Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 5
Chegamos mais perto e vejo que Daisuke atrai muita atenção, Clara tinha razão, parece que ele é uma raça muito famosa, provavelmente vista só com nobres, e já que é uma vila tão pequena, ele será uma atração turística nunca vista e isso me preocupa.
— Garoto, agora que chegamos é melhor eu seguir viagem.
— Não! Moço entra, por favor, meus pais vão querer conhecê-lo. — O garoto segura minha blusa.
Eu hesito, mas quando vejo já estou na porta da casa do garoto.
“Droga, me deixei levar e agora posso estar em apuros” penso.
— Filho! — uma mulher sai da casa e pega o garoto no colo. — Onde você estava garoto!? Seus amigos chegaram todos assustados e preocupados dizendo que tinha caído, seu pai foi procurá-lo lá fora!
Um homem triste aparece e quando vê o garoto seu semblante muda e corre para perto da mulher.
— Oh meu filho! Eu procurei você por essa floresta inteira! — Ele o abraça junto com sua provável esposa.
Quando vejo, a aldeia inteira já está em volta da gente, às crianças já estavam penduradas no Daisuke, comecei a ficar desconfortável com aquela multidão que tento ir embora.
— Consegui voltar graças aquele moço ali.
“A garotinho miserável!” penso.
Fico paralisado com todos os olhares dos moradores e congelo, penso que agora me descobriram e verão que sou o fugitivo que supostamente matou a filha do general, só que levo um abraço dos pais do garoto.
— Obrigado! Não sei oque faria se perdesse meu filho!
— Eu não fiz nada de mais senhora…
— Por favor, fique essa noite em nossa casa, precisamos agradecer você de alguma forma. — O homem joga seus braços em meu ombro.
— Eu adoraria, mas realmente não posso ficar, estou com uma entrega que está atrasada e se não me apressar perderei meu cliente, somente o garoto bem para mim já é um pagamento.
— Entendo, negócios são negócios, não é mesmo?
— Obrigado moço. — O garoto abre um sorriso.
Eu o abraço e subo em cima do Daisuke, prometo que um dia voltarei aqui, olho em volta e vejo um aldeão que por um segundo parece ter me reconhecido, mas antes dele dizer uma palavra Daisuke já havia voado para longe e quando vejo já estou longe da aldeia.
Passam-se horas e escurece, encontro um acampamento público e decido ficar em um canto um pouco afastado, dou água e comida para Daisuke e logo me deito em seu pelo para comer algo, olho para o céu e percebo como é lindo sem a poluição luminosa que tem nas cidades, acabo apagando rapidamente e durmo pela primeira vez sem nenhum pesadelo em tempos.
Acordo cedo antes mesmo de o sol nascer, na masmorra nós acordamos horas antes, acabei ficando acostumado com a rotina e só acordo neste horário — apesar que dormir algumas horas a mais não seria um problema — Daisuke parece uma criança mimada não querendo acordar, mas com muita insistência consigo fazer ele ficar de pé.
Viajamos por horas e horas, eu e Daisuke estamos tão focados em chegar que não percebemos que nem tomamos café da manhã e quase perdemos o almoço, só me lembro quando sua barriga ronca parecendo um carro velho, nós paramos em uma árvore escondida e começamos a comer juntos.
Apesar de eu ser de uma família que foca muito em artes e criatividade, nunca tivemos um cachorro ou gato, não por um motivo específico, mas só porque ninguém nunca deu a ideia de nós termos um cachorro, e agora que estou todo esse tempo com Daisuke percebo o que eu perdi minha vida inteira, certamente se eu voltasse eu iria ter um amigo de quatro patas.
Escuto alguns cavalos se aproximando, olho em volta e não vejo nenhum lugar que dê para me esconder a tempo, chego a pensar que vou ser descoberto ali mesmo, e quando percebo estou no topo de uma árvore pendurado na boca de Daisuke, ele é mais ágil que eu.
— Aquele miserável já deve estar longe! — O capitão da espada de fogo joga uma taça no chão.
— Capitão se acalme, logo o encontraremos! — um escudeiro tenta acalmá-lo.
— Me acalmar? O general está furioso! Ele vai incinerar todas as tropas se não o acharmos logo!
Eu acho a cena engraçada o que me faz soltar uma pequena risada, o capitão escuta e fica furioso procurando quem riu dele, o barulho que ele faz deixa os pássaros loucos, e um bate na sacola de mantimentos e derruba uma maçã, que cai bem ao lado do capitão que, ele acha um pouco estranho e quando estava prestes a olhar para cima.
— Capitão! O escravo fugitivo foi visto em uma aldeia perto da ravina! — Um rapaz grita de cima de um cavalo.
— Rápido! Vamos partir agora mesmo! Não podemos perder essa chance!
O capitão pula em seu cavalo e sai rapidamente acompanhado das tropas.
Me sinto aliviado, mas esse sentimento é trocado por preocupação com os pais do garoto que espero não ter arranjado problemas.
Volto rapidamente para a estrada, é impressionante como Daisuke corre, não sei se ele conseguiria competir com os cavalos reais, mas com certeza que ele chega perto de se igualar.
