Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 21
Com a cabeça pesada e doendo um pouco por causa do nervosismo, caminhei até o lado da Nozomi que estava sentada, afiando a lança e provavelmente planejando como iria derrotar seu inimigo.
Me sentei ao seu lado e falei: — Eai? Alguma ideia de quem o capitão vai colocar contra você? Não vejo muitas opções.
— É, porque não tem. Sou uma guerreira treinada para enfrentar qualquer oponente. — A pedra batendo no ferro da lâmina fazia um barulho estridente e irritante.
— Acho que eu não preciso me preocupar, certo?
— Se quiser, pode dormir, idiota. — Um grande sorriso se abriu em seu rosto. Meu coração acelerou. Parece que eu estava bem animado para essa luta.
— Acha mesmo que eu vou perder isso? Vou apostar toda minha fichas em você. — Tenho certeza que quem seja, Nozomi vai acabar com ele. Acho que não vou nem piscar. Quero saborear essa vitória olhando nos olhos do general.
— Eu não apostaria minhas fichas em você — falou tentando me provocar.
— Não me decepcione, guerreira. — Com um dos olhos, me viro e vejo Nozomi corando um pouco. Então quer dizer que essa pedra bruta tem suas fraquezas?
Ajudei Emi com os curativos de Appu e os dela, mas em segundos ambas estavam dormindo abraçadas.
Sentia que faltava algo em Emi. Kitsu me disse que é possível sentir a mana dos outros, só que é algo que desconheço. É uma sensação estranha.
Magias é realmente interessante. O primeiro contato que tive foi com o espelho do rei e a bola de fogo que Kitsu lançou na fuga, claro, sem contar a magia que me trouxe a este mundo.
Então runas, marcas de ritual, feitiços e encantamentos são algo que preciso pesquisar, se não logo estarei para trás dos meus companheiros. Pode parecer que só quero aprender, mas nesse mundo é algo necessário, muito necessário. Ainda mais para alguém na minha situação.
Outra coisa que me preocupa bastante é este outro reino. Não sei se o rei atual tem amizade com o babaca que manda por aqui. É uma possibilidade pequena, mas posso estar saindo de um reino que me persegue para outro.
Só que minhas opções são limitadas a uma agora. Atravessar a fronteira, então agora preciso assistir Nozomi atentamente.
Mais uma vez o juiz dá o sinal que o tempo acabou. Nozomi caminhou até o círculo que se fecha em seguida.
Antes de entrar no círculo seu adversário já tinha tirado o mando. Sua única arma era uma catana, vestia um manto azul e seu cabelo era trançado até a cintura.
Nozomi o olha de baixo para cima e abre um sorriso assustador. — Um espadachim? Vai ser uma luta interessante. — Em sua voz não tinha malícia, ela realmente estava ansiosa para lutar. — Qual o seu nome?
Com a resposta na ponta da língua respondeu — Igor! E suponho que seja Nozomi, certo?
— Acertou em cheio.
— Já ouvi algumas histórias sobre suas batalhas. Principalmente na guerra de semi-humanos contra o rei. — O rapaz se curvou mostrando respeito.
Pensando em voz alta sussurrei — Então quer dizer que a senhorita era uma guerreira famosa? Como raios foi sua infância?
— Não sabia que era conhecida além das fronteiras.
Surpreso perguntou — Como adivinhou que eu sou de fora?
— Você tem um ar de justiça. Alguém que luta com honra jamais seria de um reino morto igual esse. — O som do exército batendo as espadas nos escudos de raiva era agoniante. Todos juraram dar sua vida pelo reino, ouvir aquilo era claramente uma sentença de morte e nada que a Nozomi não falasse.
“Principalmente na guerra de semi-humanos contra o rei.” Será que essa era a batalha que Isao ajudou?
Mexendo em seu cabelo, abriu um sorriso. — Que tal a gente fazer uma batalha justa? Sem trapaças e truques, apenas uma luta entre guerreiros.
— Me parece perfeito. — Ela permaneceu com seu sorriso ansioso.
O juiz dá a ordem para começar o combate e o rapaz saca sua espada com uma facilidade magnífica, com graça e classe. Nozomi rodou sua lança com os olhos afiados e focados no seu adversário. Os dois caminharam rodando o domo esperando quem iria atacar primeiro.
Após terem girado até metade do círculo, Igor faz um sinal com a mão pedindo para Nozomi avançar e ela responde de imediato.
Chegando ao encontro, os dois disputavam em força em um confronto cara a cara. De perto dava pra ver claramente os olhos castanho do rapaz, seu cabelo preto e forte e uma pequena cicatriz na bochecha.
Olhando para ela, ele abre um sorriso como se estivesse apreciando sua força e isso a faz ficar cada vez mais motivada.
Nozomi lhe dá uma rasteira, mas ao invés de cair de cabeça ele se lança com um dos braços no ar. Ela olha para cima e com a parte de madeira da lança o acerta na barriga.
Com sua mão na barriga caiu no chão em pé. — O próximo golpe será em você.
