Projeto Karma - Capítulo 11
As peças brancas estavam armando uma armadilha para as pretas que estavam na vantagem.
As pretas tinham mais peões, enquanto as brancas ainda tinham dois bispos e perderam a rainha. Mas a armadilha estava mirando entre a rainha negra e a torre próxima da defesa do rei, era uma armadilha perigosa.
— Rei, dois bispos, uma torre, um cavalo e três peões — comentei ao ver o tabuleiro.
— Realmente ele se tornou hábil em adquirir aliados. Mas, esse cavalo ainda me preocupa — toquei a peça.
— Dario não fica parado e esperaria sua queda.
Me sentei sobre a cama e refleti sobre as memórias de Gaspar nesses últimos dez anos, desde nosso último encontro.
Eram eventos desconexos no início, mas depois de um tempo consegui entender completamente pelo que ele passou. Depois de nosso encontro com o Oráculo, Gaspar se encontrou em uma confusão interna com seus sonhos iniciais.
Durante algumas semanas ele apenas se isolou e construiu uma nova linha de pensamentos e metas próprias.
Uma delas era fugir do status de escravo, outra era reverter a situação atual da população pobre, que com o passar do tempo se tornaria joguetes dos homens mais ricos.
Ele percebeu que suas habilidades corporais seriam a chave para seu plano, ao invés de recusar seu talento natural, ele o aceitou e escolheu treiná-lo.
Nesse tempo ele voltou a conversar com os escravos e entender como eles se tornaram escravos. Ele ouviu muitas histórias, das mais tristes, as mais estúpidas possíveis.
Afinal sempre havia aqueles tolos que confiavam em pessoas que não eram de boa credibilidade, Gaspar chegou à conclusão que a população acabava nessa situação por falta de conhecimento.
Mas na idade atual pouquíssimas pessoas tinham acesso à educação, tirando os sheiks, os homens da igreja e os comerciantes, raramente alguém da população comum era alfabetizado.
Na verdade, Gaspar se tornou letrado graças às minhas próprias habilidades de assimilação. Nas últimas três semanas e um grande esforço noturno com livros que adquirir por meio escusos no mercado negro.
Pelo menos construí uma base mínima de educação, graças ao constante treinamento com xadrez e anotações matemáticas ele teve acesso ao conhecimento de soma e subtração.
Então sua conversa com os comerciantes era mais ousada e precisa, lhe provendo maior interação na aprendizagem da escrita. Foi dessa maneira que ele acabou conhecendo Laila, a comerciante em ascensão, no lado leste da cidade.
Ele trocou suas habilidades com Laila pela sua liberdade, seu conhecimento em xadrez acabou surpreendendo Laila. Que tinha um conhecimento sobre o jogo é em troca de ensiná-la, ele pediu para ser treinado.
Ele rapidamente demonstrou melhorias, devido ao seu talento.
Suas habilidades com a espada se tornaram refinadas, devido seu empenho constante em melhorar suas habilidades artesanais lhe dando um grande conhecimento sobre os diversos usos de uma lâmina.
Em poucos anos, Gaspar se tornou um ladrão excepcional, principalmente pelas suas habilidades analíticas, pouco comuns entre os ladrões. Dessa maneira ele criou planos complexos e com diversas possibilidades de ação.
— Então parece que o encontro com o oráculo, fez grandes mudanças em sua rota natural de vida — comentei.
— Realmente devo dizer, Laila é uma mulher muito sagaz, mas ainda não entendo qual é seu real objetivo em ajudar Gaspar — olhei para a lua no céu
— Além disso, não me parece que os escravocratas ficaram parados. Esperando perder sua principal fonte de renda — respirei fundo.
— A algo que ainda me deixa desconfortável — me levantei e me aproximei do tabuleiro.
— Porque essa peça ainda não se moveu — toquei o bispo no canto.
— Quanto tempo ele ficará parado. Até finalmente perceber que está sendo usado? — rodei o tabuleiro.
