Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 19
— É impressão minha, ou essas lutas estão planejadas demais? Parece que os oponentes foram selecionados para competir contra nós — falei.
— Estava pensando a mesma coisa. Estão se baseando em nossas fraquezas ou em igualar a luta. Kitsu por exemplo, aquele homem era pelo menos quatro vezes mais forte. — Nozomi apontou para Kitsu.
— Se essa teoria estiver certa, qual seria o pior inimigo de Emi?
— Ela é uma curandeira, talvez algum mestre em artes marciais?
— Se fosse assim, seria melhor colocar aquele homem contra ela, ou invés de Kitsu.
— Talvez um mago? Magia seria eficaz.
— Talvez… ninguém usou magia, além de Kitsu.
— Um mestre em poções — disse Emi de trás de nós.
— Um mestre em poções? — perguntei.
— Sim, nós élfos podemos não adoecer, mas contra poções ficamos de mãos atadas.
— Tem alguma ideia em mente do que pode fazer nessa luta? — perguntou Nozomi.
— Acho que sim… talvez um confronto direto seria uma boa, afinal eles têm vantagem a distancia.
Procurando algo na cabeça, uma ideia veio à tona. — Você é boa em lançamento de facas? Tive uma ideia…
O juiz gritou alertando que o tempo de discussão havia acabado. Emi se dirigiu ao círculo junto com seu oponente. Sem pensar duas vezes ele tirou o capuz revelando uma mulher jovem, de cabelos castanhos e da mesma altura que Emi.
Pareceu não haver desequilíbrio algum, talvez fosse uma batalha justa, claro, se você não notar o cinto de poções na sua cintura, como planejado. .
— Uma mestra em poções? Por que não me surpreende? — Emi coloca as mãos sobre as duas facas, que estão em seus quadris.
— Então já sacaram nossa estratégia? Que peninha, queria me divertir mais um pouco.
— Uma de nós duas vai se divertir, garanto que não será você.
— Um pouco ousada para uma ex-prisioneira, não?
— Não está muito exposta para uma velhota? Não duvidaria que você fosse uma prostituta.
Com uma veia pulsando de sua testa. — Aé? Vou te mostrar a velhota.
A mulher em uma velocidade incrível pegou uma das poções, tirou a tampa e jogou no ar.
A poção explodiu criando uma névoa que cobriu a barreira inteira, deixando a élfa com a visão prejudicada. Não se ouvia passos nem barulho algum, somente um silêncio assustador lá dentro.
Se passaram alguns segundos e o silêncio foi cortado por um barulho de algo voando rapidamente. Emi levantou suas facas e rebateu algo prateado, e uma faca caiu no chão
— Honestidade não é um de seus fortes não é? Parece que vai ficar nas sombras, igual uma ratazana mesmo! — falou Emi e facas voaram vindo ao seu encontro
“Duas facas à direita e uma à esquerda” pensou Emi, mas não adiantou. Uma das facas acerta seu braço esquerdo, só que antes ela já tinha lançado sua espada nas pernas da adversária, fazendo assim gritar em agonia.
— Desgraçada! Como sabia que eu estava aqui!?
— Você não é muito inteligente, foi fácil calcular depois que se estressou e lançou várias facas em mim. — Soprando seus cabelos brancos, tira a faca de seu braço. E a névoa se dissipa.
— Fácil? Pode ter sido em uma simples névoa, mas vamos ver se você consegue identificar a verdadeira! — Lançando novamente outra poção, só que agora no chão, uma fumaça verde forma um cubo cobrindo a mulher.
Emi permanece olhando para a fumaça verde, que é densa e escura parecendo uma parede. Passados alguns segundos, sua adversária sai pela esquerda, mas em seguida saiu outra pelo lado direito, e vão saindo várias e várias até formar um círculo em volta de Emi. Todas são exatamente iguais.
— E seus truques sujos não param, não é? Até quando vai se esconder atrás desses joguinhos?
Todas falam ao mesmo tempo. — Bom, está bem divertido ainda, acho que… até que seu corpo sem vida caia no chão!
Ao mesmo tempo, todas tiram facas de suas bostas, as lançam continuamente em Emi que tenta se defender esquivando e rebatendo. Clones ou não, as facas machucam e perfuram a pele igualmente.
Mesmo com agilidade algumas facas acertam seu corpo, e depois de muito tempo se cessam, mas apenas quando Emi se ajoelha no chão.
— E então Emizinha?
— Já conseguiu.
— Diferenciar qual é.
— A verdadeira?
Algumas completam as frases das outras. Emi olhou em volta e observou calmamente cada uma delas. Ficam paradas feitas estátua-as perfeitas, sem respirar, piscar ou apenas mover os olhos.
— Só esperem mais um… — Emi tira as facas de seu corpo. — pouco, já já eu mato você vadia.
Elas abrem um sorriso.
— Ainda acha.
— Que pode.
— Nos vencer? — Todas começam a rir sem parar.
— Acho? Eu tenho certeza. — Emi abre um sorriso. Olhando umas para as outras engolem em seco.
— Você está blefando!
— É simplesmente impossível.
— Me achar.
