Reencarnação do Vampiro - Capítulo 19
Às seis da manhã, quando os primeiros raios de sol saíram, Sara despertou. Abriu seus olhos repentinamente e não lentamente como os humanos normalmente fazem.
Os vampiros não precisam dormir, porém, quando dormem, o período é de 8 horas exatas. Ao se deitarem ou encostarem em algum lugar, fecharem seus olhos e relaxarem por exatos 1 minuto, adormecem instantaneamente.
Qualquer som ou movimento muito brusco perto do indivíduo, o faz acordar repentinamente. Por isso, os vampiros desativam apenas sua audição sobrenatural quando dormem, pois qualquer som do lado de fora os faz acordar.
O tato sobre-humano permanece ativo, porque a maioria dorme em seus próprios quartos, então qualquer movimento, será considerado um intruso e o fará despertar atacando.
Sara levantou sem nem um pingo de cansaço ou sono, como normalmente os humanos sentem.
Na sala, a ruiva avistou Jonathan parado em frente a janela com a cortina aberta. Seu corpo estava exposto a uma grande quantidade de sol.
— O que está fazendo?
— Tomando banho de sol.
— Isso não te incomoda?
— É exatamente por isso que estou me expondo. Tal ato fará meu corpo se acostumar. Também irá eliminar a palidez.
Os vampiros não pegam fogo no sol como na ficção, mas ficam fracos se expostos a ele. Perdem metade de toda sua força física, não podem se regenerar e quando se cansam não se recuperam da fadiga até achar uma sombra.
O sangue dessas criaturas também ferve em suas veias quando expostos à luz solar, causando uma sensação muito grande de incômodo, além de fazê-los sentir muito calor.
— Tome cuidado ao andar na rua durante o dia. Nós não podemos nos regenerar na luz solar, mas não é só isso, não somos capazes nem mesmo de se curar em nível humano ou seja, se for ferido, vai ficar sangrando indefinidamente enquanto estiver exposto ao sol. Isso é ruim, pois nos enfraquece ainda mais.
— Certo. Vou me lembrar disso.
Jonathan e Sara saíram e esperaram sua carona chegar em frente ao prédio em que estavam.
Um veículo preto parou em frente a eles. Os dois entraram e sentaram-se no banco traseiro.
— Saudações, senhora.
— Olá, Filip. Muito obrigada por atender meu pedido.
— Esse homem, ele é?… Seu rost.. O fundador foi revivido?
— Não, ele é um reencarnado. Renasceu com o mesmo rosto que meu pai, mas temos motivos para suspeitar que ele o reencarnado seja nosso mestre.
— Entendo. Desculpe por fazer perguntas. Vou me calar.
— Não há problema em perguntar. O problema está em falar para os outros o que escuta aqui.
Filip entrou para o clã quando Jonathan já estava morto. O motorista foi transformado apenas há 200 anos.
O carro partiu para o local em que os novos membros iriam ser apresentados. No caminho, Sara decidiu explicar para o jovem algumas coisas sobre o evento que aconteceria nas horas seguintes.
— Existe um processo de seleção para entrar no nosso clã. Você tecnicamente não atende aos requisitos, ainda sim foi recrutado, sabe por quê?
— Por causa da busca pelo seu mestre, não?
— Uhum. Assim como você é um candidato a reencarnado, outras pessoas também. Sabe qual é o critério principal que usamos?
— Algo que torne uma grande quantidade de pessoas um possível reencarnado… Diria que a data e hora do nascimento.
— Isso. Na verdade, são dois critérios. Data e hora do nascimento e local. Quando nosso senhor renasceu, pudemos saber a localização dele.
— Minha mãe me disse que nasci fora do hospital, então não dá pra saber exatamente o horário do meu nascimento. Foi por volta das 8 e 39 ou 8 e 50 da noite.
— Não é necessário recrutar pessoas com base no minuto exato do nascimento. Muitas pessoas que estarão lá, também não tiveram a hora exata registrada. Automaticamente, temos que trabalhar com uma margem maior e menos precisa de pessoas.
