Reencarnação do Vampiro - Capítulo 27
— Não.
— Como é? Está se negando a ajudar o clã?
— Ajudar?! Essa arma foi criada para matar vampiros, é extremamente perigosa. Como isso poderia nos ajudar?
— Vai servir de troféu, é claro. Para mostrar aos inimigos o nosso feito.
— Nosso? Em nenhum momento recebi ajuda. Completei minha missão sozinho, sem a ajuda de ninguém. Me diga, por que não enviou uma equipe?
— Estávamos esperando os vampiros mais fortes voltarem. Enviamos uma mensagem, mas leva tempo.
— Fui transformado a menos de um mês e derrotei alguém que os anciões não conseguiram, então não me venha com essa.
— Você tem a magia em seu arsenal, é óbvio que será capaz de fazer coisas que os não usuários das artes mágicas não podem.
— E nosso clã tem uma convenção imortal, cujo os membros são as bruxas mais poderosas do planeta. Também temos um mago e, pelo que que pude entender, é um professor, o que nos leva aos alunos e eu tenho certeza que há graduados aqui… Se contarem comigo, seria mais um mago para o grupo. Claro que eu tenho mais talento e inteligência, foi isso que garantiu minha vitória, não só a magia. Apenas esses magos, as bruxas e meia dúzia de membros de nível superior com pelo menos 200 anos já seria o suficiente.
— E mesmo assim não precisou de nenhum dos mencionados para sair triunfante.
— Essa não é a questão e você sabe muito bem. Não tinha como saberem o resultado, pois até então eu era apenas um vampiro recém transformado aspirante a mago que tinha muita confiança. E nem sequer me deram nenhuma ferramenta para ajudar. Eu sinceramente não ligo pra isso, mas querer algo após me enviar sozinho e desarmado é realmente rude. Eu superei suas expectativas, não acha que sou merecedor de ficar com a espada?
— Acha que isso te faz merecedor?
— Se a pessoa que pôs fim a vida maior assassina de vampiros do mundo para salvar seu clã, tendo feito isso sozinho e sem armas não é merecedor, que é? Talvez o merecedor seja um líder patético que fica com sua bunda sentada, apenas mandando e mandando sem fazer absolutamente nada para ajudar seus irmãos, não é?
— O que disse?!
— A culpa não é minha se a carapuça serviu. Aliás, se serviu talvez você não seja realmente o escolhido para assumir a liderança.
Todos ficaram chocados com as palavras de Jonathan, porém Elisabeth soltou gargalhadas. Sara, por outro lado, se manteve quieta, mas deixou um sorriso discreto escapar.
— Seu insolente! Com quem pensa estar falando? Sabe que pode ser punido por me dirigir tais palavraso, não é?
— Não, não vou. Eu sei bem como as regras funcionam.
O jovem subiu os degraus que levavam até o trono de Faustos. O homem que sempre estava ao lado dele pôs a mão sobre o cabo de sua espada. O belo rapaz lançou um olhar diretamente para ele, fazendo-o exitar em desembainhar a lâmina.
O belo vampiro ficou cara a cara com Faustos, com o rosto bem perto.
— Você sabe do que sou capaz, o que eu sei e nem quem sou. Então não me fale das regras quando nem mesmo você as segue.
— Está enganado. Sei muito bem que é.
— Então sabe do que sou capaz, não deveria me irritar.
Jonathan continuou encarando Faustos.
— Tudo bem, pode ficar com espada.
— Ótimo.
O belo jovem se virou com indiferença e desceu os degraus.
— Vamos.
Raina o seguiu pelo caminho cheio de pessoas.
— Meus alunos são humanos. Não podiam bater de frente com Raina.
— É mesmo? Sabe… Raina não ia nos atacar, nosso clã é muito perigoso para bater de frente. No final tudo foi em vão.
— Como assim?
— Eu escutei ela dizer isso em uma de suas conversas. No fim, o clã não estava sob ameaça.
