Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 30
Ainda estava em choque por causa dos números, mas sacudi a cabeça retomando a consciência. Achava que tinha algum dinheiro por causa da morte do demônio, só que era ridículo tudo isso. Entretanto, não deixar isso subir à cabeça que me fez diferente de todos os nobres que conheci.
— C-Certo, como podem ver, tenho dinheiro o suficiente para ajudar vocês. Obviamente, quando tudo estiver nos eixos, poderão me pagar o que investi, só que isso conversamos outro dia, tudo bem? — Ficaram um pouco receosos, mas aceitaram. Fazer um acordo desse tamanho é preocupante, principalmente quando o dono do dinheiro tem uma arma sagrada.
Um dos homens, o mais novo entre eles, só que pelo menos 30 anos mais velho que eu, ergueu a voz e perguntou: — Qual será o nosso primeiro passo? O que devemos fazer?
— Boa pergunta! — Estava começando a gostar de ser o anfitrião. — Primeiro devemos fazer três coisas. Tudo que eu falar agora é de suma importância para que a gente consiga reerguer a cidade.
Os olhos continuaram focados em mim, então continuei:
— A primeira é focar na recuperação dos aldeões para que possam lutar. Querendo ou não confrontos serão inevitáveis, principalmente contra monstros e humanos.
Quando o lorde descobrir que a cidade que destruiu voltou, com toda certeza não vai gostar disso. Provavelmente era um homem rico, com muitos homens ao seu dispor, uma guerra real era inevitável, por isso ter homens saudáveis se tornou mais que essencial.
— Em segundo, que é algo que farei o mais rápido possível, é criar laços com mercadores, para que espalhem pelo reino que a cidade está sendo reconstruída. Tenho certeza que todos aqui tem contatos muito importantes, isso trará a cidade a sua antiga glória.
Os contatos comerciais eram totalmente essenciais, uma cidade sem dinheiro é uma cidade morta. Tínhamos que montar barracas, lojas, pousadas, tudo que daria dinheiro ajudaria na reconstrução de cada tijolo.
Se a informação se espalhar, ajudaria na mudança de novos habitantes. A cidade perdeu muitas pessoas, era triste, mas infelizmente a gente teria que recompor isso, se não a cidade não poderia se manter. Além de que precisávamos de muita mão de obra para reconstruir tudo.
— E por último, teremos uma grande mudança. A partir de hoje, todos vocês, se tornaram líderes da cidade, todas as decisões que forem tomadas devem ser votadas e, se a maioria aceitar, executem. Bem-vindos a era da democracia.
Implantar um governo de outro mundo era algo até que empolgante, mesmo que um dia esse país caia, essa cidade vai conseguir sobreviver e vão juntar toda a experiência que tiveram para erguer um lugar sem tantas diferenças de classes, onde todos, desde plebeus a nobres, têm voz para falar e decidir seus destinos.
Depois, passaram-se várias horas, discutimos planos e tentamos nos organizar da melhor forma possível. Expliquei adequadamente como iríamos fazer para realizar os três passos e no sol da tarde, finalizamos tudo.
Todos os novos líderes saíram da sala, sobrando apenas nós três novamente. Alguém bateu na porta, era Emi que aparentava estar igualmente cansada, igual a todos. Appu e Daisuke também voltaram e, depois de todo sentarem, falei:
— Me desculpem novamente, achei que seria rápido, mas acabou levando horas. Acho que tem alguns quartos aqui, vamos dormir porque agora tenho certeza que todos estão a um fio de desmaiar.
Saímos da sala indo em direção ao corredor dos quartos, todos pareciam ser maravilhosos, cada um com uma suíte particular e uma vista maravilhosa da imensa planície que demoramos para atravessar. Estávamos prestes a entrar, só que um espelho no fundo do corredor chamou nossa atenção.
— Meu cabelo… sempre foi branco? — Pela primeira vez nesse mundo, me olhei no espelho, fiquei muito assustado, porque parecia ser eu, mas tinha traços diferentes. Agora meus cabelos ficaram brancos, meus olhos amarelos cor de ouro, sem contar as roupas que usava, cheias de sangue e sujeira, que horror.
— Então é assim que fico de tapa olho? — Kitsu também achou estranho sua imagem. Um semi-humano, de cabelos bagunçados, apenas um olho vermelho com um tapa olho preto que rodeava sua cabeça. Sua camisa furada e a jaqueta, sujas de sangue, junto com a calça de um couro animal diferente.
— Meu cabelo está horrível, faz tanto tempo assim que não tomamos banho? — falou Emi, enquanto mexia em seus cabelos brancos que estavam com tons de vermelho. Suas roupas ainda eram as que Clara te deu e, a capa que dei para ela, tinha crostas de barro e sangue espalhadas por todo tecido.
