Reencarnação do Vampiro - Capítulo 5
Em uma manhã de quarta-feira, minha mãe se preparava para me levar para passear no parque.
Algo que uma mãe comum faz com seu filho comum.
Eu nunca gostei de ser uma pessoa comum. O problema é que elas são… comuns. Todas querem as mesmas ou quase as mesmas coisas: dinheiro, poder, respeito, roupas de luxo, mulheres bonitas, jóias.
Esse pensamento não muda, independente da classe social. Quem não tem quer ter e quem tem, quer mais.
E isso causa muitos problemas, faz as pessoas fazerem coisas repugnantes como: usar irmã, mãe, filhos/filhas e ATÉ as próprias esposas como moeda de troca política.
Esse foi um dos motivos pelos quais eu me afastei dos assuntos humanos e me concentrei completamente nos assuntos da sociedade vampírica.
Porém, eu havia esquecido que antes de ser um vampiro, as pessoas são humanas, então quando se transformam vêem seu poder apenas como um meio para alcançar seus objetivos egoístas e vazios.
Todos os que sobrevivem aos estágios iniciais da adaptação em um corpo de vampiro, conseguem cumprir seus objetivos, mas depois disso percebem que o que buscavam não era nada e entram em um vazio existencial enorme, que perdura por séculos.
Então em busca de algo para preencher seus vazios, eles fazem todos os tipos de coisas… Até assassinato, isso causa muitos problemas, principalmente para os vampiros que não tem nada a ver com a história.
Nessa nova vida eu não preciso me preocupar com isso, muito menos matar pessoas. Eu nunca pensei que diria isso, mas eu gosto de ser uma pessoa “comum”, ou pelo menos levar a vida de uma.
Minha mãe finalmente conseguiu um tempo para passar comigo. Então decidi me levar ao parque.
Ela aproveitou que ia passar o tempo todo comigo e deu uma folga para Amanda, que estava se olhando no espelho da sala.
Ela estava verificando seu vestido para ver se ficava bem nela.
O vestido era branco com um contorno azul no fim da barra, ele cobria mais da metade da coxa e não era colado. A barra do vestido tinha dobras que lembravam as saias colegiais japonesas. Ele era aberto na parte de trás e mostrava boa parte das costas. Apesar da parte inferior do vestido não ser colado, a parte superior era.
A alça do vestido tinha o apoio em volta do pescoço.
A cor branca do vestido dava destaque ao seu cabelo loiro natural. Já o contorno azul no fim da barra que estava posicionado na horizontal formando um círculo combinava com seus olhos azuis brilhantes como diamantes.
Ela era uma mulher muito bonita na verdade.
Seus cabelos dourados não eram muito compridos, vinham até os ombros. As pontas eram desalinhadas, cada uma crescia do seu próprio jeito.
Nem mesmo ouro se comparava aqueles fios dourados. E por puro capricho, quando se moviam com liberdade, lembravam uma pena caindo de tão leves.
Não era somente aquele brilho, mas o azul dos seus olhos, a sensação do oceano profundo, hipnotizava qualquer jovem desavisado mesmo que sua intenção não fosse admirá-la.
Lábios finos e delicados, de tamanho extremamente proporcional. A cor rosa, emitia um brilho gracioso.
Pele branca e macia como a neve
— Eu já vou Dona Suzan.
Minha mãe parou de mexer na bolsa, deixou a posição inclinada para a ereta e falou com Amanda.
— Vê se não exagera com a bebida, você tem trabalho amanhã.
— Pode deixar dona Suzan. — Amanda foi em direção a porta e saiu.
Minha mãe continuou ajeitando as coisas na bolsa até que teve que ir no segundo andar pegar algo.
— Fica aqui e não mexe em nada, a mamãe vai lá em cima buscar algumas coisas.
Ela subiu as escadas e eu fiquei esperando.
Eu me levantei do sofá e fui em direção ao espelho em que Amanda estava se olhando.
Olhei para meu reflexo no espelho. Isso já estava me incomodando a muito tempo, mesmo que eu já tenha visto várias vezes, eu não conseguia acreditar.
Eu coloquei minha mão direita no espelho e me apoiei levemente.
— Porque eu tenho a mesma aparência de antes?
O que estava me incomodando era o fato de eu ter exatamente a mesma aparência da vida anterior.
Isso é um grande problema. Agora que sou apenas um humano, qualquer um com más intenções que me reconheça, pode fazer literalmente o que quiser comigo.
Eu preciso de algo que seja feito de prata para pelo menos me proteger do controle mental de um vampiro, caso contrário ele pode me obrigar a responder qualquer pergunta que ele quiser, sem mentir.
— Preciso da prata, não posso sair na rua sem ao menos isso.
Eu fui até a cozinha para pegar um talher na gaveta, pois haviam alguns de prata lá.
Quando cheguei na cozinha vi a empregada lá.
— Precisa de alguma coisa?
Eu não respondi e fui até o gabinete e abri a gaveta e procurei uma faca e quando achei a peguei.
Então fui andando em direção a sala, mas fui chamado por Gabriela, a empregada.
— Ei, o que você pensa que está fazendo? Tá levando isso aí para onde?
