Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 6
Todos ficam paralisados, o chefe da vila hesita um pouco e fala com alguns semi-humanos à sua volta, e logo me questiona.
— Onde escutou esse nome caçador?
— Ele me mandou! …disse para eu vir aqui e que vocês me ajudariam com uma coisa…
— Não é possível chefe, o guerreiro barba branca está morto! — Uma Semi-humana que provavelmente é a capitã surge da multidão.
— Ele está vivo! E me mandou para que eu matasse o demônio!
O povo começa a rir de mim, e bom, não posso nem questionar, afinal nem mesmo sei como irei fazer isso.
— O demônio!? Até parece que o barba branca mandaria um maltrapilho como você para matar a criatura!
— Silêncio! — O chefe interrompe as risadas. — Caçador, queria acreditar que barba branca vive, mas recebi informações que ele estava desaparecido, então não posso permitir que saia daqui com as informações que ganhou, então…
Ele dá a ordem para que os guardas cortem minha cabeça.
Em meio segundo repasso tudo o que aconteceu em minha vida, desde que cheguei a esse mundo, agora tudo que sentia era o medo, talvez toda essa viagem foi em vão, Imaginei o deus do tempo rindo de mim dizendo que eu deveria ter lhe dado ouvidos naquela noite, minha última lágrima cai no chão com toda a esperança que tinha em ser salvo.
— Parem! — Ao longe escuto uma voz familiar.
Ergo a cabeça com lágrimas nos olhos, vejo um semi-humano se aproximando do fundo da multidão, quando vem à frente finalmente consigo ver quem é, e é Kitsu! Ele parece ter me reconhecido no último segundo.
— Eu o conheço, ele é o homem que ajudei durante a fuga há alguns dias!
— Oh céus, Kitsu como é bom te ver.
— Você o conhece Kitsu? — o chefe pergunta.
— Conheço, ele foi meu parceiro de cela por muito tempo.
— Então porque ele veio com um lobo de caça? — questiona a guerreira.
— Não é um lobo que uso pra caça, é um amigo que eu gosto para companhia.
— Como Kitsu o conhece, podemos dar uma chance para ele. — diz o chefe e começam sussurros. — Silêncio! Já está tudo resolvido, soltem ele e seu animal.
Somos soltos e levados para um quarto para aguardarmos até a reunião com os anciões da vila.
O quarto é rústico, elegante, colorido e cheio de flores, Daisuke cheira tudo, parece ser muito curioso com tudo, escuto o barulho da porta se abrindo e por reflexo vou para perto de Daisuke.
— Calma ae ratinho, está achando que vou cortar seu rabo? — Kitsu ri.
— Olha quem fala, sua raposa miserável estou te devendo uma hein.
— Relaxa, você é meu amigo, não podia deixar ser morto bem na minha frente.
Kitsu encosta na parede.
— É bom saber que está vivo, mas afinal como foi que você chegou aqui?
— Se senta porque tem muita história.
Se passam uma hora e conto tudo o que aconteceu para Kitsu, é bom saber que ele conseguiu escapar das mãos do capitão, conto sobre meu encontro com o barba branca ou Isao, conto sobre Emi que é o motivo de eu estar aqui agora.
— Com toda certeza você é um imã de confusões cara.
Sinto que Kitsu está desconfortável, parece querer falar alguma coisa.
— Diga logo, sei que quer falar algo.
— Escuta, sei que sua amiga é importante, mas tem certeza que enfrentar um demônio resolveria seus problemas?
— É a única solução dos meus problemas, e bom… ele não é o problema principal.
— Você matou alguém! — Kitsu coloca sua mão na cabeça.
— O que!? Não! Tem… algo pior que um demônio querendo me matar… o deus do tempo.
— O que? Acho que alguém bateu a cabeça na queda.
— É sério cara, eu juro por tudo que ele tentou me matar! — Vendo meu tom sério se assusta.
— Você está falando seri…?
Somos interrompidos por alguém abrindo a porta.
— Os anciões e o chefe o receberão agora!
Levam Daisuke para os estábulos e somos acompanhados até um corredor longo e alto, chegamos em uma grande sala oval com pilares e uma luz amarela iluminando tudo, que provavelmente é o brilho do sol porque já é quase meio dia.
— Homem, você está sendo acusado de invasão, diga o seu nome e o que diz a respeito sobre a acusação? — fala um dos anciões.
— Sou Kazuhiro e primeiramente me desculpem por ter vindo sem ser anunciado, estava tão desesperado e com um tempo tão curto que acabei tomando uma atitude drástica.
“Da onde veio todo esse discurso Kazuhiro? Você sabe muito bem que quer chutar a bunda desse velhote por quase te matar” penso enquanto me curvo.
— É verdade que o guerreiro barba branca o mandou? — O mesmo pergunta.
— Sim, atualmente estou na casa de Isao o barba branca.
Alguns anciões começam a cochichar sobre o assunto, olho para Kitsu que apenas acena.
— Ainda a duvidas sobre o que diz, mas sua estadia em nossa vila é curta, certo?
— Sim, eu vim aqui em busca de uma informação e nada mais.
— Você sozinho, pretende enfrentar o demônio e a única coisa que pede é onde o encontrar? — O chefe olha os outros anciões. — Então não vejo motivo algum de negar essa informação, já que supostamente o próprio barba branca o mandou.
