Reencarnação do Vampiro - Capítulo 16
Jonathan subia as escadas do prédio da faculdade. No final da escada, uma das funcionárias da limpeza limpava as janelas do corredor. O belo jovem reparou algo estranho naquela pessoa, porém não sabia dizer exatamente o que.
Ele se aproximou da janela e olhou a vista através dela. Suas verdadeiras intenções eram se aproximar da faxineira.
“Essa mulher é bem nova. As outras funcionárias são muito mais velhas. A diferença de idade entre eu e ela aparentemente não é muito grande… Isso é estranho. Normalmente as pessoas mais jovens procuram profissões menos cansativas”.
O belo homem olhou a mulher de cima a baixo por um tempo. A pessoa ao seu lado arregalou os olhos.
— O que você tá fazendo, menino?
“Pela expressão, deve pensar que sou um pervertido. Não consigo saber se é uma vampira ou não”.
Ela estava usando maquiagem e batom. Os vampiros são facilmente distinguíveis entre os humanos, devido a palidez de suas peles ou sua beleza muito acima da média. Mas há algumas maneiras de se camuflar entre os humanos, de forma que fiquem indistinguíveis visualmente.
Para as mulheres, basta usar maquiagem, batom e roupas que não revelam muito a aparência corporal. Os homens devem apenas se expor ao sol diariamente para que sua palidez desapareça e usar roupas de manga longa.
O uniforme da faxineira era verde escuro e cobria todo o corpo. A blusa tinha a manga comprida. A calça era grande e larga.
Jonathan olhou bem fundo em seus olhos, aproximou seu rosto ao dela e observou por alguns segundos.
O corpo da mulher emanava um calor incomum, como se estivesse com febre, porém era muito mais quente. O jovem afastou seu rosto lentamente.
— Ei! O que você tá fazendo?
“É uma vampira, como suspeite. Mesmo doente uma pessoa não é capaz de emanar essa quantidade de calor e continuar trabalhando como se nada tivesse acontecido”.
O corpo dos vampiros não produz suor, impedindo a liberação de calor. Por isso, a maioria dos vampiros de pele branca ficam com a pele avermelhada com mais frequência. Isso é ainda pior quando exposto ao sol.
Sem dizer uma única palavra, o belo garoto se afastou e seguiu seu caminho pelo corredor.
“O que caralhos esse menino estava tentando fazer?”
A vampira de uniforme verde sentiu alguém a observando pelas costas e virou a cabeça. Atrás dela, a dois metros estava Helena. Direcionando um olhar ameaçador.
Ela voltava do almoço com Jonathan. A bela mulher se aproximou da jovem faxineira e apenas sua expressão já era intimidadora, mas a forma como andava e, também sua postura, colocava qualquer um em estado de alerta.
— A senhora não foi avisada sobre mim, mas eu fui avisada sobre sua presença. Não se preocupe, estou do… — Tentou dizer Samara, mas foi interrompida por Helena.
— Está do meu lado. Você é uma das crias da Elizabeth… Suponho que seja uma aliada.
A jovem vampira tremeu levemente ao ouvir a voz rígida de Helena.
— Isso mesmo. A senhora poderia por favor me dar a mão?
A mulher loira e a jovem vampira apertaram as mãos. Um brilho dourado saiu da cabeça de Samara, percorreu o braço e passou para a loira a quem estava segurando a mão. O brilho subiu pelo braço e foi para a cabeça.
“Consegue ouvir, senhora?” Uma voz ecoou na cabeça da vampira mais velha.
“Feitiço de telepatia?
“Mais ou menos, eu basicamente estou obrigando seu cérebro a receber os estímulos elétricos do meu cérebro. Voltando ao assunto, descobri que o zelador é um vampiro também. Ele não é um membro do clã, deve ser um infiltrado, como eu”.
“Percebi há algum tempo. Conheço o cheiro de vampiro de longe. Esse homem já deve ter notado que você também é. Não se preocupe, fiquei fora da visão dele e duvido que ele saiba nos identificar pelo cheiro, mas caso consiga, estou usando um perfume forte em excesso”.
“A senhora deve proteger o garoto muito mais agora, não deixe ele ir sozinho para casa. Falando sobre ele, o que achou?”
“Mesmo que ele não seja quem estamos procurando, vai ser de grande ajuda. É habilidoso e bem preparado. Esse jovem já até descobriu o que somos”.
“O que? Nós duas? É por isso que ele estava me olhando daquele jeito. Realmente não me pareceu pervertido, só… Estranho”.