Eu parei, suspirei e ainda de costas para ela respondi:
— Isso não é da conta dos empregados.
— É sim! Se você se machucar e sua mãe perguntar o porquê de eu ter deixado você pegar a faca, o que você acha que vai acontecer?
— Provavelmente você seria destituída da sua função. Em casos piores, detenção.
— Destituída? Onde aprendeu essa palavra?
— Não me recordo.
— A, deixa pra lá só me dá essa faca.
Ela se aproximou de mim e estendeu a mão para pegar a faca, mas foi com muito cuidado, porém o cuidado não era para não se machucar ou me machucar, parecia que ela não queria tocar naquilo.
Então eu disse:
— Porque está demorando para pegar? Está com medo de se queimar?
“Vamos ver o que você está escondendo.”
— C-como assim? Porque eu me queimaria tocando em uma faca?
— Essa é a impressão que você passa.
Ela pegou a faca com muita relutância, mas nada aconteceu.
— An? Não aconteceu nada? — Exclamou Gabriela quando percebeu que nada havia acontecido.
“Se não é vampira, porque estava com medo?”
— O que você esperava que acontecesse?
— A, nada, nada!
— Então, tá. — Eu voltei para a sala.
“Porcaria, ela interferiu, agora não tenho como me proteger.”
Minha mãe voltou para a sala, terminou de arrumar a bolsa e estendeu a mão para mim com um sorriso e disse:
— Vamos?
Eu peguei a mão dela e fomos para o parque.
♦ ♦ ♦
Quando chegamos no parque, ele estava cheio. Era um parque ecológico.
Minha mãe queria me familiarizar com a natureza.
Se ela soubesse que lidar com a natureza era uma coisa comum para as pessoas da época em que vivi minha vida anterior, ela deixaria disso.
Ela me levou para ver alguns patos que sempre nadavam em um pequeno lago no parque.
— Olha, Jonathan, os patinhos. — Ela apontou com o dedo.
Eu estava olhando para outro lado e não estava interessado em patos.
— Olha lá, o patinho.
Eu olhei para os patos para ela parar de me mandar olhar.
— Viu? O que achou?
Eu nem sabia o que responder, até porque eram só patos, o que mais eu deveria achar deles, além do já acho.
— Achei legal, eu posso ter um?
“Essa é a pergunta que todos os pais odeiam.”
— Claro! Você pode ter quantos você quiser!
“acho que não deu muito certo.”
…
Depois de terminar de ver os patos, minha mãe me levou para dar uma volta, no caminho, nós encontramos um balanço.
— Olha! um balanço.
“E o que seria isso?”
Minha mãe me sentou no balanço e começou a me empurrar.
— Se você ficar com medo me avise, não tente pular sem me avisar.
Eu bocejei de tédio.
— Você está com sono? Quer ir pra casa? — Perguntou minha mãe.
— Não, é só que isso está chato.
Minha mãe parou de me balançar e sentou no balanço ao lado.
— Você não está gostando de passear no parque com a mamãe?
Eu abaixei a cabeça, pois não é que era chato e sim porque já era tarde demais para mim. Eu gostaria que minha mãe da vida passada tivesse saído comigo para momentos assim.
Não que eu não gostasse da minha mãe atual, mas é que a preocupação de ser pego pelos inimigos não me deixa focar nos momentos entre mãe e filho. E tem o fato de ser um velho de 600 anos.
— Eu queria ir para outro lugar.
Eu não posso ficar aqui, em um lugar tão exposto. Talvez em um lugar com uma maior concentração de pessoas.
— Vamos ao parque de diversões? — Eu disse.
Minha mãe imediatamente fez uma expressão mais animada.
— Então era isso que você queria? Porque não me falou antes?
— Não cabe ao filho questionar as ações da mãe.
Ela já estava fazendo muito por mim, me levando para algum lugar diferente do normal para passarmos um tempo juntos.
— Não é assim que as coisas funcionam. Você está certo sobre um filho obedecer sua mãe mas, em situações assim, se você não se divertir o meu esforço será em vão.
“Ela é tão diferente dele. Como eu queria que meu antigo pai tivesse sido assim.”
— Certo, eu entendi mãe.
…
Chegando no parque eu vi algumas pessoas comendo algo estranho, parecia uma espécie de algodão colorido.
Eu então perguntei para a minha mãe o que era aquilo:
— Mãe, o que é aquele negócio rosa que aquela menina está comendo?
— Ah, é algodão doce, você quer um?
— Tem gosto de que?
— Horas, de algodão doce é claro.
Essa resposta é meio vaga, mas acho que ela fez de propósito para instigar minha curiosidade.
— Você só vai saber se experimentar.
Normalmente não me importo com as coisas dos humanos, mas nessa nova era, tudo parece muito fascinante, sempre é algo a mais do que o esperado.
— Tá bom, eu quero um.
Minha mãe que estava segurando minha mão me levou até o carrinho de algodão doce. Eram dois para ser mais específico.
Eu e minha mãe esperamos na fila.
Enquanto eu esperava, escutei algumas pessoas conversando sobre a pandemia de 1 ano atrás.
O mundo ainda não se recuperou completamente dos problemas causados pelo vírus.