— Kitsu filho de Ambrose você assume a responsabilidade por todas as ações deste homem em nossa vila durante esse pouco período? — Outro ancião fala com Kitsu.
— Sim, senhor!
— Então Kazuhiro, humano estrangeiro, você está autorizado a ficar em nossa vila em seu pouco tempo de estadia, que os deuses o protejam.
“Não me joguem praga.” sussurro
Encerrado a reunião, sai junto ao resto dos anciões.
— Muito obrigado Kitsu e me desculpe os problemas.
— Não precisa se preocupar, sei que você não é uma pessoa ruim. —
— Senhores, tudo está pronto para a saída de vocês. — Um servo entra na sala.
— Vocês? — questiono.
— Não posso deixar um amigo ir enfrentar um demônio sozinho, não é mesmo?
— Mas nem pensar, posso estar caminhando para a morte e você sabe muito bem!
— Não adianta falar nada, você está sob meus cuidados e se eu digo que vou junto, eu vou!
— Kitsu! — Uma voz familiar
— Mais problemas?
— Eu não vou deixar meu irmão ir até o encontro de um demônio!
É a guarda que me acusou no centro da vila.
— Você não pode me impedir.
— A culpa é sua! — Seu olhar se encontra ao meu. — Se você não tivesse chegado Kitsu não teria essas ideias malucas!
Como se Kitsu já não fosse doido.
— Ei calma, também não sou a favor dele ir. —
Olho para trás e Kitsu ja fui embora junto ao servo.
— É melhor eu ir, não posso perder tempo.
— Ei não me deixe falando sozinha! — Já está falando sozinha, querida.
O servo me leva até os estábulos onde Daisuke está sendo preparado, vejo em seu rosto que parece agora um lobo esnobe da nobreza, e ao seu lado Kitsu que pelo visto não desistirá da maluca ideia de ir junto comigo.
— Você tem certeza?
— Toda. — responde Kitsu.
Montamos e partimos para o subsolo da aldeia onde o demônio vive, na porta da caverna somos parados.
— Espere, eu vou junto!
“Novamente a irmã de Kitsu, parece que ela não se cansa!”
— Não não não! Não quero que mais ninguém vá junto, já basta o teimoso de seu irmão.
— Nunca que eu deixaria meu irmão ir sozinho enfrentar aquele bicho!
— Acredite em mim Kazuhiro, não adianta tentar questionar, se eu pudesse não deixaria ela vir com a gente.
Kitsu direciona o cavalo para dentro e sua irmã vai atrás.
— Mas… mas… — Agora sou eu deixado falando sozinho.
A princípio só vejo escuridão, Kitsu ilumina com seu cajado, o mesmo que usou durante a luta contra o capitão, enquanto ilumina o caminho vejo que as paredes estão cheias de escrituras antigas em uma língua que eu não conheço, e tem alguns desenhos que mostram os últimos guerreiros que tentaram enfrentar a besta. Não parece que alguém voltou.
Também vejo esqueletos de humanos, semi-humanos, ogros e provavelmente élfos, não conseguiram nem sair da caverna por causa de suas feridas, também a ferramentas, escudos, armaduras.
Penso que é melhor pegar algo para atacar, quase me esqueço que ia atacar ele só com minhas incríveis mãos.
— Acho melhor eu arranjar algo para atacar né?
— Espera um pouco, você ia atacá-lo sem nenhuma proteção ou arma? — Aceno com a cabeça. — Você por acaso tem algum plano?
— Eu? Ah vou lá matar o bicho, pegar a arma e vazo.
A última esperança em seus olhos se esvaem enquanto cai do cavalo.
— Não se preocupe, eu trouxe uma coisa que pode ser útil.
Kitsu retira um pacote da mochila do cavalo.
— Essa aqui é uma espada que foi usada pelo nosso tataravô durante uma batalha contra o rei.
— Kitsu, você não ouse entregar nossa herança para um estrangeiro!
— Ela seria minha mesmo, afinal sou o herdeiro da família, e bom, nunca me apeguei a essas coisas, e acho que ela seria mais útil aqui que em um suporte envelhecendo na parede.
— Faça o que quiser…
— Kitsu, olha o tanto de coisa que você fez por mim, se eu aceitasse usar esta espada não seria justo.
— Kazuhiro, sinceramente eu não acho que vou voltar para casa, e prefiro morrer aqui do que morrer nas mãos dos guardas reais.
Coloca a espada em meu peito e segue adiante.
Fico enfurecido e o seguro pelo braço. — Escuta aqui! Você vai voltar, não vou deixar ninguém morrer aqui! Enquanto aos guardas, nós vemos isso depois, quando voltarmos!
Todos ficamos em silêncio, o que Kitsu disse deixou sua irmã um tanto quieta e eu furioso, subo em Daisuke e voltamos a caminhar pelo túnel, os cavalos de Kitsu e de sua irmã começam a negar ir adiante, Daisuke apesar de estar com medo insiste em ir junto.
— Devemos estar perto, é melhor deixar os cavalos aqui senão eles vão pirar — falo.
— Sim, só vão nos atrapalhar se forem adiante conosco. — fala a irmã de Kitsu.
— Não sei o que, mas algo me diz que o que vamos enfrentar é algo grande, algo muito grande. — Kitsu abaixa o rabo.
— Então vamos logo porque o que está lá não ficará vivo por muito tempo.
Digo isso só para dar confiança em Kitsu, mas sei que o que vamos enfrentar tem mais chance de nós matar do que matarmos ela.