Reencarnação do Vampiro - Capítulo 6
Em uma noite de lua cheia, Jonathan estava dormindo em seu quarto, se mexendo muito.
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No ano de 1315, na cidade de Londres. Em uma noite fria e de lua cheia, há um homem parado em frente a janela de sua sala particular, localizada dentro do castelo do clã Oblivion.
Ele estava com as mãos atrás das costas, com uma postura ereta.
A luz da lua banhava seu rosto e o vento balançava seus cabelos.
O chão da sala era todo coberto por um carpete vermelho carmesim. A sala tinha muitas estantes de livros. Do lado direito da janela em que o homem estava olhando, havia uma mesa de madeira. em cima da mesa, estavam algumas montanhas de papéis, uma caneta e um vidro de tinta preta.
Ali, haviam três pessoas além do homem na janela.
Um homem ajoelhado no chão, completamente traumatizado e com medo. Ele tinha um corte na lateral direita da testa, com sangue descendo pelo rosto.
Atrás dele, estavam um homem de aparência jovem e cabelos brancos e uma mulher também de aparência jovem, porém seus cabelos eram ruivos e estavam presos em forma de coque.
O homem ainda olhando para janela disse para seus companheiros:
— Esse homem é a testemunha?
— Sim, pai. Na verdade ele é uma das vítimas — respondeu a mulher de cabelos ruivos.
— Conte-me o que aconteceu, só assim eu poderei te ajudar — disse o homem, ainda de costas para a pessoa de joelhos.
O homem ficou em silêncio.
— O senhor pode pelo menos me dizer o seu nome?
— John, John Smith — disse o homem ajoelhado, com a voz trêmula.
— Esse seu sobrenome… você é ferreiro?
— S-sim.
O homem na janela que estava olhando para a lua, Direcionou seu olhar para o chão, deu um leve suspiro e perguntou:
— O que aconteceu com você?
— Os demônios sugadores de sangue! Eles invadiram minha casa e mataram minha família. Eles tinham olhos vermelhos e dentes pontudos! E-e-e, eles fornicaram em cima do cadáver da minha esposa e filha! Eles… eles. Isso é tudo minha culpa, Deus está me punindo pelos meus pecados!!
O homem na janela virou levemente a cabeça para a direita. Ele estava cauteloso com aquele homem, ele podia surtar a qualquer momento e atacá-lo pelas costas.
— Eu não devia ter cobrado mais do que o preço justo só porque sou o único ferreiro por perto!! Nem enganado aqueles idosos, aaaaa!!
Enquanto gritava o homem colocava as mãos na cabeça.
O homem na janela rapidamente se virou em direção a John e tentou acalmá-lo.
— Acalme-se senhor! Se você me ajudar, eu vou encontrar e matar esses demônios para você.
— Pelo visto a saúde mental também não está boa.
Dessa vez quem falou foi o homem de cabelos brancos.
— Mas é claro! Ele presenciou o assassinato de sua esposa e filha, se ele não ficasse louco agora, eu diria que ele já era antes de disso! — disse a mulher ruiva.
— Vladmyr faça esse cara parar de gritar, nós temos audição sobrenatural, isso machuca os ouvidos! — disse o homem de cabelos brancos.
Nota: ele podia ter desativado a audição sobrenatural, mas simplesmente não fez.
Vladmyr olhou nos olhos do homem ajoelhado e deu uma ordem:
— Acalme-se, não sinta medo, você está seguro. Se você me ajudar, eu ajudo você a obter vingança. você quer vingança pela sua família?
John se acalmou e ainda mantendo o contato visual disse:
— Você pode me ajudar!? Eu faço qualquer coisa! Se eu puder vingar a minha família, então..!
— Certo, então comece nos contando como eram asses demônios exatamente.
— Eles se pareciam com um homem e uma mulher, eram jovens…… As roupas, eles estavam usando roupas caras! Se fossem humanos certamente seriam nobres ou ladrões.
— Mais alguma coisa? — perguntou Vladmyr.
— An, eles… eles…. Eu não me lembro direito, estava escuro e eles fizeram coisas horríveis, como eu ia prestar atenção em outra coisa!?