Estamos chegando perto da cidade de Edward. Já estamos adentrando nas estradas ao lado das plantações gigantescas.
Escurece e o brilho da cidade de Edward ilumina o céu bem no horizonte, me lembro de quando viajava com meus pais e via os postes de luz ao longe, parecendo pequenas estrelas que estavam na terra.
Não tem como dar a volta na cidade, até penso em deixar Daisuke em um lugar escondido, mas ele me segue não importa o que eu diga, Clara não me falou que a proteção deles era exagerada desse jeito.
Vejo uma carroça comercial que está na fila para entrar na cidade.
Só que algo me chama atenção, está transportando vários animais e entre eles filhotes de lobos da terra, uma lâmpada se acende em minha cabeça, me aproximo com Daisuke e entro na carroça me escondendo atrás dele na esperança de não ser notado.
Chega nossa vez de passar pela verificação que está muito rigorosa, não querem que eu passe despercebido.
A verificação não durou muito tempo e em minutos já estávamos passando pelo portão, quase comemoro em silêncio até que escuto uma voz familiar.
— Esperem! — É a voz do capitão! — Recebemos informações que o escravo fugitivo está acompanhado de um lobo da terra!
Olho em todos os lugares procurando uma saída e não encontro nada, me armo rapidamente e dou o sinal para Daisuke ficar em modo de ataque.
— Abaixo! — Escuto um sussurro no ouvido.
Quando olho para baixo vejo um alçapão, o abro rapidamente e estamos bem em cima de um bueiro, fico impressionado e sem pensar duas vezes pulo no chão, uma força além do comum me faz abri-lo rapidamente e saltamos lá dentro, escuto os gritos do motorista sendo acusado de me encobrir, mas tenho que ignorá-lo senão serei pego em instantes.
Subo em Daisuke e adentramos na escuridão, o faro de Daisuke fica irritado por causa do cheiro forte, graças a ele ser um lobo de caça consegue enxergar perfeitamente no escuro, isso me dá segurança de que eu não estou indo para uma parede.
Depois de meia hora Daisuke para embaixo de uma escada e dá um pequeno latido como se estivesse sussurrando que era aqui que devíamos subir, confio nele, então subo, abro a tampa e saímos do bueiro.
Estamos fora da cidade, fico cada vez mais impressionado como Daisuke além de ser companheiro, é útil de várias maneiras, apesar de estar à noite ele não parece cansado então decidimos que deveríamos encontrar a vila de Semi-Humanos naquela noite mesmo, isso nos pouparia um dia de preocupação.
Nos afastamos e paramos para comer algo, os mantimentos já estão no final então se esta vila de semi-humanos não existir nós estaremos em apuros, entramos na floresta e sigo as instruções de Isao ao entrar, dou para Daisuke um pedaço de um galho para farejar, que é de uma árvore no centro da vila, Isao me disse que foi um presente do chefe da vila por ter salvo a vila de um ataque.
Vamos bem devagar para não causar nenhum barulho que assuste os animais desnecessariamente, eu e Daisuke passamos por um portal que parece uma membrana que esconde a vila, e pelo jeito o galho era a chave para entrar, consigo ver algumas luzes ao longe.
Alguém grita. — Agora! — e pulam em minhas costas — Invasores!
Um grupo de semi-humanos prendem eu e Daisuke com muita eficácia em segundos, antes que tampem minha boca consigo soltar poucas palavras.
— Não é oque pensam!
Somos carregados até o centro da vila, os olhares de medo e julgamento dos aldeões me deixam com um sentimento horrível como se eu fosse um escravo ainda e que nobres nojentos ainda me julgam por crimes que eu não cometi.
Os guardas que não tiram os olhos da gente, eles pareciam estar emanando uma aura de ódio por mim, eles cutucavam o Daisuke o que me deixou tão enfurecido que uma força fora do comum me fez estourar as cordas, o que não adiantou nada porque em segundos eu já estava amarrado novamente.
— Dobrem a guarda desse aqui! Ele parece ser muito forte. —
Ouço alguns comentarem que o chefe da vila estava chegando, mas que só chegaria de manhã por alguns motivos.
Não paro de me preocupar com o tempo, estava esperando que logo que chegasse falasse com o chefe e sem demoras enfrentaria o demônio, não posso nem formar um plano, pois não sei as habilidades nem o tamanho dele, esperava que o chefe me falasse, mas creio eu que não vai acontecer tão cedo.
Passo a noite no relento, por sorte não chove, tudo o que eu não preciso é ficar doente agora, antes mesmo do sol nascer acordo e os guardas parecem estátuas, não pregaram os olhos nem por um segundo a noite toda, e qualquer movimento que fazia era motivo para colar suas lanças em meu pescoço.
Escuto uma trombeta que provavelmente significa que o chefe da vila chegou, passa um movimento na minha frente e depois de horas de murmúrios o chefe vem ao meu encontro.
— Caçador, você está sendo acusado de invasão com intenções de provocar caos em nossa vila, agora como nossas leis dizem você será morto neste exato momento em público, por favor, diga suas últimas palavras.
Ele mesmo corta as cordas de minha boca.
Caço na cabeça qualquer palavra que possa me tirar dessa situação então grito. — O guerreiro barba branca!