O rapaz seguiu o caminho.
— Então por que continuou com isso? — perguntou Faustos.
Jonathan seguiu seu caminhão sem responder a pergunta. O rapaz foi até seu quarto, abriu a porta e entrou.
— Senta.
Raina sentou na cama e ficou imóvel esperando as próximas ordens. O jovem mordeu seu dedo e passou um pouco de sangue sobre o papel com um símbolo responsável por ativar o feitiço anti audição sobrenatural.
— Como você conseguiu essa espada e o feitiço que te torna imortal?
— Quando eu tinha 20 anos, uma catástrofe atingiu o meu vilarejo. Tenho certeza que o senhor já sabe o que é.
— Um vampiro, ou mais.
— Isso. Todos os homens do vilarejo pegaram suas foices e tentaram lutar contra o que nós acreditávamos ser um demônio. Ao conseguir se alimentar do primeiro homem, todos os golpes seguintes não eram capazes de matar o vampiro. Mesmo acertando lugares vitais como o coração, ele continuava de pé. Vendo que não tinha chances, meu pai tentou fugir comigo e minha mãe.
A mulher nem sequer expressava tristeza, era um boneco sem humanidade. A habilidade mágica de criar mortos-vivos acorrenta a almas dos invocados e os impede de sentir qualquer coisa. Permitindo que o invocado faça tudo o que seu mestre mandar, sem nenhum escrúpulo.
— Quando o vampiro nos encontrou, meu pai tentou ganhar tempo. O tempo que ele conseguiu foi insuficiente e o homem nos alcançou. Ele usou seu controle mental em mim e me obrigou a assistir o que ia fazer com minha mãe. Após morder o pescoço dela e fazê-la parar de resistir por causa da saliva, ele a estuprou em minha frente e depois a matou. Por causa de um mau uso das palavras dele ao utilizar o controle mental, eu consegui fugir.
— E como isso tem relação com seu feitiço?
— Estou contando o que aconteceu comigo antes, para que o senhor entenda como consegui a espada e o feitiço, mas se quiser, posso ir direto ao ponto.
— Certo, continue com a história completa.
— Quando ele me alcançou, tentei resistir, mas por causa disso acabamos escorregando e caindo de um lugar alto. Lá embaixo haviam muros feitos de madeira, cujas partes mais altas eram pontudas. Eu e o vampiro caímos em cima dos muros e metade da região do meu rim esquerdo foi dilacerada. Felizmente a queda não me matou, pois era inverno e havia muita neve no local onde caímos. De qualquer forma o ferimento ia me matar. O vampiro não teve tanta sorte e acabou caindo em cima do muro, seu coração foi atingido em cheio, causando sua morte. Eu só sobrevivi, porque o sangue do vampiro escorreu até mim e tocou meu ferimento.
— Tá aí uma coisa que nunca me preocupei em saber. Se nosso sangue ainda funciona se o portador morrer.
— Não só cura, como pode transformar também. Enquanto a magia no sangue dele não se dissipar, funciona. Quer dizer, sem mencionar o fato de que a magia de um vampiro é seu próprio sangue.
— Como é?
— O senhor com certeza sabe que a magia dos vampiros fica armazenada no sangue. Mas duvido que saiba que na verdade, o sangue é a energia mágica materializada em forma de sangue. Quanto mais energia mágica, maior é a qualidade do sangue do vampiro.
— E descobriu isso tentando achar mais fraquezas para nossa raça, eu presumo.
— Exatamente.
— Depois você me conta o que descobriu, agora quero saber o resto da história.