— Entendo.
— Não tem mais perguntas?
— Não
…
O veículo negro parou em frente ao portão de um mansão. O motorista abaixou o vidro escuro e disse para o porteiro:
— Sou eu.
O porteiro apertou um botão e o portão dourado se abriu lentamente.
— Pode passar.
O veículo entrou, passou em volta de um círculo vermelho no chão e parou em frente a porta. O belo jovem e Sara saíram do carro.
— Desejo boa sorte an…
— Jonathan.
O rapaz de cabelos negros apertou a mão do motorista.
— Está pronto? — indagou Sara.
“Venho preparando meu retorno a mais de uma década”
— Por que não estaria? Vocês vieram até mim. Não há como ser reprovado, certo?
— É, faz sentido. Ou melhor, faria, se algo inesperado não houvesse acontecido. Você saberá do que se trata quando entrar. Para entrar, basta bater.
“Ela deve estar falando do fato de só terem me achado agora. Provavelmente nem avisaram para o maldito Faustos”.
Jonathan subiu os quatro degraus com um tapete vermelho e bateu na porta. As duas portas negras de madeira se abriram, revelando dois homens de terno preto.
Os homens não eram grandes e nem musculosos. A aparência deles os tornava mais perigosos do que os seguranças comuns, pois nenhuma pessoa acreditaria que aqueles homens pequenos teriam a força estrondosa que tem.
Eles eram vampiros com mais de 5 séculos de idade. Qualquer desavisado que tentasse entrar a força, seria surpreendido pela força sobrenatural dos seguranças.
— Uh, você é… interrogou o segurança da direita, mas foi interrompido no meio da pergunta.
— Ele é apenas um candidato. Deixe passar e não o incomodem. — respondeu Sara.
— Sim senhora! — Os dois dois homens responderam em uníssono.
O rapaz ficou em silêncio, observando os rostos conhecidos daqueles homens.
“Regis e Hoswald. Vocês evoluíram muito enquanto eu estava ausente”.
A postura daqueles dois era perfeita aos olhos de Jonathan, eles também não tinham nenhuma abertura. Se o garoto tentasse atacar, seria levado ao chão imediatamente.
O vampiro recém transformado seguiu seu caminho pelo tapete vermelho. A ruiva pensou em lhe dizer o caminho, mas não o fez, pois sabia que o garoto descobriria sozinho com sua audição sobrenatural.
Ele subiu as escadas levemente arredondadas, virou a direita e seguiu pelo corredor. No final do caminho, parou na entrada de corredores nas paredes, semelhantes a uma sacada.
A vista abaixo dos corredores era de um salão cheio de pessoas. O jovem caminhou pelo corredor esquerdo, seus passos não emitiram som algum. Era uma técnica que ele aprendera com seu mestre.
Aproximando-se de uma escada de mármore brando. Os sons de seus passos ecoaram por todo o lugar.
Tap Tap Tap.
Um passo, outro passo. Lentamente, porém firme. A serenidade de seus passos passava a sensação de ser dono do próprio tempo. Os vampiros mais velhos calaram-se ao ouvir aquele padrão de passos. Um padrão único, jamais ouvido nos passos de outro ser.
Todos os olhares voltaram-se para Jonathan na ponta da escada. O jovem olhou com uma expressão pesada para a figura sentada em um trono localizado em cima de uma espécie de palco. A figura no assento era Faustos.
Os olhos do rapaz ficaram vermelho e ele continuou encarando o traidor. Algo raro aconteceu, o rapaz sentiu ódio, raiva e fortes impulsos assassinos.
“Não sentia raiva a muito tempo, mas graças a você, posso me lembrar de como é ter humanidade”.
O rapaz não sentia nada por ninguém a não ser aqueles mais próximos a ele. Isso é uma característica que ele tem desde aquele incidente. O jovem até consegue desenvolver sentimentos por alguém depois do trauma, mas a quantidade de tempo de convivência necessário é grande.
