Projeto Karma - Capítulo 0
Segredos Além do Túmulo
Era uma sala bastante ampla, o piso era de compensado bege claro, havia luz externa das janelas. Mesas brancas e cadeiras da mesma cor, eram ocupadas por uma variedade de pessoas com roupas sociais.
Acima das mesas, tabuleiros cheios de peças de xadrez, os relógios de tempo e sons de peças se movendo, dominavam o local. Ao longe era possível ver fiscais rondando as mesas.
Alguns jovens pareciam estarem pressionados pelos seus adversários ou pelo tempo restante de jogo. Outros soando pelo calor do dia, porém uma mesa parecia estar chegando em seu gran finale.
— Cheque! — Movi a rainha branca na horizontal do rei negro.
— Desisto. — Suspirou o oponente.
— Você poderia ter protelado a perda do rei. — Estendi a mão para ele.
— Evitar uma perda, não mudaria o quadro final. — Ele olhou o tabuleiro. — Mesmo que evitasse a perda do rei, você atacaria com um duplo de bispo e torre em três ou quatro rodadas. — Ele soltou a minha mão e se afastou.
— Você é um bom oponente… — Comentei baixo enquanto me afastava da mesa do campeonato.
Era o fim das partidas naquele dia, meu ranking mundial era algo entre dois mil e cem. Meu objetivo era o candidato a mestre fide, mais conhecido como CM, minha pontuação ainda estava longe de alcançar os dois mil e duzentos para o cargo.
Me retirei do local, peguei um Uber para o aeroporto mais próximo. Alguns diziam que meu sonho de ser um enxadrista profissional era um sonho irrealista, talvez fosse possível e tivesse nascido no continente europeu.
Era isso que ouvia dos meus pais diariamente, quando eles não estavam brigando, é claro. Olhei pela janela do veículo, a cidade passava sobre meus olhos, relaxei no banco do veículo.
Levaria trinta minutos para chegar ao aeroporto da cidade, soltei o primeiro botão da camisa branca e social que estava vestindo. Minhas costas estavam tensas e minha cabeça dolorida, pela noite mal dormida.
Os sapatos sociais pretos estavam esquentando a solo do pé. As calças jeans pretas eram as minhas favoritas. Elas estavam ficando velhas, tenho que comprar novas.
Olhei o retrovisor para arrumar os cabelos negros e lisos desarrumados e limpar meus olhos negros. Hoje não consegui nem tomar o café matinal de tão atrasado.
— Tenho que visitar meu avô — Comentei baixo enquanto desviava meu olhar para o celular.
Olhei a mensagem, quando uma delas me chamou atenção. Toquei na tela e ela estendeu o texto completamente.
“Maron, se está lendo esse e-mail provavelmente, tenha sido o advogado que contratei que lhe enviou. Se esse for o caso eu morri, espero que você não se emocione, afinal um velho morrer é completamente natural.
Como deve saber, seus pais e eu nunca fomos muito próximos, ainda mais depois da morte de sua avó. Um dos motivos de me mudar para o interior, foi me afastar deles e das lembranças que a antiga casa na cidade me trazia de sua avó.
Talvez ninguém da família saiba, mas durante grande parte da vida fiz investimentos seguros. A quantia inicialmente não era grande, porém com o passar dos anos os juros compostos fizeram um excelente trabalho de rendimento.
Além disso, eu estou lhe deixando a casa onde vivo e o dinheiro dos investimentos citados como uma herança para você. Não por ser meu único neto, mas principalmente pelos anos que passou comigo.
Sei que deseja me visitar a alguns anos, desde que atingiu a maioridade. Porém você parece bastante ocupado com seu sonho de se tornar enxadrista profissional, nesses últimos anos.
Espero que a quantia que lhe deixei possa facilitar que esse sonho se torne realidade. Sobre a casa, eu sei e você sabe que nem um de nós gosta realmente dos seus pais, então pense nela como um refúgio.
~Com grande carinho Agrippa”
— Avô. — As lágrimas desciam dos meus olhos e caiam sobre as calças jeans.
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Algumas semanas antes…
Era um cômodo simples, havia uma mesa de mogno próximo da janela de tom de madeira clara. Um senhor careca com uma barba mediana, sua pele bronzeada, tinha marcas de som. Sua roupa era branca e vestia calças cinzas com sapatos sociais pretos.
O piso de madeira ficava ainda mais belo com o sol da manhã. Em um dos cantos do cômodo, havia uma prateleira de livro. Ao longe próximo de uma cortina fechada, um contorno feminino ali estava.
— Você acha que ele conseguirá completar seu plano? — Uma voz feminina vinha do fundo do cômodo.
— Ele é meu neto… todos nós pensamos que nossos descendentes conseguem completar nossos projetos. — O velho riu
— Aquele lugar pode mudar qualquer pessoa, você sabe disso tanto quanto eu. — Ela parecia aflita.
— Cabe a você ajudá-lo, afinal esse é nosso acordo. — O senhor olhou em direção a janela.
— Tentarei o meu melhor para protegê-lo. — Ela apertou as mãos com força.
— Eu posso confiar apenas em você, para ele conseguir deter “aquilo”. — O senhor suspirou.
— Você realmente vai se sacrificar dessa forma? — Ela ainda parecia incrédula.
— É a única maneira, não temos mais tempo… — Ele tocou a mesa de mogno. — Ele não é o único que receberá uma herança, você também. — Ele se virou e olhou para a voz.
— Isso não era o que tínhamos planejado. — Ela estava alarmada com a surpresa.
— Deter “aquilo” é mais importante do que ajudar meu neto. Nós sabemos qual será o resultado caso nós falhamos. — Ele retirou duas cartas negras da mesa.