— Continuando. Eu me tornei uma caçadora depois disso. Minha primeira caçada quase custou minha vida, pois tentei caçar um vampiro muito velho, sem saber que a idade os tornava mais fortes. Por ser muito velho, minha estaca de madeira se quebrou ao tentar perfurá-lo. Ele me pegou pelo pescoço e quase me matou, porém fui salva por um caçador mais experiente, que mais tarde me ensinou sobre os vampiros e como identificar os mais velhos. Cacei e matei muitos da sua espécie, mas me deparei com um problema. Nem mesmo o homem que me ensinou, sabia que além dos vampiros comuns, existiam também os superiores e os puro-sangue. No ano de 1400 tentei caçar um mas sem sucesso, quase fui morta. Naquela noite, eu conheci a bruxa que me deu meus poderes. O nome dela era Rúna. Significa: sabedoria secreta.
— Por que será que isso não me surpreende? Deve ser o longo histórico de assédio que as bruxas vem sofrendo por parte dos vampiros.
— Com ela, descobri que vampiros não eram os únicos seres sobrenaturais. Rúna me contou que além de uma bruxa, era também vampira. Não é novidade que as bruxas odeiam os vampiros desde tempos imemoriais. E ela não era exceção. Um imbecil a transformou sem seu consentimento. Você sabe que quando uma bruxa se transforma, perde sua magia, não é? Rúna deu um jeito de controlar a energia mágica vampírica e se tornou uma das mais poderosas usuárias de magia. Acontece que ela estava procurando alguém para colocar um feitiço que torna o usuário em uma assassino de vampiros. Aquela bruxa me pediu para trazer três vampiros. Eu fiz e ela os usou para canalizar a energia que ia ser usada para criar minha espada. Depois, ela usou seu próprio sangue para criar o feitiço que me tornou o que sou. Algumas dessas runas tatuadas no meu corpo foram feitas por ela.
— Essa bruxa ainda está viva?
— Não sei, talvez ela tenha provocado algum vampiro mais forte e sido morta. Ou pode estar viva. Nunca mais a vi depois daquele dia.
— Em 1416, foi no nosso primeiro encontro, por que exitou? Você só caça os vampiros que matam pessoas inocentes, pelo que aconteceu com sua família, era pra você ter um ódio absoluto de nós.
— Eu odiei infinitamente sua raça durante os anos anteriores ao meu encontro com Rúna. Porém, depois disso, encontrei muitos vampiros gentis e honrados. Conheci um que sacrificou sua vida em uma luta, pois havia se apaixonado por mim. Conheci um que saía todas as noites para dar seu sangue aos doentes. Como poderia tirar a vida de alguém assim? Depois disso, comecei a observar o dia a dia dos vampiros que fazia de alvo. Alguns deles viviam uma vida humana pacífica. Só se alimentando quando necessário e sem matar. Então mudei minha mente e comecei a agir pelo certo. Se eu matasse essas pessoas, não seria diferente do homem que matou minha família e amigos.
— Entendo. Esse feitiço ainda funciona?
— Bom, acho que sim. A bruxa não disse nada sobre o que aconteceria se eu morresse.
— Vou te levar em uma missão, vamos descobrir lá. Bom, vai demorar um tempo, só posso ir em missões que envolvem lutar contra inimigos humanos.
— Tudo bem, eu espero quanto tempo o senhor quiser.
— Há outra coisa que quero perguntar. Onde conseguiu essas novas runas no seu corpo.
Os braços de Raina eram cobertos de tatuagens. As costas, barriga e seios também.
— Muitos séculos mais tarde, conheci um descendente da bruxa. Ele reconheceu a escrita de longe e veio me perguntar. De início ele pensou que eu era só uma pessoa aleatória que tatua runas por achar legal, mas quando entendeu, me deu mais algumas. Uma delas é a que usei contra o senhor, a que me permite chamar minha espada até mim, ou lançá-la em um inimigo.
— Fui pego de surpresa por esse feitiço. Quantas mais você tem?
— Além do braço… Barriga, costas, e pernas. As das pernas vão desde as nádegas até a panturrilha. Essas em especial não são para combate, seria muita desvantagem ter que ativar uma dessas durante uma luta. São feitiços que me permitem rastrear, identificar mentiras, quebrar controle mental e etcetera.
