Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 7
Desço de Daisuke para acompanhar o passo dos dois. Chegamos a uma longa ponte que está em ruínas, o precipício que está abaixo de nossos pés é amedrontador. — Achamos melhor ficar em silêncio, o lugar está a um fio de desabar. — A ponte conecta as paredes de uma enorme ravina, as pedras que revestem as paredes deixam uma cor azulada em tudo, parece que estamos em um pico congelado com paredes de gelo enormes que vão do céu ao sem fim.
Chegamos a uma escada que desce cada vez mais fundo na caverna. Suas paredes são lisas e sem nenhuma rasura, provavelmente porque todos temem descer até aqui. O lugar é muito espaçoso, com facilidade caberiam várias tropas do exército. Sinto uma presença avassaladora e quando olho para Kitsu e sua irmã percebo que os dois parecem sentir ela mais forte que eu.
— Está tudo bem? — pergunto.
— N-Nada que eu não aguentaria. — Kitsu treme.
— Tudo c-certo. — Ela me responde.
“Acho que uma conversa ajudaria a acalmar os nervos.” penso enquanto passo os dedos nas paredes lisas — Então irmã do Kitsu, tem algum nome?
— Nozomi.
Sua resposta é tão seca que me questiono se deveria continuar a conversa.
— Então Nozomi, há quanto tempo trabalha como guerreira da vila?
— Curioso você hein. — Kitsu cutaca seu braço e olha pra ela com um olhar de: “Para de ser chata”. — Entrei aos doze anos, um ano depois de Kitsu, e você? Da onde saiu afinal?
Sinto um leve aperto e olho para Kitsu. — Não sou de lugar nenhum, não tenho família, bens e nem cidade natal sou literalmente ninguém. O único fato que me faz conhecido pelo reino é que sou o mais procurado.
Avanço o passo para frente dos dois. Percebo que a ideia de conversar não foi uma das melhores, só me deixou triste com o fato de eu estar completamente sozinho em outro mundo.
— Olha ali. — Kitsu aponta com seu cajado.
Uma porta grande em forma de portal, com escrituras em suas bordas.
— Acho que é aqui onde o problema começa. — Seguro firme a espada.
— Não, o problema começou quando eu disse: “Sou kitsu, estou aqui há três meses, mas não pretendo ficar muito tempo”
— Deve ser por aí mesmo. — nós dois rimos e eu me viro para eles. — Quando entrarmos nesta sala, ou sairemos vitoriosos e com uma arma sagrada, ou simplesmente não sairemos. Vou perguntar pela última vez, vocês tem certeza? — Os dois acenam com a cabeça.
Chegando bem perto a porta se abre, ficamos a encarando por um tempo olhando para dentro. Quando entramos ao mesmo tempo, a porta se fecha automaticamente atrás de nós, se alguém estivesse para trás seria esmagado sem dó nem piedade.
Sem demora tudo começa a tremer, estamos dentro de uma caverna gigantesca que tem pelo menos 100 metros de altura,ruínas antigas por todos os lados junto com milhares de milhares de ossos. Consigo sentir a angústia de quem morreu aqui clamando para ir embora.
Pedras caem por todos os lados. A dificuldade em desviar é muito grande, uma armadilha só de entrar lá dentro. Com tanta poeira não enxergo nada, até ver uma mancha branca bem longe, logo percebo que aquela mancha está se mexendo e que está crescendo mais e mais até estar com 30 metros de altura.
— Subam no Daisuke rápido! — grito em panico.
Daisuke corre com agilidade desviando das pedras completamente assustado, mas mantendo a cabeça no lugar buscando um lugar onde não caia tantas pedras. Escutamos um rugido de ensurdecer os ouvidos, a poeira que impedia agente de enxergar qualquer coisa some em segundos somente com o vento do rugido libertando finalmente a visão do demônio dos deuses…
Um dragão! Tinha que ser um dragão, não tinha como não ser né? De todas as monstruosas criaturas que conheço tinha que ser a pior de todas. As que são conhecidas por matar milhões, não, bilhões! De pessoas nas histórias e livros, o responsável por dizimar cidades e reinos!
— Se preparem que esse vai ser difícil! — grito.
— Pelos deuses! Ele é gigantesco! — grita Kitsu.
— O que faremos!? — pergunta Nozomi.
— Primeiro vamos nos esconder! — respondo.
Daisuke entra em um buraco no chão, o dragão está furioso destruindo todas as ruínas e não parando de rugir em nenhum momento. É um verdadeiro demônio.
De onde estamos consigo ver ele perfeitamente. Olhos azuis com ódio emanado deles, uma pele branca e dourada cheia de cicatrizes intermináveis e garras que se tocassem no chão fariam buracos de metros.
