Reencarnação do Vampiro - Capítulo 15
Às 5 horas da manhã, o despertador tocou. Jonathan se levantou, ligou a cafeteira, preparou um pão com mortadela, fez um omelete e uma série de outros alimentos calóricos.
Depois de tomar seu café da manhã, começou seu treinamento diário. Flexões, agachamentos, barra, levantamento de peso.
Seu objetivo não era ter o melhor corpo definido, e sim ter um bom físico para que o aumento de força pela mana fosse maior e, para que que tivesse uma pequena vantagem em relação aos outros vampiros recém transformados.
Depois de terminar, foi tomar banho. As 6:30 saiu de casa. A faculdade não era muito longe de seu apartamento, apenas 20 minutos de viagem. Por isso e também por motivos de saúde, decidiu ir a pé.
Ao chegar no local onde se encontrava a instituição, entrou atento à todas as pessoas no local. Por mais preparado que ele estivesse e, mesmo sabendo diferenciar um vampiro de um humano, não ficar atento ao chegar em algum lugar, seria um grande erro.
“Amará com certeza contou ao clã sobre mim. Mesmo que seja improvável, não se deve descartar nenhuma hipótese até que se prove o contrário. Eles já devem estar aqui”.
Por isso Jonathan havia quebrado sua ligação com a bruxa que o rastreava. Assim que ele pisasse no território do clã Oblivion, a ligação ficaria tão forte, a ponto de Zuri sentir claramente sua presença. Isso estragaria seu disfarce de pessoa comum.
“Assim que eu pisar naquele lugar, Zuri vai usar seus olhos para ver minha alma. Sei que ela vai entender exatamente a situação”.
O jovem andou pelos corredores e subiu as escadas. Pessoas de todos os tipos passavam por sua visão: gordos, magros, pretos, brancos, jovens e, em uma quantidade um pouco menor, pessoas mais velhas.
As aparências também eram variadas. Garotas jovens e extremamente lindas, outras nem tanto. Mulheres mais velhas que impressionantemente superavam as jovens em beleza. Mesma coisa os garotos e os homens. Porém ninguém era bonito a ponto de serem iguais aos vampiros.
Enquanto caminhava, em meio a multidão, Jonathan viu algo que o deixou alerta. Um cabelo loiro de beleza quase celeste. Seus olhos imediatamente seguiram o magnífico brilho dourado daqueles cabelos até sumir em meio a multidão.
Seu coração rapidamente se encheu de esperança, porém, ele esperava que não fosse a pessoa que parecia ser.
“Devo estar louco, não há motivos para ele estar aqui. Vamos voltar a procurar minha sala. Isso não merece meu tempo”.
Um pequeno sentimento de amargura e irritação surgiu no peito do rapaz.
Na sala de aula, o belo jovem se sentou na fileira do meio. Ao seu lado direito havia um lugar vazio. Ao olhar para a fileira na direção da cadeira vazia avistou uma garota olhando fixamente para si.
O belo moço fez contato visual e o manteve por alguns segundos. Virou a cabeça e olhou para frente. A professora entrou com alguns cadernos, cadernetas e livros agarrados ao peito.
A garota era muito bonita aos olhos dele, mas parecia muito jovem, fazendo-o perder o interesse.
“Não gosto de crianças. Essa professora consegue ser mais atraente aos meus olhos do que essa garota. Preciso encontrar alguém maduro, porém com uma mentalidade fluida o suficiente para permitir que eu beba seu sangue. Tem que ser alguém maduro o suficiente para não contar a ninguém, não quero ter que recorrer ao controle mental”.
Enquanto o rapaz estava imerso em seus pensamentos, a professora começou a se apresentar.
Ele não estava nem um pouco interessado em saber o que a professora dizia.
“Ainda não encontrei nenhum vampiro, o que será que meu clã está fazendo? A administração de Faus…”
A voz feminina da pessoa que chegou atrasada, interrompeu os pensamentos de Jonathan instantaneamente.
— Com licença, professora. Desculpa pelo atraso.
— Atarefada no primeiro dia de aula? Tanto faz, entre logo e sente-se.