— Quebrar controle mental. Essa vai ser bem útil.
— Alguma das tatuagens tem efeito passivo, são ativas sem eu precisar aplicar energia por mim mesma. Um delas me dá a capacidade de saber quem é o vampiro.
— Interessante.
Toc toc toc. Alguém bateu na porta.
— Sou eu, Elisabeth. Quero conversar.
Jonathan foi até a porta e a abriu.
— Posso entrar?
O rapaz ficou em silêncio e apenas abriu caminho, indicando para entrar. O jovem trancou a porta.
— Sobre o que quer conversar?
— Sobre o que eu disse mais cedo. Não quis dizer que se parece com ele apenas pela aparência, mas sim pelo modo de agir.
— Você já disse isso.
— Eu sei. É que… Não foi uma desculpa que inventei na hora, é verdade. Tá certo que existem algumas diferenças, mas em suma, tudo o que vejo é a mesma pessoa. Semelhanças físicas até podem ser coincidência, mas semelhanças na personalidade, aí fica difícil de acreditar.
— O que está insinuando?
— Tudo que sabemos sobre o processo de reencarnação ainda é muito pouco. Não podemos tirar muitas conclusões com o conhecimento que temos, fica difícil saber quem é o reencarnado. Qualquer informação ajuda, então…
Jonathan caminhou em direção a Elisabeth, passou por ela e a olhou de cima a baixo.
“Está inquieta. Batendo a ponta do dedo indicador na coxa. Ela só fica assim quando está nervosa. Essa garota dificilmente demonstra nervosismo, mesmo quando eu chamava sua atenção, então o que mudou?”
O rapaz estava atrás da mulher, virado de costas. Até que decidiu se virar.
“Acho que essa criança mudou durante esses 438 anos. Mas não é só isso, estou ignorando algo. Os instintos dela estão gritando para ela que sou a pessoa que pareço ser, porém digo que não sou. O conflito entre a consciência e inconsciência, está a deixando desconfortável.
— O que quero dizer é que se você souber de qualquer coisa, por favor me diga. Todas as informações são bem vindas, até mesmo a forma como se sente é importante.
— Não sinto nada estranho. Como acha que deveria me sentir? Outra pessoa? Se é isso que está querendo dizer, não, não me sinto como outra pessoa.
“Não menti. Me sinto exatamente como deveria, sou Jonathan Crane. Vladmyr morreu há quatro séculos. Eu renasci, ganhei uma nova chance, um novo nome. Eu me sinto Jonathan Crane”.
— Se está insinuando que talvez eu seja seu pai, não, não sou. Vai ter que continuar procurando.
Elisabeth demonstrou uma expressão de decepção indescritível. Era como se seu mundo tivesse desabado. A tristeza da mulher era evidente e tocará o coração daquele vampiro.
— Tá… Obrigada pela atenção e minhas desculpas pelo incómodo.
A vampira virou-se e caminhou até a porta. Mesmo de costas, sua tristeza podia ser sentida.
“Queria esperar mais até que esteja seguro o suficiente de que posso me revelar sem nenhum risco, tanto para mim quanto para ela. Minhas crianças estão me procurando e tudo o que faço é mentir? Não existe plano perfeito se eu tiver que mentir e partir o coração das minhas filhas”.
— Hum. Mais de 400 anos se passaram e as coisas não mudam. Eu sempre menti muito mal e você sempre acreditou em minhas mentiras.
A mulher de cabelos cacheados parou por um momento e franziu a testa tentando entender o que acabara de ouvir. A vampira virou-se, olhou nos olhos dele e perguntou:
— O que?
— Não importa o quão ruim seja a mentira que conto, você sempre cai. Eu menti novamente, mas dessa vez não consegui continuar mentindo para minha criança.
— Pai.
Os olhos de Elisabeth arderam com esperança e felicidade. A mulher correu e abraçou Jonathan. Um abraço apertado que transmitia a saudade acumulada por 4 séculos.
