Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 32
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- Capítulo 32 - Um acordo, um tratado, uma nova esperança.
— Deixe-me ver se entendo o que está sugerindo. Você me diz que pagará a quantia que for necessária para comprar minha mansão. Somente para abrigar alguns feridos?
— Exatamente, há algum problema?
Uma tensão surgiu no ar. Mais densa e negra que qualquer outra que senti nesse mundo. Jurava que se esticasse minhas mãos poderia pegar algo. Mas continuei firme, podia me dar alguns arrepios, entretanto não sentia medo algum.
Cristian me encarava, tentando romper com os olhos essa máscara que eu estava usando. Sua assistente percebeu isso facilmente, não sou o tipo de pessoa que consegue mentir naturalmente. Só que não havendo provas que contrariasse o que falava, não poderiam fazer nada.
— Estranho, você é bem estranho, mordomo. Seu mestre deve ser alguém bem excepcional para fazer algo deste nível, não é mesmo? — O homem se levantou. Pegou duas taças e uma garrafa de vinho. — Sua proposta é tentadora, mas infelizmente não posso fazer isso. Essa mansão era do meu falecido tio e as lembranças que tenho são insubstituíveis.
O mesmo volta para sua cadeira e coloca vinho em ambas as taças. Encaro aquela peça de cristal cuidadosamente, observando cada detalhe procurando algo que possa me ferir. Mesmo que seja imune a quase tudo.
— Não vai beber? — perguntou.
— Claro que sim, só estava me pergunto porque serviria do seu vinho para um inimigo. Isso sim é estranho. — Peguei a taça calmamente, cheirei o vinho e dei um pequeno gole. Sem nenhuma preocupação, mesmo que tentasse me envenenar nada aconteceria, tenho total certeza que Mjolnir apagaria os efeitos em segundos.
— Eu estava errado, como poderia considerar como inimigo pessoas com uma missão tão nobre? Não sei o que faria se tivesse na sua situação, é admirável. Entretanto não há possibilidade alguma da venda da casa. — Fazendo os mesmo movimentos que eu, bebeu a taça inteira e se levantou.
— Nós temos que ir, meu lorde. O senhor tem inúmeros compromissos ainda hoje em cidades vizinhas. — Sem tirar os olhos do espelho, a assistente começou a se retirar.
— Se não existir mais nenhuma proposta, estou me retirando e espero que se retirem da minha propriedade também. — Pegando seu manto vermelho, já estava na entrada da tenda pronto para mandar os guardas me escoltarem para fora, só que ainda não tinha usado todas as minhas cartas.
— E quem disse que essa era minha única proposta, senhor Cristian?
— An? O que disse, mordomo?
— Prefiro que me chame de Kazuhiro. Este é o meu nome. Posso ser um simples mordomo, mas ainda tem algo que posso oferecer. Uma coisa que vai beneficiar tanto você, quanto eu, quanto todo o reino.
Continuei sentado, apreciando aquele doce vinho, saboreando sua textura, sabor forte e a fragrância encantadora. Até mesmo Bárbara se interessou agora. O que seria essa proposta que poderia ajudar até mesmo o reino inteiro? Não era algo que se podia ignorar facilmente.
Isso chegou a provocar a ira de sua assistente, que enfurecida, apertou com força a gola da minha camisa: — O que pensa estar falando, garoto? Se estiver apenas brincando pode ter certeza que vai sofrer sérias consequências!
— Se acalme, se acalme. Está amassando minha camisa, você não tem ideia do quão difícil é me arrumar com roupas tão chiques. Por favor, controle sua assistente Cristian.
— Se afaste Bárbara. — O lorde se senta novamente, desta vez totalmente focado em minhas palavras. — Sou todo ouvidos, Kazuhiro.
Deixo escapar um sorriso discreto, só que nada que me atrapalhe e prossigo: — Sei muito bem que a proposta da casa só daria dinheiro para o seu bolso. E como um lorde, aposto que ganha muito bem. Então se a aposta da casa não resultasse em nada, talvez ajudar o seu povo quebraria esta casca grossa.
— Aonde quer chegar?
— Estava lendo alguns documentos recentemente e seu nome surgiu entre eles. Sabia que já tinha ouvido em algum lugar e quando apareceu de repente minha surpresa foi maior ainda.
— Por que não vai direto ao ponto?
— Ok, ok. No passado, esta cidade se tornou grande, muito grande. Era uma grande cidade comercial, mas infelizmente caiu, não é? E isso gerou lucro para você, só que também perdeu muito, muito dinheiro, estou certo?
— Não que os assuntos reais sejam da sua conta, entretanto sim. Na época em que a cidade caiu, minha cidade sofreu muito.
— E é aí que quero chegar jovem lorde. Quando esta cidade voltar a sua antiga glória, muitos lordes entraram em contato para terem prioridades em exportações internas e externas. Aposto também que o senhor entraria nessa fila.
