Reencarnação do Vampiro - Capítulo 21
O vampiro recém transformado acordou às nove e meia da manhã ao escutar sons altos de gemidos vindo do quarto ao lado.
— Ai, isso, mais forte!
Jonathan levantou-se, pôs a mão sobre o rosto e olhou o despertador.
— Que droga é essa? Minha audição sobrenatural está desativada. Por que ela é tão escandalosa?
Mesmo se o feitiço que impede os vampiros de escutar os sons dentro de um ambiente estiver ativado, se o barulho for alto a ponto de um humano poder escutar, o vampiro também será capaz.
— Tanto faz, não é da minha conta.
O garoto levantou-se e foi em direção ao banheiro para tomar banho. Ao aproximar-se da porta, viu um papel no chão, que havia sido passado por baixo da porta.
O recado dizia para ir até a costureira tirar as medidas e pedir roupas novas. Isso era opcional, mas o que foi dito a seguir era uma ordem. Ele deveria ir até o salão principal, para a formação de equipes.
— Equipes? Não sei nada sobre isso. Faustos mudou a dinâmica de missões? Espero que esteja melhor.
O jovem entrou no banho. Após alguns minutos, saiu pegou seu celular e saiu. No corredor construído na parede, semelhante a uma enorme sacada.
O design era igual ao corredor do salão onde a apresentação aconteceu. Duas pessoas saíram do quarto da direita.
Era a garota que estava com um copo de refrigerante no dia anterior e o garoto que recebeu o aviso de Elisabeth sobre compartilhar saliva.
A garota saiu arrimmando seu cabelo negro e o rapaz trancou a porta. A moça então encarou Jonathan por alguns segundos e, quando ele estava prestes a sair dali, ela o chamou.
— Ei, espera. Você não é aquele cara que recebeu ranks altos ontem?
— Sim.
A mulher se aproximou do rapaz e estendeu a mão.
— Sou Alessandra. Se me lembro bem, você é Jonathan, né?
— Sim. — E apertou a mão dela.
— Meu nome é Lucas. Como fez aquilo? — perguntou o garoto enquanto estendia a mão.
— Aquilo o que? — O jovem apertou a mão de Lucas.
— Derrotou um instrutor. De acordo com o que me explicaram, eu e você teríamos o mesmo poder em questão de vampirismo.
— Se quiser sobreviver muito na sociedade sobrenatural, ouça o que vou dizer. Não dependa só das habilidades de vampiro. Use elas junto com outras coisas, junte com outras habilidades, artes marciais, armas de fogo e etcetera. Nunca faça o que seu inimigo espera.
— Foi isso o que fez?
— Ninguém imaginava que eu soubesse usar magia. Então sim.
— Como aprendeu a usar magia?
— Na Internet.
— Eu achava que só havia charlatão lá.
— O segredo é saber o que é verdade e o que não é.
“Não posso sair por aí dizendo que tenho as memórias da minha vida passada”.
— Como?
— Descubra. — Jonathan virou-se e seguiu seu caminho.
Chegando no local de trabalho da costureira, o jovem de aparência bela bateu na porta aberta.
— Si… Nossa. — Uma mulher de aparência jovem virou-se e demonstrou leve surpresa ao ver o garoto.
— Mas que belo jovem temos aqui? Espera. Essa sua aparência… Você deve ser o novato do qual estou ouvindo todos os novos e velhos membros falando pelos corredores.
— Vim aqui para pedir roupas sob medida
A mulher ergueu as sobrancelhas em surpresa pela atitude do garoto em sua frente.
— Você… Sabe que está falando com uma senhora de idade, né? Pode não ter dito com todas as palavras, mas sua atitude diz claramente que você veio aqui para tirar medidas, não jogar conversa fora.
— Que bom que percebeu, vai me poupar tempo.
— Vou gostar de te encher o saco daqui pra frente, garoto.
— Vamos começar? Você é quem costura as roupas?
— Sim. Espera um instantinho.
A vampira se abaixou e abriu a gaveta. Ela era uma pessoa incomum, pois apesar de ser ter uma aparência jovem, usava roupas que as pessoas normalmente veem como roupas de “velha”. Seu cabelo branco até poderia ser dito como pintado, mas não há um remédio que rejuvenesça pessoas.
A mulher procurou algo na gaveta. Seu cabelo tapou sua visão então ela o colocou atrás da orelha.