— Eu também senti saudades, minha criança, mas agora sou só uma vampiro recém tranformado, você vai acabar me quebrando.
— Desculpe, eu me empolguei.
A jovem ficou parada olhando para o rosto do rapaz.
— Não vai dizer nada?
— Er… An… Não sei o que dizer, er… Mais alguém sabe? E… Como… Sua aparência e suas memórias?!
— Calma, vamos começar pela primeira pergunta. Existem mais pessoas que sabem. Uma delas é Zuri.
— Foi ela que fez isso? Fez um feitiço para preservar seu corpo ou fazer uma cópia? Afinal parece mais jovem.
— Não. Contei a ela quem sou a poucos dias. Existem mais duas pessoas e uma organização que sabem.
— Organização?
— Aqueles mercenários que aceitam trabalhos humanos em troca de muito dinheiro. Um dos membros é uma mulher de cabelos brancos chamada Joana.
— Ah, sei. Eles se chamam de mercenários de Artemis.
Em algumas histórias da mitologia grega, Artemis é considerada a deusa da lua. Então… Lua, noite… cês sabem.
— As outras duas são uma das crianças que nasceu aqui no nosso clã, mais especificamente sendo pertencente à convenção imortal e uma puro-sangue.
— Uma das nossas, é? Quem seria essa pessoa?
— É uma mortal, bem jovem. O nome dela é Amanda.
— Pera ai, é quem estou pensando? Amanda a desertora?
— Sim, porém ela não é uma desertora. Isso aqui não é um exército. Nunca obriguei ninguém a entrar e muito menos a ficar nesse clã e gostaria que continuasse assim.
— Eu sei, mas o senhor sabe o que ela fez? Antes de ir embora, brigou com todo mundo e até mesmo se recusou a ajudar em sua busca.
— É um direito dela recusar ou aceitar fazer algo. Vocês tentaram obrigá-la?
— Não, nós apenas pedimos sua ajuda, quando se recusou fomos conversar com a garota, mas ela surtou e ofendeu metade dos mais velhos, até mesmo seu nome foi citado.
— O que foi dito.
— Em resumo. Amanda disse que a morte é o ciclo natural e que nós vampiros somos uma falha. Bom, entre outras coisas ditas estavam: blasfêmia, falsa felicidade, máscara de juventude, velhos medrosos e etcetera.
— E em relação a mim?
— Essas foram as exatas palavras: “Todos dizem que o fundador é uma pessoa incrível e bondosa que ajudou minhas ancestrais muitos séculos atrás sem pedir nada em troca. Muito se fala sobre o pesado fardo que ele carrega após salvar minha ancestrais da morte. Seus feitos sem dúvidas são verdadeiros, mas não posso dizer o mesmo sobre sua personalidade. Eu não o conheço. A impressão que tenho é que é só um velho fugindo da morte. Se o fundador recarregava um fardo tão pesado, por que vamos colocá-lo de volta em suas costas ao recuperar suas memórias? Ele já completou ciclo natural, deixem ele em paz. Me disseram que foi o próprio criador quem pediu por isso. Então tenho a impressão que a máscara do fundador, ao contrário da de vocês, ao invés de esconder velhos, na verdade é uma máscara de um homem velho e sábio que esconde uma criança medrosa”
— Hmmm. O que tem demais? Se lembra do que eu sempre dizia sobre provar algo.
— “Se quer provar algo, faça ao invés de só falar. Quem muita fala, pouco faz.” Inclusive, ao longo da história, muitos dos membros que seguiram essa sua forma de pensar, se destacaram muito na sociedade humana.
— Exatamente. Dou valor às ações. Palavras vazias não enchem ouvidos. Muitas coisas parecem bonitas em palavras, mas na realidade… Não é tão simples.
— Bom, tanto faz. Ela o desrespeitou, não a consideramos mais uma de nós.
