Projeto Karma - Capítulo 10
— Ora, ora o que temos aqui — ela sorriu.
— Parece alguém sabe que sou cega — Ela apontou os olhos.
— Desculpe, mas foi a primeira vez que vi alguém assim… quero dizer… — tentei me explicar.
— Tudo bem. Sente-se, afinal o destino desejou que nos encontrássemos. — Ela pegou a garrafa e derramou o líquido sobre a taça.
— Um oráculo — estava surpreso, haviam algumas lendas, mas jamais esperei encontrar um oráculo na Pérsia.
— Notável, tão jovem é tão sábio — Ela olhou para a taça e girou um pouco.
— Minha sabedoria não representa nada, comparada a vivida por você — fui humilde, afinal para se tornar idoso sendo uma cega, sua vida não deve ter sido fácil.
— Duas pessoas em uma… como um amigo então, as palavras que direi agora não são para você — Ela apontou para mim.
— Mas para ele — Ela apontou para atrás de mim.
— Seus desejos e anseios são apenas fúteis, é impossível fugir completamente do destino. São necessários esforços imensos para girar um relógio na direção oposto, então não tente mudar aquilo que é inevitável. Mas nada lhe impede de mudar aquilo ao seu redor, senão não puder mudar a si, mude os próximos — sua entonação mudou, para uma voz mais melodiosa e bela. Suas palavras continham uma sabedoria profunda e direta.
Meu corpo se arrepiou, era como se atingisse diretamente a minha alma. Tocando nas minhas memórias mais profundas, meu peito parecia doer e algumas lágrimas desceram dos meus olhos. Olhei para a senhora de novo, ela jogou o líquido da taça no chão próximo e apontou para onde estava a moeda de ouro.
— Não posso lhe dar uma moeda do mesmo valor, mas minhas intenções expressam mais do que essa moeda — coloque cinco moedas de cobre no local.
— O que realmente vale não é seu valor — ela riu e balançou a mão enquanto me afastava na multidão… o mundo se tornou monocromático naquele instante, os gritos cessaram, os passos pararam e tudo parecia estar pausado.
História oculta desbloqueada — O encontro com oráculo
Pela linha do tempo original Gaspar jamais encontrou o oráculo da cidade. Suas palavras contêm um peso e sabedoria indescritíveis, tais palavras mudaram completamente os objetivos e anseios de Gaspar.
Seus novos sonhos e objetivos podem alterar o futuro da cidade e seus habitantes, isso se ele conseguir sobreviver. Evento classificado como “Perigoso”
Adendo
Esse evento pode gerar a morte do personagem. Caso o personagem morra durante o processo, o usuário também morrerá.
Ainda deseja participar desse evento?
Sim Não
— Então minha preparação não foi tolice. Apesar de não estar esperando algo assim — suspirei.
— Parece que minha habilidade de atrair eventos desse tipo nunca falha — Sorri.
— Há como fugir? — Ri baixo.
— Claro que não, se me recusar agora, quem sabe o quanto me arrependerei depois — meus dedos tocaram o sim
O mundo acelerou, os eventos aconteceram como um filme adiantado. Dias e noites se passaram até finalmente parar no mesmo lugar, meu corpo parecia maior.
Envolto de uma roupa negra e turbante, em minhas mãos tinha algo como um saco de couro, na outra pequena adaga com lâmina arredondada. Distante podia ver cinco homens na multidão que pareciam me procurar.
Meus pés se moveram agilmente pela multidão, como um instinto meu corpo conseguia achar espaços entre as pessoas, pés velozes e um corpo flexível.
A velocidade de cada passo era constante, meu corpo estava inclinado para baixo para diminuir minha presença.
Procurei um beco entre as lojas de rua, os comerciantes tentavam atrair os clientes, para suas barracas. Meus olhos acharam o lugar ideal, como se tudo fosse instintivo, segui essa intuição.
Os passos aceleraram, pulei em uma caixa de madeira, meu corpo se moveu para o lado e meu outro pé tocou a mesa de um dos artesãos.
