Perseguidos Pelo Tempo - Capítulo 8
— Então você é o novo portador? — Uma voz. Estou num lugar escuro, parece uma sala sem fim, sinto que estou em cima de uma enorme poça d’água que não me molha.
Quando ele fala sinto que já ouvi essa voz antes. — Você é a voz que me orienta quando estou em apuros?
— Apenas queria ver o quanto você duraria se não fosse pego, e pelo jeito já está aos cacos.
— É, não estou nos meus melhores dias. Suponho que não será fácil ser o novo portador.
— Exatamente, tenho que confirmar se você é digno de ser um. — Uma espada de ferro mais velha que Deus e o mundo se materializa em minhas mãos.
— O que farei com isso? — A ergo e passo meus dedos em sua lâmina que está quase cega.
— Lutar óbvio, essa espada foi usada por todos os antigos que tentaram me usar. — Esqueletos aos montes se materializam, são diferentes dos que eu já enfrentei, eles usam armaduras perfeitas, são organizados como um exército e em quantidade são milhares.
— Isso não é meio injusto?
— Você está sendo caçado pelo rei e o Deus do tempo, esses esqueletos deviam ser brincadeira de criança. — Os esqueletos começam a atacar.
— Eu não disse que seria difícil.
Com uma dificuldade inimaginável tento lutar contra os esqueletos, me derrubam várias e várias vezes, aquela força que me ajuda nos momentos de dificuldade não vem em nenhum momento. Me arranham com as espadas, claro que essa dor não se compara a de minha pele ser pulverizada diante dos meus olhos, e aposto que esses arranhões não ficaram no meu corpo quando voltar.
Dízimo boa parte do exército, mas ao diminuir seus números eles se amontoam e viram golens fortes e mais compactos, toda vez que me aproximo eles me fazem recuar com golpes muito fortes. Tento de todas as formas atacá-los, só que sempre estão um passo à frente, além dos esqueletos que não se juntaram que continuam a me atacar. Decido fazer um movimento arriscado de tentar fazer eles baterem um no outro e dá certo, apesar de serem fortes não são tão ágeis, como pensava, eles acertam um ao outro e desmontam.
Finalmente termino a luta, sinto que estou ali há horas, estou me sentindo muito desgastado mentalmente com a luta contra o dragão, o que me deixa meio tonto e com movimentos desorientados.
— Parabéns, você lutou como um verdadeiro guerreiro, mas ainda precisa passar pelo último teste.
— Ainda tem mais?
— Você não pode ser portador de uma arma que você não pode vencer, então… — Um minotauro gigantesco com uma armadura dourada se materializa bem na minha frente, com a arma sagra aumentada em suas mãos. — Você terá que me vencer!
Ele me ataca instantaneamente com a arma bem em cima de mim e por centímetros ela não me acerta, corro em círculos para ver se consigo tempo para pensar, mas ele não me permite descansar nem por um segundo. Me ataca de todos os lados, por cima, pelos lados, com as mãos e pés e sempre caçoando das minhas fraquezas dizendo o que deveria ter feito em tal situação. Dizendo que eu estar aqui foi desperdício de tempo, que eu não tenho força para enfrentar ele, as mesmas coisas que o dragão disse.
Penso na possibilidade de que se eu não o vencer morrerei na vida real, não só pelo fato de que tem um dragão de mais de trinta metros lá fora me esperando, mas também porque uma arma sagrada é forjada pelos deuses então seu poder absurdo não pode ser portado por qualquer um.
Estou cansado, não quero mais lutar e ele não se cansa de jeito nenhum. Quando terminar aqui o lavarei com a urina do Daisuke. Sem querer ele decide me dar meio segundo de descanso e com isso penso em uma possibilidade em muitas.
Avanço para cima do minotauro e desvio de seu primeiro ataque, finco minha espada em sua mão e ele por reflexo acaba soltando a arma sagrada.
— Já que serei o novo portador é melhor que eu fique com isso não é?
Uso toda força que me resta para levantar a aumentada arma sagrada e em um simples ataque corto o minotauro no meio…
Apos o corte ele começa a desaparecer lentamente como se tivesse sendo apagado. — Finalmente… alguém que tenha a força necessária para ser meu portador, você merece. — Um enorme clarão me cega.
