Projeto Karma - Capítulo 3
— Está pedindo abrigo, sabe que isso não seria possível. Afinal não desejo que minha família seja arrastada para isso — seu rosto não demonstrou emoções.
Coloquei a taça de volta na mesa. Me ajoelhei e peguei a mão de Gisel a beijando, ela me olhou surpresa, antes de haver mudado para um rosto furioso.
— Você deseja me cortejar!!— sua mão tocou a espada.
— Não sou como aquelas mulheres vazias e devassas a qual você convive.
— Acalme–se, eu Ricard segundo na linha de sucessão dessa casa. Ouso pedir sua mão em casamento, se for aprovado em seu teste — disse calmo e sorri no final.
Uma multidão se formou ao redor rapidamente, vários cochichos e falas depreciativas começaram a surgir. Depois apenas um silêncio, quando Gisel retirou sua mão e olhou em minha direção.
— Se conseguir sobreviver, não irei me opor mesmo com seu passado. Afinal as pessoas mudam — ela sorriu e se virou.
O mundo se tornou monocromático, minha visão atravessou todo o salão. As pessoas pareciam estar descrentes pela fala de Gisel. Sua fama era realmente extensa apesar de ser líder de apenas um feudo.
História oculta desbloqueada — O pretendente de Gisel
Pela linha do tempo normal dessa história Gisel jamais se casou. Seus pretendentes nunca passaram no teste de sua família. Porém, você conseguiu passar nas avaliações mínimas para participar do teste de Gisel. Evento classificado como “Mortal”.
Adendo
Esse evento pode gerar a morte do personagem. Caso o personagem morra durante o processo, o usuário também morrerá.
Ainda deseja participar desse evento?
Sim Não
— Uma escolha complicada… — parei para refletir os acontecimentos anteriores.
— Nada parece garantido. Até mesmo as melhores escolhas são afetadas pelo tempo e personalidade dos personagens — sorri.
— Além disso, as próximas histórias podem não ser tão simples como essa. Devo ganhar o máximo de experiência que puder nessa oportunidade — toquei no sim.
O mundo acelerou rapidamente e a paisagem mudou, assim como a minha roupa. Era um local vasto, haviam cordilheiras e um terreno plano, ao longe era possível ver o mar.
Um castelo próximo e algumas muralhas à sua volta, além de pequenas casas. À nossa frente estava uma estrada de terra e um terreno cheio de árvores. As roupas de Gisel pareciam a de uma camponesa, e ela carregava consigo uma enxada.
Minha vestimenta era simples e sem adornos e meu corpo estava dobrado pelo cansaço. A roupa estava molhada e o sol parecia estar forte naquele dia. A cena começou a se desenrolar, ganhando som, cor e movimentos.
— Deseja me impressionar? — ela riu.
— Você não é o primeiro, espero que suporte mais que seus antecessores. Apenas para um aviso, a melhor marca foi de duas semanas — ela sorriu e deixou a enxada no chão.
— Sua!— suspirei.
— Força bruta e nem uma ideia vão transformar esse pântano em um local para agricultura — respirei fundo.
— Mesmo que tente usar meu conhecimento aqui. Transformar esse lugar em algo para plantar em dois meses. Requerer trabalhar dia e noite, pense deve haver outra saída… — olhei por cima do pantano.
— Pântano… pântano… — minha mente vagava em pensamento.
— Quão extenso ele poderia ser? — Comecei a andar pela área ao redor.
Demorou algumas horas até dar uma volta completa pelo lugar. Havia lugares alagados o suficiente para atingir a metade dos troncos das árvores.
— Parece um paraíso natural, destruir esse lugar seria um desperdício de esforço — sentei na grama próxima da estrada.
— Espere em que momento ela disse precisar destruir esse lugar? Quais foram as palavras? — usei as memórias de Ricard.
— “Transforme esse lugar em algo útil”— pulei de alegria quando tive ideia do que fazer.