Se esse homem está sentindo raiva, é porque considerava o traidor como um verdadeiro amigo.
“Eu podia matar Faustos agora, porém sou só um estranho que reencarnou com o rosto de Vladmyr Vangreat, não posso fazer nada com esse desgraçado até provar quem sou”.
Aquele salão estava lotado de vampiros superiores, se o jovem tentasse algo, seria imediatamente morto por tentativa de assassinato do lider. Os vampiros eram muito velhos. A velocidade deles ultrapassava muito a do som. Aquele recém nascido nem sequer seria capaz de chegar até o traidor com vida”.
— Por que aquele cara tem o mesmo rosto do homem da pintura?
— Meu criador disse que a pessoa da pintura na parede é o fundador do clã.
Algumas pessoas na multidão de novos recrutas estavam cochichando sobre a aparência do rapaz.
Havia um grande quadro na parede atrás do trono do líder. Cuja pintura era o rosto de Vladmyr.
Jonathan voltou seus olhos para as pessoas no salão. Ao lado esquerdo, estavam todos os membros mais novos, de 400 anos para baixo. A esquerda, todos os mais velhos, transformados antes da morte de Vladmyr. No meio, os novos membros.
— E-ei. Aquele cara é doido de encarar o líder assim.
O homem no trono estava com a aparência jovem, com a barba completamente raspada, o cabelo grande estava amarrado em um rabo de cavalo.
— Quem é você, criança?
O jovem podia falar seu antigo nome, mas estaria mentindo. Ele renasceu e agora era outra pessoa. Nessa vida não mais Vladmyr Vangreat e sim.
— Jonathan Crane. Um novo membro.
— Quem foi o responsável pela sua transformação.
— Fui eu. — Uma voz calma e soberba respondeu ao longe.
Era Helena, que havia acabado de chegar. Parada na entrada por onde Jonathan passou para chegar nos corredores, ela falou.
— Eu transformei ele. Algum problema?
— Obviamente há problemas. Quando você faz algo, sempre há problemas. Ou quer que eu te diga novamente o que penso?
— Sei que não sou bem vinda nesse clã, entretanto… Não vou embora até encontrar meu noivo.
— Ex-noivo, ou se esqueceu do que fez com nosso mestre. Aqueles fizeram mal ao nosso criador nem sequer deveriam pisar aqui. — exclamou Faustos.
“Hipocrita do caralho. Minha morte foi causada por uma de suas transgressões. Conspirou contra mim e ainda me apunhalou pelas costas, seu próprio criador”.
— Não vou falar novamente, não sou nenhuma de suas crias, muito menos sua subordinada, então tenha respeito. Sou a criadora de seu criador, o respeito deve ser duas vezes maior!
— Exige respeito, mas nunca fez nada para consegui-lo. E agora transformou uma pessoa sem permissão. E se ele for um espião de outro clã? Além do mais, a quantidade de pessoas que deviam ser recrutas eram especificamente 300. Essa foi a quantidade de bebês que nasceram na mesma data e hora de nosso criador!
— Há um pequeno equívoco em suas palavras, Faustos. — Uma voz elegante, serena e cheia de confiança ecoou do fundo da multidão de vampiros mais velhos.
“Essa voz, deve ser ela”. Pensou Jonathan.
Uma mulher saiu do escuro, andando elegantemente, como se desfilasse em uma passarela. Com um rebolado chamativo, ela passou pela multidão sem se importar se iria ter o caminho bloqueado.
A moça tinha cabelos cacheados de cor castanho escuro. Enquanto caminhava, seus cachos dançavam graciosamente espalhados em seus ombros.
“Não consigo ver o rosto dela. Mas sem dúvidas é ela. Mesmo se eu não tivesse ouvido sua voz, reconheceria esses cachos em qualquer lugar”.
— Aparentemente o time de coleta de informações deixou passar aquele jovem. Alguém descobriu e eu pedi um favor.