Acordo no mesmo instante em que parei, estou com a arma sagrada em mãos, minhas dores sumiram completamente, as feridas estão abertas, sinto que uma energia percorre meu corpo, sinto que estou mais rápido, meus reflexos estão mais afiados do que nunca, todos os meu sentidos aguçados ao máximo.
— O que adianta estar com uma arma em mãos?! Sou eu quem a protege, ela não pode me ferir! — berra o dragão.
— É isso que vamos ver!
Meus movimentos ficam tão rápidos que é impossível alguém me ver a olho nu, corto o dragão de todas as formas possíveis, escalo seu corpo e lhe faço feridas enormes e ainda consigo derrubá-lo. Cheguei a conseguir encará-lo por alguns segundos, ele enfurecido solta um rugido mais estrondoso que todos os outros, vejo golens se amontoando formando um gigantesco esqueleto enorme com uma espada gigantesca. Tenta me atacar, mas em segundos já estou quebrando suas pernas e o destruindo por dentro com buraco bem no meio de sua cabeça.
“Acabou? Eu consegui? Finalmente vou poder voltar e curar Emi?”, penso, mas minha felicidade não dura muito tempo,olho para cima e vejo o deus do tempo, um desespero momentâneo me afeta, olho em todas as direções esperando algo me atacar. Quando ele vira sua ampulheta, as feridas do dragão se curam em segundos.
A criatura gigantesca se levanta novamente. — Perfeito! Os deuses me abençoaram com forças para te matar. — Sua gargalhada muito alto me ensurdece.
— Mestre seu tempo está acabando! — Escuto uma voz na minha cabeça.
— O que?! Tem tempo limite?
— Por enquanto você só pode usar 5 minutos do meu poder por dia.
— É sério isso!? O que eu faço agora? — pergunto sem resposta. — Você só pode estar de brincadeira, hein!
— Kazuhiro! Se prepara! — Olho e vejo Kitsu caído no chão formando uma enorme bola de fogo em nossa direção.
Por algum motivo naquela hora me lembrei de uma história que eu li sobre dragões temerem ser cegos, por ser uma vergonha para sua espécie.
— Mire nos olhos!
Kitsu lança a bola de fogo e desmaia logo em seguida, o dragão é atingido em cheio nos olhos e recua. Um par de asas brancas saem de minhas costas, voo até o teto derrubando milhares de pedras em seu corpo, elas prendem seus braços e pernas. Quando fui dar o golpe final, um par de enormes asas se abrem de suas costas e ele começa a voar me encarando.
— Mestre 1 e 30 segundos!
— Eu já sei! — Voo em direção ao dragão que também vem ao meu encontro.
Ele começa a lançar raios em mim que tento desviar de todos, mas alguns acabam me acertando, a arma consegue me proteger do efeito deles a maioria das vezes, só que alguns me fazem perder a consciência por alguns milésimos. Tentando me acertar com sua pata, consigo desviar, finalmente vejo uma abertura e nela arranco suas asas. Quase inconsciente cai no chão de cabeça deixando seus ponto fracos à mostra, uma pedra azul em sua nuca, e sem pensar duas vez lancei a arma sagrada e quebro a pedra em dois, seu corpo agora sem vida cai no chão e vira pedra instantaneamente.
— Mal…dito… — O dragão se torna pedra instantaneamente, suas últimas palavras ecoam de seu corpo sem vida para a grande e majestosa caverna.
Fico alguns minutos processando o que aconteceu na última hora, o tempo de uso da arma acaba, as asas brancas somem e eu caio no chão ao lado da arma e as cinzas do dragão. Me levanto com as pernas se negando e me apoiando na arma.
Vou em direção ao pessoal que estão desmaiados. Demoro meia hora até chegar lá porque estou completamente exausto, talvez nem seja mais eu que esteja me movimentando, talvez só seja o reflexo dos músculos, porque sinceramente, eu desmaie no instante que o poder da arma acabou. Chego finalmente perto dos três e com certeza eles estão feridos, so que não chegam nem perto do meu ponto.
— Kitsu acorda ae. — Kitsu leva um susto a me ver. — O que foi ratinho, está com medo de cortarem seu rabo? — O ajudo a se levantar.