— Por favor senhor, tente se lembrar de alguma coisa, talvez algo estranho, incomum. Qualquer coisa cerv… — Vladmyr foi interrompido por John.
— Já sei!! O cabelo deles!
— O que tem o cabelo?
— A mulher tinha um cabelo tão lindo! Aquilo era tão estranho, eu não sei o que eles passaram no cabelo mas, era o cabelo mais perfeito que eu já vi! Nem mesmo vossa majestade a rainha tem um cabelo igual aquele. Até mesmo o homem tinha o cabelo mais bonito que o de vossa majestade.
— Então eles eram mesmo vampiros, aliás o vestido dela era muito mais caro que o meu — disse a ruiva.
O vestido que a mulher ruiva estava usando era amarelo, com babados brancos na ponta das mangas e na barra do vestido.
John achou o cabelo da mulher estranho, devido ao fato dele ser bem cuidado em um nível quase impossível. Na época, os produtos de cabelo não eram tão eficazes. Ele achou o cabelo dela estranho por ser muito bonito, era uma reação comum.
O cabelo da jovem era algo que nem a nobreza ou a família real com o seu poder financeiro poderiam ter. Não usando dinheiro.
Quando uma pessoa se torna vampira, todas as características dela são elevadas a quase perfeição. Deixando a pele macia e bonita, cabelos brilhantes e soltos, a voz soa mais agradável aos ouvidos de terceiros.
— Quais eram as características corporais deles? Cor do cabelo, cor dos olhos e etc.
— A cor dos cabelos deles eram…
— Nós estamos perdendo tempo! Pai, se me permite a insolência, como filha e como cria. Eu gostaria de dizer que eu trouxe esse homem aqui para o senhor ver as memórias dele, não para interrogá-lo. Afinal eu confrontei os dois criminosos, eu sei as características deles. Se for para obter informações faladas, eu mesma faço isso.
A pessoa que interrompeu John foi a garota ruiva.
— Desde quando mulheres dão ordens a homens? E uma cria não devia falar assim com seu senhor! — disse o homem de cabelos brancos.
A garota ruiva imediatamente respondeu com um tom de repreensão.
— E desde de quando um membro de uma hierarquia mais baixa pode falar de igual para igual comigo?! E eu sou uma nível superior, você devia ter cuidado como fala comigo! Ponha-se no seu lugar, Faustos!
Faustos cerrou os punhos, mas não se atreveu a fazer nada. Ele nem podia na verdade.
— Faustos! Sara! Parem imediatamente!
Vladmyr direcionou seu olhar para Faustos e disse:
— O fato dela ser mulher não tem nada a ver com isso, ela está correta. Nós estamos perdendo tempo.
Vladmyr voltou seu olhar para Sara.
— Eu só queria obter informações sem ter que invadir a privacidade dele. Eu sei que você já tem as informações, mas eu quero ouvir da boca dele quais crimes aqueles vampiros cometeram, para que a punição seja a altura.
Vladmyr direcionou um olhar sério para Faustos. Faustos sabia que quando Vladmyr olhava daquele jeito para qualquer pessoa, ele falava muito sério.
— Faustos… quero que você me diga como funciona a hierarquia do nosso clã.
Faustos engoliu seco e respondeu:
— A hierarquia do nosso clã tem como base três fatores: tempo de estadia no clã, nível de vampirismo, idade. Sendo este último contando a idade que você tem como vampiro.
Os vampiros consideram acordar como vampiro como um renascimento.
— Se você sabe como funciona nossa hierarquia, porque não a respeita? Se não está satisfeito, basta sair do clã, ninguém está te obrigando a nada.
Faustos abaixou a cabeça e disse:
— Você está me expulsando do clã?
— Não, Faustos. Só estou dizendo que você está aqui por vontade própria. Quase todos aqui estão de acordo com as regras, porém mesmo aqueles que não concordam, as seguem sem rodeios.
Vladmyr deu um longo suspiro e continuou.