Os olhos do jovem automaticamente fixaram-se naquela mulher como ímã.
“Não, não, não. O que ela está fazendo aqui? Com tantos lugares no mundo, você veio para cá, justo onde estou”.
Quem esse jovem é agora e tudo o que ele fez, teve início com essa pessoa. A mulher que o levou para o céu e em seguida para o inferno, estava diante de seus olhos mais uma vez.
Uma memória dos velhos tempos, quando Jonathan era apenas um humano inocente passou por sua cabeça.
Ele estava em uma festa. As pessoas usavam roupas festivas de um padrão de mais de mil anos. Dentre essas pessoas, essa mesma mulher que o rapaz acabara de ver, desfilava graciosamente pelo salão, roubando a atenção de todos para si.
Os sentimentos dessa memória retornaram ao seu peito, mas o jovem recusava a ceder e se manteve frio, ignorando tudo o que lhe fazia lembrar daquele passado.
Reviver aquelas memórias significava trazer de seu antigo eu, aquele que errou e foi responsável por sua grande queda e vergonha. Quem colocou um grande fardo sobre suas contas, jogando fora sua humanidade para carregar o peso da culpa.
♦ ♦ ♦
A primeira e única mulher que eu amei, estava bem diante dos meus olhos. Caminhando em minha direção, tão linda quanto no primeiro dia que a vi.
Aquela situação era como um tapa em minha cara, uma rasteira do destino. Eu estaria menos incrédulo e irritado se Faustos é quem estivesse aqui.
Aqueles cabelos dourados refletindo a luz como o espelho de um anjo. Suas curvas extremamente perfeitas, um corpo esguio de maneira jamais vista por mim em outra mulher.
Todo o corpo daquela pessoa era literalmente perfeito. Seus seios não eram nem muito grandes e nem pequenos, tinham a proporção perfeita em relação a sua estatura e massa corporal, mesma coisa seus glúteos. Uma beleza já estonteante, fortalecida pelo vampirismo.
A pessoa que mais odeio e guardo ressentimento, também era a mais bela que já vi em todo o mundo em todos os meus longos e vazios 600 anos de vida.
Ela caminhou pelo espaço entre a minha fileira de assentos da esquerda e a fileira da direita. Eu a fitei com os olhos por todo o caminho até que não estivesse mais em meu campo de visão.
Minha ex ocupou o assento vazio ao meu lado. Me recusei a olhar em seu rosto. Queria aproveitar o fato de ser supostamente um reencarnado sem memórias e a ignorei.
— Bom dia, sou Helena.
Não respondi ou virei a cabeça. A ignorei por negação, queria que meus sentimentos fossem apenas uma ilusão, que aquela pessoa deixasse de existir.
Como diz o ditado: a fé move montanhas. Eu queria que ela desaparecesse da existência, minha fé era alimentada por negação.
— Presta atenção na aula. — respondi fria e brevemente. Muito mais direto do que normalmente sou.
Eu queria fugir para o outro lado do mundo, para o mais longe possível dela. Porque sei que a cada segundo que sinto seu cheiro, escuto sua voz e deslumbro seu belo rosto, o fragmento de amor no que restou do meu coração, se alimenta.
Não olhei, mas o ar à volta dela, dizia que me encarava com descontentamento.
…
No intervalo, todos estavam saindo da sala. Me levantei e passei pelo assento que Helena estava. Ela já havia saído, então pensei que não ia me incomodar novamente.
Ao passar pela porta, fui surpreendido por uma voz delicada e atraente, vindo da minha direita. Em um tom educado e maduro.
— Agora você tem tempo para mim?
Pensei em chamá-la de inconveniente, chata e dizer que não gostava dela, mas não fiz. Meu tipo sanguíneo é o mesmo da vida passada, se ela me transformar em vampiro novamente, serei um superior e terei o Fator de evolução nessa encarnação também.
— Sim, desculpe-me por ter sido rude antes.
Retirei o anel de prata do dedo médio direito e coloquei no esquerdo. Helena franziu as sobrancelhas e lançou um olhar levemente desconfiado para minha mão.
