Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 31
Os passos enfurecidos de Cristian dominavam os corredores da mansão. Seu rosto vermelho como fogo demonstrava uma pequena porcentagem da sua raiva e preocupação. Apertava os punhos, cerrava os dentes e, sem parar, continuava a bater os pés pelos corredores.
Sua assistente, ao contrário de seu lorde, parecia plena. Com os olhos minuciosamente fechados, o acompanhava graciosamente enquanto teclava em seu espelho. A única faísca que mostrava seus sentimentos era uma veia que pulsava em sua testa.
— Quando os alarmes foram disparados?! — gritou e abriu seu espelho para verificar as informações que lhe foram enviadas por Bárbara.
— Hoje de manhã. Aparentemente aconteceu um problema na central de comando e fomos alertados somente agora.
Olhando o visor, não conseguia acreditar no que estava bem na sua frente. — Como isso pode acontecer?! Aquele cadeado possui magia real, as pessoas daquela cidade nunca conseguiriam desfazer aquela magia, quem fez isso?!
— Se acalme, por favor. Se quiser, poderei enviar alguns homens para lá e…
— Não! — Parando na frente de uma grande porta, respirou fundo e continuou: — O artefato que está naquele porão é extremamente valioso. Eu mesmo irei até lá, pegue o Arco de Ullr, vamos partir imediatamente!
❃❃❃
Quando escutei a porta do meu quarto sendo esmurrada por alguém, foi como se todos os meus instintos me dissessem para acordar. Mesmo em um sono pesado, que durou quase dois dias inteiros, levantei e corri para abrir a porta.
— O que está acontecendo?! Por que toda essa gritaria?! — Mjolnir já estava em minhas mãos. Quando abri a porta me deparei com um rapaz com o rosto encharcado de suor, tremia insanamente e parecia nem conseguir falar direito.
— P-precisamos de você! Lá e-em baixo!
Queria perguntar para ele se alguém tinha se ferido ou qual era a emergência, mas minha única escolha foi segui-lo. Enquanto andava no enorme corredor estava pensando no que poderia ter acontecido, só que antes que chegasse a qualquer conclusão, já estávamos no andar de baixo.
Não havia muitas pessoas reunidas ali. Somente nosso grupo e os novos líderes da vila. Não sabia quanto tempo tinha dormido, era provável que todas as pessoas saudáveis já estavam ajudando no processo da reconstrução da cidade e os feridos restantes estavam em outra sala, seguros e confortáveis.
As primeiras pessoas que foquei meu olhar era no grupo. Pareciam bem melhores que antes, agora estavam limpos de verdade. Sem contar que seus rostos tinham rejuvenescido pelo menos alguns anos. Dois dias de sono fizeram muito bem a eles.
Me dirigi para o meio deles e perguntei: — O que está acontecendo? Alguém se machucou? É um problema na cidade?
— Na verdade não, é um pouco pior que isso — falou Kitsu, sentado em um sofá com os braços cruzados. Sua expressão me deixou um pouco aliviado, se fosse um problema que não tivesse solução, com certeza não estaria tão calmo assim.
— Venha aqui, olhe pela janela. — Castle, com sua bengala, me acompanhou até a imensa janela que ficava ao lado da porta da frente.
Vendo o que estava lá fora, fiquei um pouco assustado, só que como Kitsu, sabia que era um problema que poderíamos resolver, só precisava saber como. Havia um exército bem na frente da mansão, com provavelmente quase 100 homens. Não tão grande como o de Eduardo, entretanto para pessoas comuns isso poderia ser assustador.
— Quem está liderando eles? E o que quer? — Soltei Mjolnir e me sentei em uma poltrona que ficava na entrada.
— Ele é o lorde Cristian Vinnicius Albert. — O nome me parecia extremamente familiar, só que não esbocei nenhuma reação. — Aparentemente, essa casa o pertence e agora está ordenando que o responsável pela invasão se apresente, se não o mesmo vai invadir com todas as forças.
— Suponho que não temos outra escolha, certo? Acho melhor falarmos com esse lorde antes que alguém se machuque desnecessariamente — falei me levantando alongando os músculos.
— Acha que devemos abrigar os feridos no porão, Kazuhiro? — Um dos líderes ergueu a voz.
— An? Não vejo necessidade. Esse cara acordou 5 pessoas e o Kitsu, sinceramente, ele deveria estar tremendo de medo. — Ameacei pegar meu machado, entretanto uma ideia me vem à cabeça. — Sabe, acabei de ter uma ideia. Não vamos falar que temos um portador entre nós até o último segundo.
— Como isso ajudaria a gente? — perguntou Nozomi.