— Aramis, já deve ter notado as intenções de Dario neste momento, duvido que ele não sabia que estava sendo usado. Então… — tive um flash naquele momento. Uma lembrança repentina me veio à mente.
— Droga! Então é isso? — Olhei para o tabuleiro.
Foi a alguns anos atrás. Durante uma noite, quando eu ainda era escravo de Bahman, ouvi uma conversa entre ele e Aramis.
Eles estavam tomando uma bebida na varanda do prédio, conversando sobre negócios quando Aramis tirou uma carta e entregou a Bahman. Durante algum tempo ele não disse nada até finalmente se ajoelhar na frente de Aramis e suplicar.
— Por favor, eu não tive a intenção senhor — ele colocou ainda mais em posição submissa.
— Como ousa, tentar me enganar com auxílio de Ciro. Acha mesmo que não notaria a diferença nos pagamentos, para proteção do seu prédio? — ele chutou o senhor.
— Vou te dar uma oportunidade, se ainda quiser continuar vivo pague a quantia devida e uma restituição pela tentativa de me enganar. Um de meus homens virá aqui na próxima noite — ele parou antes de deixar a varanda.
— Caso isso não aconteça, espero que entenda as consequências — ele riu alto ao deixar o local.
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Alguns dias se passaram e finalmente conseguimos adquirir um prédio, para a criação de um dos meus projetos de vida, uma seita de ladrões. Conseguimos contratar alguns deles, mas eram poucos apenas cinco deles.
Mas em compensação eles tinham excelentes habilidades e um bom histórico de ações cumpridas com sucesso. Nossa seita ganhou o nome de Noite Oculta.
O local não era grande, era apenas um local de reunião e para receber serviços. Haviam sinais secretos e senhas próprias para ter acesso a algumas informações, externamente parecia apenas uma loja de tecidos.
Contudo, tinha uma porta secreta no final do empreendimento, onde se encontrava o local de serviços e o responsável da inteligência.
Naquela noite atacaremos um dos sheiks mais ricos da cidade, cada um de nós invadiria onde estava colocado seus tesouros, todos os sheiks distribuíam sua riqueza entre locais secretos.
Para que se fosse roubado não sofressem tanto com o golpe era uma atitude bastante inteligente. Um vaso branco com jasmim estava na janela de fora da loja, era o sinal para o ataque daquela noite.
A noite estava bastante escura, estávamos na semana de luz nova. As estrelas brilhavam acima da cidade, a visão por cima das casas era bastante límpida e bela. O palácio do sheik estava se aproximando do horário de troca de turno, entre os guardas.
O portão era alto para impedir as invasões acima das casas, cinco tochas se acenderam, olhei em direção a tocha próxima e subi a minha indicando que avançaria primeiro pegando a atenção dos guardas.
Meus pés aceleraram e me movi entre os prédios próximos sem dificuldade, chegando próximo do portão saltei e agarrei as barras de metal o escalando usando a força bruta.
Os guardas do prédio me notaram pelo barulho que causei ao atingir o portão, subi mais rápido chegando próximo das lanças acima das barras. Amarrei uma corda envolta de uma das lanças, flechas tentavam atingir meu corpo.
Minhas mãos envolveram a barra e meu corpo ficou na horizontal. Com o torso em direção ao chão. Balancei o corpo em arco e me lancei, fazendo um arco para cima passando das lanças afiadas, apenas a queda me esperava.
Segurei a corda com as mãos e esperei ela tencionar parando minha queda de maneira brusca.
As flechas atingiram meu corpo me raspão, cortei a corda e desci pelas barras usando meus pés para diminuir a velocidade usando as barras como apoio.
Próximo ao chão me impulsionei, desviando de uma flecha que mirava minha cabeça, meus pés tocaram o chão me impulsionando para frente em direção a um dos guardas.
Virei meu corpo no ar, atingindo meu pé, no rosto do guarda o derrubando, os guardas apontaram os arcos em minha direção.
Peguei o corpo e usei como escudo temporário para ganhar tempo, me esquivei para trás e corri em direção ao guarda mais próximo.