— Porque tirou o anel? E não é assim que se cumprimenta uma moça linda como eu. — Se aproximou e me cumprimentou com um beijo no rosto. Algo normal nesse país.
“Se adaptou rápido à cultura desse país. Devo reconhecer que sua mente aberta a novas experiências é fascinante”.
— Sou Jonathan e você?
— Eu já me apresentei antes, mas como você ficou todo irritadinho, vou me apresentar novamente. Sou Helena.
“Agora só preciso arrumar um jeito de ela aceitar me transformar”.
— Quer almoçar comigo?
— Seria ótimo! Ficar sozinha é chato.
Fomos a um restaurante do outro lado da rua. Escolhemos uma mesa ao ar livre.
— Quantos anos tem, Jonathan?
— 18.
— Nossa, é bem novinho.
— Me desculpe, não sabia que estava falando com uma idosa. Quantos anos tem? 730?
— Quem me dera ser tão jovem assim. Fufufu. Tenho 20 aninhos.
— A diferença nem é tão grande.
É claro que ela estava mentindo. Quando nos conhecemos, já era um ano mais velha. Essa pessoa tem mais de mil anos de idade. Eu também teria, se não tivesse morrido”.
“A última vez que a vi, era uma péssima mentirosa”.
— Sim, eu estava brincando. Então, você é de onde?
— Daqui mesmo. Não exatamente desse bairro, mas nasci no centro. Me mudei para um apartamento a vinte minutos daqui?
— Nossa, me sinto honrada! Você confia em mim a ponto de me dizer onde mora. — disse ela, ironicamente.
— Porque não diria? Não é como se fosse invadir minha casa.
— Não, mas no seu caso seria interessante. Tenho certeza que teria uma ótima recompensa lá. — Essa última frase foi dita enquanto me olhava direta e fixamente nos olhos. Um olhar evidentemente sedutor.
“A única coisa que mudou em você é que está mais agressiva. Aí está a Helena que conheço, sempre dando o primeiro passo. Não esperava que ela fosse avançar assim de primeira. Para ela sou uma pessoa completamente diferente de Vladmyr. Já entendi sua estratégia. Vou apenas corresponder ao flerte”.
Nesse momento, tive certeza que não era um encontro do acaso. Helena estava lá por mim e pretendia me trazer de volta, mesmo não sabendo se sou ou não eu.
— Isso depende do ponto de vista. Para mim, em minha casa só haverá uma recompensa caso eu seja agraciado com a presença de alguém adorável.
— Hmmm, e que tipo de pessoa seria adorável para ti?
— Alguém como você, eu diria.
— Olha, ele sabe fazer algo além de ser rude.
— Já pedi desculpas. Se a senhorita se sentiu tão ofendida, por que veio falar comigo?
— Ah, é porque sou uma pessoa adorável e reconheci meu erro. São suas palavras, você me chamou de adorável.
— Hora, então essa pessoa adorável em minha frente veio pedir desculpas, é isso?
— Exatamente, mas você se desculpou primeiro. Aí eu resolvi ver onde dava. Na verdade, ia te convidar para almoçar, no entanto fui convidada primeiro.
— Que bom saber, da próxima vez vou ser muito mais rude. Quem sabe não me convida para um encontro.
— A, é? Da próxima vou te atrapalhar a aula toda. Quem sabe não me convida para seu quarto.
Nesse instante fiquei completamente sem reação. Realmente não esperava que ela fosse ser tão… Como diz a expressão popular: “cara de pau” a ponto de me jogar uma cantada desse tipo logo no primeiro encontro.
Helena entrelaçou os dedos, apoiou os cotovelos sobre a mesa e depois, repousou seu queixo sobre as mão entrelaçadas e disse:
— Que foi? Ninguém nunca te convidou para o vamo ver?
“Vamos quebrar o ritmo e dar um de idiota”.
— Pensei que você tinha um namorado.
— Por que pensou isso?
— É realmente estranho uma mulher tão bonita quanto você não ter namorado.