— Tá olhando assim para mim, por quê?. Deve ser por causa das minhas roupas. Pode nem usar mais o que gosta, ein? Sou uma velhinha, e daí? Eu… Fui transformada em 1975 aos 72 anos. A propósito, me chamo Aurora. Nascida e criada na Romênia.
A costureira pegou uma pedra verde escura.
— Aqui, achei.
Ela colocou a pedra sobre uma mesa e fez sinal com a mão para Jonathan se aproximar.
— Coloque uma das mãos sobre a pedra. Isso é um item mágico dado a mim por uma das minhas amigas bruxas. Essa pedra vai tirar suas medidas em um instante.
O jovem colocou sua mão sobre a pedra. Após alguns segundos, um brilho emanou do objeto e o rapaz sentiu uma sensação confortável passando pelo seu corpo.
— Quando alguém é transformado em vampiro, o corpo se rejuvenesce automaticamente, mas o cabelo continua da mesma cor, apesar de ser rejuvenescido em questão de… An… Vitalidade seria o correto de se dizer?
A mulher pegou a pedra e colocou em cima de um papel. Algo começou a ser escrito. Letras e em seguida números.
— Minhas medidas estão sendo passadas para o papel?
— Sim. Isso consegue ser mais exato que uma fita métrica. Como eu ia dizendo. Mesmo que o meu corpo tenha sido rejuvenescido, minha mente continua a mesma.
— Por que está me explicando tudo isso? Não tem obrigação nenhuma de me dar satisfações e nem eu o direito de ter.
— Conhecer aqueles que estarão do seu lado pela eternidade é uma ótima ideia, não? — disse Aurora com um sorriso no rosto.
— Tem razão, me desculpe pela minha rudeza. Me chamo Jonathan. Se me permite, por que resolveu ser costureira?
— É um prazer, Jonathan. Bom era algo em que eu era boa antes de ser imortal, então resolvi continuar fazendo isso. Também porque não eu não queria lutar, nunca me acostumei com a brutalidade.
— Entendo. Como funcionam as coisas com seu trabalho.
— Ah, o dinheiro que eles dariam a vocês para comprar roupas, eles dão a mim. Claro, com um aumento por causa da mão de obra.
— Como funciona isso? As roupas têm preços diferentes. Cada um tem um estilo de se vestir.
— Todo mundo ganha uma quantidade igual. Ai a pessoa que se vire para se vestir bem com o que tem. Depois que ela começar a ganhar dinheiro com as missões, vai poder comprar as roupas que preferir.
— Como foi encontrada? O que o clã estava fazendo na Romênia?
— A isso foi coisa da senhora Elisabeth. Ela me encontrou e gostou de mim. De acordo com a palavra dela, todos aqueles que despertam seu interesse, merecem a chance de ter a vida eterna.
— Como se encontraram?
— Ah, ela estava viajando pelo meu país. Durante uma de suas visitas ao meu vilarejo, alguém espalhou boatos sobre ela ser uma strigoi.
— A versão Romena dos vampiros.
— Que bom que conhece. No meu vilarejo muitas pessoas acreditavam nessa lenda. Todo mundo começou a evitá-la, até que iniciaram uma caçada. Eu achei essa história um absurdo e a acolhi. Quando estavam na minha porta ameaçando tocar fogo em minha residência, ela me fez uma pergunta.
Aurora tinha uma expressão de gratidão misturada com nostalgia.
— “Me diga, criança. Se eu tivesse o poder de matar todos eles, o que você iria escolher, morrer aqui queimada, ou me deixar ir lá fora e esfolar todos até o último?” Disse minha mestra.
— Qual foi sua resposta?
— Nós estávamos sem tempo para aquele clichê de eu não acreditar e ela ter que me provar, então minha senhora usou o controle mental para me fazer acreditar em suas palavras. Eu imediatamente disse que não podia deixá-la matar todos.
Aurora sentou-se em uma cadeira e encostou sua cabeça.
— Assim como agora, eu estava sentada. Senhora Elisabeth sentou no meu colo, colocou seu rosto bem próximo do meu, deu um sorriso levemente sádico e disse: “Então mais uma vez irei te deixar escolher. Você quer viver ou morrer?” Eu disse que queria viver. Então ela me pegou no colo, quebrou a parede da minha casa e fugiu usando a velocidade sobrenatural.
— E depois ela te transformou?
— Ela me mostrou seus poderes, as vantagens, desvantagens e me comprou com ideia de ser imortal e ficar jovem. Além de ter dito que não veria aqueles que amo morrer, pois já estavam mortos e todos que conhecia no futuro seriam vampiros.