— Nessa você me pegou. — Ele tosse um pouco de sangue.
— Daisuke, está bem? — Recebo uma lambida no meu rosto e parece que ele consegue ficar de pé com dificuldade.
— Ei Nozomi consegue ficar de pé? — pergunto e não recebo resposta. — Kitsu acho que ela não vai acordar, é melhor eu carregá-la. — Kitsu confirma com a cabeça.
Pego Nozomi e ponho a arma na mochila de Daisuke, andamos lentamente até a porta de pedra que tinha se fechado, que agora está aberta, acho que precisamos mesmo matar o dragão para podermos sair. Dou uma última olhada na fantasticamente gigantesca caverna, e vejo os últimos resquícios do dragão desaparecendo pouco a pouco.
“Um ponto pra mim deus do tempo” penso e sorrio.
Um vento forte vindo da caverna bate em meu rosto com as palavras: — É o que pensa.
— Mestre tenho que lhe avisar sobre uma coisa.
— Diga.
— Toda arma sagrada são conectadas uma nas outras, quando um demônio dos deuses morre todas sabem, então comunicam a seus portadores.
— Isso é um problema?
— Já que consigo ter acesso às suas memórias sei tudo sobre você, e durante uma de suas batalhas reconheci uma arma sagrada nas mãos do capitão da guarda.
— Então o capitão sabe que agora tenho poder para enfrentá-lo?
— Não, ele não sabe onde está nem quem é o portador, mas à armas que possuem habilidades de encontrar outras.
— Você possui essa habilidade?
— Talvez… não posso lhe dar essa informação.
— Como assim? Eu não sou seu mestre? Não deveria me dar todas as informações?
— Quando recebo um novo portador algumas habilidades são bloqueadas até que você fique forte o suficiente para usá-las.
Ainda andando suspiro. — Ok, isso é tudo?
— Sim, mestre.
Provavelmente o rei tem uma força especial só com portadores, enfrentar um portador é um problema que prefiro evitar, não sei o que pode sair de uma luta com tamanho poder.
— O que aconteceu depois que desmaiei? — pergunta Kitsu. Acabamos de terminar de subir as escadas.
— Meu amigo, nós vamos precisar se sentar por horas para eu explicar tudo o que aconteceu. — Olho para uma espada no chão e me lembro: — Kitsu me desculpa, acho que no meio da luta acabei perdendo sua espada.
— Eu já sabia que isso poderia acontecer, e agora poderemos entrar na caverna sempre porque não tem mais demônio.
— É verdade né.
Depois de caminharmos por um bom tempo em nossa velocidade, finalmente começamos a ver o brilho da saída e sem perceber meus olhos enchem de lágrimas.
— O…que aconteceu? — Nozomi pergunta acordando lentamente.
— Seu príncipe encantando lhe salvou minha donzela — eu brinco e dou risada
— Sai fora! — Se balança e me derruba junto com ela.
— Caraca, precisava disso?
— Espera, cadê o dragão!?
— O próprio o matou.
— Você? Nem em um milhão de anos.
— Nozomi pode acreditar ele o matou mesmo. — kitsu me defende.
— Se não quiser acreditar tudo bem, mas levanta logo porque vou ter que partir logo.
— Opa opa, como assim? Se partir vai morrer na primeira curva. — Kitsu me segura.
— Você sabe que não posso ficar.
— Eu acho que é melhor você descansar para que amanhã você e Daisuke cheguem em segurança e com força. — Olho para Daisuke que está muito cansado e mancando.
— Tudo bem… mas amanhã bem cedo vamos partir.
Quando saímos tem uma mulher dormindo bem ao lado de um gongo. Esse gongo é para quando guerreiros que vão enfrentar demônios, quando saem eles o tocam para avisar à vila que os heróis voltaram, como nunca houve um vitorioso que saiu da caverna a mulher nem se preocupou em ficar acordada.
— Ei moça, você não tem que tocar isso aí? — pergunto em alta voz e a mulher acorda assustada, fica completamente chocada em nos ver, provavelmente pelo nosso estado.
Ela toca três vezes e em minutos a vila inteira está na porta da caverna, nós quatro desmaiamos sem conseguir responder as milhares de perguntas de como conseguimos sobreviver ou como era o demônio.