Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 2
Pensava e pensava e não conseguia acreditar que meus pais logo logo receberiam a notícia de que estou morto.
Parece que quando sua alma é pega por um caçador o seu corpo no outro mundo morre, então era provável que meu corpo já tenha sido encontrado por alguém na rua
Quem mais me preocupava era minha mãe. Ela não levava perdas muito bem. Quando minha vó morreu, minha mãe se trancou no quarto se negando até mesmo a comer.
Graças a meu pai ela se recuperou rápido, mas agora… perder um filho é muita coisa.
Meus pais se conheceram no colégio. Meus avós maternos no começo não aprovaram o relacionamento.
Provavelmente por causa da instabilidade dos dois. Mas com o tempo eles aceitaram, claro que o feto na barriga da minha mãe ajudou.
❃❃❃
Ainda na prisão. Estava deitado olhando para aquele teto mofado. Toda a adrenalina de estar em outro mundo passou. Agora estava um pouco mais calmo para organizar meus pensamentos.
— Kitsu… — O chamei porque foi o unico que eu senti que não iria me matar.
— Fala.
— Por caso vocês trabalham aqui?
Naquele momento, Kitsu era um poço de informações que poderiam ser necessárias para minha sobrevivência nesse novo mundo.
Mas ele era muito mais que isso. Mal sabia que aquele rapaz seria uma das pessoas que eu mais admiraria no futuro e que daria minha vida sem remediar.
— Ah, sim, quer que eu te explique como funciona?
— Me ajudaria muito.
— Certo, nessa masmorra fazemos rodízios. Que é basicamente trocar de trabalho toda semana.
— Rodízios… acho que sei o que significa.
— Temos três lugares que trabalhamos a semana inteira. A pedreira, floresta e fazenda. Na pedreira, pedras. Na floresta, madeira. E na fazenda, comida. Levamos tudo para uma instalação perto da capital para o rei vender e distribuir aos nobres.
“Sobre isso que aquele desgraçado estava falando… Somente a pedreira.”
— Já que trabalham a semana inteira, porque não hoje?
— Nessas ocasiões, a guarda real está forte e a dos escravos muito curta, por isso suspendem tudo para que não ocorram rebeliões. Normalmente entre julgamentos e festas.
— Entend… — Sou interrompido por Chieko.
— Calem a merda da boca! A gente vai ter que acordar cedo amanhã!
— F-foi mal!
— D-desculpa!
Chieko… ela parece ser alguém instável que pode pular em nossos pescoços a qualquer momento.
Surrando, peço: — Posso lhe perguntar mais uma coisa?
— Rápido.
— Se me lembro bem você falou que vai ficar pouco tempo aqui, apesar de ter alguns anos.
— É, parece que alguém prestou atenção. Já que está no bico do corvo, acho que não tem problema te contar.
“Bico do corvo? Não posso negar.”
— Daqui três meses haverá o grande banquete de outono. E é claro que milhares de mercadores e nobres de todas as regiões viram.
— Então a guarda dos escravos vai está baixa e a da capital alta.
— Exatamente! Recebi a informação que meus amigos farão uma distração grande o suficiente para que eu fuja.
— Entendi.
— Então vamos dormir que amanhã o dia vai ser cheio.
Quando Kitsu vira-se para dormir. Um pensamento vem à mente: “E se eu pedir para que ele me ajude… Não, isso vai arriscar a fuga dele.”
Os guardas não tiravam os olhos de mim. Sempre tinha alguém fazendo a ronda perto da minha cela.
❃❃❃
Passaram três semanas desde que cheguei no reino de Mists. Todos os dias nesse pouco tempo os guardas me levavam todas as manhãs.
Me davam banho com água gelada, em seguida me espancavam e era açoitado até cansarem.
Depois disso, éramos levados para os lugares de trabalho. E como previsto, as três semanas fiquei na pedreira. Tinha até um capitão que me supervisionada
O trabalho era infernal, qualquer erro que cometia era punido com chibatadas nas costas.
Quando Kitsu ficava comigo sempre me ajudava, mas quando estava nas outras instalações era um inferno.
