Projeto Karma - Capítulo 9
O mundo perdeu sua forma, a chama a minha frente perdeu sua cor natural, tudo se tornou monocromático, meu tempo chegou ao fim. Seria estranho não dizer isso, mas estava começando a gostar desse lugar.
O destino do personagem Gaspar foi alterado…
Karma Parcial Adquirido
Feito negativos
Manipulação (-500), vitimismo (-2.500), tolice (-1.000), infelicidade familiar (-2.500).
Feitos positivos
Esperança (+250), pequena espiritualidade (+500), amorosidade (+250), anseio de melhora (+250), auto sacrifício (+5.000), felicidade curta (+100), inspiração artística (+2.500), lógica de pensamento (+100)
Sendo deslocado para o próximo ponto-chave de Gaspar…
— Que droga de feitos negativos são esse, cara? — olhei para tela com certa raiva.
— Ele esperava que eu fizesse o quê? Batesse nele sendo uma criança… se bem que… droga! Uma criança agiria assim, meu pensamento lógico me atrapalhou dessa vez — suspirei.
— Eu era uma criança, deveria ter agido como uma, é isso que está dizendo? — coloquei minhas mãos no rosto.
— Ah!!! — gritei e relaxei.
Nova habilidade liberada ao passar pelo teste inicial
Notificação de expectativa: ao início de cada parte da história haverá uma informação sobre o que será avaliado pelo sistema. Dessa forma suas ações poderão ser mais assertivas e congruentes com a situação.
— Por que horas isso apareceu agora? Não teria sido mais útil no início! — fiquei frustrado.
— Parando para pensar nisso, não aconteceu da última vez também? — lembrei desse momento quando era Ricard.
— Daquela vez, ele me explicou a situação e simplesmente disse que agora é com você.
O mundo se tornou negro e voltei para a câmara de memória sépia, dessa vez haviam muito mais filmes a minha volta. Parecia que muitos deles estavam em momentos diferentes, então era disso que o Guia estava falando… poderia ser, mas não foi.
Meu corpo passou pela cena no final do corredor, a situação diferia do que eu esperava. Uma casa mais luxuosa, as pessoas ao meu redor não pareciam minha família, algo estava acorrentando os meus pés.
Minhas mãos tinham uma faca e um pedaço de madeira. Os homens ao redor pareciam admirados, enquanto o homem alto no final da sala parecia estar sorrindo. Aquele homem… era Aramis.
Ponto Chave — O artesão corrupto
Durante cinco anos, Ciro tentou pagar sua dívida sendo artesão. Porém, os juros da dívida se tornavam cada vez maiores com o tempo.
Sem saída, ele vendeu seu próprio filho Gaspar para o seu credor, Dário. Para salvar sua esposa e sua filha Samira. Desde jovem o jovem Gaspar demonstrou grandes habilidades com as mãos e pés.
Seus cortes com a faca eram precisos e cirúrgicos. Seus pés eram rápidos e ágeis. No último ano antes de ser vendido, o jovem se tornou um menino de recados de Dario sem saber, porém seu pai recebia pagamentos por isso.
Após a venda de seu próprio filho, Ciro receberia uma porcentagem do dinheiro, caso seu filho fosse vendido como escravo para outra pessoa.
Gaspar foi vendido para um comerciante de artesanato, suas habilidades se mostraram destacáveis, mas isso atraiu inveja de outros escravos. Durante a noite, o jovem era surrado pelos escravos.
Quando atingiu a idade adequada foi vendido como escravo mercenário, suas habilidades com espada e seus pés o tornaram um excelente escravo.
Contudo, após acumular grandes mágoas de seu dono anterior, ele desejou se vingar e assassinou seu antigo dono e todos seus escravos. Gaspar foi detido e morto em praça pública pelo exército local, após uma longa fuga por semanas.
Tempo até a transmigração: 3 minutos e 30 segundos
— Agora entendo os efeitos negativos… ser vendido pelo próprio pai deve ter sido um choque para ele — suspirei.
— Mas a situação é bem melhor que a anterior. Pelo menos dessa vez, ficou claro o que devo fazer — olhei com cuidado as informações.