— E esse favor foi manter essa informação em segredo?
— Claramente, ou você acha que uma informação importante como essa seria escondida de você por iniciativa unicamente de um dos seus subordinados? Tu podes não ser um bom líder, mas nossos irmãos são bons membros.
— Tome cuidado com as palavras, não sou qualquer pessoa, sou seu líder.
“Elisabeth, você sempre foi astuta. Isso é o que mais gosto em você”.
— Vocês duas conspiraram pelas minhas costas, isso é um atentado à ordem. Quebraram uma série de regras. Esqueceram-se do que nosso criador sempre dizia? As coisas são assim porque são as regras, as regras são necessárias para manter a ordem, ordem faz união.
“Usando minhas próprias palavras para me derrubar. Ele está tentando convencer todos a não me aceitar no clã”.
— Todos somos iguais, se não punir vocês, estarei dando tratamento preferencial às duas. Nosso mestre nunca faria isso.
— Nunca mais se compare ao nosso pai! Você não é e nunca será nem 1% do que ele foi! — gritou Elisabeth.
Jonathan cerrou os punhos, estava prestes a partir para cima de Faustos e decapitá-lo ali mesmo. O garoto arregalou lentamente os olhos, abriu as mãos e respirou calmamente.
“Nunca fui um homem controlado pelas emoções. Não posso ser um escravo dos impulsos emotivos. As emoções são umas das três prisões, me libertei de todas elas, tenho que agir como tal”.
A primeira prisão é o medo, todos são guiados pelo medo. A estrutura da sociedade só se mantém devido ao medo. A segunda é a dor, o jovem treinou muito duro a fim de achar uma maneira de se libertar da dor. A terceira, as emoções. Amor, ódio, felicidade, tristeza.
Vidas começam por causa do amor e vidas acabam por causa dele. Assim como ódio e tristeza podem beneficiar alguém, podem arruinar outro. Muitas pessoas encontram seu fim por serem movidas pelas emoções.
— Mas e se ele for o fundador? Estaríamos cometendo um grande crime contra o verdadeiro líder!
Uma voz masculina e madura ecoou com um tom firme pelo salão. Todos ficaram em silêncio e voltaram sua atenção para um homem de rabo de cavalo. A cor de seus cabelos era uma transição entre o preto para o branco. Ele usava uma túnica chinesa de cor negra.
— Se ele for, eu me responsabilizo pelo erro. Agora, deixe-me te perguntar, se não for? Estaríamos quebrando as regras sagradas de nosso mestre apenas pelo desespero?
A multidão iniciou uma grande discussão.
— Silêncio! Deixe-me ouvir sua resposta.
— Tenho certeza que nosso criador irá entender nossos motivos.
— E ele não entenderia os meus? Eu era amigo dele, sei que entenderá.
“Faustos, você está fazendo suposições demais, me dando muitas brechas para derrubá-lo em seu próprio jogo”.
— Mesmo que tente expulsar o garoto do clã, não será possível.
— E por que não? Vai me impedir?
Helena pulou de cima dos corredores e aterrissou de pé, como se a altura fosse a de um assento. Ela subiu ao palco e pôs a mão direita dentro do bolso da calça.
Um homem de pé ao lado direito do trono se preparou para atacar, caso a loira fizesse algo estranho.
— Nem pense nisso, bebê chorão. Você é apenas um moleque fedendo a bunda suja. Apenas um soco é mais do que o suficiente para te matar. Por que não tenta a sorte?
— Não se preocupe. Ela não seria louca de me matar.
Helena entregou um frasco de sangue para Faustos.
— Sinceramente, você faz suposições demais. Não pense que não te mataria aqui e agora. Não faço nada por medo, e sim porque quero que as coisas permaneçam assim. Elisabeth e Sara são as maos velhas aqui, entretanto não moveriam um dedo sequer para vingar sua morte. Eu tenho mais de mil anos, Fausto. Quando um vampiro atinge essa idade, números se mostram inúteis em batalha.