Com o tempo parei de falar com eles. Meu desejo de viver parecia ter ido embora. Meu corpo doía. Tinha dias que eu mal me levantava e era arrastado.
.Pensava sem parar em maus pais. Daria tudo para receber somente um abraço dos dois.
Kitsu e os outros na cela não gostaram disso. Aquilo era imperdoável, mesmo que se eu fosse a pior pessoa do mundo, aquilo era pior que a morte.
— Sei que nem deveríamos cogitar, mas, é um exagero ele apanhar todas as manhãs. — Kitsu sussurra. No momento estava desmaiado no canto da cela.
— Eu odeio humanos, eles são criaturas deploráveis que facilmente se aproveitariam dos outros pelo bem próprio. Olha o jeito que tratam alguém da mesma raça. — Hiroito comenta indignado.
— Acho que vi alguns guardas apostando quanto tempo ele vai durar. — Chieko coloca um charuto na boca. Ela faz negócios com os outros escravos e consegue várias coisas.
— Tenho certeza que há outros aqui que são piores que ele e não recebem o mesmo tratamento. — fala Kitsu.
— Exatamente, mas não foram todos que são acusados de matar a filha de um general.
— Se ele ficar muito tempo tenho certeza que morrerá, então, estava pensando…
Chieko o interrompe. — Você não está pensando em lava-lo contigo, né?
— Eu quero fazer isso, pelo menos vai haver uma mínima chance.
Aquilo era uma luz no fim do túnel para mim, só que alguém a apagou rapidamente.
Sem perceberem, um guarda escutou e rapidamente informou o capitão. Em algumas horas, fui levado para uma cela separada e vazia.
Muito menor e mais suja que a antiga, só que nem me importava mais. Não tinha esperança alguma.
❃❃❃
Depois de uma semana na pequena cela e agora apanhando duas vezes por semana, já estava desistindo.
Sabia que Kitsu queria ajudar, mas infelizmente só piorou a minha situação.
“Porque eu continuo insistindo? Olha essa droga que eu chamo de vida! Não adianta, nada vai mudar o fato de que eu irei morrer, então por que não adiantar as coisas?”
Meus pensamentos estavam corrompidos. Coisas que eu achei que nunca pensaria agora vagavam livremente em minha cabeça.
Naquele mesmo dia algo diferente aconteceu. Um guarda trouxe para minha cela uma escrava.
Ela rapidamente se escondeu no canto e não falou nada. Consigo imaginar o que mulheres sofrem aqui, pois vi com meus próprios olhos como os guardas punem elas.
Passam-se alguns dias e nós dois continuamos sem nos falar. Até que ela percebe que não como há dias.
Como de costume, o guarda chega com apenas uma tigela de comida e a entrega para garota.
— E ele? Já faz dias que não come. — Ela pergunta.
— An? Esse aí como de três em três dias.
— Três dias?! Como vocês querem que ele trabalhe nesse estado
— Eu estou pouco me fodendo, se ele não trabalhar, passamos a faca no seu pescoço em segundos.
A garota não consegue acreditar, “Porque eles o tratam tão mal?”
Preocupada, ela decide oferecer sua comida para ele, mesmo sem saber o que ele fez para ter esse tratamento.
A garota estica a tigela. — Coma por favor.
Sem me expressar muito, a respondi secamente. — Não, você vai se arrepender se fizer isso.
— Eu não ligo, se não comer vai morrer.
— Eles vão cortar a sua por uma semana se viram, novamente, aconselho tirar esse prato de perto de mim.
Ela continua com o prato em mãos perto do meu rosto. Essa mulher vai ter problemas se me ajudar, então é melhor eu comer rapido.
— Certo, que insistência.
Abrindo um enorme sorriso, me ajuda a comer. Há tanto tempo que não vejo um sorriso tão lindo. Por incrível que pareça, me lembrou o de minha vizinha.
❃❃❃
Passaram-se mais três semanas. Eu estava preso a dois meses. Os últimos vestígios da minha sanidade estavam desaparecendo.
A única coisa que mantinha minha cabeça sã era Emi. A garota que foi jogada na minha cela.
