Reencarnação do Vampiro - Capítulo 24
Elisabeth adentrou a sala com um chute na porta, fazendo-a bater na parede, causando um grande estrondo.
— Você ficou maluco?
Faustos estava de costas, sentado em uma cadeira giratória. O líder virou-se para a vampira.
— Por qual motivo está exaltada desse jeito? Sabia que não sou surdo?
— Faça-me o favor e não comece com seu deboche. Tô sem paciência! Deixa de enrolação e desembucha logo!
— Ele queria ir. Eu deixei.
— Você sabe muito bem que aquela mulher absorve a força de todos os vampiros que mata! O garoto vai morrer por sua culpa. Tem ideia de que ele pode ser nosso criador!? Não consegue enxergar a grande merda que está fazendo?
— O moleque sabe se virar, você viu o que ele fez no salão agora pouco.
— Aquela caçadora foi criada por magia! Magia vampírica! A mesma que corre em nossas veias FAUSTOS!!! Sabes que a magia vampírica repele a magia normal.
— O garoto usa mana como fonte de energia, vai ficar tudo bem. Tenho certeza que ele vai usar para aumentar suas habilidades físicas e complementar suas habilidades vampíricas.
— Tem ideia de quantos vampiros essa mulher já matou? Aquela espada que ela carrega, é a única que dá poder para um humano qualquer matar um vampiro superior. E o que é pior, UM CORTE, UM CORTE já é o suficiente para matar qualquer vampiro. Até mesmo a rainha poderia morrer desse jeito.
— Se a espada for afiada o bastante para superar a resistência de um vampiro de mais de 5 mil anos, sim, mas se tratando da rainha, é impossível.
— Tu sabes muito bem que a resistência daquela lâmina aumenta de acordo com a resistência dos vampiros mortos.
— E mesmo assim não foi capaz de matar um puro-sangue sequer. O garoto vai ficar bem se usar seus truques mágicos.
— Ele é só uma criança. Raina já lutou com milhares de vampiros. Vários anciões morreram pelas mão dela, acha mesmo que um recém transformado tem chance apenas por ser mago?
— Acho.
— Você tem que enviar ajuda.
— Eu disse que não ia ajudar, não vou voltar atrás com minha palavra. Se estiver incomodada, vá você mesma.
— Aquela criança está sob a proteção de uma puro-sangue, em quem acha que vai cair a culpa se ele morrer? Não pensa nas consequências?
— Se ela está mesmo protegendo o moleque, não vai deixar que o pirralho morra. Caso contrário, a culpa será dela mesma.
— Os puro-sangue fazem o que querem, acha mesmo que vão assumir a culpa por isso!?
— Já acabou? Se sim, me deixe em paz, tenho coisas a fazer.
— Grrrr! — Elisabeth saiu bufando e bateu a porta.
— Ei! Vai quebrar minha porta… De novo.
♦ ♦ ♦
Em uma noite qualquer, Jonathan encontrava-se encostado em uma parede, procurando por algo.
Com sua audição sobrenatural e também ampliada pelo uso da mana, ele ouviu algo.
— Socorro!
Junto dos gritos, também havia sons de atrito de pano em superfície áspera.
O belo jovem usou sua velocidade sobrenatural e seguiu em direção aos gritos.
Ao chegar no local, avistou três criminosos tentando roubar a bolsa de uma mulher. Os bandidos eram dois garotos e uma garota.
O vampiro golpeou o homem e a mulher que seguravam a perna da vítima, lançando-os para longe.
O rapaz segurou o pescoço do ladrão que puxava a bolsa da mulher e olhou para seu rosto.
Era um jovem saudável e bonito. Os olhos de Jonathan assumiram a coloração vermelha e seus caninos aumentaram de tamanho e ele mordeu o pescoço do garoto.
— Aaaaaaaa!
O lindo imortal largou o pescoço do delinquente.
— Que nojo. Seu sangue está cheio de droga. Que gosto horrível. — Ao vasculhar as memórias do bandido, chegou a uma conclusão.
— Está roubando para comprar drogas, não porque está passando dificuldades… Você é um lixo, mas pelo menos vai me servir para algo.
O vampiro usou a velocidade sobrenatural e quebrou o pescoço do jovem.
A vítima tentou correr, mas o belo rapaz entrou em seu caminho usou o controle mental e ordenou:
— Você não foi salva, apenas deu a sorte de conseguir fugir sem ter seus pertences retirados de sua posse. Entendeu?
— Eu chamei por ajuda, mas ninguém veio. Por sorte, consegui fugir.
— Muito bem, vá para casa e tome cuidado.
Ao interromper o contato visual, a mulher nem sequer percebeu a presença dele e seguiu seu caminho.