Mas pelo menos o isolamento social não é mais obrigatório. A vacina contra a covid se tornou anual, exatamente igual as vacinas da gripe, pois o vírus não pode ser erradicado por completo.
Agora que a pandemia acabou, eu não vou ter grandes dificuldades para pôr em prática meus planos para me tornar um vampiro novamente.
Finalmente chegou nossa vez na fila.
A pessoa que estava vendendo os algodões era uma mulher.
— Vai querer quantos?
— Dois por favor.
A mulher preparou um e entregou para minha mãe que por sua vez, entregou a mim.
Eu fiquei alguns segundos olhando o objeto.
— Vai, experimenta! Tá com medo do que?
Eu não tenho nem ideia de como se come isso.
Eu toquei no algodão e vi que era fofo.
— A textura é fofa.
— Mas é claro que é!
Então eu tirei um pedaço e coloquei na boca.
A sensação de algo derretendo em sua boca é algo que eu só tinha presenciado algumas vezes em todos os meus 604 anos de vida.
Era como nuvens comestíveis. Essa é a descrição mais comum a se fazer, afinal até a aparência era igual a de uma nuvem.
Pelo gosto disso eu presumo que seja feito de açúcar.
Droga, se eu fosse um vampiro meu paladar seria aguçado.
Apesar de que, ter um paladar aguçado nem sempre é bom. Felizmente, nós podemos escolher alternar entre o paladar humano ou o de vampiro.
— Eai? O que achou?
— Isso tem um gosto doce.
— Sim, o algodão doce é feito de açúcar.
— Como isso é feito?
— Eu não sei direito, mas aparentemente, ele é feito esquentando o açúcar, depois, sabe aquela máquina que fica girando, você viu?
— Sim.
— Então, aquela máquina joga o açúcar do centro do cilindro menor para o cilindro maior, a força centrífuga gerada pelo giro do cilindro, transforma o açúcar em fios muito finos, quando os fios se esfriam, eles se entrelaçam.
Essa nova era é mais fascinante do que eu imaginei. As pessoas desse século usam a ciência até para coisas triviais como essa.
— Você não deve ter entendido né? É complicado demais para uma criança entender, né?
— Não, eu entendi perfeitamente.
— Você… Entendeu?
— Sim, é um processo contrário ao de fazer cubos de gelo.
Minha mãe ficou calada com uma expressão de perplexidade.
— Parando para pensar, você parece ser mais inteligente do que as outras crianças.
Enquanto minha mãe dizia isso ela interrompeu a caminhada e agachou, ficando cara a cara comigo.
— Isso é por causa do tempo que você passa lendo os livros?
Então ela descobriu. Parece que mentir não vai adiantar nada.
— Como você sabe?
— Você pensou que eu não ia descobrir que a Amanda te leva livros escondido de mim?
Eu suspirei e disse:
— O que vai acontecer comigo?
Minha mãe levantou a sobrancelha direita e disse com um tom de estranheza:
— Mas que pergunta boba é essa? Não vai acontecer nada com você, afinal você não fez nada de errado.
— Como você aprendeu a ler? Eu estou curiosa.
Droga, essa pergunta era a única que ela não podia fazer.
Sem alternativas para uma resposta mais confiável, eu dei a resposta menos suspeita possível.
— Amanda me ensinou.
Ela olhou no fundo dos meus olhos e perguntou:
— Tem certeza?
“Desculpa mãe, mas não vai conseguir me fazer falar.”
— Tenho, foi ela que me ensinou.
Ela não parava de me olhar fixamente até eu dar a resposta.
— É, parece que você não está mentindo. Quando eu a perguntei sobre isso, ela respondeu a mesma coisa.
“O que? Porque ela fez isso? Ela não me ensinou a ler, é uma mentira minha. Porque a Amanda continua me ajudando? O mais importante. Para descobrir o porque, tenho que antes descobrir o quanto ela sabe sobre mim.”
E ainda tem a reação estranha da empregada mais cedo.
Após alguns segundos de silêncio, minha mãe falou:
— Tá, vamos encerrar esse assunto por aqui. Nós viemos para nos divertir, não foi?
Então eu ela fomos em muitos brinquedos.
Depois de voltar do carrinho de bate-bate, eu olhei para a direção em que se encontrava a roda gigante.
Eu estava curioso sobre aquele brinquedo antes mesmo de entrar no parque, pois era tão grande que eu pude vê-lo a uma longa distância.
Minha mãe percebeu que eu estava olhando para a roda e me perguntou:
— Você quer ir naquele brinquedo?
Eu não pensei duas vezes e respondi:
— Sim, eu quero.
Então nós fomos para a roda gigante.
…
Quando entrei no brinquedo e ele começou a girar, eu percebi que ele não era um brinquedo frenético e sim um brinquedo mais calmo.
Quando olhei para as outras cabines, vi alguns casais jovens se pegando.
Eu imediatamente fiz uma expressão de nojo, pois eu e minha mãe éramos literalmente os únicos naquele lugar sendo mãe e filho.
Mas então eu comecei a pensar que eu poderia estar naquele lugar, naquela situação com… Aquela pessoa.
A pessoa que me ensinou a amar.