— Então se permitirmos sua estadia provisória em nossa propriedade… — A mulher começa.
— Vocês irão priorizar as mercadorias da nossa cidade. — E o lorde termina.
— Exatamente! Nós precisamos de recursos e materiais, vocês precisam de mais riquezas para manter a qualidade de vida do seu povo. Perdoe minha animação, meu senhor, mas não acha essa proposta realmente incrível?
Um grande silêncio procedeu das minhas palavras. Sua secretária pela primeira vez em toda essa reunião, parou de teclar. Ambos se encaravam como se estivessem discutindo o que acabei de dizer, só que sem falar uma única palavra, era incrível.
— É, acho que lhe devo desculpas. Comparar vocês com um bando de ladrões foi uma ofensa grave. Eu aceito a sua proposta, Kazuhiro, espero que nossas cidades possam fazer muitas negociações futuras. — Ele estende a sua mão e sem remediar estendo a minha também. Um contrato, entre um lorde de um grande reino e um escravo fugitivo de outro mundo.
— Digo o mesmo, lorde Cristian. — Nossas mãos continuaram apertadas e quando a mulher, sua assiste, saiu, ele me puxou para mais perto e sussurrou:
— Eu sei que você é um portador… — Se soltou de mim e foi para o lado de fora. — Devo ir agora. Mandarei alguns dos meus subordinados para a parte burocrática do nosso acordo. Juro que não me esquecerei do seu nome, Kazuhiro.
❃❃❃
— E então?! Como conseguiu fazer com que as tropas se retirassem?! — Castle gritava animado.
— Você subornou eles? — perguntou Nozomi.
— Aposto que ameaçou com sua arma, né? — Kitsu sonolento, falava deitado no sofá.
Ao invés de responder às inúmeras perguntas, fui até a poltrona mais próxima e me joguei exausto. Por algum motivo, incorporei o negociador e isso me desgastou muito. Estava sentido que lutei uma batalha super difícil e nem mesmo me levantei daquela mesa.
— Eu consegui fazer um acordo e também resolvi o problema da falta de mercadorias. Até quero ter que explicar tudo, mas esse tempo que dormi não foi o suficiente, então vou voltar pro meu quarto. Daqui a pouco um mensageiro vai chegar com alguns papéis e vai responder todas essas perguntas.
Sem me importar com nada por causa do sono, me retirei do primeiro andar e voltei para o meu quarto. Todos que ficaram lá embaixo estavam querendo saber o que tinha acontecido, só que não estava nem um pouco afim de falar nada. Não sabia, mas o álcool ainda fazia muita influência em mim.
Quando o mensageiro chegou eu ainda estava dormindo, então todos os líderes tiveram que recebê-lo. Assinaram os papéis e entenderam a situação no qual se encontravam.
Podia ser um simples contrato de exportação, entretanto o Reino das Coroas inteiro alguma hora sentiria o peso deste acordo. Não que seja algo ruim, mas muitas coisas vão mudar por toda essa região. Como a cidade do lorde Cristian vai se beneficiar com tudo isso, o reino de Mists vai sofrer um grande golpe junto.
Agora que as exportações vão passar pela vila de Adão, os outros reinos não vão ter que pagar impostos caros para passar por Mists. Já que o posicionamento da cidade é perfeito para um centro comercial, todos os reinos vão se beneficiar de algum jeito, ao contrário de Mists.
Só que não devo me preocupar com isso agora. Quando as primeiras levas de mercadorias chegarem na cidade, tudo vai ser extremamente fácil, só vamos precisar de trabalhadores braçais e isso vai ser algo que irá chegar junto com todas as mercadorias.
Outras cidades também saberão o que está acontecendo e enviaram pessoas importantes para fazer negócios conosco. Tenho total certeza que seremos assunto de jornais no reino inteiro e com isso, os turistas irão chegar para ver a nova cidade de Adão.
Com isso, quase todos os nossos problemas estarão resolvidos. Teremos questões diplomáticas que podem durar meses, só que isso é algo que teremos que nos preocupar em um futuro muito longe. Se vossa majestade não tinha notado a queda de uma das suas cidades, não acho que vai perceber se fundarem uma nova.
É estranho pensar que um rei tem tanto poder, entretanto se não tiver informações, não pode fazer nada.
E então, tudo que planejei vai estar completo e vai faltar somente uma coisa que terei que resolver pessoalmente. Que vai ser criar um plano, para derrubar o lorde dessas terras. Provavelmente em algumas semanas, chegará em seus ouvidos boatos que a cidade está sendo reconstruída.
Quando ele pensar em trazer seus homens para nos enfrentar, já vai ser tarde demais. Quando isso acontecer, todos estarão finalmente livres de verdade e poderemos ir embora sem preocupações.