Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 22
Naquele dia, depois de muito tempo pensando, sabia que algo poderia acontecer comigo. A ideia de que eu poderia não voltar estava ficando cada vez mais viva.
Eu sei que prometi a todos que não me sacrificaria, mas a situação é absurda. Estava prestes a enfrentar um portador. O tamanho dessa batalha era colossal
Depois de atravessarmos a vila dos desejos, descobri algo que Mjonir estava me escondendo. Uma habilidade secreta que tinha desbloqueado, se chamava: ‘Último desejo do portador”
Não sei como funciona, mas aparentemente, se eu morrer, ele ativará essa habilidade e salvará meus amigos.
Já que o capitão depois dessa luta vai estar exausto, não ira matar eles de imediato. E isso dará tempo o suficiente para que todos fiquem a salvo.
Claro, estava pensando em coisas assim porque tinha uma grande possibilidade de eu morrer. Mas, ainda tinha uma pequena de eu viver e era nessa que eu estava mirando.
Fiquei sentado, encostado em uma pedra. Simulando qualquer tipo de possibilidade. Ataques que ele poderia usar ou ataques que eu poderia usar.
Qual seria sua força? Ele aumentaria devagar ou ativaria tudo de uma vez. Dependendo do portador, as possibilidades eram infinitas.
Meus pensamentos são interrompidos com os passos da Nozomi. Ela estava com um curativo no nariz ridículo. Em uma situação normal eu riria, só que agora eu estava concentrado.
— A batalha final… parece o título de música de um bardo. — Ela senta-se ao meu lado.
— Bardos normalmente não cantam músicas com finais trágicos?
— Exatamente, mas dessa vez quem terá um final trágico será o capitão.
— Olha só quem está me motivando. Eu vou ficar bem mais confiante se você me desejar boa sorte.
— Nem ferrando. Da minha boca você nunca vai ouvir nenhum elogio.
— É? Já ouviu falar do nunca diga nunca?
— Nunquinha. Agora diz aí, algum plano?
— Não, a não ser é claro que eu to em desvantagem.
— Mas você não é o tal portador não? — Ela continua a zombar de mim.
— Posso ser, mas ele é um guerreiro, treina todos os dias e provavelmente está me imaginando como alvo.
— Tudo bem, só que não foi ele que fugiu de uma prisão e praticamente lutou com um dragão com as mãos nuas.
— Estou começando a achar que aquilo foi sorte.
— Aaah para de graça. Posso não ter visto, mas Kitsu não me deixou dormir por muito tempo. Apenas falando de como incrível você estava.
— O capitão também matou um demônio, provavelmente um mais forte que o meu.
— Que droga de momento depressivo é esse?!
Droga, sem perceber acabei irritando ela. O tempo todo motivando alguém e a pessoa sempre depressiva, chega a irritar mesmo.
— Você não me arrastou até aqui para ficar chorando. O que acha que Kitsu ia falar se tivesse acordado?
— Eu falaria que tá parecendo um rato medroso. — Uma voz rouca vem de dentro da carroça.
Em um só pulo já estamos ao lado da carroça. Kitsu está com o olho aberto.
Me sento. — Acho que você não vai morrer então.
— Não vou morrer tão fácil… — Kitsu é cortado por Nozomi com um soco no braço.
— Seu idiota! Acha que é de ferro? Droga!
— Ai! Não sou de ferro viu! Vai me quebrar se continuar me batendo. — Fazendo uma pausa, olhou devagar em volta. — Em qual batalha estamos?
— Na minha.
— O depressivo ali tá tendo uma crise existencial.
— E Emi e Appu?
Nozomi aponta para o fundo da carroça e Kitsu ergue um pouco o pescoço. — Emi apagou depois de curar os ferimentos de Appu e os seus. Não foram duas batalhas agradáveis.
— E você?
— Só um corte no nariz. — Ela puxa um sorriso.
— Então essa pedra tem dentes? — falo e recebo um chute.
Segurando minha camisa, Kitsu fala — Você nem pense em perder hein. Já perdi um olho, não quero perder a vida.