— Mas eu sim.
— Por que essa consideração toda com a garota?
— Ela foi minha babá quando era um bebê.
Elisabeth expressou um pequeno sorriso e tentou disfarçar. Jonathan a fitou com uma expressão séria.
— Que foi…Hu…huhu hahahahaha desculpa hahahaha.
— Vá em frente, ria o quanto quiser.
— Desculpa, é que imaginar o senhor bebê e sendo cuidado por alguém é engraçado hahaha fica melhor ainda quando se dá conta do fato de que a pessoa é mais nova hahaha!
— Falando assim, até parece que sou um idoso no asilo.
— Acho melhor eu calar a boca.
A mulher pôs a mão sobre a boca.
“É óbvio que ia me chamar de velho, não que não seja”.
— Bom, voltando ao assunto anterior, o senhor disse puro-sangue. É a mesma que está dando-lhe proteção, eu presumo.
— Correto.
— Qual sua relação com ela e como conseguiu ter esse tipo de proximidade com a elite?
— Essa é a parte mais estranha, não fiz nada. Lembra-se dos vampiros que massacraram a família de John?
— Perfeitamente.
— O homem sobreviveu e tentou me matar quando eu tinha 4 anos. Era apenas um humano e estava prestes a morrer, porém fui salvo por uma serva dela. Nem sequer a vi pessoalmente. Ela tem algum interesse em mim cujo motivo, não estou ciente. Supondo que seja por causa da minha reencarnação. O fato de nem alguém como ela saber o motivo é uma boa razão para voltar sua atenção para mim.
— Não entendo onde quer chegar. E nossa, deve ser horrível ser mortal, qualquer coisa pode te matar, tipo… Engasgar enquanto come, muitas pessoas já morreram assim.
— Essa minha aparência não é resultado de magia como já disse anteriormente. Porém, não só meu corpo é completamente estranho como outros aspectos dessa minha nova encarnação também são.
— Tipo o que?
— Se está pensando que recuperei minhas memórias com Zuri ou qualquer outra bruxa, está completamente equivocada. Minhas memórias reencarnaram comigo, nunca as perdi.
— Isso é completamente… Incrível! É um acontecimento que jamais foi registrado e sequer foi teorizado. O senhor é o ser mais valioso vivo. Temos que tomar cuidado em dobro, se a informação vazar de alguma forma, os criminosos que vendem seres sobrenaturais vão tentar tudo o que puderem para tê-lo. Meu pai é incrível! — Os olhos da mulher explodiram de admiração e suas bochechas ficaram levemente coradas.
— Então a quantidade desses criminosos irá diminuir drasticamente.
— Só uma pergunta. Por que a Zuri foi a primeira a saber e não eu minha irmã? Estamos ao seu lado desde a fundação desse clã, somos os membros mais confiáveis aqui e também, as primeiras pessoas que o senhor transformou.
— Não se trata de confiança e sim de estratégia. Você sabe muito bem sobre a habilidade mágica da convenção imortal.
— Então ela descobriu sozinha e o senhor apenas confirmou?
— Correto.
— E Sara, quando pretende contar a ela?
— Quero que você fique encarregada de passar essa informação. Depois disso eu irei falar pessoalmente com aquela criança. Depois de explicar a situação, para sua irmã, quero que as duas reúnam membros confiáveis para ficar ao meu lado em nossa cruzada.
— Cruzada? Contra quem?
— Nossa batalha será difícil, pois iremos enfrentar aqueles que um dia chamamos de irmãos. Nós iremos matar Faustos, o responsável pela minha morte.
— Re-responsavel?! O senhor está dizendo que ele é um traidor?
— Sim. Faustos me traiu. Com uma estaca de prata e madeira, ele me apunhalou pelas costas e me entregou ao inimigo.
— Entendo, farei de tudo para alcançar suas expectativas. E não se preocupe, vamos garantir que ele pague pelo que fez!