— Quer saber? Já estou cansada dessa sua voz estridente de velhota, vou matar você, agora! — Emi levanta sua mão puxando algo com toda a sua força. Um fio transparente surge.
Desse fio, de inúmeros clones, uma é puxada para o ar. Emi a roda em círculos acertando todos os clones, fazendo-os desaparecer uma a um, e no final lançando sua adversária contra a barreira.
— Deu certo! — Um grito de felicidade acabou escapando.
— Finalmente, isso foi um pouco cansativo. — Emi se ajoelha novamente. — Juiz, não tem que me declarar vencedora?
O juiz permaneceu quieto e atento a batalha, isso fez Emi perceber que sua adversária ainda estava conciente.
— Como, você, fez isso!? — Levantando com a cabeça sangrando, a mulher grita.
— O fio?
— Como, você sabia que eu era a verdadeira!? Era impossível me diferenciar das outras!
— Realmente, cof… — Emi tosse um pouco de sangue — vocês eram idênticas, nem mesmo um fio de cabelo era diferente.
— Exatamente! Então como conseguiu descobrir!?
Arrumando seus cabelos e os jogando para trás, responde. — Foi ao acaso, ué.
— Ao… acaso?
— Exatamente, se lembra de quando eu a feri com minha espada, na névoa? Sem perceber o impacto da espada, fez o fio se prender a sua carne. Tornando você mesma em uma arma. Por sorte o fio já estava preso quando fez os clones e eu sei que clones de poção se baseiam no que você vê, ou seja, um fio invisível você não poderia clonar.
— Aaaaah! Como sabia disso!? Me falaram, que você era uma simples escrava que estava aos trapos!
— É normal os pais quererem proteger a filha, e os meus não eram diferentes. Desde pequena eles me ensinaram como poções eram perigosas para nós, eu só dei uma pesquisada a mais e descobri uns segredos.
— Sua vad…! — Ela é cortada por Emi.
— Sabe o pior? Se você não tivesse me subestimado desde o começo, poderia ter usado os clones, aí sim seria o meu fim.
A mulher fica sem palavras, seu ódio parece estar fluindo do seu corpo como se fosse uma fumaça.
— Não importa, irei te matar agora, e vou levar sua cabeça para casa.
Quando se levanta, dá para ver claramente que sua perna esquerda está quebrada. Consigo imaginar a dor só de olhar.
Como se fosse totalmente normal ela tira uma espada longa de suas costas, e mesmo com a dor, começa a correr na direção de Emi, com uma sede de sangue absurda.
Emi percebendo que não conseguiria fugir, lança sua outra espada, e sua inimiga desvia.
— Acabou para você! Está totalmente aberta! — Continuou a correr.
— Tem certeza?
Ao olhar direito, mais um fio quase transparente surge ao seu lado. Emi puxa novamente e a espada volta em alta velocidade, a mulher tenta desviar, mas seu cinto de poções é acertado em cheio causando uma grande explosão lançando Emi e sua adversária para longe.
Caídas no chão e permanecem imóveis. Um silêncio absurdo percorreu a ravina, cheguei a escutar uma folha caindo, só que esse silêncio é interrompido pela contagem de 0 a 10 do juiz.
Mas quem vai vencer quando a contagem chegar a 10? Emi? Foi ela que causou o último ataque, então o certo é lhe dar a vitória não? Ou a garota? Afinal ela estava com o cinto de poções, logo a explosão foi sua culpa e ela deu o último ataque.
Enquanto fico pensando em inúmeras possibilidades, escuto o juiz gritando.
— E dez! Eu declaro que o resultado é… — Ele faz uma pausa assustadora. — empate!
O juiz desativa a muralha e busco Emi. A carreguei até a carroça onde Nozomi começa a fazer curativos. Kitsu tem algumas poções de cura em sua bolsa, damos para Emi, ajuda a parar sangramento e a cicatrizar feridas.
A explosão de poções causou uma queimadura no seu braço esquerdo, não sei dizer se isso vai sumir, só ela mesma pode dizer. A explosão foi muito forte na garota adversária, tenho certeza que as dela são permanentes.
— Mais 30 minutos! — grita o juiz.
Após socorrer Emi eu, Nozomi e Appu começamos a discutir estratégias, o plano com Emi deu certo, ela sobreviveu e ainda conseguiu causar danos à adversária consideráveis.
— Certo, tenho uma ideia das habilidades da garotinha então escutem. — Dou uma pausa e prosigo. — Sei que apesar dela ser pequena sua força é absurda, mesmo com essa idade ela conseguiu levantar Mjonir que é feito de ouro e ainda o lançou em uma velocidade fantástica.
— Eu não sabia dessa parte — fala Nozomi.
— Foi quando eu estava procurando por você e Kitsu, na hora não pude acreditar em suas habilidades. Ela deve ter sido criada com técnicas de assassinato e tortura, então provavelmente sabe todos os pontos vitais. Sabemos que sua família era boa com veneno então é provável que suas armas fossem banhadas em algum, talvez um que te faça morrer lentamente porque eles adoravam tortura.
— Como devo… atacar? — Appu pergunta.
— Eu tenho uma ideia. — Nozomi fala e eu e Appu fixamos os olhos curiosos.