O belo rapaz usou a velocidade sobrenatural e alcançou os outros dois delinquentes que fugiram.
Ao se aproximar o suficiente, o belo jovem quebrou o pescoço dos bandidos restantes.
— Vocês dois também me serão úteis. Deviam ficar felizes por terem alguma serventia para alguém.
…
Jonathan trouxe os corpos dos três ladrões para o apartamento que ele havia alugado apenas para essa missão.
Os três cadáveres encontravam-se no meio da sala. O belo vampiro pensou por um momento. Ao se decidir, usou uma habilidade.
— Criar mortos-vivos.
Uma esfera negra com aparência de névoa, surgiu em sua mão direita. Ele lançou-a contra o chão, fazendo-a se espalhar.
A névoa espalhou-se em volta do rapaz e penetrou nos corpos mortos. Alguns instantes depois, os cadáveres começaram a levitar e o jovem viu três linhas rochas se formarem, fazendo ligação entre ele e os mortos vivos.
Os corpos ficaram de pé e seus pescoço se consertaram.
— Agora vocês são meus escravos, e irão me servir.
— Sim, mestre. — Os três responderam em uníssono.
Jonathan se aproximou dos mortos-vivos e percebeu que seus olhos não tinham brilho.
— Vocês tem que parecer vivos, se descobrirem que são meus mortos vivos, o plano irá falhar. Parece que vou ter que usar mais energia que o esperado.
O belo jovem se concentrou por alguns minutos. Os olhos dos cadáveres recuperaram seus brilho e seus corpos começaram a gerar calor.
— Certo. Vocês serão meus olhos e ouvidos.
♦ ♦ ♦
Uma mulher de cabelo loiro e outra de cabelos negros conversavam na mesa de um restaurante.
A alguns metros de distância, um jovem bem vestido, bebia uma taça de vinho. O rapaz olhou para as duas mulheres conversando.
“Alisou o cabelo e pintou de loiro. Está diferente, mas com certeza é ela”.
Do outro lado da cidade, Jonathan via e escutava tudo que o morto vivo presenciava. Os vampiros conseguem ver, sentir, escutar tudo que seus escravos mortos experienciam.
Além disso, eles também podem ver as memórias e ler os pensamentos do cadáver sob sua posse.
Os vampiros também possuem o poder da livre manipulação do corpo morto. Podendo devolver a vida ao seu escravo, porém há um preço. O consumo de energia mágica é alto.
Os corpos voltam à vida, mas apenas artificialmente. Pois seu coração só bate por influência da energia mágica, suas sinapses só funcionam porque a energia mágica se transforma em impulsos elétricos.
— Raina. Tenho informações sobre os filhos da noite. Eles estão traficando armas para os criminosos humanos. Eles são fornecedores regulares.
“Filhos da noite é? Vejamos o que tem para nós”.
O morto-vivo de Jonathan era de alto nível, todas suas habilidades e sentidos foram aprimorados ao ser invocado.
Filhos da Noite é um clã rival do clã Oblivion desde o primeiro encontro.
— Por que eles estariam trabalhando com esse tipo de coisa? Ainda mais com humanos. Sabemos bem que os vampiros desprezam os mortais.
— Porque nesse caso em específico, os lucros são realmente altos. Devido ao poder do controle mental, conseguir esses armamentos e transportá-los para outros países, é fácil e não deixa rastros. Visto que ninguém sabe de nada por terem as memórias apagadas. — disse a garota de cabelos negros.
— Com isso eles têm em mãos as melhores armas. Tenho que acabar com isso, pois a sociedade humana sofre duas vezes por causa deles.
— Tem mesmo. Porque estão quase alcançando o poder financeiro do Clã Oblivion. Nós sabemos o que vai acontecer se Os Filhos da Noite conseguirem isso.
— O clã Oblivion cai e o caos se espalha. Sabemos muito bem que é o responsável pela ordem em todas as cidades em que está instalado, incluindo essa.
— Eu ia te perguntar se você ia usar aquela informação que te dei sobre a base deles, mas pelo que disse sobre desordem na sociedade dos vampiros, tu não vai destruir eles.
— Cheguei a matar uns… Sei lá, trinta, quarenta membros deles, mas eles me atacaram primeiro. Acha mesmo que vou cutucar onça com vara curta? As bruxas da convenção imortal são poderosas. Se elas acharem um jeito de desfazer o feitiço que me permite continuar caçando vampiros ou acharem um jeito de anular o feitiço da minha espada, eu estarei condenada.
— Verdade. Aquelas mulheres são fortes.