— Não posso aceitar, elas são importantes demais para você. — Ela empurrou as cartas de volta.
— Fique, pense nisso como uma compensação pelo efeito que minhas ações trarão a você. — O velho recusou as cartas.
— Quando irá acontecer? — Ela falou baixo.
— Se tudo ocorrer como o planejado, entre essa semana e a próxima. Você terá certeza quando ver ele. — O velho sorriu.
— O guia jamais pensará que consegui, é uma pena que os planos dele também sejam afetados quando o momento chegar. — O senhor comentou baixo.
— Isso pode afetar nosso plano final de alguma forma? — Ela parecia preocupada.
— Talvez… não sei que àquela antiguidade consegue fazer. Mesmo que afete, pode ser um ganho para nosso lado. — O velho sorriu.
— Parece bastante confiante. — Ela olhou para o rosto do velho.
— Tenho que estar, afinal estou apostando todas as minhas fichas nisso. — Ele respirou fundo.
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Tic-Tac-Tic-Tac-Tic!
O espaço era branco com relógios de todos os tipos, pendurados por todas as paredes, nele uma imagem se desenhava. Usando uma máscara quebrada, revelava apenas um dos olhos e ele era negro.
Seu corpo era forte, tendo uma estatura de 1,77 m de altura. Seus cabelos negros e lisos contrastavam com a máscara branca com alguns detalhes vermelhos e pretos.
Um tecido negro se estendia por cima de todo seu corpo, no torso uma armadura prateada se estendia até sua cintura. Seus cotovelos e joelhos eram cobertos por partes metálicas e seus pés um sapato metálico negro.
Em sua cintura repousava uma espada média em formato losangular, com alguns detalhes em vermelho em seu centro.
— Parece que aquela época finalmente chegou. — Ele olhou para os relógios ao redor. — Sempre fico nostálgico quando essa época começa. — Ele gargalhou.
— Mestre, os preparativos estão prontos, devemos começar? — Uma mulher surgiu no espaço. Seu rosto era coberto por uma máscara branca com detalhes em roxo. Ela usava um vestido negro com detalhes em roxo sem decote. Seus saltos eram baixos e negros.
— Parece que alguém leu meus pensamentos. — Ele sorriu. — Sim, tome cuidado, parece que aquele velho fez alguns preparativos.
— O velho Agrippa, até parece que serei parado por alguém como ele. — Ela parecia séria.
— Não devemos subestimar os truques daquele fóssil, ele parece ter feito boas preparações para me deter.
— Mestre, você não deve se preocupar. Afinal temos muitas contenções. — Algumas imagens surgiram ao redor da mulher. Uma jovem de cabelos curtos e pele clara, na outra imagem um homem negro e careca.
— Utilizar seu próprio sangue como uma contenção inicial, você não está subestimando o jovem?
— Todas as vantagens devem ser utilizadas, afinal até mesmo um peão pode derrubar o rei. — Ela sorriu.
— Espero que não confiei muito na segunda contenção. Afinal ele nos trairá, quando o momento certo chegar.
— Estamos preparados, caso isso ocorra antes do previsto. — Ela parecia alegre.
— De qualquer forma, espero que vocês não falhem. — Seu rosto se direcionou a mulher no local.
— Não iremos, mestre! — Ela tentou manter sua postura relaxada.
— Você sabe quais serão as consequências caso falhe. — Ele surgiu ao lado dela e uma aura vermelha com tons pretas exalou o seu corpo.
— Sim…-Ela respirou fundo, enquanto o medo dominava seu corpo.
— Isso é apenas um aviso. — A aura começou a se desfazer. — Agora, me deixe a só. — Seu tom era ríspido.
— Como ordena. — A mulher desapareceu do local.
— Maron, Maron, o que será que você irá aprontar dessa vez? — Ele riu. — Espero que você renda bons frutos e possa roubar cada um deles! — Ele apertou a mão forte e o espaço começou a se distorcer e rachar.
— Não seja como seus antecessores, que me deixaram decepcionado…
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Era um vagão de metrô em movimento, seu piso era azul e as paredes eram branco marfim. Uma figura parecia destoar do local, um ser vestido com um manto cinza, não era possível ver sua face, em sua mão ele segurava um cajado.
— Parece que aquela época começou novamente… — Ele suspirou.
— Esses tempos, sempre me deixam exausto. — Ele parecia pensativo.
— Pare de reclamar, não é primeira vez que passamos por isso! — Um ser pequeno com barba branca. Sua pele parecia bronzeada e envelhecida pelo tempo, tinha um monóculo dourado e uma cartola negra.
— Você diz isso, por que não é você que tem que lidar com a situação! — Ele falou irritado.
— Oras! Você pensou que a imortalidade não teria suas consequências? — O pequeno, olhou o homem de manto.
— Você é essa conversa sobre, imortalidade daqui, imortalidade de lá! — Ele bateu o bastão no chão.
— Pelo menos, eu não sou um fóssil como você! — O pequeno mostrou a língua.
— Como ousa! Eu vou te mandar para sua dimensão seu gnomo atrevido. — Ele bateu o cajado e um vórtex verde surgiu.
— Eu tenho um lugar para voltar, é você? — Ele riu desdenhosamente, enquanto era sugado pelo vórtex.
— Esses gnomos, se tornam mais atrevidos a cada geração. — Ele comentou baixo.
— “Aquilo” vai me causar dores de cabeça como sempre… — Ele suspirou. — Será que ele nunca irá desistir? — Ele riu. — Que suposição mais tola, se “aquilo” fosse desistir isso já teria ocorrido antes…
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