Projeto Karma - Capítulo 8
Na manhã seguinte, minha rotina típica não iria se repetir. Tomei meu café da manhã, peguei uma bolsa de couro lateral com algumas poções simples da coleção do meu avô, um bloco de notas e caneta. Olhei em direção a porta final depois da escada.
Ela abriu com força e vórtex de energia me arrastou em sua direção, essa vez já experiente sabia que resistir causaria mais dor. Apenas me deixei ser levado e ouvi o estrondo da porta batendo com força.
A luz local atingia meu rosto completamente, levantei meu tronco e limpei minhas roupas. Minha bolsa de couro e meu bloco de notas, ainda estavam lá.
— Vejo que dessa vez, veio mais preparado — uma voz veio atrás de mim.
Virei meu rosto e me encontrei com a imagem do guia, ela utilizava a mesma roupa. Tudo parecia exatamente igual, me apoiei no chão e ergui alguns dos meus ossos estalaram.
— Dessa vez a viagem foi mais tranquila — o olhei e virei a primeira folha do bloco que já tinham algumas anotações na noite anterior.
— Tenho algumas perguntas — fui direto.
— Então parece que aprendeu algo, depois da primeira viagem. Nada nesse lugar e de graça, todo conhecimento tem seu preço — ele apoiou suas duas mãos sobre o cajado.
— Qual é a finalidade real desse lugar existir? — anotei minha pergunta no bloco.
— Deseja a forma simplificada ou a verdadeira. Elas têm preços diferentes. — sua voz parecia bastante séria.
— Simplificada… — fui franco, nem sempre é necessário saber tudo sobre um assunto.
— Esse lugar existe por muitas finalidades. Em linhas gerais ele foi feito para acelerar o processo natural humano, de conhecer a si e ao mundo. Como você vê a sua sociedade atual, perdeu muito disso — ele disse de maneira fria.
— Então o objetivo dos humanos é conhecer o mundo e a si? — estava bastante confuso com a resposta.
— Não, a como conhecer algo que nega, não há como encontrar o que já está aí. Entretanto, vocês humanos não percebem o potencial que tem, nem imaginam do que são realmente capazes de fazer. — ele levantou sua mão e um cubo metálico surgiu.
Uma energia verde flutuava em volta de suas arestas, o cubo girou em várias direções enquanto a energia parecia seguir o fluxo.
— Uau… é possível reproduzir isso? — tinha dificuldade em descrever a cena que estava vendo.
— Oras, por qual razão não seria? A diferença entre nós dois são as chaves — Ele gargalhou.
— Todos podem ter em algum momento, porém responsabilidades virão — O vagão passou pela escuridão de um túnel.
Minha mente parou por um tempo, tudo que havia ouvido nesses últimos momentos foi contra tudo que aprendi na escola. Bem recentemente muitas coisas foram contra o que aprendi na escola…
— Conflito interior, surpreendente vindo do neto de Agrippa — Ele se aproximou.
— O mundo não é exatamente como vocês imaginam, mas a resposta para essa pergunta você não pode arcar — ele sussurrou próximo de mim.
— Aliás, foram descontados dois mil pontos até agora. Deseja continuar com as perguntas? — Me virei em sua direção.
— Já foram dois mil pontos! — respirei fundo e me acalmei.
— Minha última pergunta é para qual realidade vamos, quando passamos por aquela luz? — passei a caneta pelo bloco.
— Uma realidade de possibilidade, você conhece como realidade alternativa. É uma realidade que poderia ter sido ou pode ser, para quem está nela — ele se virou
— Foi uma boa conversa Maron, aliás a última pergunta custou dez mil pontos.
— Seu!! — seu corpo se fragmentou no ar, uma luz atravessou todo o vagão e minha consciência deixou meu corpo.
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Um mundo negro com vários fragmentos de memórias vagava a minha volta, como filmes antigos em sépia. Meu corpo flutuava e se aproximava de um determinado fragmento no final do caminho.
Meu corpo atravessou a cena e as imagens estavam paradas. O mundo estava monocromático. Era uma pequena casa, havia apenas uma mesa, algo parecido com um fogão de madeira e barro. Como uma pia, provavelmente a sala de jantar.
Naquele lugar tinha um homem com características persas, seus cabelos pretos com fios brancos, era longo e sua face triste.
A mulher parecia cansada e suas roupas não destacavam sua beleza, sua postura parecia passiva. Seus cabelos castanhos eram longos e lisos, seus olhos pretos estavam voltados para a criança em seu colo.
