Reencarnação do Vampiro - Capítulo 7
Duas figuras caminhavam por uma rua de pedras em meio a escuridão.
— Está sentindo o cheiro de sangue? — perguntou Vladmyr.
— Sim, está vindo de todas as direções. Eles mataram a aldeia inteira.
Eles caminharam por mais alguns metros até encontrarem algo estranho no caminho.
Vladmyr parou e observou o objeto por alguns segundos.
— Um braço? — perguntou Vladmyr.
— Sara disse que arrancou o braço dele.
Vladmyr agachou-se e pôs o dedo na parte em que o braço foi arrancado, tirou um pouco de sangue e levou até a língua.
— Eu já sei pra onde eles foram.
Vladmyr pôde ver até mesmo as memórias atuais do fugitivo, mesmo o sangue estando separado do corpo.
O corpo de um vampiro mantém uma conexão mágica com as partes perdidas. É assim que os vampiros recuperam suas memórias mesmo depois de serem decapitados.
— Ele já regenerou mais do que a metade do braço.
— Mesmo que ele regenere o braço inteiro, vai fazer diferença pra você, Vladmyr?
— Nenhuma.
Eles partiram rumo a casa de John.
Chegando no local, Vladmyr e Faustos viram gotas de sangue. As gotas vinham da cozinha.
— Esse sangue é de John — disse Vladmyr.
Eles seguiram as gotas de sangue até chegar à cozinha.
Na cozinha havia dois corpos femininos, sem vida.
Eram a esposa e a filha de John.
Vladmyr foi até o corpo da filha e examinou.
— A garota morreu por hemorragia, mas, seu sangue não foi completamente drenado.
— A mãe teve todo o sangue drenado, mas isso e nem esse machucado enorme no pescoço foram a causa da morte — disse Faustos.
— E o que foi que causou a morte?
— O vampiro mordeu com tanta violência, que acabou quebrando o pescoço.
Vladmyr acariciou o cabelo da garota.
— Ter absorvido as memórias daquele homem me faz sentir como se fosse o pai dela. A dor que eu sinto…não é minha… mesmo assim eu ainda sinto… tanta dor.
Vladmyr cerrou os punhos, direcionou lentamente o olhar em direção a Faustos e disse:
— Eu pretendia deixar a mulher viva e puni-la com tortura mental mas, foi ela quem matou a esposa. Como você já deve imaginar, essa violência dela vai nos causar problemas no futuro. Não podemos deixar ela viver.
Faustos levantou-se, virou em direção a Vladmyr a disse:
— O cheiro deles está misturado com vários outros.
— O cheiro da mulher ficou preso na criança, eu consigo achá-la.
♦ ♦ ♦
Vladmyr e Faustos caminhavam por uma floresta densa.
O solo negro estava levemente úmido mas, não o suficiente para ficar lamacento. Havia muitas folhas caídas no chão.
A floresta era banhada pela luz da lua, porém, por causa das árvores, pouca luz chegava ao solo.
Vladmyr parou de caminhar e ficou imóvel por alguns segundos. Ele correu usando sua velocidade sobrenatural em direção a uma árvore.
A árvore tinha uma marcação de sangue em formato de palma de mão.
Faustos chegou logo depois e disse:
— Você achou alguma coisa?
— Ele parou para descansar. Sabe o que isso quer dizer?
— Ele perdeu muito sangue. Deve estar mais lento que o normal — disse Faustos.
— De acordo com as memórias dele, eles seguiram por um caminho mais à direita.
Vladmyr correu usando sua velocidade de vampiro e Faustos o seguiu.
Ele parou e agachou-se para analisar pegadas.
Eram quatro pegadas bem próximas umas das outras. Eram pegadas de sapatos.
Vladmyr usou sua visão vampírica para localizar rastros de sangue.
Sua visão ficou completamente escura, nada tinha cor. Apenas o sangue podia ser visto, brilhando no escuro.
Ele olhou em volta e viu várias gotas de sangue espalhadas pelo caminho.
O vampiro seguiu os rastros pelo caminho.
— O cheiro deles ficou mais forte. Estamos perto.