Infelizmente ela ficou no passado, não há mais o que lamentar.
“A, Helena, porque você me deixou?”
Percebendo que eu estava quieto demais, minha mãe perguntou:
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, não foi nada.
Depois disso, um silêncio constrangedor tomou conta da cabine.
Eu estava com uma expressão séria no rosto, já que eu não conseguia ficar triste, devido a um trauma do passado.
Não que eu não tenha sentimentos, eu tenho, mas é muito difícil eu desenvolver afeto, ódio, amor ou raiva por alguém que não tenha despertado esses sentimentos em mim antes do trauma.
Minha mãe numa tentativa de entender o que se passava comigo me perguntou:
— Porque você está com essa cara? Você não está gostando? Você disse que queria ir ao parque e eu te levei, mas você continua assim.
Eu estava com os olhos voltados para o chão, pois não conseguia olhar nos olhos de minha mãe.
Pensando sobre como o caminho da vingança traria morte e tristeza, eu perguntei para minha mãe:
— Mãe, o que você espera de mim?
Ela fez uma expressão de surpresa e me perguntou:
— Como assim? O que quer dizer?
— O que você espera de mim no futuro?
Minha mãe olhou para a janela e me respondeu:
— Na verdade, eu nunca pensei sobre isso, afinal você é só uma criança. Mas se isso faz você se sentir melhor, eu espero que você seja um grande homem. — Essas últimas palavras ela disse com um sorriso.
Eu não estava satisfeito então eu disse de uma forma mais clara:
— Não é isso que eu quero dizer. O que quero dizer é, você e meu pai não tem nenhum plano para mim? Não querem que eu me torne um médico, advogado ou qualquer outra coisa?
— Bom, eu espero que você tenha um trabalho de prestígio mas, não tenho planos para você, afinal quem decide é você.
Ela segurou meu queixo gentilmente, levantou minha cabeça e disse:
— Não há motivos para você se preocupar com isso agora. E mesmo que você escolha algo que não seja o que esperamos, nós vamos te apoiar independentemente do que for, porque nós te amamos muito meu filho.
Eu abaixei a cabeça, pois não sabia o que responder, também não sabia o que sentia, pois fazia muito tempo que eu não sentia algo.
“Pensando bem, meus pais da vida passada nunca disseram que me amavam.”
Eu olhei pela janela para admirar a beleza desse novo mundo.
“Talvez eu devesse deixar de lado essa história de vingança e seguir o meu caminho, afinal eu ganhei uma nova vida, um novo corpo, novos pais e um novo nome, porque não um novo objetivo?”
…
Após sairmos do brinquedo, eu como de costume, olhei ao redor para me certificar de que não havia ninguém suspeito à espreita.
Então eu percebi que esse meu hábito não era paranóia.
Um homem loiro, com barba grande, olhos azuis e camisa branca de manga comprida passou do meu lado.
Eu senti o seu cheiro e percebi que era familiar.
Mesmo sendo humano, o cheiro daquele homem era perceptível para mim.
Foi então que eu me dei conta de que o rosto daquele homem também me era familiar. Eu já tinha o visto outras duas vezes naquele mesmo dia.
A primeira vez foi no parque ecológico, a segunda foi no caminho para o parque de diversões.
O problema era que, aquele homem não me era familiar por termos nos encontrado na rua e sim pelo fato de que eu tinha a sensação de já ter o encontrado em minha vida anterior.
E agora ele está aqui.
— Eu já vivi o bastante para saber que isso com certeza não é uma coincidência.
Minha mãe escutou meu sussurro e me perguntou:
— Você disse alguma coisa?
— Não, nada, eu só estou cansado.
Minha mãe olhou em volta e apontou para um banco de madeira, da cor branca.
— Vamos sentar um pouco e descansar? — Minha mãe perguntou.
— Eu prefiro ir para casa.
— Tá, então vamos sentar um pouco e depois ir para casa.
Nós sentarmos no banco, eu comecei a pensar em meios de escapar daquele cara.
“Se eu ficar apressando minha mãe para voltarmos para casa, ele pode achar suspeito, afinal meu inimigo é alguém com séculos de vida.”
Eu olhei para a direita, na direção do sujeito que eu suspeitava estar me seguindo.
Eu o vi em uma das barracas, com uma arma na mão, atirando em alvos.
“Não há dúvidas, ele está nos seguindo.”
Então eu comecei a pensar em um plano para me defender, caso aquele homem me abordasse.
“Tenho que dar um jeito de conseguir uma estaca de madeira. Não, eu não tenho força para enterrar uma estaca no corpo de um vampiro, ainda mais um vampiro mais velho.”
Eu lembrei de que corrente que minha mãe sempre usava era feita de prata.
“Já que eu não posso lutar contra ele, nem impedir que ele me sequestre, o que provavelmente ele vai fazer. Eu só preciso me deixar ser sequestrado.”
Eu olhei em volta e vi um vendedor de sorvete. Então me aproveitei do fato de que nunca havia experimentado sorvete e tive uma ideia.
Eu olhei para a minha direita e perguntei a minha mãe:
— Mãe, essa corrente no seu pescoço, posso ver?
— A, claro!