A outra criança na sala estava magra, com roupas cheias de remendo. Brincando com algo que parecia um carrinho. Seu cabelo curto e preto, ele parecia distraído com suas brincadeiras.
Gaspar — O ladrão — História em andamento
Gaspar nascido em uma família pobre, seu pai era um artesão sem talento e sua mãe um dia uma bela mulher.
Experimentaram um tempo de riqueza quando seu pai era jovem, porém seu pai se enfiou em dívidas com homens perigosos e seus ganhos mensais não superam, nem mesmo sua casa.
Gaspar foi tomado como pagamento das dívidas de sua família. Com cinco anos, começou a trabalhar em minas de todos os tipos. Alimentação escassa e lutas constantes por uma alimentação maior.
O jovem teve um corpo esquelético e desnutrido durante toda a sua infância até sua adolescência. Quando foi vendido para se tornar um escravo mercenário
O pobre rapaz sem escolha, passou pelos mais diversos treinamentos. Sua alimentação pobre na infância diminui seu talento natural como combatente, mas suas habilidades com as pernas era um talento natural.
Gaspar não se tornou um grande mercenário, porém sua fama como ladrão se tornou notória pelos persas. Sua vida como escravo mercenário não foi extensa, morrendo no décimo ano, após se tornar um mercenário.
Foi morto em uma emboscada pelo seu próprio dono quando fugiu.
Tempo até a transmigração é 1 minutos e 30 segundos
— Uma vida medíocre, viver como escravo não é uma escolha para mim — Olhei a situação em volta.
— O único meio de mudar isso é fazer esse cara pagar as contas — apontei para o pai da família.
— Nunca pensei que as habilidades que meu avô me ensinou, seriam tão úteis. — respirei e olhei todas as situações possíveis.
— Um peão, um rei, um bispo… — sussurrei.
— Bem, dessa vez temos mais peças.
Tempo até a transmigração é 30 segundos
— Devo me preparar para outros eventos. Provavelmente os cobradores, ao descobrir que o pai dele pode quitar as dívidas, achará outra forma de extorquir eles — coloquei minha mão sobre o queixo.
— Não posso controlar tudo… — Suspirei
— Alguns eventos são inevitáveis.
Transmigração em 3… 2… 1
O mundo se tornou colorido, a sensação de estar no corpo de uma criança era bastante bizarra. Minha noção de equilíbrio foi completamente distorcida pela diferença de tamanho.
Me acalmei e fiquei parado por um tempo com as mãos sobre a mesa. Minha mãe parecia estar se lamentando, enquanto meu pai… bem ele estava olhando para o vazio esperando um milagre?
Talvez, passei meus olhos procurando um objeto afiado, mas não tinha nem uma vista. Desci da cadeira, tentando manter minha interpretação de criança inocente e fui em direção ao fogão a lenha.
Peguei alguns pedaços de carvão, ele era frágil. Então não apertei tão forte, minha mão ficou preta com alguns movimentos. Fui em direção ao meu pai esquisito e desesperado.
Puxei suas roupas largas, seus olhos tristes se voltaram para mim de maneira fria. Mas seus olhos estavam brilhando quando olharam para as minhas mãos.
Era uma pequena imagem de uma lua, ele se abaixou. Ergui minha mão em sua direção e ri. Ele pegou e olhou o pedaço por um tempo até finalmente ter uma ideia do que fazer.
— Yasmin!! Colares. — ele falou de maneira animada.
— Por que não pensamos nisso antes — ele se levantou e andou pela sala.
— Ciro, já tentamos isso antes… — ela suspirou e continuou a ninar a criança.
— Sim, tentamos, mas do jeito errado — ele sorriu.
— Fizemos como todos, vendendo peças de metais. Mas esse pequeno aqui, me mostrou o jeito certo — ele afagou meus cabelos.
— Então qual é jeito certo, Ciro? — ela olhou para ele desconfiada.
— Esculpir Yasmin. Fazer colares feitos de madeira e outros objetos — ele se animou e produziu um naquele momento.
Olhei aquela cena se desenrolar, era estranha, mas meu objetivo foi alcançado. Naquela noite todos dormimos juntos, uma cama feita de feno, com pele de animal por cima, não era tão confortável como esperava, porém, isso demonstrava nossa situação financeira.
Na manhã seguinte, meu pai me levou para a cidade, era uma bela cidade. Tão bela que nem os melhores livros poderiam reproduzir, o contraste entre os belos azulejos e beleza local.
