Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 29
Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, a batalha tinha cessado. A quantidade de corpos no chão era incomparável. Mais de 5 mil monstros morreram, mas nenhuma pessoa da vila se feriu. Ninguém ousou pregar os olhos, os sons desta batalha foram ouvidos a quilômetros de distância, sem dúvida e sem querer, tínhamos feito história.
Nossos corpos estavam exaustos, jogados no chão aproveitando o raro silêncio da manhã. O povo totalmente desacreditado, trocavam olhares vendo que pela primeira vez em anos, nenhum cidadão morreu a sangue frio. Desmaiei de cansaço por alguns minutos, quando acordei consegui retomar minha consciência.
Appu estava sentada em cima de uma pilha de goblins mortos, olhando o sol nascer. Emi ficou deitada no colo Nozomi adormecendo e Kitsu limpava seu cajado do sangue dos inimigos. Me levantei para olhar minha situação, estava vermelho, as mãos grudentas segurando Mjolnir com força por puro reflexo.
Estava machucado e até mancando, minha perna doía muito, só que tentei ignorar. Minha respiração continuava um tanto ofegante, minha língua ficou seca e quase não sentia meus braços.
O homem que tinha me atrapalhado acordou um pouco desnorteado, sentou-se com as mãos na cabeça escutando os sussurros. Seus filhos e amigos vivos, impressionados com o que seus olhos tinham presenciado, o grupo que tinha subestimado acabou de derrotar um exército.
“Preciso descansar, ou comer alguma coisa.”, sacudi a cabeça, andei para perto de todos, então falei: — Conseguem ficar em pé? — Minha pergunta foi simples, mas os assustou, porque era eu que não deveria ficar em pé. — Acho que conseguiremos chegar lá em cima em até meia hora. Os monstros parecem se dispersar de dia, então não precisam ficar com medo.
O restante do grupo se levantou e voltamos para a posição de proteção, Appu e Daisuke na frente, Emi no meio, Kitsu, Nozomi dos lados e eu atrás. A caminhada ficou um pouco mais difícil, só que nada que incomodasse. Como previsto, meia hora depois, chegamos na mansão, na verdade, em seu enorme portão.
Falar que o homem que morava aqui era rico parecia até um insulto, somente pela entrada dava para saber que o dono destas terras era podre de rico. O portão parecia ser banhado em ouro, enquanto a parede de pedra que cercava por quilômetros tinha até dez metros de altura.
Parecia ser fácil de abrir, tinha somente uma corrente grossa que rodeava a entrada, nada que Mjolnir não conseguisse lidar. Cheguei mais perto, só que senti algo estranho, as corrente pareciam ser envolvidas em uma coberta dourada, fiquei observando um pouco, quando Kitsu decidiu ver o porquê de estar demorando.
— O que foi? — Antes de poder responder sua pergunta, sentiu instantaneamente o que tinha me feito parar. Olhou um pouco e até pôs as mãos em cima, então seguiu falando: — É um selo, está revestido por mana real, tem certeza que queremos entrar aqui?
— Faz anos que ninguém vem aqui, o senhor disse que o dono era velho e doente. Provavelmente está morto, vamos entrar. — Rodei um pouco a arma e desferi um golpe nas correntes, estranhei, pois não quebraram, somente racharam e, no segundo golpe, se quebrou.
Com a ajuda de alguns, abrimos as duas enormes portas de ouro. Esperava encontrar de cara a enorme mansão, mas apenas via uma enorme planície com uma estrada longa. “Não acredito, é sério que teremos que andar mais?”, pensava nisso, só tinha outra coisa me atormentando.
“Tem algo de errado comigo… Porque sinto que estou mais fraco? Meu corpo não está totalmente ferido, consigo me mover, correr e até lutar se necessário. O que está acontecendo?”
Continuamos firmes, andando em uma estrada muito longa. Algumas pessoas começaram a cair de repente por estarem fracas, às colocamos na carroça, só que já estava ficando cheia. 20 minutos depois, conseguia enxergar algo, uma construção longe.
Cansados e sonolentos, depois de horas, finalmente chegamos. A mansão acompanhava o portão em sua formosura. Três andares, não consegui calcular sua altura nem sua distância de uma ponta a outra, só que parecia uma cidade.
— Quanta riqueza, nunca vi um lugar tão bonito e grande assim. — Alice admirava, totalmente espantada com o enorme edifício que parecia brilhar em seus olhos. Podia ser uma construção bonita, só que para mim e o resto do grupo, era um altar mostrando a diferença de classes.
Com uma certa raiva, chutei a porta para entrarmos e, como esperado, a luxúria de dentro era muito maior. Um grande e enorme tapete, revestia o chão como se fosse um carpete. Uma escada que subia para o segundo andar se dividindo em duas, com corrimãos de prata que brilhavam como se tivesse sido polido a instantes.