Encolhi meu corpo dando um mortal, por cima do topo da barraca caindo atrás dos donos dela. Os homens me seguindo me notaram de longe, afinal um ser negro pulando uma barraca era evidente em uma multidão.
Equilibrei meu corpo após uma cambalhota sobre o solo e acelerei para frente. Os pés pisaram fundo no solo me impulsionando com força, uma das pernas tocou uma das paredes me impulsionando para cima e para o lado.
Ao chegar na outra parte da parede me impulsionei da mesma maneira até atingir o topo, minhas mãos agarraram o telhado de pedra e subi ele com facilidade.
A visão por cima da cidade era maravilhosa, meus passos equilibrados me faziam acelerar, enquanto pulava de telhado em telhado.
Minha velocidade era tremenda, fazendo meus perseguidores desistirem de me seguir, pelo engarrafamento de pessoas na cidade.
Contudo, não relaxei, virei minha cabeça para trás notando uma presença a cinco casas de distância na horizontal.
Três brilhos atingiram meu olho esquerdo me fazendo piscar, me joguei no solo com uma cambalhota, quando três adagas atravessaram o ar acima do meu corpo.
— Merda, eles mandaram um assassino. Esses sheiks estão ficando com a guarda alta, não devo me precipitar. — Procurei uma casa mais baixa à frente e acelerei, pulei em sua direção para impedir o assassino de mirar em mim, afinal não tinha uma arma, além da adaga.
Desci pelas paredes da casa, para despistar o assassino. Olhei ao redor e tirei meu turbante negro, roupas brancas e com alguns detalhes em azuis surgiram do meu corpo.
Guardei minha adaga e comecei a caminhar com a multidão da rua, fingir estar interessado nas mercadorias, enquanto o assassino procurava por cima das casas a minha figura.
— Fugindo novamente? — um dos comerciantes comentou em minha direção.
— Sim, seus olhos são perspicazes, Assuero — olhei para o comerciante à minha frente.
Ele tinha uma túnica branca com outra roupa roxa com detalhes amarelos por cima, o turbante em sua cabeça era branco, seu corpo era bronzeado e tinha um bigode negro, sua face era marcada. Seus olhos negros, lábios amarronzados e seu corpo magro.
— Gaspar, se procurasse outra loja para se disfarçar, não estaria surpreso — ele comentou, vendendo um produto para um jovem sorridente.
— Sua barraca é a que mais se destaca nesse lado da cidade — Comentei.
— Uma parte de mim, ainda admira os produtos que vende aqui — Olhei para a bancada, tinha anéis, colares, pulseiras de todos os metais talhadas com artesanato.
— Sabe, meus artesãos são bons — ele riu.
— Mas aquele que me recomendou… Melquior, ele é excelente, sua habilidade com o gado valem o preço.
— Recomendar amigos sempre é mais confiável — Sorri.
— Os itens estão aqui — Coloquei o saco de couro na mesa.
— Finja um pagamento como sempre e me leve para ver Laila — Comentei baixo.
— Você ainda está fazendo isso é bastante surpreendente. Criar uma organização não será fácil — ele comentou.
— Chame Aslan e leve ele a Laila — ele gritou para um dos seus subordinados.
Um homem alto surgiu em meio a multidão. Sua barba era grande e triangular, seus olhos negros eram profundos e seu supercílio direito tinha um grande corte.
Tinha um corpo bem distribuído, a armadura simples caída bem em seu corpo, ele carregava em sua cintura uma grande espada. Uma intenção assassina envolvia seu corpo.
— Então você veio? — o homem olhou para mim e se virou.
— Me siga e não se perca. O lugar que estamos indo é bastante perigoso, ainda mais para você — ele começou a caminhar
Aslan foi um guerreiro a alguns anos atrás, seu nome era aclamado no campo de batalha. Entretanto, quando chegou ao seu lar soube que sua mulher foi desonrada e vendida como escrava, não é difícil adivinhar o que aconteceu.
Aslan invadiu o local, assassinou todos nele para ser mais exato. Quando viu sua esposa Dara, ele não pôde acreditar, parecia uma mulher morta, seus olhos estavam vazios, ela estava grávida, suas roupas eram trapos e seu rosto estava opaco.
