não é recomendável, mas preciso fazer uma coisa — falo.
Paramos a carruagem num canto da estrada, todos ficam sem entender o motivo e se sentam debaixo de uma árvore enquanto faço um monte de coisas, cavo um buraco e faço um forno improvisado, corto algumas maçãs mecho no pouco açúcar que temos e faço uma bagunceira, eles ficam em silêncio o tempo todo tentando adivinhar o que vai sair dali.
— Me desculpa intromissão, mas todos nós estamos curiosos para saber o que você está fazendo Kazuhiro — Kitsu se aproxima
— Então a curiosidade de vocês vai acabar agora — com alguns panos retiro uma torta maravilhosa do forno improvisado — e aqui está!
— Pelos Deuses o cheiro é maravilhoso! — Nozomi parece querer atacá-la
— Corto um pedaço com uma faca, coloco em uma tampa de barro e me aproximo da garota — Então, essa torta deliciosa precisa ser comida, mas infelizmente não tem nenhuma garotinha aqui que a queira — a garota chega a babar de vontade de comê-la e estica os braços — espera, só depois de me falar seu nome.
— A garota hesita e pensa um pouco — Não… tenho… nome — ela parece ter dificuldade em falar.
Hmm, já que me falou, acho que merece — eu entrego a torta que na mesma hora é quase engolida completamente pela garota e me aproximo de pessoal — Ela não tem nome e agora? Eu não sei escolher nome.
— Já que ela gostou da torta de maçã que tal… Appu? — Emi pergunta
— Appu? Acho que é o nome perfeito para ela — penso um pouco — quem dirá para ela agora? — eles apontam para mim — Eu? Mas eu não tenho jeito com crianças
— Você fez a torta não? — Kitsu fala
— Além de que você conseguiu fazer ela falar — Emi completa
— Não vai ter jeito não é? — eu me aproximo novamente da garota que já devorou completamente o pedaço — Então… já que você não tem nome que tal eu te dar um? — ela acena com a cabeça — Que tal Appu? Foi aquela moça bonita que deu a sugestão.
— Escravo…não… fala — com dificuldade ela fala
— Mocinha, agora você não é mais escrava tudo bem? Agora você não precisa pedir permissão para falar e nem vai trabalhar como trabalhava antes está bem? — ela parece feliz, mas não sabe oque significa, provavelmente nasceu escrava.
— Depois de comermos a torta — então, o que acharam da minha torta?
— Incrível! Nunca comi nada igual! — Nozomi está quase lambendo os dedos
— Onde aprendeu a fazer essa maravilha? — Emi também adorou
— Não exagerem, eu só tentei copiar a receita que minha mãe usava — eu arrumo as coisas e vejo Appu dormindo no colo de Emi depois de se encher de torta
Nos arrumamos e vamos embora, o dia passa e Kitsu, Emi e Appu dormiram sem acordar de barriga cheia, fico conversando com Nozomi o trajeto inteiro para mantê-la acordada, pois ela que guia Daisuke, também penso que o Deus do tempo não se pronuncia a dias e isso me preocupa, sei que ele não vai desistir de tentar me matar e provavelmente esta movendo peões para se livrar de mim, acabamos passando ao lado de alguns acampamentos de guardas reais, Isao tinha razão quanto mais nos aproximamos da fronteira mais forte fica a pressão que a guarda faz, se fossemos apenas alguns ladrões não sairíamos nunca daqui.
Escurece e decidimos ficar um pouco a mais na estrada para poder repor o tempo perdido, Daisuke está firme e forte, não está cansado e com as palavras de motivação de Nozomi ele parece estar mais feliz do que nunca, parece que Nozomi não me acha mais uma má pessoa como antes, agora ela me acha até legal pelo que fiz por Emi e pela garota, paramos e arrumamos um acampamento improvisado como da noite anterior…
— Eu faço uma fogueira e Emi acorda — Ela ainda está dormindo?
— Ela se senta ao meu lado — Está sim, provavelmente nunca comeu tanto na vida.
— É, infelizmente neste mundo a escravidão ainda não foi abolida, e também não tem direto infantil e nem nada do tipo — olho pro céu
— No seu mundo crianças não trabalham? — ela olha pro céu também
— Não normalmente, lá elas brincam, estudam e não tem preocupações pesadas como as daqui, claro ainda existem famílias que passam fome, mas igual aqui? Nem dá para comparar — olho para ela
— É, mas graças a você, uma a menos não? — ela olha para mim e coloca sua mão sobre a minha
— Eu retribuo — Graças a você principalmente, afinal foi você que insistiu não?
— Nossa! Nunca dormi tão bem na minha vida inteira! — Kitsu aparece bem quando as coisas iam esquentando e na mesma hora eu e Emi levantamos e separamos as mãos — atrapalhei alguma coisa?
— Não! — eu e Emi falamos ao mesmo tempo
— Tudo bem então… — ele ri — vou ajudar Nozomi a cuidar de Daisuke — ele ri de novo
Ficamos sem graça e vamos cada um para um lado diferente para dormir, não sei se oque Emi sente por mim é por eu ter a salvo, se ela sente algo eu não sei, mas eu sei que sinto algo, e quando tudo se acalmar e eu resolver meu problema com o tempo, talvez siga esse rumo.
Acordamos e saímos com planejado, o dia passa e Appu parece mais alegre, Emi e Kitsu tentam ao máximo ensiná-la palavras e ela aprende muito rápido, pensando bem, ver ela feliz foi o melhor presente de aniversário que eu ganhei. Eu e Emi tentamos evitar olhares o máximo possível, as vezes acabamos trocando e é claro que viramos ao mesmo tempo, sem contar as piadas de Kitsu que só aumentam a tensão.
Escurece e já estamos perto da segunda cidade, íamos usar os túneis para entrarmos sem passar pela inspeção, mas me veio à cabeça que o capitão alertou que poderíamos usar e que pode haver guardas lá embaixo, então decidimos usar uma magia de camuflagem, Kitsu não tem muita habilidade para mantê-la, mas deve funcionar para entrarmos.
— Nós somos os próximos, está preparado Kitsu? — Nozomi pergunta e andamos para frente.
— Estou — Ele ativa a camuflagem
— Somente passagem? — o guarda que faz inspeção pergunta
— Sim, senhor — Nozomi fala e vê o medidor de magia brilhando bem fraco — estou carregando algumas pedras para um ferreiro que tem algumas propriedades mágicas.
— Pedras com propriedades mágicas? — ele pergunta e parece suspeitar
— Sim senhor, deseja verificar? — Nozomi pergunta com uma voz firme
— Não será necessário, pode ir — ele dá a ordem para entrarmos