— Esse lugar é uma mina de ouro! O uso para pântanos foi descoberto há anos, os animais que vivem nesse lugar são exóticos.
— Não preciso terminar esse evento rapidamente. Essa situação parece bastante nebulosa, pelas memórias de Ricard esse lugar é invadido todos os anos — olhei para a estrada.
— Não apenas isso, esse lugar é tão taxado pela minha casa nobre que ele não se desenvolveu durante cinco gerações. Isso é bem preocupante — coloquei a mão sobre o rosto.
— Temos poucas peças úteis nesse tabuleiro. Uma rainha, uma torre, um rei, um bispo e um peão. Essa configuração é péssima, quais sãos as peças do outro lado? — suspirei.
— É como jogar xadrez vendado, o rei e bispo são inúteis tenho que adquirir mais peças para jogar — o sol começou a se pôr enquanto coletava galhos secos e pretendia fazer um pequena fogueira na floresta.
— Pretende dormir ao relento? — Uma voz veio das minhas costas.
— Pode dormir na cidade, não somos tão duros quanto isso — ela se abaixou até a minha altura.
— Prefiro dormir aqui, ainda tenho que fazer algumas coisas antes de dormir — olhei para o céu.
— Esse lugar é realmente lindo se comparado a cidade — lembrei da casa dos meus pais na cidade.
— Se for do seu agrado não possa interferir — ela levantou.
— Tenha uma boa noite — ela se dirigiu ao seu cavalo e deixou o lugar.
Algumas semanas se passaram. Construí uma casa de madeira, produzi algumas armas e uma jangada para caçar jacarés.
Tracei planos de desenvolvimento, projetos de armadilhas e tudo que poderia ser útil quando deixasse esse lugar. Diria que esse era meu legado para Ricard, coletei ervas e produzi alguns remédios simples que aprendi com meu avô quando era jovem.
Também treinei os movimentos de espada de Ricard para me familiarizar com eles. Algum deles mudaram desde a última vez.
Produzi alguns abrigos em cavernas e subterrâneos. Caso fosse necessária uma fuga de um ataque de grande escala nesse tempo.
Gisel me visitava diariamente, eu ainda mentia para ela que estava dormindo em uma barraca nessa floresta. Uma parte de mim, acreditava que ela apenas estava fingindo não saber.
Mas diariamente ela vinha com uma cara de decepção por não me ver tentando mudar a paisagem do pântano.
— Essas armas são eficazes! — Olhei para minha armadilha modificada.
Era parecida com uma armadilha de urso. Porém, ao invés das lâminas em serra, elas eram grandes tábuas de madeira com pregos atravessados nela.
— Mas a madeira não resistirá a muitos usos, tenho que substituir por outro material.
— Seja como for, todos os protótipos estão prontos e os desenhos dos projetos também. Parece que tudo está pronto para dar o próximo passo. — Peguei uma lança de ferro e arrastei a jangada em direção do pântano, hoje vou caçar um jacaré pela primeira vez.
Demorou algumas horas até chegarmos no lago no fundo do pântano. Havia alguns jacarés boiando enquanto o sol passava por cima de suas escamas verdes.
Fiquei em pé na jangada e amarrei uma corda a ponta oposta da lança. Me posicionei e joguei a lança em direção ao jacaré.
O objeto não perfurou fundo sua escama e ele olhou irritado na minha direção. Seus movimentos foram ágeis em minha direção na água. Estava preparado e trouxe outras lanças sobressalentes. Ele bateu na minha jangada tentando derrubá-la.
— Esperto, você. Uma pena que tenha escolhido o alvo errado. — Puxei a corda com força.
Ele começou a avançar na água resistindo a força da corda, a soltei parando de ser arrastado por ele.
Peguei outra lança, ela atravessou a água próximo do animal. Ele olhou em direção a jangada e afundou sua expressão demonstrou irritação.
— Veremos se você é capaz! — firmei meus pés na jangada.