“Vou dar o relatório para sua senhora. Enquanto isso, descubra mais sobre o espião e o elimine. Se for demais para você, deixe eu que faça isso, vai ser tão fácil quanto matar um pernilongo”.
Helena seguiu pelo mesmo caminho que Jonathan. Na sala de aula, metade dos alunos ainda não haviam chegado do intervalo. Ela se sentou ao lado do jovem. Quando olhou para a direita, percebeu a garota fitando o garoto.
A vampira olhou de cima a baixo para a jovem e expressou desdém. A menina respondeu franzindo a testa e fazendo o mesmo que a loira.
— Está tudo bem entre nós? Perguntou Helena.
— Porque não estaria?
— Eu me aproximei de você escondendo algo e… Com segundas intenções. Também tem o fato de que sou uma vampira. Nem todo mundo gosta de nós.
— Não sou do tipo que culpa toda uma raça por causa de ações individuais. Desde que cumpra sua parte no acordo, não tenho motivos para te odiar.
“Tenho muitos motivos para te odiar, mas preciso de você para atingir meus objetivos”.
— Tá, entendo. Espero que possamos ser amigos, mesmo que você não seja ele.
— Como eu disse, desde que cumpra sua parte no acordo. Também não gosto que mintam para mim, odeio traidores. — O garoto olhou bem no fundo dos olhos da loira. — Você não teria coragem de mentir para mim, não é?
A bela mulher estremeceu. Ela não podia prometer isso a alguém que não conhecia. Também havia o fato de que, não estava sozinha nisso, haviam outras pessoas envolvidas.
— …Não, jamais.
“Entendi, parece que não posso confiar em você”.
— Então quero que faça um outro acordo comigo.
— Depende.
— Mesmo que eu não seja a pessoa que procura, quero que compartilhe seu sangue mesmo assim.
— Por que eu faria isso?
— Você disse que queria ser minha amiga. Se nos tornamos bons amigos, isso não vai ser um problema, certo?
— Por que está tão obcecado em se transformar? A imortalidade é entediante demais!
— Porque estou cansado de viver com medo de morrer só porque me pareço com alguém que morreu a muito tempo.
A vampira suspirou enquanto fechava os olhos.
— Tá, eu te transformo, mas só vou ficar ao seu lado por um ano, depois vou seguir meu caminho.
♦ ♦ ♦
Alguns dias depois, Helena foi até uma sala, bateu na porta e entrou. No fundo do ambiente, havia uma mulher sentada em uma cadeira giratória, de cor preta e branca.
A mulher tinha cabelos castanhos claros cacheados, um leve rubor era visível em suas bochechas. Ela se virou e perguntou:
— A senhora conseguiu algo? O que acha dele?
— As informações estavam corretas, ele sabe sobre nós. É muito astuto e manipulador. Tem olhos afiados e aparentemente, sabe se defender, não tinha nenhuma abertura. Não percebi nenhum traço do meu ex noivo. O nome é mesmo Jonathan. Ele aceitou ser transformado, mas tem uma condição.
— Que condição?
— Que apenas eu o transforme.
A garota sentada mordeu a unha do polegar direito enquanto pensava. Era uma hábito que adquiriu há alguns séculos.
— É arriscado, mas pense comigo. É muita coincidência uma pessoa nascer exatamente no mesmo dia e hora que o meu pai e ainda ter a mesma aparência que a dele. Mesmo que a reencarnação não funcione assim, não é algo que possamos ignorar. Também tem o fato de a ligação entre ele e Zuri ter sido quebrada a pouco tempo. Depois de 15 anos?
A vampira de cabelos cacheados pôs as mãos no apoio de braços da cadeira e aproximou seu rosto ao de Helena. Com um sorriso confiante escapando, disse:
— Sabe o que eu acho? Que ele já recuperou as memórias. E tenho provas! Bom, quase provas.
Ela pegou um papel com uma notícia impressa e entregou para a loira.
— Isso… Nós não ficamos sabendo de nada disso. A pessoa que morreu, não conheço, mas a criança, definitivamente, é o Jonathan. — disse Helena.
— Um sequestro em uma cidade grande não foi noticiado corretamente? Tenho certeza que foi encoberto. Se reparar bem, quando chegaram no local, o sequestrador já estava morto, a causa da morte? Coração arrancado.
A bela mulher jogou seu volumoso cabelo para trás com movimento de cabeça. Levantou o dedo indicador e completou:
— Meu palpite é que há alguém mais além de nós procurando por ele. E essa pessoa também acredita que Jonathan é meu pai. Essa criatura com certeza é poderosa financeiramente. O problema surge mesmo é se a origem dessa fortuna for por causa dos poderes vampíricos.