Vladmyr correu usando velocidade sobrenatural até começar a escutar os batimentos cardíacos de dois indivíduos.
Ele parou por um momento, identificou a direção do sons e correu novamente.
Vladmyr se aproximou dos sons e viu o sangue dentro das veias dos corpos de dois indivíduos. Eles estavam em uma clareira.
Ele pôde ver o coração batendo dentro do peito deles. Um deles estava com uma quantidade muito menor de sangue.
“Ele perdeu muito sangue. Não tem nenhuma chance.”
— Ei, vocês dois — disse Vladmyr em um tom de voz calmo e autoritário.
As duas figuras viraram-se e o homem disse:
— Você deve ser o amigo daquela mulher ruiva. Ela arrancou meu braço… já que. Você está aqui, vou arrancar sua cabeça no lugar dela.
— Você acha que consegue encostar em mim? Sou um vampiro superior.
O homem e a mulher estremeceram.
— Você é um membro do clã Oblivion. Achei que você tinha sido mandado aqui por aquela mulher.
— Aquela mulher pertence ao meu clã. Foi por causa do aviso dela que eu estou.
— Um vampiro superior recebendo ordens de vampiros inferiores, isso é meio patético, você é cria dela ou é só um servo?
— Feche essa sua boca, criatura nojenta.
O Homem e a mulher olharam para a direção de onde veio a voz e viram dois olhos vermelhos no escuro, indo em direção a Vladmyr.
— Pessoas como vocês não devem dirigir a palavra para um vampiro superior, ainda mais quando ele é o líder do clã Oblivion em pessoa.
— O que? Por que o líder desse clã viria pessoalmente até aqui?
— Isso é simples, ele…
— Porque eu gosto de eliminar pessoalmente aqueles que dão motivos para os ignorantes nos chamarem de demônios.
— Será que o senhor não pode reconsiderar nossa situação? Nós estávamos com sede.
— Eu me dei o trabalho de vir aqui pessoalmente, o que você acha?
— Que mal educado da minha parte. Nós pedimos descu…
Vladmyr correu em velocidade sobrenatural, tirou uma estaca de prata do bolso interno do seu sobretudo e atacou.
— AARG.
O homem olhou para a esquerda e viu Vladmyr com uma estaca de prata enterrada no peito de sua companheira .
A estaca estava em contato direto com as mãos de Vladmyr e, como consequência, sua mão estava sendo queimada pela prata.
— Desculpas não traram as vidas dos inocentes de volta — disse Vladmyr, olhando nos olhos da mulher.
— Tire as mãos dela — disse o homem enquanto desferia um soco contra Vladmyr.
Antes de ser acertado, Vladmyr deu um tapa com as costas da mão no rosto do homem, lançando-o a cinco metros de distância e batendo contra uma árvore.
Ele pegou no pescoço da mulher e a empurrou, fazendo-a bater as costas em uma árvore.
— Você deve ser Marie. Matt Davis deve ser sua cria, não? Sabe… a criadora da sua criadora é a minha cria. Sua criadora só existe porque eu permiti que ela fosse transformada. Bom… essa bagunça começou comigo, então eu vou limpá-la.
O vampiro deu dois passos para trás, largou o pescoço de Marie e disse:
— Você fica aqui.
Matt correu até Vladmyr e desferiu um golpe contra a cabeça.
Vladmyr defendeu com a mão esquerda, segurando o braço do inimigo.
— Eu tenho mais de trezentos anos, mesmo se eu fosse um vampiro comum, isso não funcionaria.
Ele pegou no pescoço de Matt e olhou em seus olhos.
— Mate sua companheira.
Vladmyr saiu do caminho de Matt, que começou a caminhar exitante.
— Eu não quero fazer isso!
— O que você quer não é importante, você já está sob o efeito do meu controle mental.
— Vampiros não podem controlar outros vampiros.
— Eu sou um vampiro superior, lembra?
— Então é por isso que os outros Vampiros têm tanto medo dos superiores? Eu não sabia que vocês podiam fazer isso.
— Se soubesse não ia fazer a menor diferença. Eu ia arrancar sua cabeça de qualquer forma.