Ela insistia em conversar comigo todos os dias. Com seu sorriso doce fazia os meus dias tristes se tornarem um pouco menos soturnos.
Meus pesadelos que me perseguiam a meses. A garota morrendo, os gritos e olhares de nobres nojentos. Tudo isso desapareceu ao ver aquele sorriso.
Tinha descoberto que a garota era metade elfo e metade fada. E por ser a mistura de duas raças poderosas o rei a considerou uma ameaça, então agora a mantém com uma coleira anti-magia.
Parece que para captura-lá, queimaram sua vila inteira. Seus pai e amigos foram mortos a sangue frio. Os que conseguiram fugir foram caçados como animais.
Essa alegria durou pouco. Faltando uma semana para fuga de Kitsu e para a festa de outono, Emi adoece.
Sua resistência a doenças não fazia efeito. Cada dia que passava ela estava ficando pior.
Cheguei a conclusão que deveria fugir. Não poderia ficar sentado vendo alguém que me tirou um peso tão grande morrer de forma lenta e dolorosa.
Tinha quase certeza que Emi não duraria mais de duas semanas. Ajustei meu plano de fuga.
O qual tinha pensado no começo, quando tinha chegado, mas depois de tudo minha vontade de fugir que tinha desaparecido, voltou.
E essa última semana passou voando. Não trabalhei nesse período porque o rei não queria que Emi morresse. Ele achava que poderia usá-la como peã do exército.
Mas esse tempo foi ouro em minhas mãos. Não tinha muitas opções, só que as que tinha deveria tentar.
O tempo estava horrível. Uma tempestade com milhares de raios que parecia que o céu estava caindo.
Kitsu me disse que os magos reais afastam as nuvens para que não estraguem suas festas, então a masmorra parecia estar caindo aos pedaços. O rei mal sabia que não seria uma simples chuva que estragaria seu apetite.
Já era tarde e a tempestade ficou cada vez mais forte. O barulho do lado de fora me deixava tonto.
Temporais assim nunca aconteciam na minha região, mas agora não era hora de ficar com medo. Precisava engolir essa angústia e dar início ao plano.
— Guardas, guardas! Me ajudem, aqui! — gritava agarrado nas grades.
— Qual o motivo do escândalo?!
— A mulher que o rei disse para cuidar está morta!
— O que?! Ela não pode ter morrido justo no meu turno!
O guarda sem pensar abriu a cela rapidamente. O rei realmente queria manter ela viva. Até mesmo recebia porções de comida maiores que dividia comigo.
Quando ele se abaixou para verificar, roubei uma faca que ficava em seu quadril. Tentei esfaqueá-lo, mas ele desviou sacando a espada.
— Você quer apostar que meus reflexos são melhores que os meus? Escravinho.
Ele avança tentando desferir um golpe em mim, mas um raio atinge a grade ao nosso lado o deixando atordoado.
Sem pensar duas vezes eu apunhalei a faca em seu pescoço e em segundos morreu sem demora.
— Quero ver você me dar chicoteadas agora.
Como vi em alguns filmes. Tiro e visto a armadura do guarda pegando as chaves das outras celas.
Seguro Emi em meus braços e um grande barulho me assusta, a princípio achei que era um trovão, até que escutei os gritos de Kitsu e guardas pedindo reforços.
Então corro, corro como se um demônio estivesse atrás de mim e provavelmente vai estar. Passo pela minha cela antiga e rapidamente jogo as chaves lá dentro
— Valeu por se preocuparem comigo, mas agora eu mesmo vou me salvar!
Continuo a correr até à saída dos fundos. Achei que tinha conseguido sem problemas, mas ao sair me vejo cara a cara com o capitão e mais dois guardas.
“Droga! Deu ruim!”
Ele me lança um olhar ameaçador como se fosse meu superior. — Para onde está levando esse corpo, soldado?
— E-eu estou a levando para o morro que jogamos os m-mortos, senhor!
Tentei disfarçar minha aparência horrível de um escravo que não come direito há dias, mas ele percebe logo.