A vampira sobre o assento mordeu a unha do dedo indicador direito enquanto expressava preocupação.
— Uma das outras provas de que as informações sobre ele estavam sendo ocultas, é o fato de que só o encontramos agora. Boletim escolar, viagens, fotos com a família, não achamos nada até pouco tempo.
— Se ele recuperou suas memórias, por que não veio até nós?
— Era exatamente aí que queria chegar! Meu palpite de haver um traidor estava certo. Meu pai é só um humano fraco agora, matar ele não seria difícil. Mesmo transformado, um recém criado não é páreo para vampiros velhos. Por isso, quero que cumpra o pedido dele e o transforme. Seu sangue é O negativo e você tem o fator de evolução. Se transformá-lo, ele vai conseguir recuperar seu poder e punir o traidor.
— Certo, então não podemos perder tempo, vou transformá-lo hoje.
— Ótimo, quanto mais rápido, melhor. Vamos fazer de tudo para que todos suspeitam que ele é mesmo meu pai, assim, se o traidor tentar algo, a desconfiança vai cair sobre ele. Vamos protegê-lo o máximo que pudermos. Se ele não for, nossas ações não serão nada precipitadas, afinal só incitamos uma desconfiança e não afirmamos que ele é meu pai.
— Quem você acha que é o traidor?
— Claro que desconfio de quem estava com ele. Se meu pai morreu, ele também deveria ter morrido. Também não engulo a história que foi contada por aquele homem desprezível.
— Certo, vou indo.
— Boa sorte! Elimine qualquer ameaça, eu me responsabilizo por qualquer eventual acidente.
— Mesmo que matem ele, vou dar um jeito de salvá-lo, confie em mim, Elizabeth.
♦ ♦ ♦
Jonathan estudava o conteúdo dos livros da faculdade e também buscava conhecimentos mais avançados na Internet.
O jovem usava um feitiço de memorização, permitindo que sua memória fosse perfeita apenas no quesito visão. Tudo o que via ficava preso em sua mente, porém os sentidos como olfato, audição e etc, não eram afetados pelo feitiço.
Ter uma memória perfeita para todos os sentidos corporais, poderia sobrecarregar o cérebro humano, causando desmaios e até morte. Vampiros tem um cérebro muitas vezes melhor, por isso a memória era perfeita para todos os sentidos.
Ao longo da história, foi difundido que apenas as capacidades físicas eram melhoradas ao se transformar, entretanto as capacidades mentais estão incluídas.
Afinal, um cérebro humano não está preparado para receber estímulos visuais em velocidades próximas ou até superiores a do som.
O celular tocou. O garoto pegou o telefone e olhou quem o ligava para si. Era Helena. Ele sem demora atendeu.
— Alô. Como foi, deu certo?
— Sim. Queria saber se você pode me encontrar aqui na praça? Agora já é noite, seria o momento perfeito para se transformar.
— Estou indo aí.
— Tome cuidado, a noite é muito perigosa para humanos. Quando chegar, te ligarei novamente para dizer exatamente onde estou.
— Certo.
— Até logo.
…
A vampira de cabelos dourados ligou novamente para Jonathan quando chegou, mas a mensagem automatizada dizia que o telefone estava fora da área de cobertura ou desligado.
— Isso não é bom, se ele estivesse aqui perto, o telefone não estaria sem sinal. Será que já pegaram ele. Devo procurá-lo.
Do outro lado da praça, o belo jovem sentou-se em um banco e pegou seu celular.
— Sem sinal… até há pouco tempo o sinal estava forte. Se considerar que estou muito próximo de uma antena. São coincidências que aumentam e muito minhas chances de morrer, então se fosse pensar em algo, diria que estão tentando me matar.
Ao terminar a frase, o humano de cabelos negros aumentou o raio de alcance de sua mana para o máximo que pôde. O raio de detecção cobriu toda a praça e mais metade dos quarteirões em todas as direções. Alguém estava atrás dele apontando algo.
Uma intenção assassina enorme emanou do indivíduo nas costas do garoto. Jonathan rapidamente levantou-se e lançou o banco em que estava sentado na direção do inimigo.
Ele dividiu sua mana em duas pequenas partes, moldou para ter diferentes efeitos e aplicou no banco. Uma aumentava a velocidade e a outra aumentava o peso para duas toneladas.
O assento voou na direção do assassino, mas ele desviou. O banco destruiu duas árvores. O som do impacto dos grandes objetos despencando ecoou por toda a praça.
O jovem mago aplicou mana em seu coração, para que ele bombeasse essa energia pelas veias de todo seu corpo. O garoto entrou em posição de luta.