— Já estive pior, só que ainda sim é deprimente. — Nozomi parecia inteira, mas ao contrário do normal, seus cabelos estavam soltos e suas roupas um pouco rasgadas.
Appu e Daisuke não estavam diferentes, roupas rasgadas e pelos sujos. Todos nós precisávamos de um banho ou relaxar direito, por obséquio da vida, finalmente poderíamos descansar e sem dúvida dormir por alguns dias. E foi exatamente o que fizemos, o planejado era dormir por uma semana, todos nós, só que infelizmente nosso tempo de descanso não durou muito.
— Kazuhiro! Acorde por favor! Kazuhiro! — A porta do meu quarto estava sendo esmurrada. Meu sono estava pesado, mas acordei em um instante e pulei da cama assustado.
❃❃❃
Enquanto estávamos lutando por nossa vida na batalha contra os monstros, outras coisas estavam acontecendo em uma cidade considerada a segunda capital das coroas. A grande cidade de Albert, o terceiro ponto comercial mais ativo, competindo apenas com a antiga Vila de Adão.
Lá, o descendente do fundador, Cristian Vinnicius Albert, se afundava em milhões de documentos. Preenchendo formulários, assinando papéis e dando ordens para que seus subordinados cumprissem tarefas importantes. O jeito que estava focado era respeitável, sua liderança estratégica procedia a toda riqueza que tinha.
Mas infelizmente teve que cessar suas tarefas. Uma mulher, vestida com um vestido longo e justo, entrou na sala segurando uma prancheta em mãos. Atrás de seus óculos escondia olhos afiados e sinceros, como se tudo que fizesse estivesse 100% no seu controle, por isso era perfeita para ser a secretária e conselheira dele.
— Meu senhor, os lordes chegaram. Estão esperando na sala de reuniões — falou ela sem sequer olhar para ele.
Sem tirar os olhos dos papéis, suspirou desapontado. — Certo, esse é o tipo de reunião que odeio ter. — levantando-se, continuou:— E já disse que não precisa dessas formalidades, somos amigos há anos Bárbara.
— Estamos em ambiente de trabalho e você é meu superior. Não vou tratá-lo como amigo aqui.
Ambos saíram do quarto, a luz do sol nascendo incomodou o homem que não o via há certo tempo. Levantando sua mão para alguns servos, imediatamente começaram a acompanhar os dois.
Seguiram por um corredor longo até as escadas e no andar debaixo entraram em um grande salão. Havia muitas pessoas, servos da casa e dos homens e mulheres que estavam ali. Os únicos sentados não demonstravam expressões, apenas aparências frias e amedrontadoras.
Cristian sentou-se em uma cadeira, respirou fundo e falou: — Os boatos já se espalharam, não é? Então provavelmente todos sabem o que está acontecendo.
— E tem como não saber? Só se fala disso, o meu povo está em pânico, tive que reforçar a guarda para acalmá-los! — Um dos homens mais robustos sentado se levantou, acertando um golpe na mesa, mas ao ver que ninguém além do servos se surpreendeu, sentou-se novamente.
— O que faremos, Cristian? A dama…
— Não precisamos falar seu nome! — Uma mulher tentou erguer a voz, mas foi cortada pela Bárbara instantaneamente.
— Vossa majestade está reunindo o exército para um treinamento especial. Disse que se tiverem alguém que possa se juntar a esse esquadrão, será muito bem vindo.
O clima de tensão que estava na sala aumentou, os olhos dos que estavam sentados começaram a brilhar e um sentimento de medo tomou conta dos servos. Até que uma garota, a única que parecia ser muito nova, disse:
— O reino vai cair?
A pergunta que todos queriam fazer a pequena falou, mas a frieza do homem continuou, então sua secretária disse: — Não, apenas…
— Eu perguntei para o Cristian. — Os olhos gentis da garota ficaram gelados e encarava a secretaria com fúria, era claro que não gostava da mulher.
— Não, mas a segurança do povo está em jogo e não queremos arriscar vidas desnecessárias — falou.
Os lordes continuaram a conversar, quando o espelho de Bárbara tocou. Ela colocou em seu ouvido e escutou as palavras sem demonstrar emoção. Então calmamente interrompeu a discussão e avisou seu senhor. O homem claramente ficou incomodado, então continuou:
— Surgiu um contratempo, acho que já os informei sobre o assunto. Agora a decisão é de vocês. — Elegantemente saiu acompanhado pelos servos e a mulher, mas por dentro ficou enfurecido com a situação que lhe foi dita.