— Eu não me importo que você fale comigo de igual para igual, mas exijo que você respeite os outros membros
Vladmyr colocou a palma esquerda na frente dos olhos e continuou.
— Eu não estou dizendo para você não questionar, questionar é importante, mas você não está fazendo isso. Você está ditando regras e não só isso, você quer dizer para as pessoas o que elas são ou não. Vou te fazer mais uma pergunta: qual é o tipo de pessoa que eu mais odeio?
Faustos ainda de cabeça abaixada, respondeu:
— Pessoas que se dizem especiais e se colocam acima dos outros, em uma posição superior.
— Errado. Eu odeio pessoas que se dizem especiais e se colocam acima dos outros, sem serem de fato especiais ou superiores. Me diga… o que acontece se um nobre arrancar a cabeça de um plebeu?
— Ele morre. — respondeu Faustos.
— O que acontece se um plebeu arrancar a cabeça de um nobre?
— Ele também morre.
— Então qual é a diferença entre um nobre e um plebeu? Muitas, mas não quer dizer que essas diferenças tornem o nobre superior ao plebeu. A única coisa que torna todos os humanos iguais é a morte.
Vladmyr colocou as mãos atrás das costas e deu três passos para a direita, com Faustos ficando a sua esquerda. A janela estava à sua direita.
— O que acontece se você arrancar a minha cabeça?
Faustos não entendeu a pergunta.
— Eu jamais faria isso, o senhor é meu criador!
— Eu não perguntei se você faria ou não, perguntei o que aconteceria caso você fizesse.
Faustos estava exitante, mas respondeu:
— O senhor não morreria, apenas ficaria sem a cabeça por um tempo até que ela se regenerasse e o senhor ficasse bem novamente.
— O que acontece se eu arrancar a SUA cabeça?
— Eu morreria para sempre.
— Existe uma diferença clara entre nós. Você não pode me matar, não importa o que faça. Eu por outro lado, não preciso de esforço nenhum para te matar. Isso me torna superior?
— Sim.
— Isso me torna especial?
— Sim.
— Errado, eu não sou especial. Eu só me tornei um vampiro superior porque tive a sorte de encontrar uma pessoa que cumprisse os requisitos para me transformar em um vampiro superior. Eu sou superior de fato, mas apenas como vampiro e não como pessoa. Sara, o que acontece se você e sua irmã quebrarem as regras?
— Nós seríamos punidas do mesmo jeito que os outros. Mesmo sendo suas filhas, nós somos tratadas da mesma forma que os outros membros.
— Quero que me responda se concorda com isso e o porquê disso ser assim.
— Primeiramente, eu estou de acordo. Segundamente, as coisas são assim porque são as regras e as regras são necessárias para manter a ordem e a ordem faz a união.
— E? — Perguntou Vladmyr.
— A união faz a força, por isso somos o clã mais forte sem ter o maior número de membros.
— Mais uma vez, minhas filhas se mostraram mais aptas para a liderança do clã do que você. Ela é uma mulher, como você me explica isso?
Faustos continuou de cabeça baixa.
— Olhe para mim quando eu estiver falando com você, Faustos! — Vladmyr usou um tom de voz rígido e amedrontador.
“Até a Elizabeth tem medo quando ele fala assim.” Pensou Sara.
Faustos olhou para Vladmyr enquanto seu coração batia tão rápido quanto as asas de um beija flor. Ele sentia como se uma mão estivesse apertando seu coração. Quando tentou engolir a saliva, sentiu como se estivesse engolindo um milhão de agulhas. Ele queria correr mas, ele sentia como se seu corpo sendo segurado por um número infinito de mãos.
Quando Faustos percebeu que Vladmyr não estava olhando para ele, ele sentiu um alívio enorme.
A sensação de ter o coração segurado ainda permanecia, mas era como se a mão não apertasse mais.
— Faustos… ao quebrar as regras, você trás o caos ao clã, o caos por sua vez, causa discórdia entre nossos irmãos… e isso enfraquece nossa união e consequentemente o nosso poder.
Vladmyr virou sua cabeça para a esquerda, seus olhos ficaram vermelhos, ele olhou bem no fundo dos olhos de Faustos.
