Reencarnação do Vampiro - Capítulo 22
Estefany pegou uma das facas de necropsia e começou a cortar o peito do cadáver. Ela se virou para pegar outra ferramenta no estojo perfurado, quando notou algo estranho no cadáver.
A abertura que a garota acabara de fazer, estava se fechando.
— Mas que porra é essa? — A legista tinha fascínio, curiosidade e surpresa em seu rosto.
O ferimento se fechou por completo. Alguns segundos depois, o cadáver se levantou bruscamente, inspirando uma grande quantidade de ar.
— Han.
— KYAA! — A garota assustou-se com o movimento brusco.
— Arf arf arf. — Com os olhos arregalados e com uma pesada expressão de desespero, o jovem respirava incessantemente.
Ele pôs a mão sobre seu peito e apertou o local onde havia levado o tiro.
— Acho que sou a única pessoa a morrer pela terceira vez.
♦ ♦ ♦
Estados Unidos. Quatro dias atrás.
Uma mulher de cabelos loiros e rosto indescritivelmente belo estava sentada em um trono vermelho com detalhes em ouro. Era um trono grande, o encosto media 4 metros de altura.
“Eu falhei com meu criador. Deixei o fragmento morrer e não fui capaz de encontrá-lo por seis mil anos. Quando encontrei, ao invés de cumprir minha missão, dei prioridade aos meus caprichos e ele morreu de novo”.
A mulher suspirou e cruzou as pernas.
“Se meu criador retornar e eu não tiver cumprido todas as suas ordens, ele vai ficar irritado, não quero decepcioná-lo. Teve tamanha bondade em relação a mim e eu nem sequer faço sua vontade?”
Uma sensação surgiu do fundo do seu ser interrompendo seus calmos pensamentos.
— Gaa!
Seus olhos azuis ficaram vermelhos, os sentidos sobrenaturais foram ativados a força e ela pode ouvir todos os sons do país inteiro.
— Ele completou a transição, no momento em que estava pensando nele. Isso só pode ser coisa do meu senhor, moldando o destino!
Ao se transformar, Jonathan se conectou a essa mulher. Todos os vampiros descendem dela. Sem ela, eles não podem viver. Essa pessoa é o pilar do vampirismo e criadora de todos os puro-sangue. Aquela cuja a palavra é lei e a vontade é insuperável.
A mais poderosa, de sangue mais puro, a primeira vampira, a rainha de todos os vampiros, Hertha.
“Vejamos quais dos meus filhos está mais perto dele”.
Hertha foi capaz de identificar Jonathan e saber sua localização apenas pela ligação vampírica. Ela conseguia identificar e rastrear qualquer vampiro no mundo.
A rainha localizou Lagash e sua criadora.
— Hmm. Faz 18 anos que ela partiu em busca de seu… Amado. O par perfeito. Se me lembro bem, aquele escravo… Então o escravo era seu amado. Por coincidência, também era quem estou procurando.
A bela vampira agarrou os apoios braços de seu trono e contatou sua cria.
…
A puro-sangue observava a cidade pela janela do apartamento mais alto do prédio onde estava. Uma voz veio repentinamente em sua mente.
“Conseguem me ouvir?”
— Majestade?
“Sou eu. Quero que faça algo para mim”.
“Claro que faço. Seu desejo é mais do que uma ordem!”
“Proteja o fragmento pra mim”.
“Então seu plano funcionou de novo. Só me diga quem é o fragmento e onde ele está”.
“Eu te chamei porque você está perto dele. O nome é Jonathan Crane. É uma coincidência agradável, não?”
“Acredito que coincidência seja outra”.
“Não entendi seu comentário”.
“Não é nada, minha senhora”.
“Você já tem suas ordens. Não falhe”.
“Farei meu melhor para não lhe decepicionar”.
A conexão foi cortada e a puro-sangue suspirou. Ela olhou para a direita e avistou sua subordinada parada ao seu lado.
— Lagash. A ordem que te dei para proteger Jonathan… Agora é uma ordem de sua majestade. Falhar não é uma opção.
— Sim senhora.
…
Dois dos três membros da equipe um estavam reunidos em uma mesa no salão onde todos se reuniam no horário das refeições.
— Nós somos vampiros, não precisamos nos alimentar nas mesas. Então por quê?
