Reencarnação do Vampiro - Capítulo 14
No centro de um quarto, uma figura masculina de cabelos longos até o ombro e de beleza estonteante observava o local com uma expressão séria. O homem parado no meio do cômodo, sentia nostalgia e gratidão.
— Para seguir meu caminho, preciso ir, mas talvez volte, porque aqui é meu lar.
Ele olhou em volta e volta e um pensamento passou pela sua cabeça.
“Dependo das circunstâncias, talvez nunca volte. Mesmo não querendo ser pessimista, antecipar inconveniências nunca é demais”.
Jonathan vestia uma camisa social da cor preta, calça sarja também da cor negra. Sapatos simples e um casaco cinza com botões duplos desabotoados.
“Esses três anos passaram rápidos. Quando renasci, um ano apenas parecia mulheres, mas quando comecei a me acostumar, passa em um piscar de olhos. O tempo sempre foi odioso. Já devia estar acostumado, quantas pessoas vi envelhecer e morrer? Parece que o tempo passa mais rápido quando se tem contato com mortais”.
O belo homem desceu as escadas e viu seus pais o esperando na sala. Parou em frente a entrada da cozinha e viu Gabriela o esperando com uma expressão um pouco diferente do habitual.
O rapaz foi até ela e a abraçou, colocando seus dedos entre o cabelo.
— Tenho que ir. Se ainda estiver disposta a retribuir aquele favor, sua ajuda seria mais do que bem vinda. Chegará um momento, que vou precisar muito de você. E não, não é o que está pensando. — falou baixo enquanto a abraçava.
— Eu sei, esse tipo de coisa não combina com você. Mas sinceramente, o senhor tem que parar de falar coisas que o comprometem, mesmo não tendo intenção, as pessoas entendem errado. — disse Gabriela, enquanto derramava lágrimas.
Ao soltar a garota ruiva a expressão fria de sempre ainda residia no rosto daquele homem, porém nesse momento, algo estava diferente, suas sobrancelhas demonstravam sua tristeza. Seu olhar frio, agora também estava vazio. Seus olhos não mostram determinação e sua expressão não era mais tão rígida.
O único sentimento que aquela pessoa demonstrava era a tristeza. Qualquer um podia ver e sentir o que ele estava sentindo. Um homem arruinado que conhecia aquelas emoções mais do que qualquer outro.
— Eu já te falei que conheço uma pessoa parecida com você? Vocês duas foram as únicas pessoas que vi com cabelos ruivos tão fortes assim.
Gabriela usava um uniforme de empregada, de cor cinza com babados brancos nas pontas das mangas e da saia. O cabelo amarrado em forma de coque, fazia Jonathan se lembrar de Sara.
A única as únicas diferenças gritantes entre as duas, eram os óculos que Gabriela usava e a altura. A empregada era mais alta. Além da forte personalidade de, Sara era mais correta e bem menos falante.
— Acho que me lembro, de já ter te ouvido falar sobre isso.
— Pra onde estou indo, talvez eu a encontre. Quando tiver a oportunidade, vou trazê-la para você e meus pais conhecerem ela.
— É algum tipo de namoradinha?
— Não, ela é como uma filha para mim.
— A diferença de idade não pode ser tão grande assim.
O rapaz encheu os pulmões de ar para dizer algo, mas desistiu. Ele tirou os óculos retangulares dela e limpou suas lágrimas.
— Não chore. Não é como se eu fosse morrer. — Parou por um segundo e pensou a respeito. — Não é como se eu fosse morrer pra sempre.
— Você tem que parar de falar coisas estranhas.
Colocou os óculos de volta e se virou. Foi em direção a saída.
— Adeus Gabriela.
Após colocarem as malas de Jonathan no carro os empregados voltaram ao trabalho e o jovem seguiu viagem junto de seus pais.
…
Após 40 minutos de viagem, o veículo parou em frente de um prédio. Um jovem e seus pais saíram.
— Finalmente chegamos. — disse Suzan, cansada.
Jonathan retirou a cadeira de rodas do seu pai, de cima do teto do carro e o colocou nela.
— Caracas, filho, você é bem forte. Não teve nenhuma dificuldade.
— Eu treino todos os dias desde de que entrei no ensino médio.
— E porque não nos contou nada?
— Achei e ainda acho que não é um assunto importante.
— Se tivesse me dito, eu poderia arrumar uma ajuda profissional. Você podia ter se machucado.
— Como pode ver, não é necessário, estou perfeitamente bem. Se posso fazer algo sem pagar, então farei.
— Moleque teimoso.
— Então é por isso que começou a comer igual a um porco de uma hora para outra. — disse Suzan.
— Falando nisso, vou sentir falta da comida da Gabriela.
— Ahem. Só da dela?
— Não, da sua também. Comida de mãe sempre é especial. Bom, vamos subindo?
Marcos moveu sua cadeira de rodas até a traseira do carro.
— Me dá uma dessas caixas aí. — disse para um dos funcionários.
O homem entregou uma caixa média para ele.