John não notou nada de estranho, pois Sara usou seu Controle Mental para ordenar que ele ignorasse qualquer atividade sobrenatural que visse.
Faustos novamente sentiu a mão em seu coração apertar, só que desta vez era mais forte do antes, tão forte que ele sentia que seu coração havia sido esmagado.
Ele inspirava e expirava repetidas vezes, mas era como se todo o ar do mundo não fosse o suficiente. Então ele sentiu a mão subindo por sua caixa torácica, lentamente escalando, como uma aranha, até que ela chegou na garganta.
Uma mão presa em sua garganta, tentando sair, ele sentia que sua garganta iria rasgar.
Faustos pós a mão na boca. Para que a ” “mão” não saísse.
— Eu costumo dar três chances aos nossos irmãos. Essa é a segunda vez que você quebra as regras. Eu espero que não haja uma terceira vez, isso será bem ruim , não só por você estar trazendo caos para o clã, mas também porque isso indicará que você pensa dessa forma… e eu não quero ser amigo de alguém que é o tipo de pessoa que eu mais odeio.
Um arrepio subiu pela espinha de Faustos e ele sentiu como se estivesse sendo observado por todos os lados.
Ele sentiu a mão subindo cada vez mais pela garganta até que chegou em sua boca, fazendo ele sentir ânsia de vômito. Ele tentou resistir mas já era tarde demais, quando estava prestes a desistir e abrir a boca…
— Acalme-se.
A voz tranquila de Vladmyr chegou até os ouvidos de Faustos.
Imediatamente após isso, a sensação de ter uma mão saindo pela boca sumiu junto com a sensação de estar sendo observado de todos os lados.
Isso era o efeito do Controle Mental de Vladmyr.
O controle mental é uma habilidade que todos os vampiros tem, mas Vladmyr pode usar seu Controle Mental em vampiros abaixo de seu nível.
— Como Sara disse, nós estamos perdendo tempo.
Vladmyr se virou em direção a John ergueu sua mão direita e passou a ponta do dedo indicador no sangue que escorria no pelo seu rosto. O sangue já estava coagulando.
Vladmyr levou o dedo até a boca e consumiu o sangue.
Vladmyr ficou parado, olhando para o nada, Como se estivesse tendo uma visão.
De fato estava, eram visões de todas as memórias de John, desde de seu nascimento até o presente momento, Vladmyr viu tudo.
Várias memórias passaram pela mente de Vladmyr.
Ele sentiu tudo, medo, amor, tristeza, raiva. Todos os sentidos e experiência vista pela perspectiva daquele homem.
Isso normalmente fazia os vampiros verem o mundo de uma nova maneira.
Querendo ou não, toda vez que um vampiro se alimenta, ele se torna outra pessoa.
O rosto de Vladmyr tinha uma expressão de trauma, exatamente igual ao homem à sua frente. Lágrimas desceram lentamente pelo seu rosto.
Então, uma expressão de raiva surgiu no rosto de Vladmyr e ele cerrou os dentes.
— Eu vou matar aqueles dois!! Não, vou fazer pior.
Vladmyr colocou a mão no ombro esquerdo de John e disse:
— Eu vou buscar vingança pela sua família.
Vladmyr passou por John e andou em direção a porta.
Ele parou no meio do caminho, ao lado de Faustos e disse:
— Vamos Faustos.
— Mas… Vladmyr, hoje é noite de lua cheia, todos os lobisomens estão ativos.
Faustos estava cautelosos, pois se eles se encontrassem com um lobisomem, seria praticamente o fim.
— Se você está com medo, então fique. eu vou sozinho.
— Não, eu não estou com medo, mas se nos encontramos com um, vai ser perigoso.
— Não se preocupe, se dermos de cara com um deles, eu fico de isca e você foge.
— Uma cria nunca pode abandonar seu criador.
— Se quiser vir vai ter que concordar com esse plano. A mordida de um lobisomem não é fatal para mim, ao contrário de você… a escolha é sua.
— Está bem, vamos.
Vladmyr e Faustos saíram em busca dos dois vampiros.