— Para criar laços entre os membros. Nosso clã é como uma família. O horário das refeições é um ótimo momento para socializar e criar laços. Todos nós temos que nos alimentar, seja vampiros, bruxas ou humanos. Estamos todos reunidos.
— Tá difícil de me concentrar com os humanos à minha volta.
— As pessoas não sabem, mas isso é parte do treinamento. Tenho certeza que já percebeu que a quantidade de guardas é maior do que na apresentação, certo?
— Sim, porém o que tem a ver com treinamento.
— Estamos sendo estimulados a resistir à sede de sangue. Os humanos e bruxas foram colocados no mesmo ambiente que nós propositadamente. Você acha que o alto escalão arriscaria a vida de seus membros assim?
— Os humanos são membros também?
— Sim. Eles são parte vital no clã. Parte de todo o dinheiro que o clã ganha é com a comercialização de sangue humano para os outros clãs. As outras facções de vampiros optam por comprar sangue, pois caçar chama atenção. Se você adicionar o fato de que vivemos em uma sociedade tecnologicamente avançada, o risco é maior. Principalmente com câmeras de segurança em toda parte. Nossa existência seria revelada.
— Caralho! É verdade. Quando eu era humano, achava que vampiros e bruxas eram só lendas urbanas. Eu pensei aqui. Se na idade média, onde a informação era algo difícil de se propagar, as lendas sobre vampiros surgiram, atualmente sermos descobertos deve ser mais fácil do que peidar.
— Já existiam outras versões de vampiros em outros lugares em época mais distantes, mas nada tão preciso quanto as lendas da europa.
Jonathan pegou uma garrafa de cor prata, feita de alumínio e bebeu um pouco de sangue.
— Vamos para o que interessa? Viemos aqui para conversar com a garota.
— Eu normalmente não me sinto assim, mas não quero puxar conversa com essa menina.
— Deixa que eu faço isso.
O belo vampiro levantou-se e foi em direção a mesa da garota. Leandro o seguiu. O rapaz de cabelos negros parou ao lado dela e perguntou:
— Podemos nos sentar aqui?
A menina deu uma boa olhada nos dois e respondeu:
— Vocês podem. — A primeira palavra saiu mais forte, deixando claro que só eles podiam se sentar ali.
Já sentado no banco, o jovem olhou no fundo dos olhos da garota e não quebrou o contato um segundo sequer.
— Mesmo sabendo meu nome, vou me apresentar mesmo assim. Uma boa relação, começa com educação. Sou Jonathan Crane. — Estendeu a mão — nascido e criado aqui em São Paulo.
— Kassandra Albuquerque. Sou carioca. — A jovem vampira apertou a mão.
— Creio que já deve saber o motivo de estarmos aqui.
— Estamos na mesma equipe. — respondeu ela.
— Conhecer as pessoas cuja sua vida estará nas mãos, é importante.
— Concordo plenamente. E você seria quem? — Estendeu a mão para Leandro.
O rapaz ficou levemente surpreso com a atitude dela.
— Vamos, eu não mordo. Não normalmente.
— Leandro Pereira. — Apertou a mão.
— Tenho umas perguntas para os dois, quero que respondam com a maior sinceridade que jamais poderiam ter em toda a vida.
— Faça sua pergunta. — disse a garota.
— Pergunta.
— Por que aceitaram fazer parte desse clã, mesmo sabendo que poderiam ser a reencarnação do fundador. E que em algum momento, se tornariam outra pessoa? Vocês estariam dispostos a sacrificar qualquer um nessa mesa em prol de cumprir seus objetivos?
— Meus objetivos não são lá grande coisa. Eu apenas gostei da ideia de ser imortal. Sempre fui muito boa em tudo o que fazia. Porém a ideia de ser morta por… Sei lá, atropelamento, engasgada com algo ou simplesmente escorregar no banheiro não me deixava confortável. De alguma forma eu me sinto mais livre agora.
A garota mudou o tom. Tornando o clima da conversa mais sério.
— Meu criador deixou bem claro que isso aqui é uma família. Morremos uns pelos outros. Nunca me dei bem com minha família, mas se essa for a família que sempre desejei, não exitaria em arriscar minha vida ou desistir dos meus objetivos por eles.