— Também não tenho motivos para isso. Mesmo que sejam um clã de vampiros, não causam problemas na sociedade humana. Eles dão seu sangue para curar os doentes. Mesmo que seja única e exclusivamente pelo dinheiro, ainda é algo que ajuda aqueles que estão condenados. Todas as ocorrências de ataques de vampiros que investiguei, Oblivion nunca era o culpado e, mesmo quando tinha culpa, as vítimas saiam vivas. Quando um clã ou vampiros solitários começam a causar problemas, eles mesmos cuidam disso antes mesmo dos caçadores descobrirem.
— Parece que nem todos os vampiros são ruins.
— Eu nunca disse que eram. Caço apenas quem merece. Sabe… Muito tempo atrás, eu conheci um que era muito mais honrado até mesmo que todos os homens humanos que encontrei. Mas essa honra acabou levando ele para a morte. Foi ele que criou esse clã divergente que até os vampiros acham estranho.
— Nossa, ele devia ser muito bom para que seus seguidores façam sua vontade até hoje.
— O único vampiro que respeito, mesmo depois de morto.
“Parece que vai perder o respeito por mim, depois do que farei”.
…
Faustos caminhava em direção a uma garota de cabelos castanhos no final de um beco. Ao se aproximar da pessoa, retirou um papel do bolso e entregou.
— Sabe para onde tem que levar, certo?
— Sim.
A jovem saiu do beco e desapareceu na multidão de pessoas na rua. Em cima de um prédio, havia dois homens observando Faustos.
— Você viu o que ele entregou para a garota? Quero que a encontre, pegue o papel e veja o que tem nele, depois apague a memória dela e deixe seguir seu rumo, entendeu?
— Sim senhor.
Faustos entrou em um bar.
— Com licença, posso usar o banheiro? — perguntou para um atendente.
— Pode, é ali no fundo. — disse o homem apontando.
O vampiro se dirigiu para o banheiro, entrou e trancou a porta.
Ele se apoiou na pia e olhou no espelho. Após se encarar, sua aparência começou a se deformar e aberrações monocromáticas apareceram no contorno de seu corpo.
Era uma magia de ilusão, criada através da manipulação da luz. Ficar invisível também era possível.
“Agora falta apenas a última parte”.
…
Um dos mortos-vivos de Jonathan seguia a garota que estava com Raina no restaurante. Era noite e não havia ninguém além deles na rua.
— Com licença, moça
No instante em que a mulher se virou, o garoto a acertou um soco em seu queixo, fazendo-a desmaiar.
— Você tem que vir comigo.
…
Raina Lopes revisava as informações sobre os vários clãs e facções de vampiros.
— Logo após a chegada de Oblivion no Brasil, os clãs nativos se beneficiaram muito. Esses caras… Só dominaram as áreas em que o mestre deles poderia estar. Esses desgraçados já são difíceis de matar, agora arranjaram um jeito de recuperar as memórias ao reencarnar. O pior de tudo é que isso ficou sendo feito por baixo do meu nariz por todos esses anos e eu nem desconfiei.
Uma notificação chegou em seu celular. Ela pegou e leu. Era uma mensagem da garota que ele encontrara mais cedo para conseguir informações. Adélia era o nome dela.
O conteúdo da mensagem dizia: venha me encontrar na minha casa, descobri algo.
— Ela nunca me pediu para ir em sua casa. Tem algo errado.
…
Ao chegar na casa da garota, Raina bateu na porta que abriu lentamente, produzindo um rangido.
A caçadora entrou e avistou uma cadeira, com uma foto e uma carta. A imagem no papel era uma foto tirada de Adélia desmaiada e amarrada a um pilar de concreto da cor branca.
Se não vier até mim dentro de dois dias, ela morre.
— Sem endereço? Não, espera. A mensagem… Se ele estiver com o celular dela, posso rastreá-lo.
…
A caçadora pulou o muro e se esgueirou pelos cantos escuros do local. Nos fundos do armazém, deparou-se com uma porta de metal, bem fina.
— Sério, mesmo?
Deu um chute, dobrando a porta ao meio e destruindo as dobradiças e tranca. A loira subiu lentamente alguns degraus. Ao chegar no meio do armazém, viu sua ajudante inconsciente e amarrada a um pilar.
A caçadora desembainhou uma espada de uma mão, feita de prata. A lâmina era de duplo corte, a guarda levemente inclinada em direção a ponta, tinha uma joia azul no pomo.
O cabo tinha um trabalho engenhoso em couro negro.
A mulher seguiu com cautela em direção a sua parceira. Ao percorrer metade da distância, sons de passos soaram em seus ouvidos.
Tap Tap Tap.
Um padrão único e imutável, nenhuma alteração no ritmo ou no peso do passo.
— Esses passos… Já os ouvi.
Jonathan saiu do escuro de uma porta e caminhou até a frente da garota desmaiada.
— Você.