— Veremos. — Erguendo sua lança na direção de Igor.
O espadachim levantou sua espada na direção da Nozomi e começou a tremer o braço. Sua arma com o passar dos segundos vai desaparecendo até ficar semitransparente. Parecia que estava segurando o vento, com uma corrente de ar criando um pequeno redemoinho que ficava em sua volta.
— Isso não é um truque então? — Nozomi se apoia na lança.
— Faz parte das minhas habilidades.
Ela pensa um pouco e parece se lembrar de algo. — Ei Kazuhiro! — Seu olhar se vira para mim ignorando Igor. — Se você não dormir vai ver algo incrível!
Levanto meu braço. — Não vou nem piscar!
Fechando os olhos e respirando fundo, Nozomi junta os pés e permanece imóvel, sua aparência parecia estar normal, mas algo estava diferente.
— Mjonir, sinto algo estranho vindo de lá.
— Não sei explicar, mestre, mas tenho certeza que não é magia.
O rapaz desliza no chão tentando dar uma rasteira em Nozomi que apenas pula e permanece imóvel. Ainda não satisfeito tentou diversas vezes atacá-la, mas na maioria não sofreu nenhum dano.
Já se cansando um pouco, ele usa sua espada para tentar um golpe direto nas costas de Nozomi. Sem fazer muitos movimentos, ela apenas dá um passo à direita e deixa seu pé fazendo-o tropeçar.
Convencida que fez um golpe excelente ela abre um dos olhos para vê-lo caindo, mas quem caiu na verdade foi sua espada e ele já estava com o punho em seu rosto.
Sem reação absorve todo o golpe caindo muito longe, e com um sorriso de deboche e o sol batendo em seus cabelos ele zomba dela:
— Eu disse que o próximo seria o meu. Seu ki é realmente impressionante, mas ainda sim é fácil de enganar. — Erguendo um dos braços na direção da espada, um leve e suave vendo a carrega até suas mãos.
— Ki? — pergunto um pouco alto.
— Ki é a habilidade de usar todos os sentidos e perceber futuros ataques. — Igor me responde. — Na grande guerra, poucos tinham habilidade para usá-lo, mas você não parece velha para ter lutado lá.
— Meu avô me ensinou, acho que ele percebeu que eu não gostava de brincar com bonecas.
Se colocando em pose de ataque. — Até quando vai ficar ai sentada, boneca?
Do chão, Nozomi voa até Igor, desferindo ataques com os punhos e pés. Ela rasteja no pegando sua lança caída e sem descanso continua desferindo ataques no rapaz que também não fica para trás defendo todos os golpes dela.
Alguns minutos se passam em um combate de igual para igual. Quando Igor sem querer tropeça em uma pedra e sua atenção se perde. Nozomi vendo uma oportunidade usa a parte afiada da lança e tinge o ombro esquerdo do garoto. O qual ele usa a espada.
Na mesma hora um pouco do efeito de transparência da arma diminui, e percebendo que estava na desvantagem ele recua para avaliar o ferimento. Nozomi usa esse meio tempo para descansar um pouco e após isso retoma a sua posição que aparentemente ativa o seu ki. Só que dessa vez estava um pouco diferente.
Suas pernas estavam abertas e sua lança na horizontal. Sua concentração parecia ter aumentado. Seu inimigo tinha descoberto a técnica, então mesmo ferido, avança para tentar cancelar ela.
Estando a um metro de distância leva uma forte pancada na virilha, ficando assim ajoelhado, em seguida recebendo um chute no rosto sendo lançado por alguns metros. Novamente Nozomi abre os olhos para verificar se acertou o golpe, e desta vez o rapaz permanecia no chão.
Andando e desativando o ki, Nozomi foi até o garoto para deixá-lo inconsciente e vencer a luta.
— Finalmente vai acabar, foi uma boa luta — fala cuspindo um pouco de sangue.
— Acabar? Por que apressar as coisas? — Erguendo a mão na direção dela, ela percebe um detalhe estranho. Quando ele a atacou estava sem a espada.
Em alerta olhando por todos os lados não vê a espada em lugar nenhum. Então ela pensa: “invisível? Não, eu perceberia facilmente, mas não tem onde esconder uma espada nesse lugar…” Olhando novamente para Igor o barulho de uma lâmina sendo sacada chega aos seus ouvidos. Por reflexo pulou para trás e a ponta de seu nariz foi cortada.
Igor se concentrou em deixar a espada invisível e ainda escondê-la debaixo do manto, assim atacar Nozomi com as mãos nuas e fazê-la pensar que a espada estava em outro lugar.
Mas mesmo com um plano bem elaborado em tão pouco tempo, Igor leva um chute no queixo o lançando novamente e desta vez o deixando inconsciente.
O juiz conta até dez e nomeia Nozomi como vencedora, a única de todas as batalhas que saiu com apenas um corte no nariz. Uma batalha justa e sem ferimentos fortes para ambos os lados, e principalmente, nada para eu me preocupar.