Ela foi atingida por baixo sendo lançada para a esquerda. Atingi o barco com a parte traseira da lança o estabilizando. A água começou a ficar turva e não conseguia enxergar nada abaixo das águas.
Um impacto atingiu o veículo de forma lateral. O pequeno barco balançou para as duas direções. Outro impacto atingiu a frente da jangada fazendo ela girar enquanto balançava.
Aquele réptil desejava mesmo que eu fosse sua refeição. Quando ele submergiu consegui ver a parte da lança em suas costas, recuperei o equilíbrio antes de lançar outra lança mirando no mesmo lugar que anterior. Ela passou por cima do jacaré antes de afundar.
— Minha mira é horrível. Deveria ter melhorado isso antes de vir, canse, vamos apelar! — peguei um item que preparei para essa situação.
— Quero ver você escapar disso! — lancei uma rede envolta do animal e a puxei.
Ele resistiu com força, a corda começava a escorregar das minhas mãos. Meu verdadeiro objetivo era cansar o animal. Nosso confronto se arrastou por alguns minutos antes da corda da rede escapar das minhas mãos.
Ele tentava se soltar furiosamente, mas a rede não saia do seu corpo. Uma parte dela estava enrolada em volta da lança em suas escamas, aproveitei a oportunidade enquanto ele girava na água e lancei outra lança.
Essa perfurou sua pele branca fazendo o sangue se espalhar pelo pântano. Aproximei rápido a jangada do animal que ainda lutava e o perfurei novamente.
Esperei até que seu corpo parasse de se mover e o coloquei com dificuldade na jangada. Ele não era grande, tinha apenas dois metros e parecia um espécime comum.
Naquele dia fiz uma fogueira ao ar livre. Demorou algumas horas até conseguir tirar a pele escamosa do jacaré. Perdi algumas partes dela por falta de habilidade.
Coloquei seu corpo em um cano metálico e grelhei ele como um frango sobre a fogueira. Seu cheiro parecia ter se espalhado por toda a floresta.
— Ora… ora… o que temos aqui? — Gisel se aproximou e sorriu.
— Nunca vi espécie alguma como essa — ela olhou para o réptil grelhado.
— Bem, ele é raramente visto em terras, onde não há pântanos e mangues — continuei a comer uma perna do animal.
— Algo desse tamanho pode alimentar uma família facilmente — ela sentou–se ao meu lado.
— Posso provar? — Ela me olhou.
— Não consigo comer tudo sozinho — lhe dei uma faca e olhei para o céu.
— Então por qual motivo você escondeu a casa de mim — ela cortou um pedaço de carne e comeu enquanto olhou a casa de madeira.
— Você também esconde várias coisas de mim, nada mais justo — Ri e observei suas roupas.
Seu vestido era bege escuro com detalhes em preto, não era um vestido muito longo. Ela carregava uma espada na cintura. A parte superior às partes de couro negro eram revestidas de bordados brancos.
— Para dois noivos essa conversa parece… — ela riu.
— Nossas situações são diferentes. Você é um nobre que nunca passou privações, enquanto minha família e minhas terras… — ela se sentou e suspirou.
— Quero que entenda que faço isso para proteção do meu povo.
— Não estou te julgando Gisel — terminei de comer a perna do animal
— Sua situação e a minha, isso não importa. Meu passado, seu passado, nada disso interessa desde aquele dia — me levantei e me aproximei do réptil.
— Está preocupado? — ela parecia triste.
— Nunca desejei arrastar essa situação, você sempre teve a escolha de desistir. — Ela disse baixo.
— Gisel, o que espera para essa terra? — olhei para ela.
— Seu povo, meu povo, eles sofrem por aquilo que não podemos fazer. Não é apenas sobre dinheiro ou terras. Falta-lhe ensino, tecnologia e tantas outras coisas que os nobres e o império poderiam prover. Porém, seus interesses estão em outro lugar. — suspirei
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