Fiz uma fita, desviando do golpe de espada e minha adaga atravessou sua garganta sem dificuldade, meus pés tocaram o chão me empurrando para trás.
O cotovelo atingiu o rosto do guarda atrás de minhas costas, puxei seu braço para frente, o lançando para frente impedindo o avanço do outro guarda.
Ele se desequilibrou e caiu no chão.
Tirei lâminas da minha roupa e lancei em direção aos arqueiros, no corredor do palácio, eles estavam surpresos por serem atingidos pelas lâminas.
Pisei para trás escapando dos golpes de espada dos guardas à minha volta, eu estava em grande desvantagem numérica.
Eram dez guardas noturnos na frente do prédio, restavam apenas seis deles. Avancei com minha adaga, abaixei meu corpo deixando a espada passar com cima do meu pescoço, enquanto meus joelhos deslizavam sobre as pedras no solo.
Um dos meus pés atingiu sua perna, enquanto o outro se levantou atingindo seu pescoço.
Rolei para frente, escapando da flecha próximo do corpo do morto, avancei mirando a cintura do guarda próximo.
Minhas mãos puxaram suas pernas, derrubando sua cabeça com força no chão, girei meu corpo lançando seu corpo no guarda a minha direita.
Abaixei meu corpo, mas a espada ainda cortou uma pequena parte do meu braço direito.
Mordi meus lábios com força, meu punho atingiu seu rosto com força o fazendo perder o equilíbrio momentâneo, meu pé se moveu o derrubando completamente no chão, fazendo perder a consciência.
— Eles estão em maior número que o esperado— respirei profundamente e amarrei minha ferida com uma parte da minha roupa cortada pelo golpe.
— Devo chamar atenção dos guardas restantes — fez o sinal típico de invasão usado pelos homens do Sheik.
Era possível ouvir os passos se aproximando da entrada do palácio, meus pés se moveram para ganhar distância entre os homens do palácio.
Meu objetivo era atrasá-los tempo o suficiente, para os ladrões roubarem os cofres do palácio.
Os soldados saíram pelos portões apontando em minha direção. Levantaram seus escudos e os arqueiros se prepararam, eram cerca de vinte homens.
O chamado atraiu apenas os soldados próximo da entrada, o que era bom, guardei minhas adagas e saquei dez lâminas de lançamento.
Meus alvos eram os arqueiros atrás do escudo inimigo, os objetos perderam altitude ao passarem por cima dos escudos atingindo os arqueiros.
Acelerei, meu pé me lançou para cima em direção ao prédio, minha mão tocou a parte inferior de uma janela.
Os pés se apoiaram na parede me lançando para cima, até tocar a parte do piso inferior do primeiro andar do prédio.
Os arqueiros estavam disparando em minha direção, lancei meu corpo para o lado agarrando uma das proteções de gesso.
Puxei meu corpo para cima e minha mão tocou a parte superior da proteção da varanda de gesso. Assoviei, os guardas olharam para trás e notaram que os arqueiros, ainda não dispararam.
Duas shamshirs estava varrendo os arqueiros, derrubando seus corpos no chão, era como uma bela dança da morte, seus movimentos eram ágeis e precisos.
Os guardas com escudo, demoraram a reagir e ir em direção ao homem com roupas negras. Ele utilizou um dos arqueiros como escudo evitando o golpe frontal do escudo, ele acelerou para trás.
Lâminas atingiram as costas dos soldados que estavam avançando. Apesar de todos os lançamentos não serem precisos, por causa da pressa, elas cobriram meu aliado em sua fuga, para longe dos guardas de escudo.
Adentrei no prédio e avancei entre as câmaras do local, me aproximei de um dos guardas por trás da lâmina atravessou sua garganta o fazendo cair no chão.
Sustentei seu corpo e o derrubei lentamente no chão evitando o barulho, uma tocha surgiu na câmara apontou para frente, meu pé atingiu a porta na minha a frente fazendo abrir sem dificuldade.
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