Ela retirou a corrente do pescoço e entregou para mim.
A corrente era toda feita de prata, desde a corrente, até o pingente.
O pingente era a metade de um coração, mas especificamente a metade esquerda, da perspectiva do observador.
No pingente estava escrito Marcos.
— Mãe, porque está escrito o nome do meu pai aqui?
— É porque existe uma outra metade que está com o seu pai. Na metade do seu pai está escrito o meu nome.
— Eu já entendi. Quer dizer que meu pai está no seu coração e você no dele, esses dois corações juntos se completam.
— Isso mesmo, você entendeu direitinho.
Eu já sabia o que aquilo significava, mas fiz aquela pergunta apenas como uma distração.
Eu olhei para o carrinho de sorvete e vi algumas pessoas saindo de lá com picolés, então perguntei para minha mãe:
— Mãe, o que aquilo que eles estão comendo?
— Eles estão tomando sorvete. Você nunca experimentou um, né? Você quer um?
“Tenho que dar um jeito de esconder a corrente em um lugar seguro e que garanta que aquele homem não sinta o cheiro da prata.”
— Sim mãe, eu quero um.
— Certo, então vamos lá.
Minha mãe olhou para sua esquerda e pegou a bolsa que estava ao seu lado no banco.
Eu aproveitei essa oportunidade para colocar a corrente dentro da bermuda.
Eu enrolei a corrente em volta da cueca, de forma que ficasse em contato com a minha pele.
Minha mãe e eu nos levantamos do banco e fomos na direção do vendedor.
Minha mãe chamou pelo vendedor:
— Moço, eu vou querer dois picolés.
— Claro, de qual sabor vai querer?
— Quais você tem aí?
— Milho, morango, coco…
Enquanto o vendedor falava, eu só ignorava. Estava muito preocupado com os arredores.
— Eu vou querer um de morango. — Minha mãe voltou seu olhar para mim e perguntou:
— E você Jonathan, o que vai querer?
Eu imediatamente voltei minha atenção para aquela cotação.
— An? Eu vou querer um de chocolate.
O vendedor entregou os dois picolés a minha mãe e ela me deu um.
Minha mãe abriu a bolsa e começou a procurar pela carteira. Por causa disso ela parou de prestar atenção em mim.
Nesse mesmo momento, eu senti um braço me agarrando em volta do meu corpo, por baixo do meu braço direito, na região das costelas e em em seguida uma mão me segurou pelo peito.
Logo depois disso, eu senti que fui levantado, minha visão se tornou um borrão.
Por causa do impulso de ser levantado rapidamente o sorvete caiu da minha mão.
Mesmo naquela situação eu podia pensar calma e claramente.
“Eu estou sendo movido a uma grande velocidade e mesmo assim não estou me colidindo com uma parede de ar. É com certeza um vampiro.”
Um dos motivos pelos quais os vampiros conseguem se mover a grandes velocidades é por causa da barreira de energia que se forma em volta do indivíduo quando ele usa a velocidade sobrenatural.
Essa proteção também se forma em volta de pessoas e objetos que estiverem em contato físico com o vampiro em questão.
♦ ♦ ♦
Quando Suzan pagou o vendedor e olhou para onde Jonathan estava, ele havia sumido.
— Jonathan, Jonathan para onde você foi? — Uma expressão de preocupação surgiu no rosto de Suzan.
Suzan foi em busca de Jonathan pelo parque.
— Jonathan! Jonathan! — Ela chamou mais alto, na esperança de que Jonathan pudesse ouvir, mas foi em vão.
Do outro lado da cidade
Em um galpão escuro, um portão gigantesco se abre.
A pessoa que está abrindo o portão é um homem de baixa estatura.
O homem está com Jonathan embaixo do braço.
A forma como ele carregava Jonathan parecia que ele estava com uma caixa de papelão embaixo do braço, e não uma criança.
O homem corre em uma velocidade sobre humana em direção a uma bancada de metal no lado direito do balcão.
O balcão era escuro e úmido. Tinha cheiro de ferrugem por todo lado.
No segundo do balcão tinha uma espécie de corredor que fica nas laterais. Nas laterais do corredor havia barras de ferro, que serviam para que as pessoas não caíssem de lá de cima.
As pessoas que se apoiassem nessas barras e olhassem para baixo, veriam o centro do balcão.
O homem coloca Jonathan em cima da bancada. E olha para o rosto de Jonathan.
— Onde eu estou e quem é você? Como eu vim parar aqui?
O homem responde com um expressão séria:
— Fui eu que te trouxe aqui. Acho que isso é uma pergunta bem besta, não é garoto?
— Porque?
— Ué? Você está vendo mais alguém aqui? Quem te traria para cá além de mim?
— Não é isso. Eu quis dizer, porque você me trouxe aqui.
— Querendo dar uma de espertinho, né? Bom tanto faz, eu te trouxe aqui para fazer algumas perguntas, mas quem está fazendo as perguntas aqui é você.
O homem se aproximou de Jonathan ficando cara a cara.
Ele olhou bem fundo nos olhos de Jonathan e falou:
— Já que você é um tagarela, eu vou dar um jeito nisso.