— O que te impede é o fato de que meu criador ficaria com mais ódio de você se fizer isso.
A loira voltou seus olhar para outra direção e expressou desgosto.
— Parece que minhas suposições não são tão errôneas.
— Hum! Supondo tantas coisas, claro que algo estará certo. Mas… E as outras milhares de suposições erradas? Pode ter cavado sua própria cova a muito tempo, só não se deu conta ainda.
Faustos abriu o frasco de sangue e cheirou.
— De quem é isso? É definitivamente sangue de vampiro, mas não é um vampiro superior e muito menos comum. É forte e de uma qualidade vista apenas em vampiros milenares, não é ainda maior!
— De uma puro-sangue.
Ambos os grupos da esquerda e direita ficaram extremamente surpresos. Os novos membros apenas se perguntaram o que era um puro sangue e o porquê dos mais velhos estarem tão espantados.
“Deve ser aquela mulher de novo”.
Jonathan olhou para Helena por apenas um instante e sua visão tremulou repentinamente. Ele pode ver o sangue fluindo dentro do corpo da loira e escutar as batidas de seu coração e do coração dela batendo em sincronia. Uma linha dourada ficou visível aos olhos do jovem.
Era a ligação entre criador e cria. Uma ligação tão forte quanto a ligação entre mãe e filho. Poderosa a ponto de fazer uma pessoa deixar de odiar outra apenas por ser seu criador.
Uma cria raramente desobedece ou fere seu mestre. Mas algo mudou em Faustos, seus sentimentos e ambições superaram até mesmo essa ligação, levando-o a trair seu criador. Aquele que compartilhou seu sangue e lhe concedeu a imortalidade sem existir nada em troca.
Tamanha ingratidão é um dos maiores crimes na sociedade vampírica. A pena para esse tipo de crime é a morte permanente. Essa foi uma das primeiras leis criadas pela rainha.
Faustos bebeu o sangue no frasco e começou a ter visões das memórias contidas nele. Era um número limitado de lembranças. Vampiros podem escolher quais memórias podem ser vistas em seu sangue no momento em que ele cede uma quantidade, ou quando alguém bebe diretamente de seu corpo.
O líder do clã viu apenas a figura borrada de uma mulher, com uma taça de vinho nas mão esquerda.
“Olá an… Como era seu nome mesmo? Nah, não importa, você é insignificante. Não preciso dizer quem sou, minhas intenções estão nessas memórias. Enfim, o que quero dizer é: eu declaro que Jonathan Crane está sob minha proteção, qualquer um que encostar um dedo nele, desejará morrer ao invés de passar pelo que tenho guardado para o tolo que me desafiar”.
Ela deu um gole no vinho e continuou:
“Também tenho um pedido para você. Quero que aceite essa criança em seu clã. Aproveite que estou de ótimo humor a ponto de não fazer disso uma ordem e cumpra meu pedido. Se eu ordenar, vai ser pior. Acho melhor não me irritar. Aqui vai apenas um pouquinho do que tenho reservado para ti, caso me irrite”.
Faustos teve visões de um homem sendo esmagado bem lentamente por um rolo compressor. Cada osso de seu corpo era esmagado lentamente, começando pela perna. Outra visão de um homem tendo seu joelho virado ao contrário e os ossos sendo quebrados até alcançar sua boca, apenas para ser obrigado a devorá-la.
— Ga! Arf, arf, arf.
Quando as visões terminaram, o traidor ficou ofegante. As visões, juntamente com a vontade imposta a ele pela puro sangue, foram um grande choque.
— O que aconteceu? Por que ficou assim apenas por beber sangue?
— Ouvi dizer que os puro sangue são os mais fortes do mundo, ninguém nunca ousou mexer com eles.
— Este jovem está sob a proteção de um puro sangue? Isso é algo tão incrível assim?
— O que?! Quem é esse maluco?