O oponente moveu-se para as costas do rapaz de cabelos negros e apontou seu revolver para a cabeça. Jonathan virou-se em velocidade sobre-humana e desferiu um soco a 300 km por hora contra a cabeça do inimigo.
Ele havia separado pequenas reservas de energia moldadas de forma que cada golpe disparasse energia mágica com força equivalente a tiros de canhão.
— Gwoo. — O homem de meia idade desviou com dificuldade.
O agressor apontou sua arma contra o peito do jovem, que desviou com a mão esquerda e em seguida deu uma cotovelada no rosto do velho.
“O que? Ele também é um mago?”
O garoto sentiu sua mana tocar a mana do inimigo. O Assassino foi lançado para longe quicando no chão. Quando se levantou, viu o moleque vindo em sua direção desferindo um murro de cima para baixo contra sua cabeça. A única reação foi pular para trás.
O golpe destruiu o chão, formando uma espécie de “teia de aranha” no piso de cimento da praça.
“Caralho! Que porra de pirralho é esse?”
O velho correu usando sua velocidade sobrenatural para confundir seu inimigo.
“Isso não é magia, é coisa de vampiro. Onde ele vai aparecer? Nas costas? Em cima? Frente? Espera, mantenha calma, eu não sou assim. Sinta o inimigo”.
Jonathan escutou o som do ar se movendo a sua esquerda e olhou para a direção do som. Avistou o velhote pulando e desferindo um chute contra sua cabeça. Ele bloqueou o chute com seu braço coberto por uma armadura mágica transparente de cor azul turquesa.
Essa proteção poderia aguentar um tiros que furam blindagem. Porém, ela só tinha um único defeito: o usuário ficava imovel.
O homem recuperou sua postura e apontou sua arma contra o peito do jovem. O rapaz reagiu cobrindo seu corpo com armadura mágica. O velho fez um movimento com a mão, quando o menino se deu conta, eles haviam trocado de lugar e o velhote se encontrava em suas costas.
O coroa atirou em seu coração, a velocidade do tiro era maior do que a velocidade que ele conseguia moldar mana.
Jonathan caiu de joelhos no chão, olhando para seu peito, viu seu próprio sangue manchar sua roupa.
“De novo, não. Tudo o que fiz foi em vão…”
Seus pensamentos lentamente ficaram confusos, sua visão escurecia aos poucos. Ele caiu, batendo o rosto no chão.
“Por que não sinto dor? Deve ser a adrenalina. Tenho que usar um feitiço de cura, rápido… O tiro foi no coração, o fluxo sanguíneo está diminuindo, por isso minhas funções cerebrais não funcionam direito. Já até esqueci como funciona a regeneração celular”.
— Parece que levar 25 anos para aprender um feitiço de troca de posição não foi desperdício.
Repentinamente, o homem escutou o som do ar se movendo violentamente.
Quando olhou para a direção do som, viu um vulto diante de seus olhos. Foi lançado para longe e caiu no chafariz, quebrando os dispositivos que jorravam água. Sua mente nem sequer entendeu o que aconteceu.
“O que foi isso?”
Helena pegou o corpo molenga de Jonathan em seus braços.
— Não se preocupe, vou te salvar, tá? — Acariciou o rosto do garoto.
A loira se levantou e correu em velocidade sobrenatural até o assassino. Antes que ela pudesse encostar no homem, um borrão se aproximou, arrancou a cabeça dele e desapareceu.
A vampira loira olhou em volta e avistou uma mulher com um vestido justo de cor negra, agachada perto do corpo morto do rapaz.
— Não se preocupe criança, minha senhora compartilhará seu sangue puro com você. Isso é uma grande honra.
— Ei! O que está fazendo?
A pessoa misteriosa levantou-se com o corpo morto em seus braços e virou-se para ela.
— Você? Me chame de senhora, exijo respeito. Ou se esqueceu quem deu origem a sua família de vampiros?
— O que quer com ele?
— Esse assunto não é da sua conta. Os puro-sangue não devem satisfação a ninguém.
— O que sua criadora iria querer com ele? Um simples humano?
— Não se pode enganar um puro-sangue, garota. Se vocês sabem de algo, eles sabem muito mais.
A vampira antiga usou sua velocidade sobrenatural e desapareceu do local. Helena não pôde fazer nada, pois aquela vampira era muitos anos mais velha e, consequentemente, mais forte e rápida.
Se aquela mulher misteriosa quisesse, poderia se mover tão rápido que nem borrão seria visível.
— Merda! Ela matou o assassino, agora não posso obter informações dele.