A mulher que um dia Aslan amou, morreu a bastante tempo, seu choque evidente, quando os guardas chegaram, ele nem mesmo resistiu à prisão.
Assuero, seu amigo de infância pagou os custos para sua defesa, alegando sobre a legítima defesa. Afinal Dara era sua esposa e ele tinha o direito de se vingar por aquilo que os escravocratas fizeram com ela.
Sobre Dara, ela morreu meses depois com complicações no parto, talvez ela finalmente pudesse descansar após ver seu amado esposa após dez longos anos.
Desde então, Aslan criou a criança que sobreviveu ao parto, ela era uma menina então ele a nomeou de Zilma para sempre se lembrar da escuridão do homem.
Ele me levou a um determinado lugar da cidade, conhecido como redutos dos prazeres.
Não preciso explicar o motivo de seu nome, caminhamos por uma das casas, a música era bela e as mulheres dançavam, seus vestidos combinavam com sua linda beleza.
A dança destacava ainda mais suas curvas, até que paramos em um determinado local.
Duas grandes cortinas de seda branca, escondiam uma figura atrás da cama, ela se abriu lentamente revelando a linda mulher. Seus cabelos eram negros e lisos, seus olhos eram cinzas e belos.
Seus longos cílios e sua bela face poderiam fazer homens criarem guerra, sua pele era clara, seu corpo era magro e com belas curvas. Seu vestido era branco com decote no meio dele até a cintura, um colar dourado combinava com suas pulseiras douradas.
Essa era Laila, ela não era uma mulher vulgar, nem administrava o lugar que era apenas uma fachada.
A bela senhorita um dia foi uma camponesa, perdeu seu pai para guerra e sua mãe foi utilizada por homens de poder como joguete, em sua juventude se tornou hábil com esquemas e negócios.
Foi quando nós nos conhecemos, naquela época estava fugindo da minha condição de escravo e ela estava se tornando um mercante hábil.
Minhas habilidades com artesanato a fizeram ter os melhores produtos da região leste, em troca pedi para que ela me treinasse para ser um ladrão.
Meu objetivo era adquirir dinheiro da maneira mais rápida e ainda fazer os nobres pagarem por aquilo que faziam a população. Meu alvo eram os sheiks, homens de grande poder e dinheiro que manipulam a situação em seu favor.
Parte do dinheiro roubado ajudava famílias severamente pobres, que tinham dívidas altas o suficiente para se tornarem escravas. A outra parte era utilizada para formar uma associação de ladrões, faltava algum dinheiro para essa segunda ideia começar a funcionar.
É claro que a pessoa por trás dessa administração estava à minha frente. Meus planos foram traçados a dez anos atrás, quando conheci Laila e hoje estávamos aqui para discutir como se daria início às operações.
— Ora… ora, quem temos aqui — ela se aproximou.
— Então finalmente completamos, surpreendente. Aqui entre nós, eu pensei que falharíamos, mas aqui estamos nós — ela parou de circular e me olhou.
— Não estou surpreso — Foi claro.
— Nosso verdadeiro objetivo começará a partir daqui, as coisas se tornarão mais complicadas — dei um passo para frente.
— Devo admitir, você se tornou uma bela mulher — Sorri.
— Seu… — Ela suspirou.
— Nossa condição continua as mesmas. Então tente nada que irá se arrepender — ela se virou.
— Ficar irritada, devido a um elogio. — Ri.
— Pensei as mulheres gostavam dele, desculpe… você não, é qualquer mulher. — abaixei meu corpo em reverência.
— Chegará o dia que irei conquistá-la, mas devo me retirar — me virei e deixei o local.
A noite finalmente caiu e retornei a uma pequena casa. Não havia muitas coisas dentro, apenas uma mesa, algumas peças de xadrez e uma cama no final do cômodo próximo à janela.
Parecia estar economizando o máximo possível para meu grande plano. Olhei para o tabuleiro e ele parecia estar montado com uma configuração de jogo.
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