— Se esse é o caso, nós também estamos sob proteção, afinal, somos como irmãos agora.
Era natural esse tipo de pensamento. Qualquer um que pensasse em atacar o clã Oblivion com tudo, pensaria dez vezes antes de fazer tal coisa. Se o protegido fosse morto no meio da confusão, a facção responsável, teria seu destino selado para sempre.
— Ela também me pediu para aceitá-lo em nosso clã. É natural que eu faça o que me pediu, não sabemos o que acontece caso recuse o pedido da realeza. Bem vindo. Apresenta-se para seus novos irmãos.
Jonathan desceu as escadas lentamente, ainda encarando pesadamente Faustos. Ao chegar no centro do salão, parou e deu início a sua apresentação.
“Droga, não ensinei a ele a maneira correta de se apresentar”. Pensou Sara.
— Eu sou Jonathan Crane Bragança. Filho de Marcos Crane e Suzan Bragança.
“Que coincidência, minha sobrinha tem o mesmo nome e sobrenome. Mas não deve ser ela”. Pensou Helena.
— Tenho 18 anos e até onde sei, nasci no mesmo dia que todos os novos membros daqui. Não sou alguém que cumpre os requisitos para estar nesse clã, mas já que estou aqui, sou um de vocês. Por isso farei meu juramento. Assim como a família vive e morre por mim, viverei e morrerei pela família.
O jovem pôs o braço esquerdo atrás das costas, mão direita sobre o peito e se curvou levemente.
— A verdadeira família é aquela que se escolhe, não a que o destino te dá. O fundador descobriu isso da maneira mais dolorosa possível. Por isso, para honrar aquele que errou para que outros não errassem, eu os escolho como minha família.
Todos ficaram de boca aberta. A muito tempo não veem uma apresentação tão bela.
— Isso foi belo. Que garotinho gracioso.
Uma voz feminina gritou ao fundo da multidão direita.
“Eu não ensinei, mas ele já sabia como se apresentar. Foi uma apresentação de encher os olhos”.
O rapaz de cabelos negros foi quem criou essa forma de apresentação. Sua bela execução se deve ao fato de ter sido um nobre em sua antiga vida. Impressionar um grande número de pessoas era fácil se comparado a impressionar outros nobres.
As palavras a ser ditas eram exatamente essas. Com exceção dos nomes, porém a execução deve ser feita com o tom de voz mais suave, confiante e respeitoso o possível. Os movimentos de se curvar também devem se sincronizar com a fala.
Um homem começou a bater palmas e todos no salão fizeram o mesmo.
— O que você tá bebendo? — indagou um garoto para uma mulher com um copo de vidro contendo um liquido negro dentro.
— É coca, quer? Tá trincando de gelada.
— Como consegue beber outra coisa a não ser sangue? Tudo tem um gosto tão forte e ruim agora.
— Eu aprendi a controlar meu paladar. É fácil, quando estiver bebendo algo, ignore completamente o gosto que está na sua boca e foque em outros sentidos, assim vai aprender a controlar o paladar.
O garoto pegou o copo. Quando estava prestes a pôr na boca, foi interrompido por uma mão segurando seu braço.
— Toma cuidado, não é bom ter contato com a saliva de outro vampiro.
Era Elisabeth ensinando os novatos.
— Mas nós não somos imunes a saliva de vampiro?
— Só a nossa própria. A saliva de outros tem o mesmo efeito em nosso corpo.
O jovem olhou para a garota e bebeu mesmo assim o refrigerante. A menina deu um leve sorriso provocativo em direção ao menino. Elisabeth revirou os olhos e suspirou.
— Se quiserem se pegar, façam isso longe da vista dos outros. A maioria aqui tem vários séculos de idade. Nem todos são como eu e minha irmã, que não nos importamos.
— Sim, senhora.
Jonathan avistou uma mulher negra de cabelos cacheados no fundo da multidão direita. Os olhos dela estavam azuis e com as pupilas finas iguais a de um gato.