“A Elisabeth sempre teve esse mau hábito de transformar todos que gosta. Espero que tenha parado com essa mania”.
— Como eu não tinha mais uma família e ninguém do meu vilarejo iria me aceitar de novo, os requisitos para entrar no clã estavam preenchidos. Bem, essa é a história de como me tornei vampira.
— Sua história é interessante. Cheguei a ver Elisabeth, porém não falei com ela.
— Minha senhora é uma pessoa super sociável e com certeza vai gostar de você. Mas não acho que vá ter algum interesse romântico em ti. Afinal tu és a cara do pai dela.
— Isso é ótimo de se ouvir. Não tenho interesse nela também. Bom, gostei da conversa, mas tenho que estar no salão principal daqui a pouco.
— A! Claro. Me diga como vai querer que suas roupas sejam. Você só pode escolher uma peça por cada parte do corpo. Se quiser duas peças para o tronco, por exemplo, vai ter que sacrificar as pernas.
— Tudo bem, era isso que eu ia fazer. Eu vou querer…
Após acertar todos os detalhes com Aurora, Jonathan saiu da sala de trabalho e se dirigiu ao salão principal.
No caminho, o jovem ouviu várias conversas vindo de todos os locais da mansão.
— Marcia!
— Ai! Não grita! Sabe que todo mundo aqui tem audição sobrenatural, né?
— Para de gritar, novato. Quanto mais velho mais sensível é a audição. Caralho que dor!
— De-desculpa gente. Eu era humano até poucos dias atrás.
Todos os vampiros conversavam em um tão extremamente baixo a grandes distâncias, como do outro lado com corredor, no fundo da sala de aula e até em quartos diferentes.
O rapaz chegou no salão e viu uma grande quantidade de pessoas reunidas. Eram todos os novos membros, que esperavam para ter suas equipes anunciadas.
— Ahem. Vamos dar início a seleção de equipes. Claro, primeiro vou explicar o que é, o porquê e como é feita a formação de cada grupo.
O homem deu uma leve pausa em sua fala e voltou a falar após observar o rosto de todos os membros novatos.
“Aqueles três são os mais promissores desde que entrei aqui. Com certeza vão ser colocados no mesmo grupo”.
— Vocês serão divididos em grupos de 3, o que daria 100 equipes, porém devido ao imprevisto, um membro de última hora surgiu, o que fará com que alguém fique sem grupo. Mas não se preocupem, o que sobrar será encaixado no grupo de novatos do ano passado. No ano passado tivemos muitas perdas nos grupos iniciantes e também muitos engraçadinhos que acharam ser mais importantes e quebraram as regras, portanto foram presos.
O homem começou a andar de um lado a outro enquanto falava.
— Se a pessoa em questão for inserida em uma equipe onde o membro veio a falecer em batalha, ela ficará nesse grupo permanente. Caso ela vá para um grupo em que o membro está cumprindo pena, será um membro temporário. Não vai demorar muito tempo, pelo menos 150 anos. Claro, se o novo membro quiser permanecer e os colegas concordarem, o sujeito se torna parte da equipe permanente.
— 150 anos de prisão? — Alguém gritou da multidão.
— Essa é a menor pena que se pode pegar por quebrar uma regra importante.
— E qual é a pena por quebrar uma regra não tão importante?
— Todas as regras são importantes. As regras mantém a ordem, a ordem mantém a união… E a união é a nossa maior força. Se nos separarmos, ficaremos fracos. Os fracos não sobrevivem muito tempo na sociedade vampírica.
O homem parou no meio do palco, colocou as mão para trás e continuou.
— A rainha nunca criou uma lei que proíbe de matar outro vampiro. Esse é um dos motivos pelo qual criamos grupos. Lutar junto é sempre mais vantajoso. Já que não há lei que nos proteja, nos protegem por conta própria. Enfim, alguém tem alguma pergunta?
Uma garota levantou a mão.
— A garota educada aí do fundo.
— Quem é a rainha?
— Não sabemos. Ela nunca interage com os vampiros de níveis mais baixos. Tudo sobre ela é um mistério. Não sabemos como é sua aparência, personalidade, idade, onde nasceu ou se seu sangue puro lhe dá mais habilidades assim como os vampiros superiores. Sabemos apenas que é a primeira vampira e progenitora da nossa raça. Sabemos também que é a mais poderosa de todos nós e sua palavra é lei. Todos que vão contra sua palavra morrem do nada, mesmo que ela não esteja perto. Por isso seguimos à risca as leis dela, ou morremos sem poder nos defender.