—Vamos fingir ser subordinados desse portador de mentiras. Não sei muitas coisas sobre os nobres — A não ser que são extremamente egocêntricos e cheios de si. —, mas acho que se um um “servo” falar com ele, ao contrário de alguém com um armamento dos deuses…
— Ele abaixaria a guarda — disse Emi.
— Exatamente! E as roupas que estou usando vão convencê-lo rapidamente. — Antes de descansar alguns dias atrás, tive que lavar minhas roupas para tirar o sangue e o barro acumulado de semanas. Entretanto, mesmo depois de lavadas, estavam quase destruídas por completo.
Tive que usar algumas roupas no quarto em que fui dormir, então acabei vestindo um uniforme de mordomo. Achei que por a cama ser extremamente confortável poderia ser o quarto de um dos filhos da casa, só que era de um dos empregados.
Conversamos por mais alguns minutos, até que um dos soldados deu o último aviso para que o responsável saísse da casa. Não planejamos muita coisa, só pensamos em algumas rotas que poderiam nos ajudar a não ter uma batalha ali.
Então de mãos atadas e sem nenhuma defesa, sai ao encontro do lorde Cristian.
Estavam afastados, pelo menos 20 metros da mansão. Enquanto andava me comunicava com Mjolnir para que me ajudasse no que fosse necessário. Também pedi para ele que, se possível, guardasse o rosto de todos os soldados. Talvez eu precise dessa informação no futuro.
Quando estava chegando perto demais, senti uma certa hostilidade vindo dos soldados e meu corpo parou para falar com o líder deles. Antes que tivesse a chance de abrir a boca para falar, fui interrompido por um homem.
— Não sei quem é você e sinceramente nem quero saber! Ordeno que tire seus ladrõeszinhos da minha propriedade antes que um masacre comece! — O lorde surgiu do meio dos soldados, com um cavalo e um grande arco em suas costas.
Fiquei em silêncio, formulando uma resposta. Obviamente esse cara era um nobre, sempre acostumado a falar primeiro e agora que estou vestido assim, com toda certeza se acha superior.
Falando alto e calmamente o respondi: — Sua mãe não lhe deu modos, não? Primeiro, vamos nos apresentar corretamente e depois de baixarem as armas, vamos ter uma conversa civilizada entre dois cavaleiros. Correto?
Consegui escutar o cerrar de seus dentes daquela distância, mas depois que sua assistente o acalmou dizendo alguma coisa, me respondeu: — Ok, vamos ouvir o que tem a dizer. Mas já aviso com antecedência, se tentar alguma coisa, o matarei antes que possa pedir qualquer ajuda.
— Não vejo nenhum problema então.
Alguns soldados me escoltam até o meio do improvisado acampamento deles e por todo o caminho, sou mal encarado por todos. Terminamos o agradável passeio bem na frente de uma tenda pré-pronta. Obviamente um nobre teria que levar seu conforto para todos os lugares.
Me sentei em uma mesa junto com Cristian e sua secretária que estava em pé. Sem muito rodeio, falou: — Vamos lá, aposto que tem uma proposta para mim. Eu queria muito falar com o portador que quebrou meu cadeado, então por que estou falando com você?
— Meu senhor infelizmente teve que viajar por alguns dias. Estou no comando de tudo até que volte.
— Quando diz “tudo”, está incluindo a invasão e o roubo?
— Certo, vamos esclarecer as coisas. Não queríamos invadir sua maravilhosa mansão, mas não tínhamos escolha. Os habitantes da cidade estavam morrendo e passar mais uma noite naquela cidade seria o fim para eles.
— E o que planeja fazer? Vai morar com todas essas pessoas na minha mansão? Isso é inadmissível…
— Não, não vamos morar aqui. Só precisávamos de um lugar para poder abrigar os feridos por algumas noites, nada além disso. Não roubamos nada e nem pretendemos fazer isso. Se quiser, pode olhar com seus olhos, aposto que quando passou pela cidade viu que já tinham começado a reconstrução, não é?
Batendo com os seus dedos na mesa, pensava sobre o que acabei de dizer. Quando se virou para sua assistente e perguntou: — O que acha Barbará? — A mulher parou de teclar em seu espelho e começou a prestar atenção na conversa.
— Tenho algumas dúvidas, não acho que esse mordomo seja quem está dizendo ser, entretanto parece que está falando a verdade a respeito da cidade. Mas não muda o fato que invadiu propriedade privada, o que fará sobre isso?
— Acho que toda essa confusão pode ser encerrada com um simples contrato de venda. Me dê o preço que quiser pela casa e eu pagarei. Não ligo para as riquezas que tem lá dentro ou qualquer outra coisa de valor, então se quiser, leve tudo.