— A motivação de vocês me enche de energia.
— Ai Nozomi, dê um beijo nele para motivá-lo.
— Prefiro o Daisuke. Que aliás eu tenho que verificar. — Ela sai.
— Ok, agora é sério. Sei que pode vencer, chegarmos até aqui é o motivo dessa minha confiança.
— Eu sei, mas ele é forte.
— E você também! Cara, tu matou um demônio, sozinho! Eu aposto que o capitãozinho, precisou de um exército. Agora para de chorar e acaba com a raça daquela marionete.
Finalmente alguém que poderia me motivar. As palavras de Kitsu me encheram de energia.
“Eu sou um portador! Matei a desgraça de um demônio! Não vou morrer aqui nem ferrando!”
— O tempo de discussões acabou! Que comece a última batalha!
— Certo Kitsu, eu já volto!
Empolgado, só que me contendo, ando até o meio. O juiz quando nos vê, parece ficar com um pouco de dúvida. Os assistentes sussurram algo.
— Eduardo e Kazuhiro. — Eduardo era o nome do capitão. Não tinha ouvido até agora. — Parece que graças ao destino. Teremos uma luta entre portadores, mas como sabem, seus poderes são muito fortes. Então desta vez eu e meus assistentes iremos aumentar a força e o tamanho da barreira. Alguma objeção?
— Nadinha — O capitão sorri.
— Nenhuma… — falo.
Os três se aproximam da barreira. O juiz dá para seus assistentes dois colares vermelhos. Mais um assistente surge com uma bola de cristal.
A bola brilhava insanamente. Sua cor era de vermelho fogo, muito forte. Conseguia sentir seu poder daquela distância.
Agora com os dois assistentes ao redor do cristal. O juiz profere algumas palavras em uma língua estranha. Quando termina, a barreira que estava transparente fica em um tom de vermelho sangue e seu espaço aumenta.
O senhor barbuda, agora um tanto ofegante, continua: — Já que tudo está certo, comecem!
— Ok, Mjonir, eu preciso de poder, muito poder.
— Mestre, seu tempo de uso do dia acabou.
— Não importa! Não tem nada que eu possa fazer?! Eu preciso por um tempo.
— Bom… O limite de tempo é para segurança do portador, mas se eu o desativar, os problemas no seu corpo podem matá-lo.
“Eu não tenho escolha. Se não der o meu cem por cento, não terei chance!”
— Apenas faça, eu não ligo para o que acontecer.
— Preciso de pelo menos dez minutos para desativar.
— Serio!? Acha mesmo que eu tenho dez minutos?!
“Sem resposta… Essa arma é muito abusada!”
Limpando a garganta, Eduardo me provoca. — O que foi? Ficou com tanto medo que não consegue me atacar?
— Ta de brincadeira? Vem com tudo!
Sem remediar, ele tira sia espada da cintura. Um fogo a cobre e o semblante do guarda egocêntrico fica mais amostra. No máximo 25 anos, cabelos loiros e a armadura brilhante.
Quando sua espada se levanta. É acompanhada pelos enormes gritos do exército inimigo. Até o Capitão erguer sua mão cessando qualquer barulho.
Permaneci imovel, somente observando cuidadosamente qualquer movimento. E sem esperar, em um golpe rápido, acerta o chão que se divide em dois. Formando um muro de fogo separando ele e eu.
— Está vendo Kazuhiro?! O meu poder é muito superior ao seu! Uma arma sagrada de segunda mão não se compara a minha!
— Arma de segunda mão?! Porque não vem aqui para eu te mostrar a arma de segunda mão!?
Enquanto olhava para cima das chamas, esperando alguem pular. Bem do meio do fogo, um vulto surge em alta velocidade. Sem esperar, Eduardo já estava a metros de mim.
Com minha própria força. Me jogo para o lado tentando desviar do ataque. E somente o golpe que tentou me acertar, faz uma enorme linha de destruição dentro da barreira.