Percebo que Daisuke não pode mais fazer nada, está encolhido perto de mim e está se negando a se mexer novamente. Kitsu também está apavorado juntamente com sua irmã, repito na cabeça que devia ter amarrado os dois na porta da caverna para que não passassem por isso.
Quando finalmente venço o medo de estar sendo caçado por aquilo, procuro uma solução, tendo ideias em minha cabeça e todas dão em morte certa. Quando observo o dragão pela última vez vejo que atrás dele existe uma escada e no fim dela tem um brilho dourado, entre todas as coisas que eu penso lembro do óbvio motivo de eu estar aqui, a arma sagrada! É tão óbvio que ela estaria atrás do dragão, ali é o lugar que mais faz sentido estar, pensei que teria que matar o dragão, mas se eu pegar a arma talvez consiga sair sem enfrentar aquilo.
— Escutem, formulei um plano que pode dar certo. — Seguro firmemente a espada enquanto os encaro.
— Como assim? Você acha que temos chance contra aquilo?! — Nozomi grita. “Parece que a guerreira destemida tem seus pontos fracos.” penso.
— Não, por isso não vamos enfrentá-la. Nosso objetivo é a arma sagrada então o que faremos é pegá-la e nada mais.
Kitsu parece entender o que tenho um mente, já sua irmã está muito confusa, explico o plano que é:
— Vocês três atrairão ele para aquele anel ali, ele provavelmente ficará preso com a cabeça o impedindo por alguns minutos que serão essenciais. Enquanto isso tentarei pegar a arma sagrada, depois damos o fora daqui.
— Como iremos sair daqui? — pergunta Nozomi.
— Uma arma sagrada tem um poder avassalador certo? Não será difícil para ela destruir aquela porta de pedra que se fechou.
— Parece que é nossa única solução. — diz Kitsu.
— Todos estão de acordo?
— Vamos! — Kitsu segura firme seu cajado.
— Não temos outra opção. — Nozomi pega sua lança.
— Daisuke, preciso de você agora, consegue fazer um esforço? — Daisuke se levanta e me lambe no rosto. — Obrigado rapaz.
Nozomi e Kitsu sobem em cima de Daisuke e se preparam. Olho uma última vez para o dragão que está nos caçando como um gato atrás de um bando de ratos, ele por algum motivo não sair do círculo que está ao seus pés. Crio coragem e falo em silêncio para nós:
— Um… dois… três!
Os três correm e eu vou para o lado oposto à direita.
Correndo o mais rápido que posso com a espada em mãos, pulo entre ruínas, buracos e ossos, apesar de no meu mundo eu ficar só em casa e não fazer exercício algum, nos últimos meses treinei muito na pedreira carregando milhares de pedras para capital, talvez ser escravo tenha seus benefícios.
Até eu conseguir chegar às escadas vão ser pelo menos dez minutos, com sorte o plano vai ser um sucesso. Me arrisquei muito colocando os três para servirem de isca, mas era a única solução que eu consegui pensar neste pouco tempo, então se não der certo vai ser um problema.
“Agora o dragão está cuspindo raios, um dragão que cospe raios não é adorável?”
O dragão mudou a forma que atacava, ele ergueu sua cabeça e começou a rugir muito alto, aumentou em pelo menos cinquenta por cento a força de seu rugido, isso está me deixado muito tonto, mal consigo andar direito.
Imagino o que os três estão sofrendo, pois seus sentidos são muito melhores que os meus. Os olhos do dragão começam a brilhar e seu rugido continua a aumentar e quando percebo já estou caído no chão tentando me levantar. Olho em volta e vejo ossos se amontoando e quando percebo já viraram esqueletos completos.
Consigo me levantar com muito esforço, o dragão ficou paralisado depois de reviver os esqueletos, virou uma estátua que parece nem respirar. Os esqueletos apesar de serem muitos, é fácil derrubá-los, são desorientados e não tem organização alguma, e em quantidade pequena eles não podem nós vencer. O foco dos esqueletos está nos três, parecem não estar com problemas, Kitsu usa muito bem magia de fogo, e sua irmã mesmo com o rugido consegue se manter em pé e lutar firmemente, talvez ela seja realmente um guerreira, e Daisuke que derruba vários esqueletos de uma vez.
Já que eu nunca usei uma espada achei que não me daria bem com a herança de Kitsu, mas é leve e fácil de usar, é tão afiada que consigo cortar até os ossos com facilidade.
Eles começam a se amontoar um subindo no outro para dar mais forças aos ataques, e um golem feito de ossos com uma armadura de escudos surge bem na minha frente.