— Vem aqui filhão. Me empurra aqui. Eu carrego a caixa e você me empurra, os dois ajudam. Hehhe. — disse em um tom infantil.
Jonathan começou a empurrar a cadeira, entrou no prédio com seu pai e pegou o elevador. O prédio tinha 50 andares e o apartamento do belo moço ficava no 32°. Em frente a porta, o belo jovem entregou as chaves para sua mãe e ela abriu.
Os três adentraram e aos poucos seus funcionários iam trazendo as coisas do rapaz de cabelos negros. Ele foi até seu quarto, abriu as cortinas pesadas e olhou a vista da cidade abaixo.
“Em breve, essa cidade será minha no mundo sobrenatural”.
O belo homem sabia que quando seu clã se estabelecia em um território, se tornava a figura que ditava as leis.
Segundos depois uma voz feminina que ele não conhecia soou pelos seus ouvidos. Sua mãe atendeu a pessoa na porta.
— Olá?
— Oi, tudo bem? Meu nome é Débora, sou a síndica e vim dar as boas vindas.
— Ah, claro, pode entrar.
— Com licença.
A mulher entrou e sentou-se no sofá.
— Infelizmente a única coisa que temos a oferecer é água.
— Não precisa se preocupar, só estou aqui para lhe dar as boas vindas e te informar sobre as regras desse prédio.
— Na verdade, quem vai morar é o meu…
Suzan foi interrompida por uma voz imponente em um tom firme. Era levemente atraente aos ovidos.
— Sou eu.
Débora ouviu passos lentos, porém firmes, um passo, outro passo. O belo jovem caminhava confiantemente, como se fosse dono do tempo. Interrompeu seus passos graciosamente e suavemente alinhou seus pé.
Estendeu a mão para Débora e assumiu uma postura de cavalheiro. A bela mulher, aos olhos de muitos, mais velha, segurou a mão do rapaz e ele a beijou.
A síndica lançou um um olhar provocativo, que demonstrava interesse no jovem. Jonathan sempre desviava o olhar nessas situações, como um pai faz quando o filho diz que viu o papai Noel.
Dessa vez isso não aconteceu, ele manteve o contato visual e disse:
— Sou Jonathan, é um prazer conhecê-la, bela dama.
— Meu nome é Débora. O prazer é todo meu.
A mulher à frente do jovem, tinha uma aparência muito mais jovem do que sua idade, 40. Não apresentava sinais da idade. Seu cabelo era castanho claro, com pequenas ondas. Sua pele bronzeada e seus olhos eram castanho claro.
Seu corpo também era muito bonito. Esguio, pele macia, curvas estonteantes. Seus seios levemente abundantes e glúteos satisfatórios ao olhar de uma mulher. Também era visível alguns “pneuzinhos” em sua cintura.
“Mesmo o corpo humano, com suas imperfeições, ainda é bem atraente”. Pensou Jonathan.
O rapaz conviveu tantos séculos com vampiros, que havia se esquecido de como os humanos eram. Devido a se manter afastado das garotas em sua adolescência, a imperfeição do corpo humano se tornou algo estranho para ele.
— Eu só vim dar as boas vindas e entregar isso aqui. — Tirou um folheto do bolso e entregou ao jovem.
— Um papel com regras.
— Ai estão está marcado os horários das reuniões.
— Certo…
Suzan tinha uma expressão descontente em seu rosto enquanto olhava fixamente para a mulher à sua frente. Ao perceber o olhar de sua mãe, decidiu não prolongar a situação.
— Mais alguma coisa, senhorita?
— Não, mas já sabe, né? Se precisar de algo é só me chamar. — Fez um olhar insinuativo.
O belo jovem fingiu que não percebeu e apenas assentiu com a cabeça.
— Eu te levo. — disse Suzan.
Logo após fechar a porta, fez um olhar interrogativo para seu filho.
— Eu sei que está com ciúmes.
— Não estou com ciúmes, apenas curiosa. Você sempre ignorou completamente as garotas a sua volta, por mais bonitas que fossem, nunca deu bola pra elas.
— A resposta está em suas próprias palavras.
— Como assim?
— Não estou interessado em garotas, mas sim em mulheres. Existe uma grande diferença entre elas.
— Bom, tanto faz, mas lembre-se, você é muito jovem, mulheres mais velhas viveram bastante e viram muita coisa. A diferença de experiência pode causar atrito entre vocês.
— Vou tomar cuidado. — virou-se e voltou para o corredor de onde veio. — Vou voltar para meu quarto, estou cansado.
“Eu não posso simplesmente contar que quero construir uma relação com uma pessoa apenas para beber o sangue dela sem problemas. Uma garota jovem seria o ideal, pois são muito fáceis de manipular, mas não gosto de usar as pessoas como bolsa de sangue. Ela tem que me dar seu sangue por vontade própria”.
…
Jonathan entrou em um bar por volta das 18 horas. Dentro do estabelecimento, foi até o balcão e sentou-se em uma cadeira. A bartender estava de costas, procurando algo. O jovem achou a figura daquela pessoa muito familiar.