Tempo até a transmigração: 2 minutos e 59 segundos
— Ele tem uma tendência de vitimismo. Ele pensa que se destacar é a melhor forma de se safar da situação. Parte da culpa é minha, mas cuidar disso é fácil comparado ao Ricard. Preciso achar uma saída para não me tornar um escravo mercenário… — tentei ter alguma ideia.
Tempo até a transmigração: 2 minutos e 01 segundos
— Não se destaque… devo ser bom, mas não muito — olhei a situação.
— Um rei, um bispo corrupto e vários peões negros. A situação poderia ser mais hostil? — pensei com calma.
— Espero que a situação melhore.
Tempo até a transmigração: 30 segundos
— Oh! Dessa vez tenho mais tempo, mas é um tanto inútil — olhei para sala e tive uma ideia.
— Tenho que pensar em algo quando a situação mudar.
Transmigração em 4… 3… 2… 1
“Aquele que entende a sua situação, não sofre tanto…”
O mundo se tornou colorido novamente, a beleza do sol ficou ainda mais evidente na luz do dia. A bola na minha perna restringia apenas movimento brusco, continuei a fazer a peça de madeira em minhas mãos, afinal a ideia central estava em minha cabeça.
O homem sentado na cadeira parecia bastante curioso e Aramis estava sorrindo de canto.Terminei a peça e mantive minha face neutra. Aramis se aproximou tirando a faca da minha mão e o homem sentado se levantou analisando meu corpo.
— Saudável, suas habilidades com artesanato são boas e ele não parece fazer movimentos desnecessários… — ele continuou me olhando.
— Gostei do jovem, qual o preço? — Ele se virou para Aramis.
— Duzentas moedas de ouro — Aramis foi claro e não vacilou o olhar.
— Salgado, não pode diminuir um pouco? — o homem franziu a testa.
— Ele é jovem, além disso, ele foi trocado por dívida — Aramis foi claro.
— Esse é o caso então. Por isso está tão saudável — o homem reavaliou.
— Fica com ele ou posso chamar outro comprador? — Aramis disse se virando para a porta da sala.
— Não espere! Eu fico — ele disse.
— Passe as moedas — Aramis estendeu a mão.
Naquele dia fui vendido como um escravo, conheci minha “nova casa”.
A loja era bonita a frente de cerâmica com belos desenhos, os pilares eram octogonais e feitos de pedras inteiras de mármore branco, as mesas eram de madeiras de alta qualidade.
Os tapetes da loja eram os mais belos que já vi, as portas eram feitas de bronze com detalhes bem esculpidos.
As peças da loja eram requintadas, de madeira a metais preciosos. Os artesãos desta loja tinham habilidades notáveis, como esse jovem se destacou aqui? Ainda não olhei as memórias relacionadas com sua habilidade de esculpir, estava prestando atenção a situação atual.
No fundo da loja havia uma escada com tochas para um andar mais baixo, descemos durante um tempo até chegar em um determinado local. Era uma sala com pouco de luz que vinha de cima, as pedras ao redor eram esculpidas, havia uma pequena vila de escravos no subsolo.
Havia camas, muitas mercadorias, homens e mulheres de todos os tipos, ele me mostrou o que seria “meu quarto”. Dentro de uma pequena cela com feno e alguns pedaços de couro por cima.
— Será aqui, se suas habilidades se mostrarem melhores poderemos mudar suas acomodações. Mas não espere ser bem tratado, se não trabalhar não terá comida e se continuar a se recusar lhe venderei — o homem me olhou.
— Entendo… — olhei para baixo.
— Espero que meu trabalho agrade o senhor — fui em direção a minha “morada”.
— Você entende rápido a situação, isso é bem raro nos tempos de hoje — ele se virou e desapareceu em meio aos escravos.
— Ei garoto novo — uma voz parou meus passos.
— Sim — olhei para a pessoa ao meu lado.
— Sou Melquior, estou aqui há algum tempo — ele estendeu a mão.
— Gaspar. No que trabalha? — tinha que entender o máximo possível desse lugar.
— Com animais, um nome raro aqui — ele sorriu.
— Não parece ser de uma família pobre, mas também não parece ter sido rico. Quero dizer, normalmente as pessoas surtam quando sabem que viraram escravos — ele colocou a mão no meu ombro.