— Ara, se beleza garantisse um relacionamento, você teria várias namoradas.
“Que desgraça de mulher”.
— Ora, então se a beleza não é um fator decisivo, por que se interessou por mim?
— Eu vi como você me olhou quando cheguei. Também percebi aquela garota da fileira ao lado te secando. Mesmo assim, seu olhar em relação a mim não é o mesmo quando olha para aquela piriguete. Porém, mesmo se sentindo atraído, você decidiu me ignorar e focar na aula. Homens que se entregam ao desejo não são meu tipo.
“Ela me disse a mesma coisa quando nos conhecemos. Cansei de joguinhos”.
Mudei completamente meu tom de voz e voltei a falar como antes. Expressando meu descontentamento, com a cabeça erguida, disse firmemente.
— Deixa eu advinhar. Você conheceu uma pessoa parecida comigo, tanto em aparência quanto no jeito de agir.
Ela expressou estranheza.
— É… como adivinhou?
— Tenho certeza que já entendeu. Mil anos de vida dão uma sabedoria considerável até para um imbecil.
Sua expressão cativante juntamente com o olhar meigo, desapareceram completamente.
— Amará me alertou que você sabia identificar vampiros.
— Não precisei de esforço algum. Seu corpo é perfeitamente aliado à proporção áurea. Quem não perceberia? Pele macia, cabelos perfeitos, lábios vermelhos com um formato perfeito. Você nem está usando batom, mas aparenta estar.
— Isso não importa. O importante é que saiba porquê estou aqui.
— Para me recrutar para aquele clã. Não estou interessado, não em me tornar outra pessoa.
— Não será necessário. Não iremos recuperar suas memórias anteriores, apenas uma memória específica. Se você for ele, aí sim o processo de recuperação de memórias será iniciado.
— É exatamente disso que estou falando. Não estou com medo de me tornar uma pessoa por nada. O problema surge caso eu realmente seja esse tal de Vladmyr. Nesse caso, eu deixaria de ser quem sou.
— Não exatamente. Pense comigo. Se eu estivesse em seu lugar e tivesse tido as exatas experiências que você. Exatamente igual, nada diferente, eu seria você como pessoa?
— Não, cada um reage diferente a cada coisa que experimenta.
— Isso mesmo. A forma como sua alma reage às experiências da vida é o que realmente representa a pessoa que você é. Recuperar suas memórias e consequentemente sua personalidade antiga, apenas devolve algo que você perdeu além de seu antigo corpo e vida. Talvez esse seja o preço do recomeço.
— Você tem como provar o que diz?
— Sim. Ao longo dos anos depois da morte de Vladmyr, os membros reencarnados que tiveram suas memórias recuperadas, apresentaram uma espécie de junção entre a nova e velha personalidade. Claro, devido ao fato de serem vampiros e terem vivido vários séculos, a antiga personalidade se expressou muito mais. Mas não quer dizer que você vai deixar de existir, vai apenas se tornar alguém melhor.
“Era isso que eu queria. Caia em minha encenação”. pensei, tentando tirar vantagem da situação.
— Então, vamos fazer um trato.
— Que tipo de trato?
— Aceito entrar para esse clã, mas com uma condição.
— Diga.
— Você é a única que vou deixar me transformar em vampiro.
— Po-Por que eu?
— Se você estiver mentindo, tenho certeza que meu antigo eu ficaria bem irritado caso a esposa dele mentisse para ele.
— Esposa? Do que…
— Eu não fui o único com um olhar diferente. O olhar que direcionou para mim não foi de atração e sim de amor. Estou mentindo?
“Agora finjo que estou entendendo a situação errado, apenas para retirar as suspeitas de mim. Nunca chegamos a nos casar, mas o fato de eu “acreditar” que éramos casados, diminui as suspeitas sobre mim”.
— Digamos que éramos tipo isso. Mas há um problema.
— Como assim?
— Prometi a uma pessoa que não te transformaria sem permissão, então vai ter que esperar um pouco.
— Certo, eu esperarei.
“Perfeito. Se ela me transformar, as chances de eu me tornar um superior são de 100%”.