Matt caminhava tentando parar seus movimentos agarrando-se nas árvores mas, o controle mental era forte demais.
Ele se aproximou de Marie e ergueu a mão.
— Eu não consigo parar, fuja!
— Eu não consigo, tem uma estaca de prata… enterrada no meu peito… ela está tocando meu coração. Ele tomou todo o cuidado para não perfurar.
Matt começou a mover sua mão em direção a estaca — Vou tirar essa estaca e você foge.
Vladmyr fez uma expressão de desprezo e deu mais uma ordem:
— Arranque o coração dela.
O controle mental agiu e a mão de Matt penetrou o peito de Marie.
— Eu não quero fazer isso, Marie.
— Eu sei que não quer… acho que é o nosso fim.
— Não! Tem que ter um jeito.
Matt pôs a mão esquerda no braço direito e tentou arrancá-lo mas, o controle mental o impediu.
— O controle mental age com base nos seus conhecimentos e intenções. Você está tentando tirar o seu braço para não matá-la… acho que você já sabe o que isso significa.
A mão dele agarrou o coração de Marie.
— Me perdoe, Marie, eu não consigo resistir — dizia Matt, enquanto chorava.
Marie começou a erguer o braço direito, com muita dificuldade em direção a Matt e pôs a mão em sua bochecha.
— Eu não tenho que te perdoar, seria que a culpa não é sua — dizia Marie enquanto lacrimejava.
Marie deu um sorriso enquanto olhava Matt nos olhos e disse:
— Mesmo depois de morta, saiba que ainda vou continuar te amando. Obrigado por tudo. Te espero do outro lado.
Vladmyr já estava impaciente. Sua expressão de desprezo, se tornou nojo.
— Faça.
Matt arregalou os olhos quando sentiu uma onda estrondosa sobre seu corpo e uma pressão gigantesca em seu peito, seu coração palpitou, seus sentidos ignoravam tudo ao seu redor. Seus olhos só enxergavam o azul dos olhos de sua amada, seu olfato, o odor dela e sua audição, escutava o som de sua respiração.
O tempo ficou lento, ele já não sentia mais seu corpo.
Tum Tum, Tum Tum.
O som de seu coração tomou conta de seus ouvidos. Ele sentiu uma pressão estranha no estômago e então…
CRACK.
O sons de quebrar de ossos e arrancar de carne foi ouvido.
O silêncio tomou conta do lugar. Matt entrou em estado de choque. Ele ficou paralisado por vários segundos até que sentiu algo cair sobre seu peito.
Ele olhou para baixo e viu o rosto empalidecido de sua amada. Os olhos azuis que ele tanto admirava, haviam perdido sua luz.
O corpo de Marie escorregou pelo peito de Matt até ir ao chão, caindo de cara.
O vampiro estava sem reação, até que sentiu algo pulsar em sua mão direita. Ele direcionou seu olhar lentamente para ela e avistou o coração de sua amada.
Seus olhos estavam arregalados e seu rosto mostrava uma expressão de choque.
O coração pulsou novamente.
Tum tum… tum tum… tum tum.
Ele voltou a si e, percebendo o que havia feito, sua reação foi de desespero.
— AAAAAAAAAAA!
O grito estridente do homem, fazia qualquer ouvinte sentir seu desespero e dor.
Matt virou o corpo de Marie, colocando-o de costas para o chão. Ele acariciou a bochecha esquerda de Marie e olhou para a mão direita enquanto tremia.
Sua mão estava suja de sangue, não qualquer sangue, era o sangue de sua amada.
A expressão de Vladmyr foi de desprezo para indiferença. Ele virou as costas e caminhou até ficar lado a lado com Faustos.
— Eles já tiveram o que mereciam. Vamos para casa — disse Vladmyr olhando para o fundo da floresta da qual vieram.
Faustos acenou com a cabeça e começou a caminhar junto de Vladmyr.
— PORQUE FEZ ISSO COM ELA!? Você poderia ter me matado junto mas, você me obrigou a fazer isso… ela estava grávida! Estava esperando um filho meu!!!