— Estava preparado para isso, é tudo que posso dizer… — fiz uma cara triste. Meu objetivo era conseguir mais informações, sem revelar as minhas próprias.
— Oh? Alguém que estava preparado, a primeira vez que ouço isso — ele deu um passo para trás.
— Gaspar espero que possamos conversar mais. Tenho que voltar ao meu trabalho.
— Até — Suspirei aliviado e fui para meu local de descanso. Tinha muitas coisas para pensar e me preparar.
Depois de algumas horas pensando cheguei a algumas conclusões. Gaspar deve ter ficado chocado quando foi vendido, acreditando cegamente em seu “dono” ele se esforçou muito para se destacar, criando muito inimigos para si.
Por causa disso se tornou introvertido e não conseguiu muitas amizades, nesse caminho autodestrutivo a cada passo para fama. Menos aliados ele tinha até que ele se destacou mais que os guardas e começou a ser agredido por eles, o restante da história já sabemos.
A primeira coisa que devo entender é quem manda neste lugar. Obviamente, posso ser os ovos de ouro do dono, mas o dono aqui de baixo não estaria se importando com isso.
Segundo devo conhecer o máximo de pessoas e conseguir muitos aliados, se torna uma vantagem a longo prazo, afinal até escravos podem ganhar suas moedas.
O último é mais importante, devo treinar, ser fraco nesse lugar é pedir para ser intimidado. Graças a minha experiência aprendida com Ricard, tenho alguma noção de treinamento corporal.
Além disso, ele parece ter um excelente equilíbrio e um bom trabalho de pés. Sua constituição não parece tão desnutrida, tenho algo para trabalhar.
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Algumas semanas se passaram, descobri que o dono do lugar é Saadi, o guarda principal do meu dono Bahman. O dono parece um homem influente, conhece muitos senhores da região e fez seu nome como comerciante de objetos valiosos.
Ele entrou no ramo de artesanato por acaso quando comprou um escravo hábil com essas habilidades. Asdrúbal, ex-escravo, foi esse homem, ele se tornou o responsável pelo estoque e aquele que lida com os escravos sem habilidades.
Provavelmente foi ele que queria acabar com Gaspar com medo de perder seu cargo.
Me tornei amigo de muitas pessoas, trocando favores e fazendo alguns trabalhos para os escravos. Tentei não me destacar muito na frente de Bahman, mas ainda consegui uma morada melhor que a anterior com espaço maior.
Meu corpo fraco conseguiu alguns músculos, com a comida extra que ando ganhando de Melquior, digamos que ando vendendo alguns produtos para ele impressionar uma certa escrava.
Recentemente os guardas pararam de desconfiar tanto de mim, minhas saídas a cidade para comprar itens como madeira e outros é supervisionada por escravos mais velhos.
Fui escolhido para esse trabalho pela minha velocidade, foi a maneira que achei para treinar meu trabalho de pés. Apesar da minha excelente habilidade, não tento roubar as pessoas comuns por essa vantagem.
Minha agenda não é tão apertada quando imaginei, ainda me sobra algum tempo para tramar alguns planos.
Descobri com alguns comerciantes que os persas jogam xadrez, apesar de não ser muito comum para escravos, os homens de alta classe utilizam bastante.
Criei minhas próprias peças de madeira e comecei a treinar sozinho, parece que não tenho nem um parceiro de treino. Entretanto, acho assim melhor, posso manter um perfil baixo sobre esse assunto.
Depois daquela noite, acordei e fiz meus hábitos diários. Minha entrega era para uma loja conhecida na área, a cidade estava tumultuada.
Os comerciantes gritavam os seus produtos e preços, entrei em uma das lojas entreguei um papiro e algumas moedas para o atendente e ele me retornou com outro papel.
Saí da loja e quando estava voltando uma determinada figura naquela rua me chamou atenção. Era uma idosa, seus cabelos eram brancos e seus olhos pareciam não ter cor.
O tapete abaixo do seu corpo era roxo, a sua frente havia uma moeda de ouro e uma taça de prata, havia uma garrafa de vidro, suas roupas eram bastante comuns. Porém, seu olhar em minha direção se destacava.
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