As pupilas do homem diminuíram de tamanho e ele deu o comando:
— Não fale nada a não ser que eu mande ou pergunte. Entendeu?
As pupilas de Jonathan também diminuíram de tamanho e ele respondeu:
— Sim, entendi.
O homem se afastou e começou a andar de um lado para outro. Pensando no que ia perguntar.
Ele parou de andar e disse:
— A! É mesmo. Eu esqueci de dizer algo. — O homem olhou nos olhos de Jonathan novamente e deu outro comando.
— Toda vez que você mentir para mim, vai sentir uma dor enorme no peito. Como um beliscão, porém muito mais doloroso. Você está permitindo de falar ou gritar, caso sinta qualquer tipo de dor.
O homem colocou as mãos nos bolsos e disse:
— Primeira pergunta: você me conhece?
Jonathan ficou alguns segundos em silêncio e respondeu:
— Não.
De fato, Jonathan não estava mentindo, ele não se lembrava de conhecer aquele homem. Ele apenas achava o rosto e o odor daquele homem familiares.
O homem estreitou os olhos e disse:
— Desculpe, pergunta errada. O que eu queria perguntar era… Você me acha familiar? Você tem a impressão de já ter me visto antes?
“Droga, parece que ele tem bastante experiência com interrogatório”
É senso comum para qualquer ser sobrenatural que, quanto mais velho é o vampiro, mais difícil de enganar.
Um dos fatores essenciais são os anos vividos e também pela quantidade de vezes que pessoas já conseguiram se esquivar de perguntas feitas.
O controle mental só te obriga a fazer o que o vampiro manda e a pessoa reage conforme a quantidade de conhecimento que ela tem.
Por exemplo: se um vampiro mandar uma pessoa não sentir frio. Naturalmente essa pessoa não vai sentir frio, mas se ela for para um local quente, ela vai sentir calor.
Se ele quiser que a pessoa não sinta frio e calor, basta ele mandar ela não sentir frio e calor, ou simplesmente ser resistente a variação térmica.
Porém se a pessoa em questão não entender o que significa ser resistente a variação térmica, ela pode acreditar que é resistente ao calor e frio intensos e andar pelo fogo, ou andar sem agasalhos em locais com temperaturas extremamente baixas.
Jonathan respondeu exitante:
— Não, você não me parece familiar.
O homem fez uma expressão como se estivesse duvidando das respostas de Jonathan.
— Vamos ver se você lembra agora. O meu nome é Matt. Matt Davis. Eai? Não se lembra de algo?
“De fato, esse nome não me é estranho”
— Não, eu não lembro de ninguém com esse nome.
“Você se acha muito esperto, não é? Você pode ser experiente, mas antes mesmo de você nascer eu já fazia isso a muito tempo.”
Jonathan devia ter dito a verdade para Matt, mas ele continua mentindo sem ser pego pela ordem do controle mental.
Isso se deve ao fato de que Jonathan escondeu a corrente de prata de sua mãe no shorts.
Prata é a fraqueza dos vampiros.
Quando vampiros tocam na prata eles se queimam.
Quando alguém está com prata em contato direto com a pele, ela se torna imune ao controle mental de qualquer vampiro.
“Parece que esconder a corrente da minha mãe não foi uma estratégia ruim. Agora eu preciso dar um jeito de fugir daqui.”
— Garoto, como é o seu nome?
— Jo-Jonathan.
Matt revirou os olhos e disse:
— Nome completo.
— Jonathan Crane.
— Sua idade?
— Quatro anos.
— Nome dos seus pais?
— Suzan Bragança e Marcos Crane.
— Você se lembra de algo de sua vida passada?
“Desgraçado, ele está me fazendo várias perguntas seguidas para que eu não tenha tempo para pensar caso esteja mentindo.”
— Não, não me lembro de nada.
Matt estreitou levemente os olhos e suspirou bem fundo.
— Parece que você não está mentindo. Se tivesse, já teria gritado por causa da dor.
Matt andou de um lado para o outro enquanto dizia:
— Mas como diz um ditado popular desse país: o seguro morreu de velho.
Matt se curvou, a ponto de seu rosto ficar lado a lado com o rosto de Jonathan.
Seus olhos ficaram vermelhos e brilhantes. Ele abriu a boca e seus caninos aumentaram de tamanho.
— Você não se lembra de nada, mas isso não significa que você não seja ele. Se você for mesmo ele, eu posso estar em grandes problemas se você recuperar suas memórias. Na verdade é muito coincidência, nascer uma criança com o rosto dele, 400 anos depois de sua morte.
Matt pôs a mão direita no ombro esquerdo de Jonathan e se preparou para morder.
— Mesmo que você não seja ele, não há importância. Crianças humanas morrem a todo momento, você só será mais um na lista.
Jonathan estava pensando em várias maneiras de fugir.
“Eu posso enrolar a corrente de prata nos dedos e enfiar nos olhos dele, mas mesmo que eu ganhe tempo, ele ainda vai me alcançar. Um humano adulto seria pego, uma criança é pior ainda. Mesmo se eu tivesse uma estaca de madeira, eu não teria força o suficiente para enterrar no peito dele e a velocidade com que um humano se move também não ajuda. Não importa como, todas as possibilidades me levam à morte.”