Jonathan e Kassandra voltaram seus olhos para Leandro.
— Minha vez né? — O garoto suspirou e continuou. — Meus objetivos não são nada nobres. Quando eu era criança, perdi meu pai e… Recentemente descobri que ele foi assassinado. Quando vieram até mim, vi nisso uma oportunidade para ficar mais forte, achar e matar o desgraçado que fez isso com ele.
O rapaz apoiou os braços na mesa.
— Mas há algo que influenciou bastante minha decisão. Meu criador falou sobre quem era o fundador desse clã e seus feitos. Em uma época onde as pessoas falavam, viviam e pensavam preconceito, ele foi alguém que contrariou todas essas ideias. Um homem que enxergava a brutalidade e a falta de sensibilidade no racismo, que questionava o fato das mulheres serem supostamente inferiores aos homens. Até as bruxas foram ajudadas por ele, sem que tivessem que fazer algo em troca.
Após uma leve pausa Leandro continuou.
— Tudo ao redor dele praticamente o obrigava a pensar como os outros. Os ideais preconceituosos que foram forçados a ele desde a infância, não foram capazes de o cegar. Me digam, vocês também não iam querer ser esse homem? Uma pessoa a frente do seu tempo. Eu admiro alguém com uma mentalidade forte como a dele e o seguiria até o inferno se necessário.
Jonathan se perdeu em pensamentos e deixou escapar uma expressão pesada.
— Sobre a outra pergunta. Não, eu não mataria ninguém aqui para completar meus objetivos. Somos família agora. E você? Quais são seus motivos?
O rapaz retomou a frieza em seu rosto e respondeu:
— Bom, tenho alguns motivos. Um deles é o fato de eu ter essa aparência. Vocês devem imaginar o que já me aconteceu por causa desse rosto. O fundador tinha muitos inimigos.
O belo jovem fez uma leve pausa, olhou para as duas pessoas naquela mesa e continuou.
— Nesse clã eu estarei mais seguro. Meus pais também estarão seguros longe de mim. O outro motivo é… Pretendo recuperar algo que foi tirado de mim e… Vou matar um certo alguém, um traidor. O que fariam com uma pessoa que tem tudo. E tudo conquistado graças a você, mas essa pessoa te traiu sem pensar duas vezes?
— É um ingrato. Dependendo do que foi tirado de mim, o cara não ia viver nem mais um dia. — respondeu Leandro.
— Depende da traição. Se for algo muito grave, ele ia dessa pra uma pior. Sem dó, sem piedade. Traidores não merecem perdão.
— Eu os ajudarei com seus objetivos e… Quero que me ajudem com o meu. Quero que saibam que não importa o que aconteça, nenhum dos meus objetivos são mais importantes do que vocês. Somos uma família agora. Eu morreria por cada membro desse clã, exceto uma pessoa.
É natural que Jonathan siga as regras que foram criadas por si mesmo. Mas havia uma pessoa que o faria voltar atrás com sua palavra. Faustos foi o único a conseguir esse feito.
Ao terminar sua fala. A maioria dos vampiros mais velhos voltaram seus olhares para Jonathan. O garoto ficou completamente relaxado. Ao perceberem que o jovem não se sentiu intimidado, os membros mais velhos desviaram o olhar.
— Temos que ficar de olho nesse ai. Vai acabar fazendo merda.
— Ei! Você é maluco de dizer isso no meio desse caras todos? — indagou Kassandra, raivosamente.
— Sem mentiras. Vou deixar minhas intenções bem claras para todos. Pra mim, pouco importa se concordam ou não comigo. Faço o que quero e, se quiserem me impedir, terão que me matar.
— Tá e quem é o cara que tu quer mandar de base? — interrogou Leandro.
— Direi quando chegar a hora certa.
— O que fazemos agora?
— Por enquanto, vamos apenas relaxar e nos conhecer. Entrosamento é importante no campo de batalha. Devemos conhecer cada aspecto de quem nós três somos. Porque quando chegar a hora, isso nos dará vantagem sobre o inimigo.
— Certo, então. Vamos compartilhar nossos robes, desejos e medos? — perguntou Kassandra.
— Se estiverem bem com isso.
— Acho uma boa ideia. Eu começo. — disse a garota.