Os outros esqueletos do corpo parecem não se mexer, só a cabeça que ainda tem sentidos de detecção, então supondo que a cabeça lidera o restante do corpo, com um golpe talvez consiga desmontá-lo. O problema é que além do golem tem os esqueletos que são alguns incômodos desnecessários, havia três golens com o pessoal, mas parecem ter conseguido vencer eles facilmente.
Os três conseguiram vencer todas as tropas e o dragão voltou a se mexer. Depois de um esforço, venço o golem e continuo a correr derrubando todos os esqueletos no caminho.
Kitsu lança bolas de fogo no dragão para atraí-lo, e ele cai na isca perfeitamente, então vai atrás deles. Já estou perto da escada só espero o dragão pegar uma distância para poder subir.
Quando finalmente sai do círculo eu avanço sem pensar duas vezes, subo a escada — que é a maior escada que eu já vi na minha vida —, vai demorar muito até eu chegar lá, um tempo que provavelmente eu não tenho, subo o mais rápido que posso, não tem nenhum esqueleto então fica fácil subir sem essa preocupação.
Quando estou bem no meio da escada decido olhar o que está acontecendo. Estão quase chegando no anel, e o pior acontece, o dragão percebe que foi enganado e atraído para uma armadilha, volta furioso ao meu encontro que estou subindo desesperadamente.
Kitsu joga uma bola de fogo e o anel cai, mas prende somente a cauda, e não dura por muitos segundos, pedras são lançadas nos três, Daisuke tenta desviar de todas, so que acaba sendo atingido com tanta força que os lança para muito longe.
— Não! Seu demônio desgraçado!
Meu tempo acabou, estou a provavelmente alguns metros da arma sagrada, o dragão está bem na minha frente em pé com as patas traseiras, parece estar aproveitando o momento, afinal não é todo dia que ele enfrenta humanos atrevidos ao ponto de tentar enganá-lo. Acho que consigo o ver sorrindo, mas provavelmente é coisa da minha cabeça, ele ergue sua pata e faz questão de aproveitar o momento e em um golpe rápido me acerta em cheio.
“Eu vou morrer agora? Depois de tudo? Não! Isso não pode acabar aqui, eu virei escravo, apanhem todos os dias, eu fugi, fui machucado, acusado de crimes que eu não cometi, Emi está morrendo pouco a pouco, deixei meus amigos sofrerem por um erro meu e ainda preciso acabar com o deus do tempo! Eu não vou morrer aqui, eu não posso morrer aqui!”
Uma força absurda além dos meus limites me faz segurar a pata dragão, a ergo com toda força que meus ossos, nervos e músculos parecem estar estourando por completo, a dor que sinto é tão inimaginável que chego a desejar chicoteadas. Sinto que meu corpo está derretendo, minha pele parece estar se desintegrando diante dos meus olhos, e quando percebo lancei o dragão para longe.
O dragão que se desequilibra ao ser empurrado bate a cabeça em rochas ficando inconsciente por tempo suficiente. Termino de subir as escadas e finalmente a vejo, a arma sagrada, é um machado de dois gumes dourados e brilhantes, seu cabo é feito de uma madeira marrom brilhante e na sua ponta parece ser uma lança enquanto na outra tem uma pedra azul que reflete uma pequena fresta de brilho do sol.
Me aproximo dela cambaleando sem conseguir me manter em pé, finalmente está na minha frente, a majestosa arma que pode salvar Emi e que tem um poder inimaginável, quando finalmente ergo minha mão para pegá-la sou atingido e lançado para uma parede à minha esquerda.
— Humano imprestável, acha mesmo que podes contra mim? — fala o dragão.
Sacudindo a poeira de sua cabeça permanece em pé.
— Eu… eu…
Devagar me levanto e caminho olhando para baixo.
Sou atingido novamente e sinto meus ossos se quebrando. — Ainda insiste? Não adianta, você não tem poder suficiente, devo admitir que sua força é impressionante, mas não o suficiente.
“Ele tem razão, eu sou um humano, é muita audácia eu pensar que poderia matar um dragão, melhor eu morrer aqui…” Meu corpo parece estar se desligando como uma maquina dando defeito. Permaneço parado por instantes até escutar uma voz:
— Achei que fosse melhor que isso, fez tudo em vão? Que pena, achei que seria um bom portador
A voz me desafiando me fez por algum motivo ganhar energia e com essa força. — Não posso… não posso…
— Diga!
— Não posso morrer aqui!
Meus pés me lançam tão rápido em direção à arma que o dragão não consegue me acompanhar, quando seus olhos me acham novamente, já estou com a arma em mãos, e isso faz um choque forte percorrer meu corpo me fazendo perder a consciência.