Jonathan começou a mover sua mão lentamente para dentro do shorts.
“Mas se eu ficar parado, as chances de sobreviver são menores ainda.”
Quando Matt se preparou para morder.
— Se eu fosse você eu não faria isso, criança. — A voz que o interrompeu veio da direção do portão.
Era uma mulher.
A mulher era extremamente bela. Pele clara, cabelos castanhos lisos, porém com ondulação nas pontas. Olhos castanhos. Curvas tão perfeitas que parecia obra divina.
Ela estava usando um vestido preto com tecido fino e caro. O vestido era comprido, porém tinha uma abertura nos lados que deixavam as coxas da mulher expostas.
Matt voltou a posição ereta e com uma expressão de descontentamento, disse:
— Isso pareceu uma ameaça e não um aviso.
— Na verdade foi um pouco dos dois. O aviso foi cortesia da minha parte.
— O que você quer?!
— Quero pedir para você não machucar o garoto.
— An? E por que você está interessada no garoto? Ele é minha presa, vai procurar outro.
— Tudo o que eu faço é pela vontade da minha senhora.
— E o que eu tenho a ver? Ela é sua criadora e não minha!
Matt estava ficando maia irritado a cada palavra da mulher.
— Quer saber?! Mande um recado para sua senhora. Mande ela ir se Fo… AARG.
A mulher se moveu em uma velocidade tão grande que desapareceu da vista de Jonathan e até mesmo Matt, que era um vampiro e podia ver coisas rápidas como se estivessem em câmera lenta.
Quando Matt percebeu, já estava do outro lado do balcão sendo segurado contra parede, com a mão da mulher dentro de seu peito, segurando seu coração.
“Com essa velocidade eu só posso deduzir que ela seja uma vampira superior. E pelo que vejo, é bem velha.” Pensou Jonathan.
— Escolha com cuidado as suas palavras quando for falar dos puro sangue, entendeu? “Vampiro inferior”.
A mulher mudou completamente o tom de voz.
Ela falava com elegância no começo, mas agora, usava um tom raivoso. Também pôde se notar que quando ela disse as palavras “vampiro inferior” foi dito com desdém.
— Então é assim que os puros vampiros puro sangue agem? Pedem e quando recebem um não, eles matam seus adversários. Como eles podem se achar melhor que os inferiores agem igual?
— Há um pequeno erro na sua forma de pensar. Os puros sangue não pedem, apenas pegam e os que ficarem no caminho, morrem. Pedir para você não matar o garoto foi uma decisão minha! Minha criadora disse para eu matar você e pegar o menino. E tem mais uma coisa.
A mulher enfiou ainda mais o braço direito dentro do peito de Matt
— Os puro-sangue são especiais porque foram escolhidos pela nossa soberana. Ela! E somente ela, é que decide quem é especial e não você.
— Eu decidi ser pacífica com você, mas você jogou minha boa vontade no lixo. Por isso você vai morrer.
A mulher agarrou com mais força o coração de Matt, assumiu uma postura ereta e seus olhos ficaram vermelhos.
Então, em um instante ela tirou o braço de dentro do peito de Matt arrancando o coração.
Matt arregalou os olhos e eles voltaram a sua cor original: azul. Ele deu seu último suspiro e começou a descer lentamente em direção ao chão, desabando por completo.
Quando morreu, sua pele começou a ficar pálida e cinza.
É assim que caçadores de vampiros diferenciam crimes humanos de crimes sobrenaturais.
Se um vampiro morre, a hipótese mais provável é que o assassino seja outro vampiro.
A mulher virou-se na direção de Jonathan e começou a caminhar na direção dele.
Enquanto andava, ela retirou um lenço branco dentre os seios e limpou a mão suja de sangue.
Ela parou em frente a Jonathan e ficou em silêncio por alguns segundos. Olhando para ele profundamente.
Jonathan também ficou em silêncio, olhando nos olhos dela.
Ela se curvou, ficando cara a cara com Jonathan, ainda mantendo o contato visual.
“Ela pretende me hipnotizar.”
As pupilas da mulher diminuíram e ela disse:
— Você está seguro agora, Vladmyr.
Jonathan arregalou os olhos levemente, quase imperceptível.
“Ela me chamou pelo antigo nome. Ela com certeza sabe, mas como? Eu não conheço essa pessoa.”
— Do que você me chamou?
— É mesmo, o seu nome agora é Jonathan, me perdoe.
— Não seja cínica. Você sabe o que quero dizer.
— Eu te chamei de Vladmyr. Sei que está curioso para saber, mas… Infelizmente eu não posso dizer nada.
— Porque você me salvou? Eu não te conheço. E também, você sabe tanto o antigo, quanto o meu novo nome, o que significa que está me espionando, porque? O que quer comigo.
— Nós não nos conhecemos, é a primeira vez que nos encontramos pessoalmente. Sobre a outra pergunta, eu não quero nada com você, mas minha senhora sim. Foi ela quem me mandou vir aqui te salvar.
— Você disse que sua criadora é uma puro-sangue, qual deles ela é? E o que uma puro-sangue quer com um simples humano como eu.