“Essa pessoa… Já a vi em algun lugar.”
A garota virou-se e seu olhar se encontrou com o dele. Ela ficou completamente sem reação.
“Essa criança, não esperava que também estivesse me procurando”.
O belo rapaz foi até esse bar porque era um lugar muito conhecido, portanto, mais provavel de encontrar alguém de seu clã.
“O senhor conheceu meus pais? Como eles eram? Não exatamente, mas sei que te amavam muito”. Memórias passaram pela mente de Jonathan, fazendo-o se sentir nostálgico.
— Algum problema?
— A nada, o que você vai querer?
— Martíni, por favor.
— Ok, espere um pouco, por favor, já estará pronto.
“Pela expressão que fez, com certeza me reconheceu. Eu morri apenas um mês após acolhê-la. Ela Era só uma criança, mas claramente a reconheço. Vamos apenas confirmar”.
— Como é o seu nome?
— Amará e o seu?
— Jonathan Crane.
— É um prazer conhecê-la, Amará.
— Que isso, o prazer é meu. Sabe, você se parece muito com uma pessoa que conheço.
— Que interessante. Essa pessoa é legal?
— Olha, não o vejo a muito tempo, mas pelo que lembro, é uma pessoa maravilhosa.
“Você era só uma criança, não deve se apegar a essa imagem que tem de mim”.
Amará terminou de preparar o drink e o serviu. O jovem pegou e de o primeiro gole. A bartender olhou para o dedo de Jonathan e viu um anel de prata em sua mão direita.
“Eu poderia usar o controle mental, mas com esse anel, não vai funcionar. Sinto o cheiro da prata de longe”.
— Isso é bom mesmo. Agora me sirva mais uma dose.
…
O belo homem estava caminhando pela praça até que avistou um banco e resolveu se sentar nele.
“Parece que esse novo corpo é muito mais resistente do que o anterior, eu nem sequer estou tonto”.
Repentinamente, sentiu algo entrar em sua área de detecção feita de mana. Essa técnica consiste em espalhar sua mana pelo ambiente, porém manter uma conexão com ela, usando como uma espécie de sexto sentido.
Quando um objeto entra nesse espaço, a deformação que ele causa na mana, permite o usuário ter uma noção de formato, tamanho e até peso do objeto ou ser ao seu redor. Essa técnica normalmente é usada quando se é privado de visão e audição.
“A alguém atrás de mim, julgando pela rápida aparição, deve ser um vampiro”.
Jonathan levantou-se e olhou para trás, em meio às árvores, olhos vermelhos brilhavam na escuridão, observando fixamente como um predador observa sua presa.
“Como imaginei, é um vampiro. Se fosse inimigo já teria me matado, mas vou tomar precauções”.
O jovem fortificou todo seu corpo com mana além de espalhar pelo chão com propriedades magnéticas para diminuir a velocidade sobrenatural do suposto inimigo.
— Não estou com medo, se quisesse me matar, já teria feito. Não é mesmo, vampira?
— Vampira? Como sabia que era eu? — Amará saiu do escuro, dando passos calmos.
— Quando me dizem que sou parecido com alguém, começo a buscar todas as características de um vampiro na pessoa. Você tinha todas. Acha mesmo que é a única que me confundiu com esse tal de Vladmyr Vangreat?
— Você teve problemas com vampiros, não é?
— Quase fui morto. Afinal, o que essa pessoa fez para ser tão odiado?
— O certo. Acolheu e protegeu bruxas sem pedir nada em troca, deu uma família para aqueles que foram abandonados pelas suas. Nenhum humano se sentiu inseguro nos domínios do clã Oblivion.
— E o que ele ganhou com isso? A morte. Cada um tem o que merece.
— Uma família, pessoas que o amam e estão dispostos a dar sua própria vida para trazê-lo de volta. Isso é o que ele tem. Se cada um tem o que merece, então o mundo foi injusto. Ele não merecia ter morrido daquela forma.
Jonathan virou as costas, porém a mulher já estava em sua frente.
— Eu conheço seus truques de vampiro.
— Junte-se a nós. Nunca antes houveram registros que uma alma pode reencarnar em dois corpos com a mesma aparência duas, três ou mais vezes consecutivas. Porém, não há provas de ser impossível.
— Eu não sou Vladmyr. Mesmo que seja, se recuperar minhas antigas memórias, vou me tornar outra pessoa. E não quero isso. Adeus, me deixe em paz. — Passou por Amará e seguiu seu caminho.
— Se mudar de ideia, venha me procurar. Vou arrumar alguém que possa te transformar em um vampiro superior, assim como ele foi em sua vida passada. Se você não for nosso líder, vai sair ganhando. Os vampiros superiores são muito fortes. Poucas pessoas vão conseguir te matar.
“Era isso o que eu queria. Agora que Joana parou de esconder meus rastros, meu clã vai me encontrar. Tenho certeza que Faustos vai tentar impedir minhas filhas de me procurarem. Nesse momento é que vencerei esse jogo”.