A terra se tornou um pó que cobria tudo. E a fumaça das chamas me fez ficar com uma certa dificuldade em respirar.
Conseguia escutar apenas as pedras caindo no chão depois de serem lançadas para cima. E nisso nem se passaram dois minutos.
— Mjonir, por favor, apresse as coisas ai. Não vou aguentar por muito tempo!
— Estou indo o mais rápido que posso, mestre!
No meio daquela fumaça. Um buraco se abriu diante de meus olhos. E voando em minha direção o capitão desfere mais um golpe. Perto o suficiente para decapitar minha cabeça.
Me lanço para trás. Uso Mjonir para me defender e o impacto entre as armas faz um som fantasticamente alto ressoar pela ravina inteira.
A poeira e fumaça que tampavam minha visão de qualquer um que estivesse fora da barreira, se foi em segundos, somente pela força desse ataque.
Nesse instante, consegui ver o rosto do Capitão bem de perto. Ele não quer mais brincar, seus olhos pedem por meu sangue. E da forma mais dolorosa possível.
A força do ataque nos lança para direções opostas. Sabia que o tempo de uso do aumento de atributos, dependia muito da força física do portador.
Com toda certeza, o capitão treinava todos os dias e seus reflexos e força física eram superiores aos meus. E que não se comparava a de ninguém na tropa.
— Me pergunto até quando vai conseguir desviar dos meus ataques!
— Não se preocupe, tenho gás para lutar o dia inteiro aqui!
Até parece que eu tinha toda essa estamina. Minhas pernas já estavam querendo fraquejar e senti minha respiração pesada.
Enquanto isso, Emi e Appu acordaram assustadas com o barulho dos ataques. As duas viram Kitsu sentado na carroça e Nozomi um tanto ofegante vendo a luta.
— Acabou de começar? — Emi se arrasta até o lado dos dois.
— Não faz nem três minutos direito, e só o primeiro ataque teve essa força. — Nozomi apertou os punhos.
Emi segura forte Appu. — O capitão usou algum ataque especial? Esse último golpe, fez tudo tremer.
Kitsu se vira com dificuldade. — Não, tudo isso foi só o primeiro impacto entre as armas.
— Só o primeiro impacto?!
— Poisé, a batalha mal começou e os ataques já estão nesse nível.
— Não sei quanto tempo ele vai aguentar, ele usou seu tempo lá na cidad… — Kitsu se corta percebendo que falou de mais.
— Como assim o seu “tempo”, Kitsu!? — Nozomi segura o colar dele.
— Acho que esquecemos de comentar, né?
— Esqueceram o que!? — Emi também está furiosa.
— Não me culpem! Ele me disse para não contar para vocês!
— Contar o que desgraça!?
Kitsu suspira — Aparentemente, o Kazuhiro pode usar somente cinco minutos do poder da arma em força total por dia, e bom, ele já usou hoje.
— Você só pode estar de brincadeira! — As duas falam juntas.
Voltando para a batalha, o capitão não estava me dando descanso, desferindo ataques de todos os lados sem parar.
“Esse cara não é humano! Ele não para nem por um segundo!”
— O que foi Kazuhiro!? Já está cansado? Achei que ficaríamos aqui o dia todo!
— Eu disse para vim com tudo!
Em um golpe que cortou um pouco de meu cabelo, consegui ver uma pequena abertura nesse ataque e sem pensar duas vezes acertei um chute em sua barriga.
Consegui respirar por um segundo, então olhei novamente para o seu rosto. E percebi algo que não tinha visto.
Ele não parecia um soldado normal que só estava seguindo ordens, digo, ele não me tratava com um fugitivo qualquer. Parecia que tinha feito algo para ele. Parecia pessoal…
— Seu desgraçado de merda! Eu juro que vou te matar!
— Por que você me odeia tanto?! Merda, eu nunca te fiz nada para você! Me persegue desde que cheguei nessa droga do reino!
— Nunca me fez nada? Nada!? Você diz que nunca me fez nada!? Você tirou de mim! A coisa mais importante da minha vida! Você matou minha noiva!