— Simples humano? Não seja modesto, sabermos que você já foi um grande vampiro no passado. Acho que foi por isso que ela se interessou por você. Isso é apenas minha opinião.
— Como vocês sabem sobre a minha condição? E como vocês me acharam?
— Minha criadora soube da sua condição através de uma pessoa confiável. Aliás, como você fez para recuperar as memórias tão cedo?
— Eu não fiz nada, eu reencarnei com elas.
— Reencarnou com elas?! Mas como?
— Eu não sei, pensei que sua criadora soubesse de algo.
— Infelizmente nem minha criadora nunca viu algo parecido.
“Se os puro-sangue não sabem, quem mais poderia me dar resposta? Será que… a rainha pode?”
— Sobre sua outra pergunta… Nós te achamos através do clã Oblivion.
— O que? O meu clã já me localizou?
— Mais ou menos, eles só localizaram o país.
— Droga, eu não estou pronto ainda.
— Nós sabemos o que aconteceu 400 anoa atrás. Não se preocupe, minha senhora vai apagar seus rastros e impedir que eles te encontrem até que você seja um adulto.
— Não obrigado, não quero dever favores os puros sangue.
— A! Faça-me o favor! se minha senhora te pedisse algo, você poderia recusar?
Jonathan não disse nada, apenas virou o rosto.
— Então engula esse seu orgulho sem fundamento e aceite de bom grado a gentileza da minha senhora.
— Certo mas, como você vai resolver essa situação? Vai contar à polícia que enfiou o braço dentro do peito de um homem e arrancou seu coração fora?
— Eu tenho alguns subordinados na polícia, eles vão resolver isso. Inclusive, eles estão chegando.
A mulher virou as costas para Jonathan e começou a andar.
— Pode pelo menos me dizer o seu nome?
A mulher interrompeu seus passos e virou a cabeça para a esquerda. Parada no meio do balcão, ela demorou alguns segundos, mas logo respondeu:
— Dá próxima vez que nos encontramos, eu lhe direi o meu nome.
— E vai ter uma próxima vez?
— Conhecendo minha senhora… Com certeza.
Quando terminou de falar, ela se transformou em uma névoa branca e saiu pelo teto.
Na verdade, ela havia entrado naquele local do mesmo jeito, por isso Matt não percebeu sua presença.
Um silêncio completo tomou conta do lugar.
Então Jonathan começou a ouvir sirenes e motores, depois batida de portas e então vozes.
— Esse é o local que a testemunha anônimo disse ter visto o suspeito pela última vez.
— Vamos abrir em três dois…
Eles abriram a porta lentamente e três policiais entraram.
Uma policial foi em direção a Jonathan, os outros dois foram na direção de Matt.
— O suspeito está morto. Coração arrancado.
— Como está o garoto?
— Está bem senhor, não parece ter sofrido nenhum ferimento.
— Mesmo assim leve ele até a ambulância.
Na ambulância, Jonathan foi examinado e liberado.
Suzan chegou no local em uma viatura da polícia.
Ela abriu a porta da viatura e correu em direção a Jonathan e deu um abraço.
— Que bom que você está bem!
Ela estava chorando desde que saiu da viatura, mas agora era diferente. Era um choro de alívio, alegria.
Algum tempo depois um policial veio fazer perguntas. Eram perguntas padrão sobre o ocorrido, mas então ele fez uma pergunta um tanto estranha:
— Você viu quem matou o homem que te sequestrou?
No procedimento padrão ele devia perguntar sobre o que aconteceu com o sequestrador, e não quem o matou.
“Esse cara… Esse tipo de pergunta, Ou ele é um caçador de vampiros ou é o cara infiltrado que aquela mulher tinha falado. Seja como for, se eu disser que não lembro, vai ser algo comum de se acontecer em ataques de vampiros. Se for um caçador, vai deixar passar.
—E-eu… Não me lembro. O homem estava falando comigo e depois disso, eu só lembro de ver ele caído no chão.
— Certo, certo. Você sabe o possível motivo que o levou a te sequestrar.
— N-não.
O policial anotou tudo em uma prancheta.
— Você viu algo de estra…
Suzan ficou irritada. Como uma mãe protetora, ela interrompeu o policial.
— Com licença, seu policial. Desculpe interromper, mas o senhor poderia por favor dar um tempo ao meu filho? Ele acabou de passar por uma situação horrível.
— Claro, me desculpe. — O policial virou as costas e saiu.
“Viu alguma coisa estranha? Que tipo de pergunta é essa? Acho que já tenho a resposta sobre o que ele é. Maldito caçador.”
Suzan olhou para Jonathan e o abraçou mais uma vez, apertando em seus seios com força. Ela estava chorando e dizendo:
— Me desculpe por não cuidar de você. Eu me descuidei. A mamãe promete que vai te proteger de agora em diante.
Jonathan abraçou Suzan.
“Me desculpe mãe, mas você não pode me proteger. Eu é quem deveria te proteger, porém eu sou só uma criança inútil, eu te prometo, quando for forte, todos aqueles que entrarem no meu caminho ou ameaçarem nossa família, não terão minha misericórdia.”
Nesse momento Jonathan tomou a decisão que mudará o destino do mundo.