Apesar das casas pobres de uma mistura de areia, barro e madeira, as barracas de todos os tecidos, tornavam a paisagem uma mistura única para uma grande obra.
A barraca de madeira, meu pai colocou um tecido barato azul-claro, estendendo as peças que produziu durante o dia anterior, a madeira parecia desgastada. Os antigos ainda não conheciam o verniz para acabamento, mas a beleza ainda estava lá.
As mulheres passavam pela banca interessadas, seus sorrisos e risos atraíram ainda mais fregueses, fazendo um círculo envolto da banca.
As peças venderam sem dificuldade, meu pai estava alegre. Talvez fosse estranho ver alguém mudar de humor em tão poucas horas, de deprimido sem objetivo para sonhador e feliz.
Ele me abraçou, me beijou e me lançou no ar naquele dia. As moedas foram contabilizadas, porém, ele não gastou nem uma delas.
Ele retirou o pano da mesa e desmontou a banca, estava entardecendo quando um homem parou a nossa frente.
— Ora o que temos aqui, Ciro! — Um sorriso brotou do rosto do homem.
Seu corpo era grande e suas vestes eram negras, seus olhos pretos eram afiados. Um dos seus olhos tinha uma cicatriz e seu sorriso era malévolo.
— Aramis… — meu pai falou baixo e seu corpo se encolheu.
— Sua dívida aumenta diariamente… então quantas moedas tem aí — ele pegou a bolsa de moedas amarrada na cintura do meu pai.
— Poucas… não são suficientes. Por favor, me dê mais um tempo… dessa vez posso pagar — Ciro suplicou.
— Oh! Parece que as coisas melhoraram — o homem olhou para a quantidade de moedas em suas mãos.
— Lhe darei mais tempo, mas se não puder pagar até lá. Sabe o que irá acontecer — Aramis riu e saiu andando.
Meu pai andou por um tempo antes de gritar e chutar o chão com força. Ele apertou firmemente os punhos e depois relaxou. Seu semblante se tornou confuso e ele se virou para mim.
— Gaspar. Meu filho, não sei se entenderá o que estou dizendo agora, mas no futuro entenderá… — ele se abaixou e colocou as coisas no chão.
— Não seja fraco como eu… não posso nem defender a minha família — suas lágrimas desciam.
— Eu… eu fui um tolo… acreditei que poderia cuidar de você e sua mãe… eu… falhei como pai — ele colocou a mão sobre os olhos.
— Mas, você! Você tem muito pela frente, assim como sua irmã. Ontem você me mostrou isso — ele tirou o colar de dentro das suas roupas, era um pedaço de carvão, em forma de lua.
— Você me deu esperança, prometo que retribuirei isso a todo custo — seus braços envolveram meu corpo e me apertaram.
Seria estranho dizer que não sou uma criança nesse momento?
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Chegamos a casa, meu pai estava com um semblante triste. Minha mãe logo se aproximou e respirou fundo a criança em seu colo parecia triste.
— O que aconteceu dessa vez? — sua voz foi ríspida
— Eu vendi tudo, mas… foi azar. Quero dizer que encontramos com Aramis no caminho um dos capangas de Dario, ele levou quase todo dinheiro que conseguimos. Pelo menos consegui esconder esse pouco — ele mostrou algumas moedas que estavam escondidas no pano azul.
— Ainda temos algo — ela suspirou aliviada.
— O dia foi bom? — ela se aproximou e colocou sua testa na testa do meu pai.
— Sim, foi um sucesso. Dessa vez parece que estamos na direção certa — ele disse animado.
— Devemos orar para os deuses, todas as proteções são válidas — ela sorriu.
— Sim… — Ciro parecia ter se acalmado
Naquela noite nós comemos todos juntos, a mesa era pobre, mas foi uma das poucas vezes que estive em uma mesa tão alegre e animada. Talvez fosse a primeira vez que estivesse em uma mesa assim.
Depois Yasmim acendeu uma lamparina simples. Sua chama iluminou boa parte da casa, ela exalava um cheio bom e próprio. Meus pais oravam e pareciam bastante concentrados naquilo.
Foi a primeira vez que pude ver uma reconstituição de um evento histórico, os persas acreditavam no zoroastrismo, onde um dos principais rituais era o ritual do fogo.
Era um ritual simples, com algumas frutas e orações. Porém, tinha um grande significado para esse povo e não era necessário ir ao templo para fazê-lo.
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