O belo jovem deu um leve sorriso de canto de boca para ela. Zuri arregalou os olhos e imediatamente se lembrou.
“Quando eu estiver em uma situação que não posso me revelar quero que saiba do meu sinal
E qual seria?
Vou dar um sorriso de canto de boca, você saberá imediatamente o que significa, afinal me conhece bem.
Mas, por que justo um sorriso?
Você por acaso já me viu sorrir?
Não, nunca na vida. Me pergunto o que aconteceu com você”.
Jonathan olhava fixamente para a bruxa. Ela entendeu o sinal. A única ameaça aos planos dele eram os olhos de Zuri, cuja capacidade era de ver a alma de um ser.
Depois disso, todos os novos membros se apresentaram. Uma diversidade muito grande de pessoas estava presente, mas ninguém conseguiu se apresentar como o belo rapaz fizera anteriormente.
— Agora, todos devem se dirigir para o salão de treinamento. Vamos testar as habilidades iniciais de cada um de vocês. Dependendo de como se adaptaram sozinhos ao vampirismo, daremos um ranking inicial a cada um com base nisso. — declarou o líder.
♦ ♦ ♦
Faustos e seu servo entraram em uma sala. O ancião encostou em uma mesa e permaneceu assim por um tempo.
— Meu senhor, como ele pode estar vivo. Tenho certeza que mandei meu lacaio matá-lo, assim como me pediu.
— Isso porque… Esse homem é com certeza meu criador. Agora que ele retornou, não há mais o que fazer.
— Ele era apenas um humano, não havia maneira alguma de vencer aquele vampiro. Ele tinha 80 anos, pode não ser um século, mas a força dele já era muito acima da dos mortais. Mesmo se fosse possível, meu lacaio era um mago experiente.
— Ele está sobre a proteção de uma puro sangue. Tenho certeza que foi salvo por ela. O que mais me preocupa é o fato de Helena ser quem transformou ele. O que fiz no passado pode já ter sido revelado.
— Não. Se isso fosse verdade, essa vadia já teria te matado a muito tempo. Mas… O senhor tem certeza que ele é mesmo o fundador?
— Absoluta. Aquele olhar sufocante. Não sinto isso há mais de 400 anos. O padrão de passos eliminou todas as dúvidas. E não me diga que alguém com a mesma aparência nascendo no mesmo dia e horário que a reencarnação do nosso criador é coincidência.
— Mas…
— Nunca ninguém encontrou uma pessoa que reencarnou com a mesma aparência duas vezes seguidas. Já houveram casos em que uma pessoa teve a mesma aparência, mas não consecutivamente. Também casos de pessoas reencarnarem com a mesma aparência de seu inimigo.
Faustos se virou e respirou fundo, fechando os olhos.
— Apesar de tudo isso. Ninguém nunca provou que é impossível reencarnar duas vezes seguidas com a mesma aparência. É apenas questão de probabilidade. Mesmo que as chances sejam pequenas, ainda há chances. E isso… É mais do que o suficiente.
— O que vamos fazer?
— Durante o exame para determinar o rank inicial, quero que lute contra ele com tudo o que tem. Conhecendo aquele homem, com toda certeza vai te derrotar. Ele já sabe que está envolvido nisso tudo. Vladmyr vai te pressionar, com isso, o rank dele vai ser bem alto. Essa vai ser nossa desculpa para mandá-lo em missões perigosas. Ele vai acabar morrendo por causa disso. Com sorte, será morto por um dos clãs inimigos e matamos dois coelhos com uma cajadada só.
— Eu posso derrotá-lo, mesmo que ele seja um gênio, ainda é só um recém nascido.
— Se passar do limite, vai levantar suspeitas. Não vamos sujar nossas mãos, assim, a culpa não será nossa. Além do mais, em habilidade, você não pode rivalizar com ele. Se apelar para golpes letais, complicará sua situação e terei que puni-lo.
— Farei como me pediu.