Haviam portas debaixo das escadas levanto a outros cômodos, junto com outras portas nas paredes aos lados. Móveis que lembravam o estilo vintage, com bordas de prata e ouro. O piso de madeira escura, brilhante sob os lustres que refletiam a luz do sol, sem precisar de velas ou magia, realmente incrível.
Olhei para os três e todos estavam fascinados, infelizmente tive que cortar suas admirações falando: — Certo! Sei que todos estão animados, só que temos questões para discutir! Primeiro, vamos achar um cômodo adequado para que os feridos possam descansar, vou deixar essa tarefa com Emi.
Emi os guiou até outra sala, sobrando apenas alguns que pareciam ter feridas superficiais ou os que ainda podiam ficar em pé. Então continuei: — Appu e Daisuke, quero que encontrem a cozinha ou o armazém, todos aqui estão famintos. Nozomi e Kitsu, preciso que me ajudem.
Procurei um pouco pela casa e achei o que estava procurando, uma sala de reuniões. Com uma mesa grande e cadeira para que líderes possam discutir. Me aproximei do senhor, pai de Alice e falei: — Senhor, pode me responder duas perguntas?
— Claro, o que deseja?
— A primeira é que gostaria de saber seu nome, não posso apenas chamá-lo de senhor, não é?
— Ah, sim, meu nome é Castle, um pouco estranho, mas meus pais eram um pouco diferenciados, haha.
— Bom, prazer em conhecê-lo, de verdade agora, Castle. Minha segunda pergunta é a seguinte: tem como reunir os chefes, responsáveis ou até pessoas de alta influência de sua vila?
Castle acariciava sua barba, ainda apoiado em seu bastão e falou: — Não deve ser um problema, me dê alguns minutos e os trarei aqui. — E saiu, deixando Kitsu e Nozomi comigo na sala.
— Vamos aproveitar esse tempo para discutir o que faremos, sei que estão cansados, mas logo vão dormir — falei puxando uma cadeira.
— Não precisa se preocupar, Nozomi já lutou muito e continuava de pé por dias pós batalhas — falou Kitsu, só que recebeu alguns olhares de pena. — O que estão olhando?
Um pouco desconfortável, disse: — Cara, é que não estou preocupada com ela, meio que você parece destruído, sinceramente acho que tá pra desmaiar. — O rapaz raposa estava com seu pelo encharcado de sangue, alguns roxos no braços e possivelmente até algumas costelas e ossos quebrados.
Olhando para um espelho ao seu lado percebeu seu estado, só que isso não o assustou, somente ficou incomodado por causa do sangue. — Olha, já fiquei uma semana acordado pesquisando sobre magia. Não vou desmaiar, depois peço para Emi me avaliar.
Um pouco desconfiados, permitimos que ficasse e alguns instantes depois, vários homens entraram na sala acompanhados por Castle. Me levantei indicando a todos que se sentassem e, depois, observei os rostos.
“Não gosto disso, acho que sou muito jovem para começar uma reunião com líderes… o que digo? Só planejei salvá-los e dar proteção por um período, só que quando formos embora, tudo voltará a sua antigas ruínas”, com eles, com os seus olhos fixados em mim, falei:
— Ok, devem estar pensando no porquê de ter trazido vocês até aqui. Bom, sinceramente, só pensei em prevenir mais mortes e dar abrigo aos habitantes. Não faço ideia do que fazer daqui em diante, mas sei de uma coisa, não podem continuar do jeito que estavam, o erro de vocês foi por causa que se tornaram dependentes do rei, entretanto isso deve acabar.
Um homem, grande e robusto, com óculos sobre a cabeça e um grande cabelo jogado para trás, decidiu falar: — E o que faremos? Nosso dinheiro foi totalmente saqueado, não temos nem comida para alimentarmos nossas famílias, como podemos nos tornar independentes?
— Desde o começo sabia que não tinham dinheiro, por isso, vou oferecer um grande empréstimo do meu próprio bolso. — Como esperado, não acreditaram em minhas palavras, não por causa da bondade de ajudar e sim pelo fato que achavam que era louco, não aparentava ter muito dinheiro.
— Err, desculpe interromper Kazuhiro, só que tem uma maneira de mostrar que está falando a verdade — falou Kitsu, levantando e indo até o meu lado. Pegou uma faca e com a minha permissão cortou a ponta do meu dedo indicador.
Com um algum tipo de pó, fez um círculo na mesa e derramou meu sangue dizendo algumas palavras. Em instantes um grande número surgiu flutuando, não sabia o que era, mas o restante ficou impressionado e assustado.
— O que é isso? — perguntei.
— Bom, você pode ter doado todo seu ouro para a vila, só que para garantirmos, depositamos em sua conta já que você era o portador. Existe um feitiço global, onde temos acesso ao banco pessoal de uma pessoa e esse é o seu.
“Espera! Tudo isso é meu?! Que merda é essa? Tenho dinheiro suficiente para comprar uma cidade!”, fiquei um pouco tonto ao saber que era um homem rico, comparado ao dono dessa mansão, sabia que tinha dinheiro, mas tanto assim era um absurdo!