Matt estava com ódio em seu rosto. Com o corpo de Marie em seus braços, ele estava prestes a fazer algo impulsivo.
Vladmyr tinha uma expressão séria. Ele ficou alguns segundos em silêncio até que, ainda olhando para o fundo da floresta, ele respondeu:
— É exatamente por isso que te fiz tirar a vida dela… existe culpa maior do que tirar a vida de quem ama?
Matt arregalou os olhos se dando conta do que acabara de escutar.
— Você… sabia…?
— Sim… eu vasculhei suas memórias.
O vampiro cerrou o punho direito, marcando a terra com seus dedos.
— Você é um monstro pior do que eu!!!! Como espera ser melhor do que eu fazendo esse tipo de coisa?!!!
Vladmyr se virou, ficando de frente para Faustos. Ele olhos nos olhos de Matt e respondeu:
— Talvez eu seja pior do que você, porém… eu nunca disse que queria ser melhor. Meu objetivo é tornar o meu clã o mais forte, e para isso, eu vou caçar e punir todos aqueles que pisarem no nosso território, descumprirem nossas leis e zombarem da nossa autoridade. Eu só me importo com os membros da minha família e com as pessoas boas e inocentes e, acaba por aí.
— Você quer governar através do medo e da opressão? Isso é tirania.
— Os únicos que eu ligo de governar justamente são os membros do meu clã. Aqueles de fora dele não importam. O mundo é grande, vocês podem ir para qualquer lugar, ninguém está obrigando vocês a ficarem aqui.
— Chega dessa merda!!! — gritou Matt com raiva — Você tem que pagar por isso!
— É mesmo? Você vai fazer o que? Me matar? Agora não é hora para piadas.
Matt colocou Marie no chão, levantou-se e assumiu uma postura defensiva. Com o pé esquerdo à frente do direito.
— Você não só é um vampiro comum, como também é jovem demais, não tem nem um ano de idade ainda. Meu parceiro aqui da conta de você sem problemas… Faustos.
Faustos entrou na frente de Vladmyr e tirou uma estaca de madeira do bolso esquerdo de seu casaco negro.
— Faustos, pior do que a morte é o sofrimento eterno.
— Eu entendi.
Matt se preparou para atacar. Ele pôs toda a força na sua perna direita e então, algo o interrompeu.
Auwww.
Um uivo foi ouvido.
Matt deu um passo curto. Ele olhou para trás e perguntou:
— Mas o que foi isso?!
— São lobisomens, Vladmyr! — disse Faustos.
— Parece que você não vai ter que se dar ao trabalho de humilhar esse homem, ele já está morto— disse Vladmyr com uma expressão séria.
“Lobisomens? Marie me disse que sua criadora lhe disse para não ir para a floresta durante a lua cheia mas, ela nunca havia dito o motivo. Então era por isso?”
Nota do autor: aqui dá a entender que foi a Marie que não disse o motivo mas, não, foi a criadora dela.
Vladmyr usou sua velocidade de vampiro para ficar a frente de Faustos, ele o agarrou pelo colarinho, deu um giro e o arremessou para a direção de onde vieram.
Faustos foi arremessado por mil metros até começar a cair. O homem de cabelos brancos girou no ar e pousou de pé.
Logo depois de arremessar Faustos, Vladmyr usou sua velocidade sobrenatural para correr na direção em que jogou Faustos.
“Se ele está fugindo, o que quão perigosas são essas coisas?”
Matt usou sua velocidade de vampiro, pegou o corpo de Marie e correu para a esquerda.
Uma criatura com aparência de lobo humanoide chegou correndo com quatro patas. O lobisomem parou, ficou de pé em duas patas e começou a farejar.
A criatura era coberta por uma pelagem negra. Tinha 5 metros de altura quando bípede. Ela tinha mãos parecidas com as de humanos mas, ao invés de unhas, tinha garras afiadas. Seus olhos tinham Íris amarelas brilhantes e escleras negras. Seu corpo era músculos, lembrando o de um humano. A cabeça era de lobo de um lobo, tronco, braços e coxas humanoides mas, do joelho para baixo era de lobo.