— Bom, então não tem problema se outro levar, certo? Você parece estar desgastado, meu jovem. É melhor descansar um pouco.
“Não, não! Porque você está aqui justo agora?!”
Entregando minha amiga e gaguejando: — C-claro, senhor! Muito obrigado pela preocupação!
Andando para disfarçar, minha cabeça doía de preocupação. Não sabia se poderia salvá-la se caísse do morro.
Depois do capitão ter saído do alcance da minha visão, sigo os dois guardas e vamos para o lado contrário do lugar que pretendia fugir.
Eles a levam para o topo do morro. Não sei exatamente a altura, mas já joguei muitos escravos dali de cima.
O guarda com o corpo, joga Emi e a vê deslizar até o final. Então ambos saem rapidamente para enfrentar a ameaça principal.
Com os guardas afastados, corro rapidamente para ver até onde Emi caiu. Consegui ver somente um pouco de seus cabelos brancos enroscados em uma árvore morta.
Olho em volta a procura de algum jeito de descer lá o mais rápido possível, só que o lugar mais perto fica ao lado do portão.
— Droga! Emi, aguenta mais um pouco, eu vou dar um jeito de chegar aí…!
Continuo encarando o penhasco procurando por qualquer lugar que me deixe alcançá-la. Quase pulando como última escolha, meia dúzia de passos me congelam bem atrás de mim.
— Para alguém que estava fugindo, você não é muito lento?
Me viro assustado com a voz familiar. Vejo-me encurralado por cinco guardas e o capitão.
Com raios caindo por todos os lados, sua armadura dourada brilha fantasticamente.
Quem raios é o protagonista ali?
— Posso ter subestimado alguém do seu nível. Olha isso! Há quanto tempo está planejando? Aposto que está desde que chegou aqui, né? Entretanto, tem uma série de erros.
— É meio difícil planejar uma fuga quando suas costas estão sangrando e latejando sem parar!
— Bom, não vai mais precisar se preocupar com suas costas. O general disse claramente que não se importa se você morrer hoje ou amanhã.
O capitão saca sua espada. Na mesma hora, fogo a cobre por completo, consigo sentir seu calor da distância em que estou.
— Na minha humilde opinião, eu prefiro… que você morra hoje!
Os olhos do homem se enchem de sede de sangue. Correu para cima de mim como um animal atrás da sua caça
Estava pronto para contra-atacar com a faca que roubei do guarda, mas sou eu contra um capitão, quais eram as chances?
Sabia que não tinha como ganhar, entretanto deveria confiar na força que ganhei nos últimos meses.
“Carregar pedras não era um trabalho fácil. Era cansativo e gastava muito da minha estamina. Tinha dias que eu realmente achei que iria morrer e agora que estou finalmente fugindo desse inferno vou desistir?”
Corri para cima dela sem recuar, só que ambos somos obrigados a recuar quando uma enorme bola de fogo atinge o espaço entre nós.
— Cara… você só arranja encrenca, né?
Olhei para cima do celeiro de onde a entidade falava. A voz era familiar, mas eu não consegui identificar até que outro raio iluminou seu rosto.
— Kitsu!
Empunhando um cajado marrom com uma pedra verde e lisa na sua ponta, o semi-humano desce e fica bem à minha frente.
— Seu rato maldito! Quando pegarmos voc…!
— Ah, vai se fuder marionete! Você não passa de um capacho que faz tudo que o general manda! Tenho medo de quando ele te chama para seus aposentos!
— Maldito!
Me aproximo um pouco. — Valeu Kitsu, mas nós estamos um pouco em desvantagem aqui.
Gritando para o alto. — Guardas! Peguem esses escravos, vivos ou mortos!
O capitão dá a ordem e os guardas avançam correndo em nossa direção. Kitsu e eu nos colocamos em posição de combate.
Só que antes de nos enfrentarmos um raio acerta o espaço entre nós. Imobilizando somente as tropas so capitão.
Kitsu se assusta e por reflexo vai para trás me derrubando. Tenta me ajuda, mas sem sucesso.
O capitão vendo que iria me perder, joga sua faca que fica cravada em meu ombro esquerdo.
— Kitsu!