— Caramba! Então ela é forte mesmo.
— Durante a aula vocês aprenderão mais sobre isso. Bom como eu ia dizendo. As equipes são formadas por três membros. Os critérios escolhidos para a formação são única e exclusivamente os ranks iniciais. Não são considerados fatores como: cor da pele, religião, sexo, ideologia, opção sexual e etc. Isso é coisa de humanos. Julgar os pelas suas escolhas pessoais ou pelo que são é totalmente irrelevante para o crescimento do clã. No campo de batalha quando penetrarem a mão em seu peito e arrancarem seu coração fora…
O homem fez uma expressão impiedosa.
— A única coisa que decidirá se você vive ou morre ou morre, é o seu nível de vampirismo. A única coisa que te torna realmente superior é o seu poder. Então liberte-se dessas correntes que não fazem diferença a não ser para atrasar vocês e foquem em ficar mais fortes. Esses são os ideais de nosso fundador. E eu lhes digo, se ficarem olhando para o lado, procurando defeitos nos outros para se sentir superior, não sobreviverá muito tempo. Aliás, se vocês são tão bons, por que precisam procurar defeitos nos colegas do lado? Se fosse realmente bom, apenas uma passada de olho seria o suficiente para saber quem é realmente o melhor.
“Então Faustos não conseguiu propagar seu ideal patético. Todos concordaram com minha forma de pensar quando os recrutei. Ele nunca conseguiria mudar as mentes deles, muito menos obrigá-los a agir diferentes de seus ideais”.
O homem jogou o papel na mesa, apontou para a grande pintura de Vladmyr na parede e disse:
— Deem continuidade a vontade de nosso fundador. Entenderam?
— Sim!
— Bom! Dito isso, vamos começar a seleção de equipes. Os grupos serão formados pela decisão dos professores, instrutores e anciões do conselho em conjunto. Deixando claro que os três avaliadores também são anciões do conselho.
“Escolhi todos anciões a dedo quando era Vladmyr. Mas agora há um membro que não conheço. Ele entrou no lugar de Faustos. Isso pode ser muito problemático”.
O homem foi até um conjunto de mesas alinhadas, onde estavam aqueles que decidem as equipes, pegou um conjunto de folhas de papel e retornou para o palco onde estava localizado o trono do líder.
— O anúncio dos grupos será feito em números e não em ordem alfabética. O número da equipe também diz respeito à força do mesmo. Ou seja, quanto maior o rank, maior o número.
— Será que vamos cair no mesmo grupo?
Era o rapaz chamado Leandro.
— Se a intenção era me assustar, falhou miseravelmente.
— Achei que não conseguiria me perceber no meio dessa gente toda.
— Mesmo que o ar esteja agitado, eu ainda consigo perceber uma mudança sutil no padrão de movimento. Se o padrão foi três tremuladas seguidas durante 5 minutos, não é natural de se suspeitar quando o padrão é quebrado de repente e o ar trêmula 4 vezes?
— Caramba, consigo sentir no máximo duas, imagina 4.
— Você vai aprender com os professores e instrutores.
— Professores e instrutores não são a mesma coisa.
— Os professores ensinam a parte teórica, os instrutores ensinam o combate e onde se deve usar o que aprendeu na aula teórica.
— Em outras palavras, os instrutores te ensinam na prática?
— Não exatamente. Os professores te ensinam algo. Os instrutores te ensinam onde vai usar o que aprendeu com os professores. Eles também ensinam técnicas de assassinato e artes marciais.
— Caralho, que foda! Mas aí, você acha que vamos ser da mesma equipe?
— Espere e verá.
— Equipe 1. Os membros são: Jonathan Crane, Kassandra Albuquerque e Leandro Pereira.
— Somos nós!
— Aí está a resposta para sua pergunta
— Caramba, a gente tá na mesma equipe daquela garota.
— O que há de errado?
— Sei lá, ela não parece ser muito sociável.
— E por um acaso eu pareço ser alguém que sai por aí fazendo amizades igual uma criança no jardim de infância?
— Com certeza não, mas você emana confiança e foco. Mas ela…
— Te intimida?
— É, sei lá.
— É uma garota disciplinada. Bem interessante, eu diria.
— Eai? O que vamos fazer?
— Vamos conhecê-la. Vamos passar por situações de vida e morte no futuro. Se não nos entendermos, não passaremos de um ano.